Assistimos nesta noite de quinta-feira como morrem as democracias. Ao tomar a palavra, Donald Trump fez um dos maiores ataques contra o sistema eleitoral americano. E o fez ao vivo, transmitido para todo o mundo.
Acusando o processo de corrupto e denunciando uma suposta fraude, o presidente minou um dos pilares de um sistema que é alvo de um consenso de séculos nos EUA. Sem apresentar provas, Trump usou palavras como “violência”, distribuiu ódio, desconfiança e alimentou uma base radical que pode representar uma ameaça à estabilidade social.
A coluna obteve informações de que, nos últimos dias, mediadores entraram em contato com a cúpula da Casa Branca para pedir “calma” e alertar sobre os riscos de confrontos armados caso o presidente adotasse um tom de ameaça e incendiário.
Mas Trump ignorou o apelo. O poder é a meta, mesmo que isso represente um abalo irreversível à confiança de parte da popular em relação ao sistema. Ao subjugar as instituições aos seus desejos, ele abre uma nova era na história das democracias ocidentais.
E deve servir como um alerta a todos os países que, hoje, são governados por líderes que se dizem democratas. Mas que, obviamente, não estão dispostos a ser derrotados pelos mesmos sistemas que os elegeram ao cargo.
Acusações de fraude estão na cartilha dos charlatães e são usadas sempre que a vontade popular se mostra mais forte que seus ímpetos autoritários. O que dizer de um líder sul-americano que serve de caixa de ressonância para as acusações de Trump e, se não bastasse, orgulhosamente faz apologia a ditadores que se recusaram a deixar o poder e torturadores?
O regime democrático implica que todos estejam de acordo com as regras do jogo e que a oposição seja vista como legítima.
Ao se recusar a aceitar as regras, Trump rompe com um pacto fundamental na história recente do Ocidente. Trump, que é apontado pelo chanceler Ernesto Araújo como o “único que pode salvar o Ocidente”, acaba de golpear essa civilização em seu coração.
*Jamil Chade/Uol
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