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Escatológico, Bolsonaro disfarça medo de ser preso

Qualquer Freud de botequim sabe o que está por trás da frase “caguei para prisão”. O Analista de Bagé também explica tudo isso.

A primeira reação pública do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a denúncia da PGR — e a possível condenação no STF —, foi escatológica: “Caguei para a prisão”, disse no encontro de Comunicação do PL, nesta quinta-feira (20/03), em Brasília.

Qualquer Sigmund Freud de botequim, caso desse cronista envelhecido nos barris dos Bip Bips da vida, sabe que a frase entrega o mais retumbante temor do encarceramento.

A fala nos remete, de certa maneira, à fase anal estudada pelo pai da psicanálise: o ingovernável controle esfincteriano, a retenção forçada, o autoritarismo de uma eventual prisão de ventre, entre outras especulações com origem na infância.

Levamos em conta, no repertório do botequim, as internações do célebre paciente, conhecido por austeras dificuldades digestivas, segundo diagnósticos oficiais dos melhores hospitais de Brasília e São Paulo.

Desta vez, note-se, não se pode sequer culpar o inocente camarão do litoral catarinense, como em 2022, ainda no exercício da Presidência da República. Indigesta foi a denúncia do procurador-geral Paulo Gonet, autêntico sarapatel vencido para as pretensões de um enfezado contumaz.

Uma dose de memoriol é importante. Para lembrar que o “caguei” não é novidade. Durante a pandemia de covid-19, o ex-presidente também recorreu à saída escatológica. No que obrigou o médico e então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a soltar um parecer oportuno:

“Isso aí é o álibi que muita gente quer para terceirizar sua responsabilidade. O presidente, o filho (Eduardo) têm um certo tropismo por essa região anal”, declarou o ex-ministro em entrevista.

Toda vez que a realidade aperta, o capitão golpista recorre ao verbo que remete ao suposto relaxamento do esfíncter (obrigado, de novo, Sigmund!), apesar de um expressão facial que mostra um velho político militar enfezado.

“Caguei para a prisão”, portanto, é uma tentativa desesperada do alívio que deveras não sente.

Chega, porém, desta nossa escuta psicanalítica de boteco. Prefiro endereçar o paciente aos cuidados de autêntico profissional do ramo.

Ainda no início de 2020, o escritor Luis Fernando Veríssimo, em entrevista a Roberto Dias (da Folha), indicou o seu “Analista de Bagé” para o presidente, no auge das suas patadas no “cercadinho” do Palácio da Alvorada.

“O Analista receberia o Bolsonaro com um joelhaço, para inveja de muita gente”, disse o cronista.

O joelhaço, segundo o “freudiano barbaridade” do interior gaúcho, consiste em uma técnica heterodoxa para curar frescuras e mimimis. Tudo sob o olhar perverso da bela recepcionista e assistente Lindaura.

Mais ortodoxo que caixa de Maizena, o analista diria que o famoso paciente está mais medroso que cascudo atravessando galinheiro. Melhor: mais nervoso que potro com mosca no ouvido, como também se fala nos melhores bares e bolichos da querida Rainha da Fronteira.

*Xico Sá/ICL

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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