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Acusado de cometer genocídio, Israel se recusa a aplaudir discurso de Lula na ONU

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou as grandes potências globais e a concentração de poder durante discurso na Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (24).

“Na fundação da ONU, éramos 51 países. Hoje somos 193. Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos e funcionamento. (…) Estamos chegando ao final do primeiro quarto do século 21 com as Nações Unidas cada vez mais esvaziada e paralisada. É hora de reagir com vigor a essa situação, restituindo à Organização as prerrogativas que decorrem da sua condição de foro universal”, afirmou.

Ao colocar os países emergentes no centro de sua fala, Lula destacou a crise humanitária em Gaza e na Cisjordânia, mencionando a expansão do conflito para o Líbano e o impacto sobre a população palestina.

“Em Gaza e na Cisjordânia, assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, e que agora se expande perigosamente para o Líbano. O que começou como ação terrorista de fanáticos contra civis israelenses inocentes tornou-se punição coletiva de todo o povo palestino. São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo”, afirmou.

Na ocasião, o presidente brasileiro também fez referência à presença do presidente palestino, Mahmoud Abbas, na Assembleia. Esta é a primeira vez em aproximadamente 80 anos que a Palestina se senta ao lado dos demais países na ONU. Ao final do discurso, a delegação de Israel optou por não aplaudir.

Nesta terça-feira, durante a Assembleia Geral da ONU, Lula ainda condenou a guerra entre Rússia e Ucrânia, destacando a iniciativa conjunta do Brasil e da China para promover um diálogo entre Moscou e Kiev. Ele também enfatizou que, sem uma maior participação dos países em desenvolvimento na liderança do FMI e do Banco Mundial, não haverá mudanças efetivas no cenário internacional.

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Política

Íntegra do discurso de Lula no G7: “Um mundo mais democrático é a melhor garantia de paz”

Leia a íntegra do discurso de Lula no G7 em Hiroshima:

Quero agradecer ao primeiro-ministro Kishida pelo convite para que o Brasil participasse do segmento ampliado da Cúpula de Hiroshima.
Esta é a 7ª vez que sou convidado de uma reunião do G-7.

Quando aqui estive pela última vez, na Cúpula de L´Áquila em 2009, enfrentávamos uma crise financeira global de proporções catastróficas, que levou à criação do G-20 e expos a fragilidade dos dogmas e equívocos do neoliberalismo.

O ímpeto reformador daquele momento foi insuficiente para corrigir os excessos da desregulação dos mercados e a apologia do Estado mínimo.
A arquitetura financeira global mudou pouco e as bases de uma nova governança econômica não foram lançadas.

Houve retrocessos importantes, como o enfraquecimento do sistema multilateral de comércio. O protecionismo dos países ricos ganhou força e a Organização Mundial do Comércio permanece paralisada. Ninguém se recorda da Rodada do Desenvolvimento.

Os desafios se acumularam e se agravaram. A cada ameaça que deixamos de enfrentar, geramos novas urgências.

O mundo hoje vive a sobreposição de múltiplas crises: pandemia da Covid-19, mudança do clima, tensões geopolíticas, uma guerra no coração da Europa, pressões sobre a segurança alimentar e energética e ameaças à democracia.

Para enfrentar essas ameaças é preciso que haja mudança de mentalidade. É preciso derrubar mitos e abandonar paradigmas que ruíram.

O sistema financeiro global tem que estar a serviço da produção, do trabalho e do emprego. Só teremos um crescimento sustentável de verdade direcionando esforços e recursos em prol da economia real.

O endividamento externo de muitos países, que vitimou o Brasil no passado e hoje assola a Argentina, é causa de desigualdade gritante e crescente, e requer do Fundo Monetário Internacional um tratamento que considere as consequências sociais das políticas de ajuste.

Desemprego, pobreza, fome, degradação ambiental, pandemias e todas as formas de desigualdade e discriminação são problemas que demandam respostas socialmente responsáveis.

Essa tarefa só é possível com um Estado indutor de políticas públicas voltadas para a garantia de direitos fundamentais e do bem-estar coletivo.

Um Estado que fomente a transição ecológica e energética, a indústria e a infraestrutura verdes.

A falsa dicotomia entre crescimento e proteção ao meio ambiente já deveria estar superada. O combate à fome, à pobreza e à desigualdade deve voltar ao centro da agenda internacional, assegurando o financiamento adequado e transferência de tecnologia.

Para isso já temos uma bússola, acordada multilateralmente: a Agenda 2030.

Não tenhamos ilusões. Nenhum país poderá enfrentar isoladamente as ameaças sistêmicas da atualidade.

A solução não está na formação de blocos antagônicos ou respostas que contemplem apenas um número pequeno de países.

Isso será particularmente importante neste contexto de transição para uma ordem multipolar, que exigirá mudanças profundas nas instituições.
Nossas decisões só terão legitimidade e eficácia se tomadas e implementadas democraticamente.

Não faz sentido conclamar os países emergentes a contribuir para resolver as “crises múltiplas” que o mundo enfrenta sem que suas legítimas preocupações sejam atendidas, e sem que estejam adequadamente representados nos principais órgãos de governança global.

A consolidação do G-20 como principal espaço para a concertação econômica internacional foi um avanço inegável. Ele será ainda mais efetivo com uma composição que dialogue com as demandas e interesses de todas as regiões do mundo. Isso implica representatividade mais adequada de países africanos.

Coalizões não são um fim em si, e servem para alavancar iniciativas em espaços plurais como o sistema ONU e suas organizações parceiras.
Sem reforma de seu Conselho de Segurança, com a inclusão de novos membros permanentes, a ONU não vai recuperar a eficácia, autoridade política e moral para lidar com os conflitos e dilemas do século XXI.

Um mundo mais democrático na tomada de decisões que afetam a todos é a melhor garantia de paz, de desenvolvimento sustentável, de direitos dos mais vulneráveis e de proteção do planeta.

Antes que seja tarde demais.

Muito obrigado.

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Opinião

Beluzzo: Insistência do mercado financeiro em risco fiscal é ‘ignorância interessada’ que prejudica políticas sociais’

Economista criticou a reação do mercado ao pronunciamento do presidente Lula, confirmando a prioridade da questão social no orçamento. Belluzzo fala em “invenção tosca: você só tem uma situação fiscal favorável se gerar renda”.

O economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo fez duras críticas, nesta sexta-feira (11), à reação do chamado “mercado” às indicações sobre a futura gestão econômica do Brasil pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ontem (10), em sua primeira visita ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, de onde vem atuando a equipe de transição, Lula defendeu um “novo paradigma de funcionamento” no país, em que a questão social e a população mais pobre sejam centrais para a tomada de decisões dos poderes.

Como já vinha prometendo na campanha eleitoral, o presidente eleito confirmou que dará prioridade às políticas sociais, em especial o combate à fome. O anúncio, no entanto, soou negativo para o mercado financeiro que reagiu fechando o dólar comercial com forte alta, de 4,14%, e cotação a R$ 5,39. Os juros futuros também subiram e a Bolsa terminou essa quinta em queda de 3,35%. A maior baixa desde novembro de 2021.

Em entrevista ao jornalista Glauco Faria, do Jornal Brasil Atual, o especialista observou que essa reação do sistema financeiro mostra o quanto ele, na prática, está “afastado das condições reais de vida da população”. Assim como “nega às pessoas o direito de comer”. O presidente eleito também rebateu que o mercado “fica nervoso à toa” e “é muito “sensível”. Até representantes do setor, como o empresário Abílio Diniz, saíram em defesa do novo governo, negando a existência de “pânico nesse momento”. Numa entrevista à CNN Brasil, ele ainda enfatizou que Lula nunca escondeu sua prioridade para o social e que o petista sabe das “dificuldades” do país.

Falácia fiscal

A justificativa para a reação seria uma preocupação com a chamada “estabilidade fiscal”. Belluzzo garante, porém, que “essas regras, que pretendem impor à economia, acarretam disfunções e desagregações sociais. A situação é muito parecida com outras que ocorreram na história desse sistema em que a economia se afasta completamente da vida das pessoas. Você vê que essa insistência no risco fiscal é uma forma de obstar as políticas que podem atender a população”, afirma.

O economista ainda diz que o argumento de equilíbrio fiscal é “na verdade uma invenção um tanto quanto tosca dos economistas, porque, no capitalismo, você só pode ter equilíbrio fiscal, uma situação fiscal favorável, se você está gerando renda. É dessa renda que você apropria os impostos. (…) Se você não gera renda, qual vai ser o resultado da cobrança do imposto de renda?”, provoca. Ele ainda completa que essa resistência do mercado em cima de um suposto risco fiscal é “uma ignorância interessada”.

De acordo com Belluzzo, o que está em jogo entre os agentes do mercado é o poder de direcionar o encaminhamento da economia. “O mercado financeiro, além de ser uma forma econômica de ‘controle da locação e distribuição de recursos’, ele também é uma forma de poder”, destaca.
Superar contradições

“Está todo mundo agora falando que o dólar foi a R$ 5,40. Isso aí não tem propósito nenhum a não ser o de valorizar a sua riqueza no âmbito financeiro. E isso significa dano para as pessoas que estão vivendo nesse país. Porque todo mundo vai dizer ‘veja só a promessa de Lula para combater a pobreza vai envolver R$ 175 bilhões’, todo esse trololó, quando esses economistas têm uma ignorância de como funciona a dívida pública. Eles ficam apavorando as pessoas sobre a dívida pública, como se ela fosse igual à dívida privada, de uma família. E não é.”

Belluzzo explica que, no caso da dívida pública, outro argumento evocado pelo mercado, ela é amortizada pela capacidade do Estado de emitir moeda numa articulação entre o Banco Central com os bancos privados. Nesse momento, de acordo com o economista, o Estado brasileiro precisa ser capaz de superar as contradições entre a economia real e a financeira, em que os interesses da financeirização, de acumulação, acabam prevalecendo sobre a economia real.

O economista também ressalta um argumento bastante utilizado por ele de que, hoje, no Brasil, não há uma elite, mas ricos. Segundo ele, o país deixou de ter uma classe de empresários, que buscavam um projeto de desenvolvimento até para obter um mercado interno consumidor, para ter rentistas. “Estamos vendo aqui no Brasil um exemplo em que a política, através da eleição do presidente Lula, está apontando na direção de desfazer esse constrangimento que as economias e as pessoas, os povos, a sociedade está

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