Jair Bolsonaro tem muitos defeitos, mas não é bobo. Rapidamente, farejou o apetite de Sergio Moro por sua cadeira. Em dezembro de 2019, o presidente tentou amarrar o ministro a um plano mais modesto: ser seu vice na campanha à reeleição. “Seria uma chapa imbatível”, cortejou.
No mês seguinte, Moro foi questionado sobre a possibilidade de concorrer à Presidência. “Não tenho esse tipo de pretensão”, despistou. Como a resposta soou evasiva, ele ressaltou sua condição de subordinado. “Evidentemente, os ministros do governo Bolsonaro vão apoiar o presidente”, garantiu.
O capitão, que não é bobo, continuou desconfiado. Os dois se distanciaram, e a advogada Rosangela Moro parou de repetir que seu marido e Bolsonaro seriam “uma coisa só”. Na manhã de 24 de abril de 2020, o presidente disse a aliados que o ex-juiz queria seu lugar. Horas depois, Moro deixou o governo com ataques ao ex-chefe, diz Bernardo Mello Franco, de O Globo.
A filiação de Moro ao Podemos não marcou apenas o lançamento de um novo presidenciável. Entrou em cena, agora sem disfarces, um candidato a tirar Bolsonaro do segundo turno. O ex-juiz se apresentou como alternativa para o eleitorado de direita. Reciclou, em outro tom, o discurso vitorioso em 2018.
Além de bradar contra a corrupção, Moro prometeu “proteger a família brasileira” da violência e das drogas. Exaltou “nossos valores cristãos”. Elogiou as Forças Armadas. Disse ser um “bom brasileiro”. Citou trechos da Bíblia e do Hino Nacional.
A cerimônia foi desenhada para vender a imagem de um salvador da pátria. Ao fundo, o telão exibia a bandeira do Brasil. No púlpito, uma seta em verde e amarelo apontava o nome de Moro.
“Nunca tive ambições políticas, quero apenas ajudar”, jurou o ex-ministro. Orientado por marqueteiros, ele sacou uma fábula para tentar justificar a candidatura. Disse que um jovem perguntou, no exterior, se ele havia abandonado o país. “Aquilo foi como um tiro no meu coração. Eu não poderia e nunca vou abandonar o Brasil”, declamou, sem tirar os olhos do teleprompter.
Além de mirar a classe média antipetista, Moro buscou seduzir empresários e banqueiros que perderam o encanto com Paulo Guedes. Prometeu austeridade, reformas e privatizações. Recitou chavões a favor do empreendedorismo e da livre iniciativa.
O presidenciável iniciou a campanha ao lado de outros bolsonaristas arrependidos, como os ex-ministros Henrique Mandetta e Santos Cruz. O general, influente no Exército, arrastou um pelotão de militares da reserva.
Os rapazes do MBL e a deputada Joice Hasselmann, ex-líder do governo, também marcaram presença. Até a bancada da cloroquina subiu no palanque. Ao fim do discurso, Moro foi festejado pelos senadores Eduardo Girão e Marcos do Val, paus-mandados do Planalto na CPI da Covid.
O ex-juiz não esboçou nenhuma autocrítica sobre o passado recente. Prometeu livrar o país dos “extremos”, como se não tivesse ajudado um extremista a se eleger. Citado como nova opção da “terceira via”, Moro representa, na verdade, a segunda via do bolsonarismo. Por isso mesmo, tem boas chances de dividir a direita e tirar o capitão do páreo.
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