O ressentimento dos racistas com a ascensão dos negros é um dos traços mais marcantes que o Brasil herdou da escravidão.
Foi esse azedume que apareceu de maneira inequívoca quando o Magazine Luiza optou por trazer para a sua administração, através de seleção, apenas candidatos negros.
Certamente, se fosse para as funções braçais como, por exemplo o de faxina, não teria essa reação.
Na verdade, isso seria visto como algo natural, porque o conceito brasileiro de civilização tem essa tradição em seu DNA.
Como disse brilhantemente Milton Santos:
“Aqui, o fato de que o trabalho do negro tenha sido, desde os inícios da história econômica, essencial à manutenção do bem-estar das classes dominantes deu-lhe um papel central na gestação e perpetuação de uma ética conservadora e desigualitária. Os interesses cristalizados produziram convicções escravocratas arraigadas e mantêm estereótipos que ultrapassam os limites do simbólico e têm incidência sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão, por menor que seja, dos negros na escala social sempre deu lugar a expressões veladas ou ostensivas de ressentimentos (paradoxalmente contra as vítimas). Ao mesmo tempo, a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e, mesmo, não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera nenhuma forma de discriminação ou preconceito.”
*Carlos Henrique Machado Freitas