Categorias
Política

Deputado pede quebras de sigilo e vê ligação entre Banco Master, igrejas e INSS

Comissão amplia investigações e mira repasses, estruturas religiosas e movimentações financeiras ligadas a operadores do esquema

A CPMI do INSS abriu a etapa mais sensível de sua investigação ao ampliar o foco para além das entidades suspeitas e alcançar igrejas, operadores financeiros e estruturas paralelas usadas para movimentar recursos desviados de aposentados.

Os novos requerimentos apresentados pelo deputado Rogério Correia (PT-MG), com apoio da base governista, miram diretamente esse fluxo. Ao ICL Notícias, o parlamentar resumiu a dimensão do esquema afirmando:

“A quantidade de dinheiro roubado foi muito grande, imagina… Isso são milhões de aposentados sendo descontados 40, 50 reais, durante pelo menos de 2023, de 2019 lá no governo, até 2024. Foram bilhões.”

Segundo o deputado, o caráter massivo dos desvios exige que a Comissão avance sobre todos os caminhos percorridos pelo dinheiro. Parte desses valores, afirma ele, continuou circulando mesmo após o fim dos descontos.

“Para fazer lavagem eles usavam de tudo”, relatou, apontando que os indícios já reunidos mostram a necessidade de apurar o envolvimento de instituições religiosas, especialmente da Igreja da Lagoinha, em Belo Horizonte.

Correia acrescentou que “já existem elementos que precisam ser investigados”, citando repasses e vínculos de operadores do esquema com estruturas religiosas.

A prisão do dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, reforçou a preocupação da CPMI. Para Correia, as relações entre o banqueiro e operadores ligados ao mercado de consignado revelam conexões que precisam ser esclarecidas.

Ele afirmou que Vorcaro mantinha relações com figuras religiosas e com empresários próximos ao núcleo investigado, e que isso pode ter criado uma rota paralela de circulação de recursos. Em suas palavras:

“Agora, com a prisão do Vôrcaro, que também fazia, através do Master, crédito consignado… e o pastor ligado a ele era ligado também à Igreja da Lagoinha. Recursos que eles receberam dos chamados Golden Boys nos fazem verificar se utilizaram disso para lavar dinheiro.”

O deputado detalhou ainda que o grupo investigado chegou a lavar recursos “em associações, em vinhos, em quadros, em carros, em imóveis, em lanchas, em escritórios de advocacia”, indicando a multiplicidade de mecanismos usados para dar aparência de legalidade aos valores desviados.

Essa multiplicidade de estratégias, segundo o deputado, demonstra a necessidade de rastrear como estruturas religiosas e financeiras foram usadas para dar aparência de legalidade ao dinheiro desviado.

Para organizar as linhas de investigação, os documentos de Correia anexados à CPMI introduzem um recorte mais amplo do que se sabia até agora. O objetivo é conectar os principais operadores, apelidados de “golden boys”, às instituições que, direta ou indiretamente, receberam recursos oriundos de atividades suspeitas.

As informações enviadas pelo COAF e pela Receita Federal mostram que as entidades Amar Brasil, CONAFER, CBPA e AAB operavam em rede, registrando picos de movimentação financeira incompatíveis com sua atuação declarada. Parte desses valores, segundo os RIFs, seguiu em direção a igrejas, fundações religiosas e a uma fintech de caráter cristão, a Clava Forte Bank.

Correia dedica seus requerimentos a detalhar a participação do grupo formado por Felipe Macedo, Américo Monte e Anderson Cordeiro. A partir de 2022, após mudanças societárias registradas na Receita Federal, a Amar Brasil passou para a titularidade de Américo Monte, mesmo após o INSS ter sido formalmente alertado sobre irregularidades.

Ainda assim, um novo Acordo de Cooperação Técnica foi assinado, fato que permitiu que as operações do grupo se expandissem. Em paralelo, o volume de reclamações e processos judiciais relacionados a descontos indevidos cresceu de maneira acelerada.

Repasses expõem atuação de ‘golden boys’
A investigação mostra que o trio movimentava valores elevados, repassando quantias expressivas para igrejas com as quais mantinham relação direta. Uma das instituições mais citadas é a Sete Church, liderada pelo pastor Cesar Beluci, localizada em Alphaville, São Paulo. O COAF identificou que apenas no mês de maio de 2024 a igreja recebeu:

R$ 300.000,00 via Anderson Cordeiro, em 08/05/2024;
R$ 70.338,00 via Anderson Cordeiro, em 21/05/2024;
R$ 124.000,00 via Pix de Américo Monte.
Esses valores, somados, ultrapassam R$ 494 mil, mas documentos analisados pela CPMI e repassados por outras fontes elevam esse total para cerca de R$ 694 mil, indicando que parte das transações ainda não está completamente rastreada.

O padrão de repasses sugere que a Sete Church teria atuado, segundo o texto dos requerimentos, como centro receptor de valores provenientes das práticas fraudulentas atribuídas aos “golden boys”.

O envolvimento da Sete Church não se resume às transferências financeiras. Em evento realizado pela própria igreja em junho de 2024, Felipe Macedo afirmou publicamente que “a fase de prosperidade” do grupo começou em setembro de 2022, “logo após o ACT” assinado pelo INSS.

Ele citou nominalmente seus sócios Anderson e Américo, mencionando que o trio realizava “orações de madrugada no escritório” e destinava dízimos ao líder religioso da instituição assim que recebiam recursos. Para a CPMI, esse depoimento público reforça a necessidade de convocar Beluci para esclarecer a relação da igreja com os operadores das fraudes.

Outro foco da CPMI é a atuação da Igreja da Lagoinha e de seu líder, o pastor André Valadão. O requerimento apresentado por Correia cita a proximidade de Valadão com Felipe Macedo e destaca que, em 2024, o empresário suspeito financiou o evento de Réveillon da igreja realizado no Allianz Parque.

A Lagoinha também aparece como instituição orbitando em torno da Clava Forte Bank, apresentada publicamente como um “banco cristão” dedicado a apoiar igrejas em projetos financeiros. Entretanto, a fintech não aparece registrada como instituição autorizada pelo Banco Central, o que levantou suspeitas dentro da CPMI.

A Clava Forte declara atividades como desenvolvimento de softwares e intermediação de negócios, mas suas movimentações financeiras são descritas como incompatíveis com seu escopo formal. Por isso, Correia protocolou requerimento pedindo a quebra de sigilo bancário e fiscal da instituição, assim como a produção de RIFs que permitam analisar padrão de movimentações, origem dos recursos e possíveis vínculos com o grupo investigado.

A comissão quer saber se a fintech funcionou como mecanismo de lavagem ou “esfriamento” de recursos desviados de aposentados.

Além de Sete Church e Igreja da Lagoinha, os documentos apontam para repasses suspeitos envolvendo a CBPA. Segundo o COAF, a entidade enviou R$ 1,9 milhão à empresa Network, que depois distribuiu valores a instituições e pessoas físicas ligadas à família do deputado Silas Câmara. Entre os repasses identificados estão:

  • R$ 11 mil à Fundação Boas Novas, presidida pelo pastor Jônatas Câmara;
  • R$ 37 mil ao filho do deputado, Heber Câmara;
  • R$ 146 mil à filha do parlamentar, Milena Câmara, advogada da própria CBPA;
  • R$ 9 mil diretamente ao deputado Silas Câmara;
  • R$ 37 mil adicionais encaminhados ao filho do parlamentar por meio da empresa Conektah.
  • A CPMI considera esse conjunto de transações como extremamente sensível, sobretudo pelo papel de Silas Câmara na
  • Frente Parlamentar Evangélica. A participação simultânea de familiares em estruturas religiosas, empresariais e políticas sugere, segundo Correia, a necessidade de “investigar vínculos tanto formais quanto informais”.

O escopo investigativo se estende também à Associação dos Aposentados do Brasil (AAB), dirigida por fundadores de igrejas evangélicas no Distrito Federal. A entidade administra filiações e descontos previdenciários, mas seus dirigentes também são responsáveis por instituições religiosas como a Primeira Igreja Pentecostal Cristo a Esperança e a Igreja Pentecostal Ministério Visão de Deus.

Para a Comissão, essa sobreposição pode indicar uma rota paralela de legitimação de recursos provenientes dos descontos investigados.

Em sessão recente, Rogério Correia afirmou que os indícios reunidos pela CPMI revelam um alinhamento entre operações financeiras suspeitas, estruturas religiosas e organizações que orbitam o mercado de crédito consignado.

Ele citou a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master, como exemplo da “intersecção” entre esses mundos. Para Correia, há elementos que conectam a atuação de Vorcaro a operações de consignado que, segundo as suspeitas, se aproximam do modelo utilizado pelos “golden boys”.

Pontos-chave destacados pela CPMI nos requerimentos:

  • Crescimento súbito das movimentações financeiras da Amar Brasil e da CONAFER após 2022;
  • Operações de alto valor destinadas à Sete Church por integrantes do núcleo investigado;
  • Patrocínio do evento da Igreja da Lagoinha por operador suspeito;
  • Existência de fintech cristã (Clava Forte) sem registro no Banco Central;
  • Repasses da CBPA que beneficiam diretamente a família de deputado federal;
  • Sobreposição de lideranças religiosas e dirigentes de entidades de aposentados;
  • Indícios de conexão entre o esquema e práticas financeiras investigadas no Banco Master;
  • Necessidade de acesso a RIFs e dados bancários para rastrear a origem dos valores.

*Cleber Lourenço/ICL


Queridos leitores,
Nosso blog é um espaço dedicado a compartilhar conhecimento, ideias e histórias que inspiram. Para continuarmos criando conteúdo de qualidade e mantendo este projeto vivo, contamos com o seu apoio! Se você gosta do que fazemos, considere contribuir com uma pequena doação. Cada gesto faz a diferença e nos ajuda a crescer. Pix: 45013993768. Agradecemos de coração o seu apoio.


Siga-nos no Facebook: https://www.facebook.com/profile.php?id=100070790366110

Siga-nos no X: https://x.com/Antropofagista1

Siga-no no Instagram: https://www.instagram.com/blogantropofagista?igsh=YzljYTk1ODg3

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

Comente