Pandemia, economia e eleições foram os principais alvos de mentiras do ex-presidente.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mentiu 6.676 vezes durante o seu governo, aponta um levantamento feito pela agência de checagem Aos Fatos. O número representa uma média de 4,58 mentiras por dia ao longo de seu mandato, que foi de janeiro de 2019 até dezembro de 2022.
Esse padrão de desinformação não se restringiu a um único tema, mas foi abrangente, afetando desde a gestão da pandemia de Covid-19 até a economia e as urnas eletrônicas. O negacionismo diante da pandemia foi um dos pilares dessa estratégia. Bolsonaro insistiu em minimizações sobre a gravidade do coronavírus, como quando se referiu à doença como uma “gripezinha”, ou ao defender medicamentos sem comprovação científica, como a hidroxicloroquina.
Das 6.676 declarações falsas, 2.511 foram relacionadas à pandemia, representando 37,61% das checagens enganosas realizadas. Durante a crise sanitária, o presidente não apenas desinformou sobre as medidas de distanciamento social, mas também questionou a eficácia das vacinas, desafiando a opinião científica e prejudicando a resposta nacional à saúde pública.
A economia, por sua vez, também foi alvo de manipulação. Ao longo de seu mandato, Bolsonaro fez 1.212 declarações falsas sobre o tema, especialmente em relação ao emprego e ao desempenho econômico durante a pandemia. Ele distorceu números para minimizar os efeitos negativos da crise e inflou as realizações do seu governo, como quando exagerou o endividamento da Petrobras nos governos anteriores. No ano eleitoral de 2022, o presidente também tentou apropriar-se de inovações como o sistema de pagamentos instantâneos Pix, que na verdade foi idealizado pelo Banco Central na gestão de Michel Temer (MDB), antes mesmo de Bolsonaro assumir a presidência.
Outro capítulo da desinformação foi a crise ambiental, que teve forte repercussão internacional devido ao aumento do desmatamento na Amazônia. Para minimizar a gravidade da situação, o presidente repetiu inverdades sobre a floresta, chegando a afirmar que ela não poderia pegar fogo por ser uma área úmida. Além disso, questionou as medições feitas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alegando que os satélites registravam até fogueiras de festas juninas como incêndios florestais.
O ataque à credibilidade do sistema eleitoral brasileiro foi outro pilar fundamental da estratégia de desinformação de Bolsonaro. Ao longo do mandato, especialmente durante a campanha de 2018 e no período eleitoral de 2022, o presidente fez constantes ataques às urnas eletrônicas. Disse que o sistema não seria auditável, incitou teorias conspiratórias sobre fraudes eleitorais e usou essas mentiras para contestar os resultados da eleição de 2022, gerando uma crise institucional que ainda reverbera no país. As declarações sobre a fraude nas urnas em 2018 e 2014, por exemplo, foram amplamente desmentidas, mas continuaram a ser repetidas durante todo o período eleitoral.
As mentiras de Bolsonaro sobre o sistema eleitoral brasileiro foram amplamente citadas pela Polícia Federal no inquérito do golpe, que investiga uma tentativa de golpe para manter o ex-presidente no poder após perder as eleições de 2022. Segundo as investigações, os constantes ataques às urnas foram parte fundamental de uma trama para fragilizar a democracia brasileira e justificar o golpe. Com 247.