Uma goleada esfuziante do Fortaleza sobre o Inter, por 5 a 1.
Vitória do Corinthians, imagine, sobre o América, 1 a 0, em Belo Horizonte.
Mas nada disso mexeu mais com o futebol brasileiro do que a notícia de que o comitê de ética da CBF afastou Rogério Caboclo da presidência por 30 dias que provavelmente serão perpétuos.
Sim, você não ouviu mal: a CBF tem um comitê dito de ética.
Trinta dias é o prazo que Caboclo tem para se defender da denúncia de assédio sexual e moral feita por funcionária da CBF.
Nesse período a CBF voltará ser presidida pelo coronel Nunes, um tipo de passado macabro e presente folclórico.
A dúvida sobre a participação da Seleção Brasileira na Cova América permanece e os bolsominions passaram a chamar Tite de comunista.
Depois das manifestações de Tite e do capitão Casemiro, mostrando que comissão técnica e jogadores da seleção brasileira não estão confortáveis em jogar a Copa América no Brasil, o governo federal recebeu uma mensagem tranquilizadora do (ainda) presidente da CBF, Rogério Caboclo. No que depender dele, a Seleção terá um novo técnico na competição: Renato Gaúcho.
Tite passou a ser atacado por apoiadores do governo, como se sua posição tivesse a ver com alguma simpatia política aos partidos que, hoje, fazem oposição a Bolsonaro. O governo ouviu uma resposta tranquilizadora de Caboclo no sábado: Tite será demitido, e um novo técnico, Renato Gaúcho, fará uma convocação com os principais jogadores para a Copa América. Usará como argumento, inclusive, o fato de estar chegando e precisar do torneio para montar um time a um ano e meio da Copa do Mundo.
Renato é um declarado apoiador de Bolsonaro, o que faz com que o governo fique ainda mais feliz com este possível desfecho.
Ao demitir Tite após o jogo contra o Paraguai, terça, às 21h30, em Assunção, pelas Eliminatórias, Caboclo também passaria o recado de que segue no comando e não admite insubordinação. A dúvida é se o próprio Caboclo não cai antes de terça, já que o dirigente vem derretendo dia após dia com as denúncias sobre sua gestão.
A maioria dos diretores da entidade defende o afastamento imediato do presidente, acusado por uma funcionária de assédio moral e assédio sexual, como mostrou o ge. Ele nega.
No sábado, por e-mail, o diretor de Governança e Conformidade da CBF, André Megale, recomendou a Caboclo que se licencie do cargo por tempo determinado para “comprovar sua inocência”. Isolado no cargo, o dirigente também está em guerra com a comissão técnica e os jogadores da seleção brasileira convocados para os jogos das eliminatórias.
Mas o que o governo tem a ver com técnico da Seleção? O Planalto é o grande fiador da realização da Copa América no Brasil. A CBF recebeu um pedido da Conmebol para socorrer a entidade depois da recusa de Colômbia e Argentina em sediar a competição, na qual ela já investiu mais de US$ 30 milhões — o país sede não recebe nada, diretamente, para organizar o torneio.
O secretário geral da CBF, Walter Feldman, entrou em contato com o governo e o mais forte ministro de Bolsonaro, o general Luis Eduardo Ramos, que pessoalmente cuidou de viabilizar tudo.
O Planalto entende que esta Copa América pode ser uma grande vitória política, de o governo mostrar que o país tem capacidade de organizar uma competição continental em questão de dias, na linha: “A Argentina desistiu, a gente foi lá, fez e foi um sucesso”.
O governo considera que, se o Brasil ganhar, com Neymar levantando a taça no Maracanã, na presença do presidente da República, será mais um ponto (político) a favor de Bolsonaro.
Por isso, membros do governo foram surpreendidos quando viram o posicionamento do técnico Tite e dos jogadores, que não estão dispostos a jogar a competição — querem férias, depois da temporada desgastante na Europa. E exigiram explicações da CBF: “Como pode o governo fazer todo esse esforço para sediar a competição, e o time ser contra o torneio?”.
Mesmo não tendo mentores assumidos, Casemero deixa claro que jogadores da seleção estão juntos contra a Copa América e contam com o apoio de Tite e da imensa maior parte do povo brasileiro. No entanto, não há ilusão de que Bolsonaro, que interfere na PGR e, consequentemente, no Ministério Público, no comando das Forças Armadas tratando as instituições brasileiras como cloroquina, certamente, fará, se já não fez cálculos políticos da decisão dos jogadores contra a Copa América e vai jogar pesado para que sua vontade seja feita.
O fato é que esse episódio revela duas coisas, a total irresponsabilidade do presidente da República com a vida de todos que participarão ou participariam da competição no Brasil e os avisos dos cientistas brasileiros de que o país já tem um número assustador de mortes diárias, passando de 2 mil a média e com mais de 470 mil mortes, com a terceira onda, a tendência é ter muito mais pessoas infectadas e, consequentemente, muito mais mortes.
A consequência desse ato de responsabilidade e de coragem dos jogadores da seleção, com certeza, será um número ainda mais crescente de brasileiros que estão despertando para o perigo que Bolsonaro representa ao país e à vida dos brasileiros e assumam posições contrárias à imoralidade que o governo produz dia após dia.
Para um presidente que vê seu mandato em estado avançado de decomposição, exigindo dele discursos ornamentais em rede nacional, a chegada de uma nova crise política só consagra ainda mais todos os que formam um bloco de oposição a esse governo sem classificação.