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A Santarrona

Dei de cara com um termo que há anos eu não mais ouvia.

Minha mãe, hoje aos 101 anos, costumava usar essa expressão para transpor as barreiras do português culto quando falava das pudicas.

A impaciência da Gahydinha era explosiva. Ela não digeria as falsas doses de pureza que algumas mulheres religiosas se apresentavam aos pulinhos.

Vi esse mesmo termo usado nas doses máximas hoje para falar de Micchelle Bolsonaro que havia atacado Lula e um pastor muito querido pelo que narrava a sua hipocrisia, sem citar nome de ninguém.

O fundamental é que ele deixa claro que Michelle é apenas a pior caricatura de uma legião de precursores do mesmo comportamento político no atual estágio pós bolsonarista.

O fato é que Michelle não aceitou fechar seu ciclo de 1ª dama e, além de ser denunciada por Mauro Cid de comandar junto a Eduardo o núcleo mais radical dos pensadores do golpe, ela transborda todos os limites da hipocrisia nacional.

É uma carreirista.

Mas, a simples figura de mulher de um ex-presidente criminoso não cabe mais nessa revoltada pintura.

Só a obra completa de Michelle pode fazer cair a flor e expor seus espinhos e assim virar a bem amada dos fascistas brasileiros.

Ela, tratada nas aulas de comportamento em palanque, parece obra maior que si própria.

Isso está dando choque, e a aversão a ela, mostram as pesquisas, só cresce no Brasil.

Está com 62% de rejeição, ao lado de Eduardo com 65 e o próprio Bolsonaro perto de 70.

Ou seja, o termo Santarrona, pode estar meio fora de moda, mas está vivo na memoria afetiva da população.


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Por Carlos Henrique Machado

Compositor, bandolinista e pesquisador da música brasileira

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