Em sua primeira viagem ao nordeste, o capitão presidente parecia um homem assustado, acuado, sem norte.
De quem ou do que ele tem tanto medo, sempre olhando para o chão ou para os lados?
Pelo seu semblante sempre cansado, dá a impressão de não dormir direito, apesar de ter uma arma ao lado da cama, como já contou.
Neste sábado de véspera das manifestações de protesto a favor do governo, que ele mesmo incentivou nas redes sociais, e depois desistiu, o país vive um estranho clima de calmaria nas ruas e nas redes sociais.
Agora não temos mais nós contra eles, nem eles contra nós, mas eles contra eles, devorando-se uns aos outros num ritual macabro.
Mal saiu do armário, e a direita já está mais rachada do que a esquerda, acreditem.
Frotas e Janaínas, olavetes e milicos, ministros e herdeiros, estão todos se estranhando.
Ficou tudo muito estranho desde que esta seita esquisita assumiu o poder.
Muita gente, arrependida ou envergonhada, simplesmente parou de falar de política.
Em São Paulo, são os velhos malufistas e os ex-tucanos que, na falta de outra opção conservadora, embarcaram na canoa do capitão, sem saber direito de quem se tratava.
Hoje, parecem tão assustados quanto o próprio, com o rumo que as coisas tomaram, deixando o país em ponto morto, com viés de baixa.
Os chamados “quatrocentões” das tradicionais famílias paulistas ficaram órfãos, depois que até o Estadão velho de guerra passou a esculhambar diariamente o governo Bolsonaro, que ajudou a eleger.
Restaram unicamente os reacionários mais trogloditas e marombados para defender a “nova ordem”, não com argumentos, mas na base de ameaças, agora que as armas foram liberadas.
Do outro lado da calçada, o que sobrou da esquerda também não sabe mais o que falar nem para onde ir, depois de esgotados todos os xingamentos.
Vivemos um tempo de completa anomia social.
No mesmo dia, Paulo Guedes, o todo poderoso ministro da Economia, ameaça pedir o boné se a reforma dele não passar, e depois jura “total compromisso” com o projeto de Bolsonaro.
Os dois acenam com o apocalipse, caso o Congresso não aprove logo a “reforma do trilhão” _ nem mais nem menos, não importa como.
A figura mais patética nesta encenação mambembe é a do ex-juiz Sergio Moro, que Brasília tratou de amansar em seu devido lugar, sem choro nem vela.
Nem vamos falar das outras tristes e patéticas figuras deste governo.
Pobres editores e colunistas da imprensa, que já não encontram mais sinônimos para descrever o total desmantelo dos três poderes, anulando-se um ao outro.
Sem projetos nem ideias para romper o marasmo geral, discute-se o varejo das miudezas, seguindo os passos errantes do capitão, que está deixando seus generais assombrados.
Basta ver a cara desconsolada do general Heleno, que não acredita no que está vendo e ouvindo, e do inoxidável general porta-voz ao tentar explicar o que o capitão queria dizer, também com olhos arregalados.
Com o vice general Mourão em sorridente vilegiatura pela China, não temos nem o contraponto para animar as discussões.
Bolsonaro teve o mérito de revelar uma cara do Brasil que a gente fingia não ver, moldada pela profunda ignorância e intolerância, capaz de assustar o mundo civilizado.
Amanhã saberemos quantos são os idiotas úteis ou inúteis que irão às ruas, os “patriotas” de verde-amarelo, as “pessoas de bem”, que ainda acreditam nesta pantomina.
Para distrair a platéia, teremos logo mais o casamento do filho 02, com pompa e circunstância, fazendo a festa das colunas sociais da nova ordem unida.
Que fim levou aquele Brasil cheio de si que tinha vergonha na cara e acreditava no futuro?
Sem querer ser nostálgico, mas ando com uma saudade danada do Brasil sem sair do Brasil.
Quando a segunda-feira chegar, aconteça o que acontecer no domingo, nada será diferente.
É tudo muito triste o que estão fazendo com nosso país.
E vida que segue.
*Ricardo Kotscho/247