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Morre Henry Kissinger, o Nobel da Paz que mais fez da guerra a sua vida

Uma das personalidades mais influentes na política externa norte-americana desde os anos 1960, o diplomata faleceu aos 100 anos, em Connecticut (EUA).

Haroldo Ceravolo Sereza

Morreu em Connecticut (EUA), neste 29 de novembro de 2023, aos 100 anos, Henry Kissinger, diplomata, político e estrategista norte-americano. Kissinger é talvez a personalidade mais influente na política externa norte-americana dos anos 1960 para cá, tendo servido como secretário de Estado de dois presidentes republicanos, Richard Nixon e Gerald Ford, entre 1973 e 1977.

Nascido na Alemanha em 27 de maio de 1923, Kissinger migrou para os Estados Unidos, com a família, em 1938, fugindo do nazismo. Cinco anos depois, conseguiu a cidadania norte-americana. Serviu ao Exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial, a partir de 1943, e participou da ocupação do território alemão após o conflito.

Aluno de Harvard, Kissinger graduou-se, tornou-se mestre e doutor na instituição, entre os anos de 1950 e 1954. Também deu aulas de relações internacionais por quase duas décadas. Escreveu pelo menos 20 livros sobre temas como diplomacia, história e política.

Sob o comando de Kissinger, os Estados Unidos patrocinaram golpes de Estado aos borbotões, com destaque para o golpe contra o Chile de Salvador Allende em 1973. No mesmo ano, o secretário de Estado de Nixon negociava a paz no Vietnã, o que lhe rendeu um dos mais controversos Prêmios Nobel da Paz da história. Neste ano, também foi anunciado o prêmio para o negociador vietnamita, Le Duc Tho, que recusou o galardão.

A ditadura argentina, instituída em 1976, contou com sua bênção, assim como a uruguaia (1973) e o genocídio perpetrado pelo Paquistão contra a população de Bangladesh, durante sua guerra de independência. Também partiu de Kissinger o sinal verde para a invasão do Timor Leste pela Indonésia, em 1975.

Atribui-se a Kissinger, também, um papel central na organização da chamada Operação Condor, que articulou os sistemas repressivos das diferentes ditaduras do Cone Sul, incluindo o regime militar brasileiro.

No Brasil, tornou-se famosa a cena de Zuzu Angel, estilista que procurou pelo filho Stuart Angel, também cidadão norte-americano, desaparecido pela ditadura brasileira, entregando um dossiê sobre o caso a Kissinger, driblando a segurança presidencial de Geisel. Pouco depois do incidente, Zuzu foi assassinada num “teatrinho”: agentes da ditadura simularam um acidente automobilístico para matá-la. Nem Kissinger nem os Estados Unidos se moveram para localizar Stuart ou para que o assassinato de Zuzu fosse tratado como tal.

A influência de Kissinger, formalmente um defensor da “realpolitik” nas relações internacionais, permaneceu mesmo quando ele deixou o governo. Integrantes de seu gabinete fizeram parte de diferentes administrações norte-americanas. Também atuou como consultor em diversos organismos governamentais e criou uma empresa de consultoria, a “Kissinger Associates”, especializada em temas de relações internacionais.

O diplomata também teve um papel central na aproximação da China com os Estados Unidos (1969), nas negociações após a guerra do Yom Kippur (1973) e na relativa aproximação entre Estados Unidos e União Soviética, também durante os anos 1970 e 1980, o que resultou em acordos de controle da produção de arsenais nucleares.

Kissinger é considerado, por muitos, como um criminoso de guerra. O historiador Greg Grandin, da Universidade de Yale, estima que entre os anos de 1969 e 1976, morreram entre 3 a 4 milhões de pessoas em decorrência das políticas de Kissinger, fazendo dele uma das personalidades mais violentas da história do século XX.

*Opera Mundi

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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