Ainda nos primeiros meses de seu governo, Jair Bolsonaro se levantou em um jantar oferecido em Washington e fez um discurso de improviso. Mas apenas a fala era intempestiva. O plano havia sido cuidadosamente planejado. O presidente, numa explosão de sinceridade, avisaria aos presentes: vamos ter de destruir o que existe.
E assim foi feito, em praticamente todas as áreas da administração pública. O desmonte ocorreu na Funai, no Ibama, nos conselhos sociais, nos canais de participação da sociedade, nos programas de combate à fome, na diplomacia, na educação, na economia, na cultura, na ciência, pesquisas e tantos outros setores.
Não foi incompetência, como alguns mais apressados poderiam anunciar. Foi um plano, com metodologia, estratégia e objetivos. O problema: enquanto a destruição foi realizada com a meta de colocar no lugar uma nova ideologia, sob o controle de um determinado grupo, quem pagou caro foi a sociedade.
O Brasil mostrou ao mundo que nenhum avanço social, democrático ou econômico tem um percurso inevitável. Em quase três anos, a “eficiência” na destruição fez a fome voltar, a pobreza explodir, os ganhos sociais serem desfeitos e a economia desabar. A mentira matou e a credibilidade do país no exterior foi sepultada. Mas os ricos ficaram mais ricos.
Num encontro informal nesta sexta-feira com banqueiros em Genebra e investidores internacionais, até mesmo aqueles que fizeram apostas em Bolsonaro – sob o guarda-chuva de uma promessa de um ultraliberalismo cego – falavam abertamente: ninguém arrisca mais dizer o que ocorrerá com o Brasil.
Caminhando para o fim de um terceiro ano de uma administração que entrará para a história como a mais perversa da era democrática do país, chegou o momento de o óbvio ser dito com todas as palavras: o projeto de destruição prometido ocorre a olhos nus, com um êxito espantoso. O resultado: uma sociedade desgovernada e exausta.
Sim, existe um plano de poder, organizado para manter privilégios de alguns poucos, com os aplausos de donos de contas em paraísos fiscais e dos jogadores do cassino chamado Brasil.
Para quem não está nesse grupo, porém, cabe a luta por um horizonte cada vez mais turvo, mais distante e mais traiçoeiro.
Enquanto isso, na base de um país cujas elites nunca aceitaram o conceito de comunidade de destino, um exército de famintos disputa sua dignidade com ratos sem escrúpulos. Inclusive na Esplanada.
*Jamil Chade/Uol
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