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Lula usará viagem ao Egito para anunciar guinada na política externa

Brasil volta a debater emergência climática após quatro anos de negacionismo com Bolsonaro.

Jair Bolsonaro boicotou o combate ao aquecimento global, abraçou o negacionismo na pandemia e isolou o Brasil nos fóruns internacionais. É fácil entender por que o mundo respirou aliviado com sua derrota nas urnas.

A torcida contra o capitão produziu um raro consenso entre Estados Unidos e China. Os líderes de Rússia e Ucrânia, em guerra desde o início do ano, também se uniram para saudar o presidente eleito. Na noite da vitória, Lula afirmou que “o Brasil está de volta”. O discurso será posto em prática a partir de amanhã, quando ele embarca para participar da COP27 no Egito.

A viagem deve marcar uma guinada na política externa brasileira antes mesmo da posse do novo governo. Bolsonaro se notabilizou como um inimigo da causa ambiental. Nunca foi às conferências da ONU sobre mudanças climáticas e ainda sabotou a edição de 2019, que deveria ter ocorrido em Salvador.

Para reforçar a mensagem de que os tempos mudaram, Lula deve propor que a COP30 aconteça no Brasil. Seu discurso em Sharm el-Sheikh incluirá promessas sobre a proteção da Amazônia, a defesa dos povos indígenas e a redução das emissões de carbono.

“A Amazônia tem que deixar de ser um passivo e voltar a ser um ativo do Brasil nas relações internacionais”, afirma o ex-chanceler Celso Amorim. Ele defende que Lula convoque uma cúpula de países da região para discutir ações coordenadas. “Precisamos assumir compromissos, como o desmatamento zero, e cobrar mais participação dos países desenvolvidos na preservação da floresta”, sustenta. O instrumento para isso será o Fundo Amazônia, criado em 2008 e abandonado por Bolsonaro.

O mecanismo recebia doações da Alemanha e da Noruega para financiar ações de combate ao desmatamento. Os repasses foram interrompidos quando o capitão extinguiu os comitês que supervisionavam o uso do dinheiro. Há dez dias, o Supremo Tribunal Federal ordenou a reativação do fundo e considerou o atual governo “negligente” e “omisso” por deixar mais de R$ 3 bilhões parados em conta. O ministro Kassio Nunes Marques, sempre ele, foi o único a votar a favor do Planalto.

A deputada eleita Marina Silva já pediu que os EUA passem a contribuir com o Fundo Amazônia. Ela é cotada para reassumir o Ministério do Meio Ambiente ou um novo órgão voltado às mudanças climáticas. “Marina é um símbolo internacional. Ela está para a questão do clima como Lula está para o combate à fome”, elogia Amorim, que também pode voltar ao Ministério das Relações Exteriores.

No discurso do dia 30, o presidente eleito disse que o Brasil é “grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária do mundo”. Foi uma crítica direta a Ernesto Araújo, chanceler na primeira metade do governo Bolsonaro. O olavista subordinou a política externa às teses da extrema direita, inaugurando uma era de vexames internacionais.

“O Itamaraty está muito ferido. O que aconteceu neste governo foi um desastre”, resume Amorim, que não vai ao Egito porque se recupera de uma cirurgia. Aos 80 anos, o ex-chanceler faz mistério sobre a eventual volta à Esplanada, mas deixa claro que pretende colaborar com a nova gestão. “O diabo sabe das coisas não porque é esperto, mas porque é velho”, brinca.

*Bernardo Mello Franco/O Globo

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