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Conselho de Direitos Humanos denuncia à ONU ato de PMs com teor supremacista

Órgão aborda gravidade de atividade feita por policiais no interior de SP e sugere que a ONU enfatize a necessidade de o país ter uma política de combate a ações neonazistas.

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) denunciou à ONU o 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), de São José do Rio Preto (SP), devido ao ato de teor neonazista realizado por policiais da corporação, conforme vídeo publicado e posteriormente apagado das redes sociais nesta semana.

A denúncia foi encaminhada à Relatoria Especial da ONU sobre o Neonazismo e Formas Contemporâneas de Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância. A relatora especial, Ashwini K.P., está elaborando um documento para ser submetido ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Assinada pela presidente do CNH, Charlene da Silva Borges, a denúncia expõe o caso e recomenda que a relatoria especial da ONU “enfatize a necessidade de o Brasil formular uma Política Nacional de Combate a Atos Neonazistas, envolvendo todos os poderes do Estado e com a adoção de ações articuladas nacionalmente que prevejam o enfrentamento desse movimento no campo da segurança pública, cultura e educação”.

Segundo Carlos Nicodemos, relator especial do CNDH para o Enfrentamento ao Discurso de Ódio e os Atos Neonazistas no Brasil, que também assina a denúncia, o episódio, “que aponta para um comprometimento da constitucionalidade do Estado brasileiro, é considerado gravíssimo e, à luz dos parâmetros do CNDH, deve ser monitorado e acompanhado por organismos internacionais de direitos humanos, como a relatoria especial da ONU”.

Além disso, destacou, “o Conselho Nacional de Direitos Humanos vem estabelecendo um contato contínuo com a relatoria da ONU sobre os atos neonazistas no Brasil”.

Funções constitucionais da PM

O documento do CNDH lembra que além da função institucional de preservação da ordem pública e policiamento ostensivo prevista na Constituição brasileira, as polícias militares devem ter como valores fundamentais a dignidade humana e o respeito aos direitos e garantias previstos na Constituição, por meio da proteção, promoção e respeito aos direitos humanos, segundo o Vermelho.

No entanto, argumenta, “o que é mostrado no vídeo representa um total desrespeito à lei e aos direitos humanos, principalmente porque os policiais estão fardados e diversas representações da corporação aparecem no vídeo, associando a prática supremacista ao corpo institucional da Polícia Militar”.

A denúncia aponta ainda a necessidade urgente de que sejam implementadas políticas públicas para combater o crescimento do neonazismo tanto na sociedade quanto no âmbito das instituições e órgãos governamentais do Brasil.

Gesto supremacista

Com pouco mais de 30 segundos, o vídeo, noticiado no dia 15, mostrava cerca de uma dezena de policiais em torno de uma cruz em chamas, fazendo gestos que lembravam rituais de grupos supremacistas brancos, como a Ku Klux Klan, dos Estados Unidos.

“O vídeo foi apagado da rede social poucos minutos depois. No entanto, foi suficiente para alcançar grande repercussão na mídia, dada a associação do ato a práticas supremacistas e a presença de agentes públicos do estado de São Paulo”, diz o documento encaminhado à ONU.

Na quarta-feira (16), um dia após reportagens noticiarem o ato, o Ministério Público de São Paulo instaurou investigação sobre o caso.

Segundo a PM, “o material foi produzido durante o encerramento de um treinamento noturno, conduzido pelas próprias equipes do batalhão, com o intuito de representar simbolicamente a superação dos limites físicos e psicológicos enfrentados ao longo da instrução”.

Diz, ainda, que “em nenhum momento houve intenção de associação a ideologias de natureza religiosa, racial ou política”, mas que o episódio será apurado em procedimento interno.

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Lula diz que 2026 já começou e que não quer entregar país ‘de volta ao neonazismo’

Lula também disse que deverá ter conversas individuais com os ministros de seu governo;

O presidente Lula (PT) disse nesta segunda-feira (20) em reunião ministerial que a campanha eleitoral de 2026 já começou e que não quer entregar o país “de volta ao neonazismo”, em referência à gestão do seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).

“Dois mil e vinte e seis já começou. Se não por nós, porque temos que trabalhar, capinar, temos que tirar todos os carrapichos, mas pelos adversários, a eleição do ano que vem já começou. Só ver o que vocês assistem na internet para ver que já estão em campanha. A antecipação de campanha para nós é trabalhar, trabalhar, trabalhar e entregar o que o povo precisa”, disse.

“Precisamos dizer em alto e bom som, queremos eleger governo para continuar processo democrático do pais, não queremos entregar esse país de volta ao neofascismo, neonazismo, autoritarismo. Queremos entregar com muita educação”, afirmou ainda, sob aplausos dos presentes.

Nas primeiras semanas do ano, o governo sofreu derrota para a oposição em torno de uma norma da Receita Federal que ampliaria a fiscalização sobre transações de pessoas físicas por meio desse tipo de transferência que somassem ao menos R$ 5.000 por mês.

Lula decidiu recuar da medida, após ataques da oposição e uma onda de desinformações, que levaram à queda no volume de transações desse tipo feitas na semana passada.

Nas redes sociais, viralizaram vídeos de parlamentares de direita, notadamente o de Nikolas Ferreira (PL-MG), em que ataca o governo e a medida.

A declaração de Lula sobre a oposição já ter começado a campanha de 2026 foi dada durante abertura da reunião ministerial, na Granja do Torto. Este é o primeiro encontro do ano com o primeiro escalão.

Reunião com Lula começou pela manhã
A reunião começou pela manhã . Além de ministros, há também líderes do governo no Congresso.

A expectativa da reunião é para reforçar a cobrança e a pressa por entregas dos ministérios nesta segunda metade do governo. O encontro também ocorre sob a perspectiva de uma reforma no primeiro escalão do governo.

Em outro momento de sua fala, Lula citou os partidos que integram seu governo e afirmou que é preciso entender se essas legendas apoiarão a continuação da gestão no processo eleitoral de 2026.

Hoje, integram a base do governo do petista partidos que ensaiam lançar uma candidatura própria à Presidência, como União Brasil e PSD — cada um com três ministérios na Esplanada. Além disso, uma ala do MDB pleiteia a vice da chapa de Lula.

“Temos vários partidos políticos, eu quero que esses partidos continuem junto, mas estamos chegando no processo eleitoral e a gente não sabe se os partidos que vocês representam querem continuar trabalhando conosco ou não. E essa é uma tarefa também de vocês no ano de 2025”, afirmou o petista.

Lula também disse que deverá ter conversas individuais com os ministros de seu governo, num momento de expectativa de reforma na Esplanada. Ele agradeceu a relação de confiança com os aliados e afirmou que, daqui para frente, “vai ter muito mais trabalho”.

“Nem tudo que foi anunciado já deu frutos, é preciso que a gente saiba que 2025 é o ano da grande colheita de tudo o que a gente prometeu ao povo brasileiro. E não podemos falhar. Não podemos errar.”

O presidente quer passar a mensagem nesta reunião de que o governo chegou na sua reta final, será preciso acelerar as medidas e, sobretudo, dar visibilidade de forma alinhada com a Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência). A mais recente crise do Pix reforçou no Planalto a ideia de que é preciso um discurso mais unificado na Esplanada.

Está prevista entre as falas de abertura do encontro a do novo ministro da Secom, Sidônio Palmeira, primeira vez para todo o primeiro escalão do governo. Ele tomou posse na terça-feira passada e já enfrentou a crise do Pix.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, um dos seus primeiros atos à frente da pasta foi encomendar uma campanha com foco em autônomos e empreendedores, após diagnosticar grande desgaste com esse público. Na avaliação de aliados do presidente, o diálogo com o segmento já era difícil e piorou ainda mais com a disseminação de fake news sobre a taxação do Pix.

Um dos principais desafios de Sidônio, segundo integrantes do governo, será justamente de alinhar o discurso da Esplanada. Há no Palácio do Planalto um entendimento de que muitos ministros ao proporem uma medida ou tomarem uma decisão nem sempre estão alinhados com o núcleo de governo, ou seja, com o que o presidente quer.

Além de Lula e Sidônio, todos os ministros vão apresentar, brevemente, um balanço de suas pastas e uma projeção para 2025.