Na fieira das vítimas fatais do coronavírus, promovida pela cruzada da morte de Bolsonaro contra a quarentena, a certeza de que o país perdeu um dos seus maiores artistas, Aldir Blanc que, como poucos, soube desossar todos os vícios colonialescos da elite brasileira e as virtudes criativas do povo.
O boêmio de rua saudou como poucos os brasileiros de fato e criticou com uma acidez inflamada os medíocres e suas vidas igualmente medíocres.
O país da choldra penou nas letras impecáveis de Aldir.
A invasão estrangeira, fomentada pelo método oficial das classes dominantes, teve que enfrentar um Aldir Blanc, sublinhando a apoteose do acaso, saída da espontaneidade do povo como forma de resistência cultural para se opor ao pensamento banal do quadrado institucional.
Ninguém foi tão poeta para descrever a graça natural que Deus deu ao povo brasileiro. Lógico que, com a capacidade de pintar a realidade brasileira com os olhos postos nos desenhos tortos da nossa civilização tropical, Aldir buscou a essência da alma do povo e os princípios que norteavam a visão do brasileiro comum.
O que importava para Aldir era desenhar a realidade brasileira. O outro país que nunca esteve na história oficial.
Querelas do Brasil é uma letra villalobiana, pois fala das nossas fontes raciais naturais e comportamentais como a maior de nossas glórias.
Para dar um sentimento mil vezes mais importante nesse espetáculo de obra musical, segue o vídeo com Elis Regina interpretando magistralmente esta obra magnífica de Aldir em parceria com Maurício Tapajós, mostrando que, quando se é um mestre genuinamente brasileiro, não há o obstáculo do tempo. E sua obra se imortaliza pela essência contemporânea, porque nada descreve tão bem o Brasil de hoje de forma tão original e de poder tão conciso que Querelas do Brasil.
Querelas do Brasil
 Aldir Blanc e Maurício Tapajós
O Brazil não conhece o Brasil
 O Brasil nunca foi ao Brazil
 Tapir, jabuti
 Iliana, alamanda, alialaúde
 Piau, ururau, akiataúde
 Piá, carioca, porecramecrã
 Jobimakarore Jobim-açu
 Uô-uô-uô-uô
Pererê, câmara, tororó, olerê
 Piriri, ratatá, karatê, olará!
O Brazil não merece o Brasil
 O Brazil tá matando o Brasil
 Jerebasaci
 Caandrades cunhãs, ariranharanha
 Sertões, Guimarães, bachianaságuas
 Imarionaíma, arirariboia
 Na aura das mãos de Jobim-açu
 Uô-uô-uô-uô
Jereerê, sarará, cururu, olerê
 Blá-blá-blá, bafafá, sururu, olará
Do Brasil, S.O.S. ao Brazil
Tinhorão, urutu, sucuri olerê
 Ujobim, sabiá, bem-te-vi olará
 Cabuçu, Cordovil, Cachambi olerê
 Madureira, Olaria ibangu olará
 Cascadura, Águasanta, Acari olerê
 Ipanema inovaiguaçu olará
Araguaia e tucuruí
 Cantagalo, ABC, japeri
 Cabo frio xingú sabará
 Florianópolis piabetá
 Araceli no espirito santo
 E o aézio em jacarépaguá
 Os inamps o jari a central
 Instituto medico legal
Do Brasil, S.O.S. ao Brazil
 Do Brasil, S.O.S. ao Brasil
*Carlos Henrique Machado Freitas

