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De software a agente infiltrado, PF aponta como governo Bolsonaro buscou vigiar adversários

Investigações revelam que antiga gestão operou estrutura paralela de inteligência com objetivo de manter o ex-presidente no poder.

As operações recentes envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos trouxeram à tona indícios de que o antigo governo lançou mão de uma estrutura paralela de inteligência com monitoramento de viagens de autoridades, infiltração de agentes e uso de programa espião. Todo esse aparato, segundo apontam investigações da Polícia Federal, foi operado para espionar adversários políticos e minar o processo eleitoral em 2022, com o objetivo de manter o ex-mandatário no poder.

Esse núcleo de inteligência paralela, conforme revelam os inquéritos, tinha duas frentes de atuação. A primeira envolvia uma atividade mais informal desempenhada por auxiliares próximos do ex-presidente, responsáveis por levantar informações clandestinas para ajudar na “consumação do golpe de Estado”. A segunda era encabeçada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que coletavam dados do interesse pessoal de Bolsonaro sobre adversários.

A existência de uma “Abin paralela” foi apontada, em março de 2020, pelo ex-secretário geral da Presidência Gustavo Bebianno, que rompeu com Bolsonaro logo no início do governo. Em entrevista ao “Roda Viva”, ele afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, não confiava na agência de Inteligência. A desconfiança foi abordada pelo próprio Bolsonaro em uma reunião ministerial em abril daquele ano.

— Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que tem oficialmente, desinforma — disse ele, na ocasião.

A defesa do ex-presidente disse que ele não “atuou ou conspirou contra a Constituição e o estado democrático de direito”. A Abin e o GSI não se manifestaram, mas, anteriormente, já informaram que colaboram com as apurações.

Um dos alvos centrais do núcleo de inteligência paralela era o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado era responsável por conduzir o processo de votação em 2022 e pelos principais inquéritos envolvendo o ex-presidente e seu entorno.

De olho nisso, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Marcelo Câmara, que também assessorava o então presidente, trocavam informações sobre os passos de Moraes. Em dezembro de 2022, os dois militares conversaram em mensagens sobre os voos dele entre Brasília e São Paulo — as viagens citadas coincidiram com o itinerário feito pelo ministro naquela ocasião. Os homens de confiança de Bolsonaro estavam dispostos, de acordo com o inquérito, a prender Moraes em 18 de dezembro de 2022, num plano eu envolvia a tomada do poder.

“As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle”, diz a PF.

Auxiliar mais próximo a Bolsonaro, Cid concentrava as informações que chegavam ao presidente no mesmo período em que participava diretamente das discussões sobre o plano de ruptura institucional — uma minuta com teor golpista foi encontrada no celular dele. Câmara era responsável por checar relatos que chegavam a Bolsonaro via WhatsApp, principal fonte de informações usada por ele.

*Da coluna de Bernardo Mello Franco/O Globo

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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