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Surgem as provas: Bolsonaro pediu que premier da Índia liberasse insumos de cloroquina a laboratórios de empresários aliados

Documento obtido pelo Globo mostra que Bolsonaro cita nominalmente as empresas EMS e Apsen ao pedir liberação da exportação dos produtos.

O presidente Jair Bolsonaro atuou diretamente em favor de duas empresas privadas solicitando ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em abril do ano passado que acelerasse a exportação de insumos para a fabricação de hidroxicloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a Covid-19. Um telegrama secreto do Ministério das Relações Exteriores em posse da CPI da Covid no Senado e obtido pelo GLOBO contém a transcrição do telefonema feito por Bolsonaro no qual o presidente cita nominalmente as empresas EMS e Apsen ao pedir que a Índia liberasse a exportação dos produtos. Senadores da comissão avaliam que a ligação é prova importante do envolvimento pessoal do presidente com o fornecimento para o Brasil do remédio sem eficácia.

As duas empresas beneficiadas diretamente pela atuação são comandadas por empresários que têm relações com o bolsonarismo. O presidente da Apsen, Renato Spallicci, é um apoiador de Bolsonaro. Ele declarou voto no atual presidente em 2018 e tinha várias postagens nas suas redes sociais com ataques a seus adversários e defesa do governo. Ontem, ele foi convocado a prestar depoimento na CPI da Covid. O CEO da EMS, Carlos Sanchez, já foi recebido por Bolsonaro para reuniões no Palácio do Planalto e participou recentemente de jantar com empresários realizado em São Paulo no qual o presidente foi ovacionado.

Procuradas, tanto a Apsen quanto a EMS afirmam que têm relação apenas institucional com o governo brasileiro.

A ligação foi feita para Modi no dia 4 de abril e divulgada nas redes sociais do presidente brasileiro, que postou uma foto na qual está ao lado do então chanceler Ernesto Araújo. No dia 9, Bolsonaro fez outra publicação agradecendo ao primeiro-ministro indiano pela liberação. A Índia tinha suspendido em março a exportação de vários insumos devido à pandemia.

Nas postagens públicas, no entanto, o presidente brasileiro não revelou que o pedido envolvia empresas privadas. O telegrama obtido pelo GLOBO, classificado como “secreto” e “urgentíssimo”, revela que o presidente citou diretamente as empresas ao solicitar a liberação.

Bolsonaro começa a ligação deixando claro que o objetivo era obter os insumos para fabricar a hidroxicloroquina com o intuito de usar o medicamento para o combate à Covid-19, apesar de a bula do remédio prever o uso apenas para malária, lupus e artrite reumatoide — e com prescrição médica.

“Entrarei diretamente no assunto. Embora não haja, por ora, divulgação oficial, temos tido resultados animadores no uso de hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com a COVID-19. Gostaria, por isso, em nome do governo brasileiro, de fazer um apelo ao amigo Narendra Modi para que obtenhamos a liberação de importações de sulfato de hidroxicloroquina feitas por empresas brasileiras”, disse Bolsonaro, de acordo com a transcrição feita pelo Itamaraty.

Sem citar quais fontes embasariam os “resultados animadores”, o presidente cita as empresas que têm a importação retida na Índia.

“O sucesso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 nos faz ter muito interesse nessa remessa indiana. Estou informado de que um carregamento de 530 quilos de sulfato de hidroxicloroquina está parado na Índia, à espera de liberação por parte do governo indiano. Esse carregamento inicial de 530 quilos é parte de uma encomenda maior, e foi comprado pela EMS”, afirmou Bolsonaro.

O presidente prosseguiu: “Adianto haver, também, mais carregamentos destinados a uma outra empresa brasileira, a Apsen. Este, como eu dizia, é um apelo humanitário que submetemos a nosso prezado amigo Narendra Modi, e que, se atendido, poderá salvar muitas vidas no Brasil.”

A interferência do presidente na negociação tinha sido confirmada por Araújo em seu depoimento à CPI da Covid, que tem a fabricação, a distribuição e incentivo ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada como um dos focos de sua investigação.

*O Globo

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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