Bolsonaro tem no combate ao desemprego a sua pior avaliação entre 18 áreas, de acordo com pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda (2). Após oito meses, 65% da população considera a atuação de seu governo como ruim ou péssima nesse quesito. O top 5 da tristeza se completa com saúde (59%), combate à fome e à miséria (58%), meio ambiente (49%) e educação (49%). Sua reprovação geral passou de 33% para 38% e a aprovação, de 33% para 29%.
O presidente da República teria mais liberdade para a sua pauta medieval em costumes e comportamento caso tivesse conseguido reduzir drasticamente o desemprego no país. A maioria da população brasileira, que não é de direita, nem de esquerda, mas pragmática, digeriu as denúncias do Mensalão e reelegeu Lula, em 2006, em meio ao crescimento econômico. Toleraria mais facilmente, portanto, o pacote bolsonarista desde que o seu governo garantisse dignidade econômica. O que não tem sido o caso.
A geração de empregos segue patinando. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, divulgada pelo IBGE, na última sexta (30), a taxa de desocupação caiu de 12,5% (no trimestre encerrado em abril) para 11,8% (no encerrado em julho). São 12,6 milhões de brasileiros procurando trabalho sem encontrar.
Mesmo diante desses números, o presidente não apresentou até o momento um projeto nacional para fomentar geração de postos formais de trabalho. Pelo contrário: pressionado, já disse: “Tenho pena? Tenho. Faço o que for possível, mas não posso fazer milagre, não posso obrigar ninguém a empregar”. O argumento é intelectualmente indigente, uma vez que governos podem e devem criar ambientes propícios para o crescimento econômico e a geração de postos de trabalho.
Acreditando que tinha cacife junto à população ou apostando no acirramento de posições para agregar aliados em torno de sua proteção, Bolsonaro apertou a tecla “foda-se” a partir de uma live no Facebook no dia 18 de julho. Não que ele já não fosse Bolsonaro antes disso, mas parece que qualquer indício de freio desapareceu.
Desde então, ele trouxe o cocô para o centro da retórica presidencial, abraçou publicamente o nepotismo e a filhocracia e brigou com o mundo quando reclamaram que ele estava permitindo a maior fogueira tropical do planeta. Com o desemprego e a informalidade em alta, um indulto às suas loucuras foi negado pela maioria da população como se pode ver pelos números do Datafolha.
A informalidade bateu recorde na série histórica da PNAD Contínua. A taxa de desocupação vem caindo através do aumento de postos sem carteira assinada (mais 441 mil frente ao trimestre anterior) e dos trabalhadores por conta própria (mais 343 mil). Vagas sem 13o salário, férias, descanso semanal remunerado, limite de jornada. Ou seja, sem direitos.
O que vai ao encontro de outro bordão presidencial: “o trabalhador vai ter que decidir se quer menos direitos e emprego, ou todos os direitos e desemprego”. Essa relação tende a ser binária apenas em matrizes de pensamento simplistas, que excluem a possibilidade de um empregado produzir mais riqueza quando está sob condições saudáveis.
Os números da informalidade, por incrível que pareça, são comemorados por membros de sua equipe que veem nisso um momento em que brasileiros se “libertam” do jugo da CLT. Confundem o empreendedor consciente com o precarizado desolado. Ignoram que muitos dos que trabalham como vendedores de quentinhas e bolos na rua e motoristas para serviços de aplicativos trocariam seu CNPJ de MEI por um emprego que garantisse segurança e direitos num piscar de olhos.
Parte de seus apoiadores vendeu a falsa ideia de que, com o avanço da Reforma da Previdência, leite e mel correriam no meio fio das calçadas de imediato e unicórnios vomitariam arco-íris nos trabalhadores. Mesma ladainha, aliás, vendida pelo governo Michel Temer com a Reforma Trabalhista, que prometeu um dilúvio de empregos formais. Agora que a vida real se impõe, encontram outras desculpas.
Bolsonaro inverteu a ordem das coisas, acreditando que manter uma base bolsonarista bem alimentada e com energia para sair às ruas é a melhor garantia de proteção ao seu mandato. Optou por manter o país em Estado de campanha eleitoral constante, fazendo com que a principal meta do governo não seja emprego, saúde, combate à miséria, meio ambiente, educação, mas sua reeleição e o bem-estar de seus filhos. Se a campanha, em 2018, foi a mais curta da história recente, durando 45 dias, a de 2022 será a mais longa, e vai durar quase quatro anos.
O problema é que a maior parte da população está ficando irritada em ver um presidente comprar briga com tudo e com todos, pondo em risco a imagem e os negócios do país, enquanto entrega, no lugar de empregos decentes, vídeo de golden shower e declarações com cocô.
*Por Leonardo Sakamoto/Uol