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Com baixa vacinação, variante delta dispara e prolifera no mundo

Dados preliminares indicam que infectados pela linhagem podem ter carga viral cerca de 1.000 vezes maior, o que facilita o contágio.

A variante delta do coronavírus Sars-CoV-2 (anteriormente chamada de B.1.617.2), identificada pela primeira vez na Índia no final de 2020, está colocando em alerta até países com a vacinação avançada contra a Covid-19, como é o caso de Estados Unidos, Reino Unido e Israel.

Nesses locais, a chegada da variante delta fez o número de novas infecções subir rapidamente entre as pessoas que não receberam nenhuma vacina. Nos Estados Unidos, mais de 80% dos novos casos da doença são causados pela variante delta.

Esse cenário pode ser o futuro no Brasil. Por aqui, sabemos que a variante delta já chegou, mas não fazemos sequenciamento genético suficiente para acompanhar com precisão o espalhamento dessa linhagem do vírus entre a população. As medidas para conter a variante são tiros no escuro, com dados incompletos.

A falta de dados, no entanto, não deveria impedir medidas mais incisivas. Sabe-se que a variante delta se espalha com muito mais facilidade aonde chega, e muito rapidamente se torna a linhagem dominante do vírus.

Cientistas da Austrália relataram à mídia local um caso alarmante. No país, o rastreamento de novos casos de Covid é levado muito a sério; é possível saber quem passou o vírus adiante e quando em algumas situações. Em um encontro rápido dentro de um shopping center uma pessoa teria infectado a outra com a variante delta do coronavírus. As duas pessoas teriam ficado próximas uma da outra por um tempo de 5 a 10 segundos apenas.

Esse tempo de exposição é muito inferior aos 15 minutos que os especialistas estimavam anteriormente (um número ainda não confirmado com precisão por estudos científicos).

Os cientistas começam a seguir as pistas que podem nos levar a um melhor conhecimento sobre os mecanismos da variante delta.

“A maior transmissibilidade da variante delta ocorre porque as mutações causaram uma maior afinidade das proteínas S, dos espinhos da superfície do vírus, com o nosso receptor. Há uma interação mais forte”, diz Viviane Alves, microbiologista e professora do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG).

“Nunca ficamos doentes inalando apenas um ou dez vírus; tem uma carga viral mínima para gerar a infecção e que varia de acordo com o vírus. No caso da variante delta, precisamos de uma menor quantidade de vírus para sermos infectados. A transmissão de pessoa para pessoa é muito mais fácil”, afirma.

Estimativas sobre o potencial de transmissão da variante delta variam muito, mas dizem que a linhagem é pelo menos 50% mais transmissível. Alguns cientistas sugerem um número acima de 200%.

Além disso, uma pessoa infectada pela variante delta tem uma carga viral que pode ser até cerca de mil vezes maior do que um paciente infectado por outra variante, segundo um estudo realizado por cientistas de instituições chinesas publicado em artigo no formato pré-print, isto é, ainda não revisado por outros cientistas.

Com uma maior carga de vírus, um infectado tende a ser mais contagioso. “Se uma pessoa infectada pelo coronavírus pode passar o vírus para outras três pessoas, com a variante delta ela pode passar para outras cinco”, exemplifica Alves.

O que mais pode ser feito para evitar que a variante se alastre? A prioridade deve ser uma distribuição mais rápida de vacinas, segundo especialistas do mundo todo. Medidas como uso de máscaras, distanciamento social, boa ventilação dos ambientes e higiene das mãos são simples e mantêm o vírus longe –com a chegada da variante delta, elas devem ser intensificadas.

“O fato de estar respirando o mesmo ar de um infectado já é suficiente para o contágio. Se houver espirros e tosses, a chance aumenta ainda mais”, diz Alves.

As vacinas disponíveis, apesar de serem a melhor arma contra a Covid-19, são menos eficazes contra a variante delta. A proteção parcial concedida por uma dose das vacinas da Pfizer/BioNTech e da AstraZeneca/Oxford deixa de existir contra a delta, e é ainda mais importante que o ciclo com duas injeções seja completo, de acordo com estudos recentes.

Um artigo publicado em pré-print na terça-feira (20) indicou que a vacina da Janssen (Johnson & Johnson), aplicada em dose única, pode não trazer proteção contra a variante delta. Mesmo anticorpos gerados após uma infecção, que podem evitar que a pessoa pegue novamente a doença, não são tão potentes contra a variante.

Assim, o número de novas infecções entre pessoas já vacinadas ou que tiveram a Covid-19 no passado pode aumentar com o avanço da variante delta.

Nos Estados Unidos, onde as máscaras não são mais obrigatórias em grande parte do país, a variante delta ameaça trazer a proteção facial novamente.

No fim de junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) sugeriu que mesmo pessoas já vacinadas deveriam continuar usando máscaras, em parte devido à circulação de novas variantes, como a delta, que ainda não têm todos os seus riscos estudados.

“As vacinas sozinhas não vão fazer parar a transmissão comunitária, e precisamos assegurar que as pessoas vão seguir as medidas de saúde pública”, disse a médica brasileira Mariângela Simão, diretora-geral assistente da Organização Mundial da Saúde (OMS), em entrevista coletiva.

“As pessoas precisam continuar a usar as máscaras consistentemente, ficar em lugares bem ventilados, fazer higiene das mãos, manter o distanciamento físico e evitar as aglomerações”, concluiu.

*Everton Lopes Batista/Folha

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