Votação consistente de Marta pode ajudar Boulos em Parelheiros e Grajaú

Dados eleitorais mostram sobreposição de votos entre Marta e o PT na periferia, mas ex-prefeita tem vantagem no extremo sul da capital, que é reduto de Nunes.

Com um eleitorado consolidado na periferia de São Paulo, Marta Suplicy (PT) pode ajudar Guilherme Boulos (PSOL) a expandir sua votação sobretudo em Parelheiros e no Grajaú, na zona sul, onde ela ou o candidato apoiado por ela se sobressaíram nas últimas eleições municipais —e onde o prefeito Ricardo Nunes (MDB) tem sua base eleitoral.

Prefeita de São Paulo de 2001 a 2004, Marta se filiou ao PT nesta sexta-feira (2) para ser vice de Boulos em ato com a presença do presidente Lula (PT) e do ex-prefeito e atual ministro Fernando Haddad.

Resultados eleitorais analisados pela Folha, com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), mostram que, como apontam adversários do psolista, há certa sobreposição nos votos de Marta e do PT, que historicamente se concentraram nos extremos da cidade, regiões que Boulos conquistou no segundo turno de 2020, aliado aos petistas, mas não no primeiro, segundo a Folha.

De qualquer forma, Marta estabeleceu uma vantagem numérica constante, inclusive superior aos petistas, entre os eleitores de Parelheiros e Grajaú —que representam 4,76% do eleitorado da capital, segundo dados do pleito de 2022.

“De alguma maneira, Marta agrega, não dá para dizer que não agrega. Ter vencido nessas regiões desde 2000 é um indício, sem dúvida, da força eleitoral dela. Por mais que mude o contexto eleitoral, é uma presença que se mantém”, diz o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV.

Na opinião do especialista, o volume de votos em Grajaú e Parelheiros não é desprezível. O primeiro ato público de Boulos e Marta juntos será justamente em Parelheiros.

Reduto de Marta, a periferia da zona sul é também a área de atuação e, portanto, de maior competição entre os principais pré-candidatos —Boulos, Nunes e Tabata Amaral (PSB).

O psolista mora no Campo Limpo, e a pessebista cresceu na Vila Missionária, onde ainda mora sua mãe. Já o prefeito, que mora em Interlagos, concentra seus eleitores em Parelheiros, Grajaú e Capela do Socorro.

As últimas eleições dão pistas sobre o efeito de Marta na votação de Boulos, mas a comparação deve levar em conta os diferentes contextos e postulantes em cada pleito. Além disso, marqueteiros ouvidos pela reportagem opinam que, em geral, os candidatos a vice, condição que Marta ocupa agora, não alteram de forma significativa o resultado dos candidatos a prefeito.

Como cabeça de chapa, Marta venceu em Parelheiros e Grajaú em 2000, 2004 e 2008. Haddad, disputando no PT, venceu em 2012. Em 2016, eles foram adversários —ela concorreu pelo MDB e ele pelo PT, mas foi Marta quem venceu no extremo sul, com quase o dobro de votos dele, no único turno do pleito.

Naquele ano, com o PT combalido pela Lava Jato e pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT), João Doria, então no PSDB, se elegeu no primeiro turno com 53,29% dos votos —Haddad ficou em segundo lugar (16,7%), e Marta em quarto (10,1%).

O então tucano venceu em todos os distritos, menos nos redutos de Marta: Parelheiros (37,2% a 28,2%) e Grajaú (31,6% a 30,6%, resultado apertado).

No primeiro turno de 2020, Bruno Covas (PSDB), candidato apoiado por Marta, teve mais votos (72,3 mil) nessas duas regiões do que Boulos (48,2 mil) e o petista Jilmar Tatto (53,6 mil). De dentro do Martamóvel, caminhonete com paredes transparentes, ela fez campanha para o tucano nos dois bairros protegida da pandemia de Covid-19.

Os resultados nessas regiões são influenciados pela atuação dos vereadores locais, especialmente Milton Leite (União Brasil), que estabeleceu um reinado na zona sul e atuou a favor de Covas em 2020. A família Tatto, por sua vez, também é uma força eleitoral que trabalha pelo PT na mesma área.

O próprio Nunes, como candidato a vereador em 2016 e a vice em 2020, fez campanha para Marta e Covas, respectivamente, na sua região. Marco Antonio Teixeira, porém, afirma que o mérito da votação é mais da ex-prefeita do que do atual prefeito, que “era um ilustre desconhecido”.

O cientista político ressalta ainda a variação dos cenários em cada eleição —em 2016, Marta concorria pelo MDB, fazendo oposição ao PT, partido que viu seu eleitorado na cidade minguar para praticamente a metade entre os primeiros turnos de 2012 e 2016. Agora, ao contrário de 2020, Lula e o PT estão reabilitados na capital, onde ele venceu com 53,5% em 2022.

Aliados de Nunes e mesmo integrantes da equipe de Boulos dizem não acreditar que Marta possa agregar ao psolista mais eleitores do que os que ele já alcança com o PT. Adversários da ex-prefeita lembram que ela não conseguiu se reeleger, sofrendo derrotas em 2004, 2008 e 2016.

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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