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Nossos comandantes militares e a oportunidade perdida

Álvaro Nascimento – Um sargento do Exército Brasileiro é flagrado, ao pousar em um aeroporto da Europa usando um avião da comitiva presidencial, com 39 kg de cocaína nas maletas de mão. É preso e, réu confesso, condenado pela Justiça espanhola. A Polícia Federal abre uma investigação e conclui que o militar traficou cocaína em aviões da FAB ao menos sete vezes. (Os Comandantes Militares não emitiram nota)

O Ministério Público Militar (MPM) apura que pelo menos R$ 191 milhões foram desviados do orçamento das Forças Armadas em 10 anos. Os crimes são cometidos por diferentes patentes e abrangem corrupção passiva e ativa, peculato, estelionato e fraudes em licitações. (Os Comandantes Militares não emitiram nota)

Em plena pandemia, 73.200 militares com salário mensal religiosamente depositado em suas contas receberam indevidamente o auxílio emergencial de R$ 600. (Os Comandantes Militares não emitiram nota)

Um general da ativa – com base no fato de que “um manda e outro obedece” – não compra vacinas então disponíveis, promove o aumento da produção de cloroquina que nenhum país sério utiliza na prevenção e tratamento da Covid, deixa morrer milhares de compatriotas sem oxigênio e ao ser demitido declara “missão cumprida”. (Os Comandantes Militares não emitiram nota)

Um coronel – acompanhado de um amigo “intermediário” – janta em um shopping de Brasília negociando, com um dirigente do Ministério da Saúde, porcentagem na compra de vacinas inexistentes. (Os Comandantes Militares não emitiram nota)

Este “intermediário” – também militar, cabo da PM de Minas Gerais – acaba denunciando o achaque, dizendo que lhe foi pedido um dólar a mais em cada dose de vacina para que o negócio fosse fechado. O escândalo acaba sendo pauta na CPI da Pandemia. (Os Comandantes Militares não emitiram nota)

Um capitão reformado pelo Exército por repetidas más condutas – que como prêmio foi para a reserva com gordo salário, apesar de ter apenas 33 anos, com 15 de serviço prestado – tornou-se deputado e agora uma ex-cunhada denuncia que ele cometia o crime de peculato, recolhendo 90% do salário dos assessores que nomeava para seu gabinete, gesto repetido pelo filho também deputado.
(Os Comandantes Militares não emitiram nota)

O Senador Omar Aziz (Presidente da CPI da Covid que investiga o porquê da morte de mais de 530 mil brasileiros) diante da quantidade de militares envolvidos em falcatruas na Saúde declara que “a parte boa do Exército deve estar envergonhada com a pequena banda podre que mancha a história das Forças Armadas”.

Como se a carapuça tivesse se adaptado dos pés à cabeça dos quatro, os excelentíssimos senhores Walter Souza Braga Netto (Ministro de Estado da Defesa), Almirante Almir Garnier Santos (Comandante da Marinha), General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira (Comandante do Exército) e o Tenente Brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (Comandante da Aeronáutica) levaram poucos minutos para emitir nota para protestar (aspas) “veementemente” contra (aspas) “as declarações do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, Senador Omar Aziz, no dia 07 de julho de 2021, desrespeitando as Forças Armadas e generalizando esquemas de corrupção”.

Das duas, uma. Ou nossos comandantes militares não sabem ler (o que seria um fato grave), já que não houve nenhuma generalização na fala do Senador; ou (pior ainda) não se identificaram com a “parte boa” das forças armadas citadas por ele, se sentindo portanto atingidos pelas críticas à “banda podre”.

Resumindo o resumo: os comandantes militares perderam ótima oportunidade de seguirem calados.

* Álvaro Nascimento é jornalista, Doutor em Saúde Pública pelo IMS/UERJ

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Desmoralização: Dois ministros militares tomaram poder de Paulo Guedes, Ramos e Braga Netto

Não, não é intriga palaciana. Trata-se de divergência na estratégia política mesmo.

O rumo oferecido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ao presidente Jair Bolsonaro funcionou durante a campanha eleitoral e nos primeiros momentos do governo, quando a prioridade era o ajuste fiscal. Mas agora, com a economia estagnada e o coronavírus à solta, a fórmula ultraliberal não funciona.

Foi aí que se fortaleceram os hoje dois ministros mais poderosos do governo. Por coincidência ou não, dois generais com gabinete no Palácio do Planalto: Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, e Walter Souza Braga Netto, que comanda a Casa Civil da Presidência.

O primeiro é responsável pela articulação política com o Congresso. O segundo responde pela interlocução do Palácio com os ministros e dos ministérios entre si. Os dois andam afinadíssimos um com o outro e com o presidente da República.

Luiz Eduardo Ramos é o guru da reaproximação do ex-deputado Jair Bolsonaro com seu bom e velho centrão. Vale lembrar que o presidente sempre foi filiado a partidos ligados a esse agrupamento político.

O centrão está sendo decisivo, no Congresso, para blindar o presidente depois da prisão de Fabrício Queiroz e do recrudescimento das acusações contra o senador Flávio Bolsonaro. Também garante a entrada de Bolsonaro no Nordeste, uma região decisiva para evitar que sua popularidade desabasse durante a pandemia.

Braga Neto é o chefão do Programa Pró-Brasil. Aquele que retoma as obras do PAC da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e que causou o choque entre Paulo Guedes e os ministros obreiros Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, e Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura.

No início deste ano, Bolsonaro já havia dado a Guedes até o mês de julho para ele fazer a economia sair da letargia. Veio a pandemia e o presidente aceitou estender o prazo. Mas esperava uma mudança na política econômica. Guedes, no entanto, insiste no receituário ultraliberal.

Por conta disso, o presidente está se voltando cada vez mais para os conselhos de Braga Neto e Luiz Eduardo Ramos. Como integrantes da caserna, eles sempre foram mais simpáticos à tradição desenvolvimentista do meio militar – de intervenção do Estado para impulsionar a economia – do que o laissez faire, o deixa acontecer do receituário liberal.

Estes dois são hoje os ministros que fazem a cabeça do presidente. A força de Rogério Marinho -hoje em conflito aberto com Paulo Guedes- não é propriamente dele, mas, na verdade, do apoio que tem recebido dos dois generais hoje tê “a força” no governo.

Luiz Eduardo Ramos e Braga Neto circulam entre políticos e os demais ministros sem precisar expor os galardões conquistados nos quartéis.

No presidencialismo, o poder emana do presidente. E, no momento, o comandante do Planalto ungiu Ramos e Braga Neto como seus eleitos. Deixou Paulo Guedes desguarnecido.

E tem deixado também os bolsonaristas de raiz de orelha em pé. Mas isso é outra história.

 

*Tales Faria/Uol