O infiltrado na Faria Lima que investe no MST e em moradia popular

João Pacífico, CEO do Grupo Gaia, lança fundo com milhões da venda de parte do negócio para investir em impacto social, critica ganância e defende que rico pague mais imposto.

“Talvez você não sabia, mas no fundo está com o MST.”

A provocação encerra um vídeo recente postado no Instagram por João Paulo Pacífico, fundador do Grupo Gaia, que tem como lema construir um mercado financeiro mais humano.

Com 157 mil seguidores na rede social, o investidor de 45 anos veste a camisa de ativista ao produzir conteúdos como o da visita a uma cooperativa ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul.

O post rendeu mais de 20 mil likes e protestos no perfil do “faria limer”, apelido de quem frequenta a região que concentra grande parte do mercado financeiro em São Paulo, segundo a Folha.

“Se você gosta tanto desses terroristas, doa sua fortuna para eles”, protestou um seguidor em um comentário indignado. Mal sabe ele que Pacífico já levantou mais de R$ 22 milhões em investimentos para o MST.

“É muito estranho um cara de olhos azuis, brancão, da Faria Lima e que fala a linguagem do mercado elogiando o MST”, admite Pacífico, ao trocar a clientela do agronegócio pela de assentados da reforma agrária.

Com o boné vermelho, o fã insuspeito alardeia números da produção agroecológica das cooperativas do movimento também no Linkedin, onde é um Top Voice com mais 500 mil seguidores.

A conversão ao movimento de reforma agrária demonizado por parte da população aconteceu ao receber uma visita de João Pedro Stedile e João Paulo Rodrigues, respectivamente fundador e coordenador do MST, em 2019.

O café rendeu frutos, com o lançamento de emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio, instrumento usado normalmente por grandes do setor para captar recursos no mercado financeiro.

“Recebemos ameaças de todos os lados, mas as operações foram um sucesso”, diz Pacifico.

Ex-comandante da Aeronáutica disse que Anderson Torres daria embasamento jurídico para Bolsonaro decretar estado de sítio

Mesmo após ter informações seguras sobre lisura das urnas, ex-presidente insistiu na tese da fraude para justificar um golpe.

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior complicou ainda mais a situação de Anderson Torres na investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, informa a colunista Bela Megale, do jornal O GLOBO.

O brigadeiro afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que o ex-ministro da Justiça era quem daria embasamento jurídico para que Jair Bolsonaro decretasse um estado de defesa ou de sítio.

O depoimento do militar demorou cerca de dez horas e aconteceu antes da oitiva do ex-comandante do Exército Freire Gomes, que falou aos investigadores no início do mês. As informações que ambos deram como testemunhas no inquérito do plano golpista foram levadas ao ex-ajudante de ordens da Presidência e hoje delator, Mauro Cid. Ele foi interrogado nesta segunda-feira (11).

Chamou a atenção da PF o fato de que a expressão “estado de defesa” constava na minuta golpista encontrada, no ano passado, no armário de Torres, durante uma operação de busca e apreensão realizada em sua casa.

Essa medida está prevista na Constituição e trata de um regime excepcional que pode ser utilizado pelo presidente da República, para preservar ou restabelecer a ordem pública ou a paz social, de imediato. O estado de defesa, porém, tem restrições geográficas, ou seja, não pode ser aplicado em todo o território nacional, e precisa ter a validade aprovada no Congresso.

À PF, o ex-comandante também confirmou a participação na reunião em que Bolsonaro debateu uma minuta golpista com chefes das Forças Armadas, mas disse que se colocou contra a medida.

O brigadeiro ainda foi categórico ao afirmar para os delegados que não houve fraude nas eleições e destacou que sua base são as conclusões do relatório militar sobre as urnas na comissão de transparência da Justiça Eleitoral.

Baptista Junior disse aos investigadores ter afirmado ao então presidente Bolsonaro que não houve fraude no pleito. Para a PF, o depoimento do brigadeiro aponta que, mesmo após ter informações seguras sobre a lisura das urnas, o ex-presidente insistiu na tese da fraude para justificar o plano de golpe.

Tarcísio e Caiado viajarão a Israel a convite de Netanyahu depois de embate do país com Lula

Governador de Minas Gerais, Romeu Zema foi convidado, mas recusou; Bolsonaro aguarda autorização de Alexandre de Moraes, do STF, para viajar.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), embarcará no dia 18 para Israel. Ele viajará ao país a convite do governo de Binyamin Netanyahu.

Outros governadores também foram convidados para visitar o país na mesma comitiva de Tarcísio. Entre eles estão o de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), que confirmou viagem, e o do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, declinou do convite.

Netanhyahu enviou ainda uma carta pessoal a Jair Bolsonaro para que ele viaje a Israel.

O ex-presidente, no entanto, teve o passaporte apreendido por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, e depende da autorização do magistrado para sair do Brasil.

A viagem ocorrerá no momento em que as declarações de Lula contra Israel se intensificaram, gerando desgaste para o presidente brasileiro entre eleitores evangélicos que se identificam com o país.

O petista repete, sempre que tem oportunidade, que o governo de Netanyahu está promovendo um genocídio de mulheres e crianças na Faixa de Gaza.

De acordo com pesquisa Genial/Quaest divulgada na semana passada, a queda da avaliação positiva de Lula foi maior entre os evangélicos justamente por causa dessas declarações, e a rejeição a ele neste público chegou a 62%.

O território de Gaza passou a ser bombardeado por Israel depois do atentado do dia 7 de outubro, em que terroristas do grupo Hamas mataram 1.500 israelenses.

Desde então, a diplomacia de Israel se esforça para expor seus argumentos de que a guerra é necessária. E se dedica a criticar Lula, declarando que o presidente brasileiro é “persona non grata” no país.

Vídeo mostra interior de voo da Latam com incidente que deixou 50 feridos

Passageiros e tripulantes de um voo da Latam na Oceania ficaram feridos após a aeronave sofrer um “forte movimento” no meio do voo.

Passageiros “sacudidos”. As pessoas se feriram durante o balanço intenso da aeronave, informaram testemunhas ao portal local Stuff. O voo, que saiu de Sydney, pousou em Auckland às 16h26 no horário local (0h26 no horário de Brasília).

Desespero e gritaria. O incidente ocorreu uma hora antes do pouso e causou desespero, informaram testemunhas. “Todo mundo estava gritando. O avião começou a mergulhar de nariz'”, narrou um passageiro ao portal Stuff.

Aproximadamente 50 pessoas passaram por triagem ambulatorial após o pouso. A informação foi dada pelo serviço de ambulância Hato Hone St John ao jornal The Guardian.

Das pessoas que estavam na aeronave, 10 precisaram ser hospitalizadas, informou a Latam ao UOL. Sete dessas eram passageiros e três eram tripulantes e nenhuma está em estado grave, disse a companhia.

Incidente foi “evento técnico”, diz Latam. Em nota, a companhia aérea informou que a aeronave pousou no horário programado em Auckland após “forte movimentação durante o voo”.

Voo remarcado. A aeronave faria apenas uma escala em Auckland e tinha como destino Santiago, no Chile. O voo para o Chile foi suspenso e deve ser realizado amanhã, informou a empresa em nota enviada ao UOL.

A LATAM está oferecendo alimentação e hospedagem aos passageiros afetados pela suspensão do voo.

ONU: Expansão dos assentamentos israelenses é crime de guerra

Assentamentos podem eliminar qualquer possibilidade prática de estabelecer um Estado palestino.

A expansão dos assentamentos israelenses nos territórios palestinos ocupados constitui “crime de guerra” e corre o risco de eliminar “qualquer possibilidade prática” de um Estado palestino viável, alertou o chefe dos direitos das Nações Unidas na sexta-feira.

Volker Turk disse que houve uma aceleração drástica na construção ilegal de assentamentos por Israel na Cisjordânia ocupada, ao mesmo tempo em que o país trava uma guerra implacável no território palestino de Gaza.

O alto comissário da ONU para os direitos humanos disse que a criação e expansão de colonatos equivalia à transferência por parte de Israel da sua própria população civil para territórios ocupados.

“Essas transferências constituem um crime de guerra que pode envolver a responsabilidade criminal individual dos envolvidos”, disse ele num relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Os planos israelenses relatados para construir outras 3.476 casas para colonos nas colônias de Maale Adumim, Efrat e Kedar, na Cisjordânia, foram “contrariando o direito internacional”, disse ele.

Israel tomou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza na guerra árabe-israelense de 1967 em que mais de um milhão de palestinos foram expulsos das suas casas durante a guerra de 67 e mais 718 mil estão deslocados internamente.

É ilegal, segundo o direito internacional, que Israel estabeleça colonatos nestes territórios palestinos.

Apesar da pressão internacional, Israel construiu nas últimas décadas dezenas de colonatos em toda a Cisjordânia. São agora o lar de mais de 490 mil israelenses, que vivem no mesmo território que cerca de dois milhões de palestinos.

Israel aprovou a construção de novas casas menos de duas semanas depois de o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, ter dito que qualquer expansão dos colonatos seria “contraproducente para alcançar uma paz duradoura” com os palestinianos.

Turk disse que durante o período abrangido pelo seu relatório – 01 de novembro de 2022 a 31 de outubro de 2023 – cerca de 24.300 casas foram adicionadas aos assentamentos israelenses existentes na Cisjordânia.

Isto marca o maior número já registrado desde o início da contagem em 2017 e inclui quase 9.700 unidades em Jerusalém Oriental, disse o escritório de direitos da ONU.

O relatório de Turk concluiu que as políticas do governo israelense “parecem alinhadas, numa extensão sem precedentes, com os objetivos do movimento de colonos israelenses de expandir o controle a longo prazo sobre a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental, e de integrar de forma constante este território ocupado no Estado de Israel.”

Vista dos assentamentos israelenses estabelecidos na Cisjordânia em Maale Adumim

Incidentes violentos
Ao mesmo tempo, os palestinos estão sendo forçados a abandonar as suas casas pelos colonos israelenses e pela violência estatal, afirmou. Também apontou despejos forçados, falta de licenças de construção, demolições de casas e restrições de movimento impostas aos palestinos.

“A violência dos colonos e as violações relacionadas com os colonatos atingiram novos níveis chocantes e correm o risco de eliminar qualquer possibilidade prática de estabelecer um Estado palestino viável”, alertou Turk.

O relatório conclui que houve 602 ataques de colonos contra palestinos desde 07 de outubro, quando o ataque do Hamas dentro de Israel, levou à guerra em Gaza.

O escritório de direitos humanos da ONU disse ter documentado nove palestinos mortos por colonos usando armas de fogo e outros 396 mortos pelas forças de segurança israelenses.

Outros dois foram mortos pelas forças de segurança israelenses ou por colonos.

Espremendo palestinos
A redução da população palestina e o aumento da população de Israel tem sido uma característica do sionismo. A criação de Israel envolveu a expulsão de 750.000 palestinos pelas forças sionistas na Nakba de 1947–48. Cinco milhões desses palestinos e os seus descendentes ainda são refugiados registados na ONU. De acordo com a BADIL, uma ONG que tem estatuto consultivo especial junto do Conselho Econômico e Social da ONU, mais 2,25 milhões de palestinos tornaram-se refugiados desde 1948.

Israel impede os refugiados de exercerem o seu direito de regressar às suas casas, enquanto, em contraste, a Lei do Retorno de Israel permite que qualquer pessoa na Terra que o Estado de Israel considere ser judia possa migrar para Israel e tornar-se automaticamente cidadão.

Israel foi além de garantir que os refugiados continuassem refugiados, a fim de construir o seu etno-Estado. A barreira de separação é funcionalmente um muro de anexação, já que 85% dela é terra palestina. Israel encolhe Gaza ao assumir o controle de terras palestinas na Faixa e ao chamá-las de “zona tampão”, privando os palestinos que lá vivem das suas casas e da agricultura.

De acordo com o grupo israelense de direitos humanos B’Tselem, a política israelense em Jerusalém Oriental foi concebida para pressionar os palestinos a abandonarem a cidade, para moldar “uma realidade geográfica e demográfica que impediria qualquer tentativa futura de desafiar a soberania israelense naquele local”. Desde 1967, como aponta o grupo, Israel revogou a residência permanente de aproximadamente 14.500 palestinos de Jerusalém Oriental.

É quase impossível para os palestinos obter licenças de construção na cidade e, em 1973, Israel determinou legalmente uma vantagem demográfica de 73-26 para o povo judeu em Jerusalém. Israel aumentou a sua própria população e o território ao seu alcance ao instalar ilegalmente 620 mil pessoas na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

Após a Nakba, Israel aprovou a Lei de Propriedade dos Ausentes, que define os palestinos expulsos como “ausentes”, criando um pretexto para Israel apropriar terras, casas e contas bancárias dos palestinos. A lei criou a categoria do “presente/ausente”, para que Israel pudesse confiscar as propriedades dos palestinos que ainda estavam na Palestina, mas que tinham sido deslocados internamente. Estas medidas criaram simultaneamente mais uma barreira ao regresso dos palestinos.

A empresa estatal israelense de água Mekorot retira água aos palestinos na Cisjordânia para abastecer os israelenses – incluindo aqueles que vivem em colonatos ilegais – para fins domésticos, agrícolas e industriais. Muitas vezes vende essa água aos palestinos a preços inflacionados que podem absorver metade do rendimento mensal de uma família pobre.

Os colonatos controlam pouco mais de 85% das terras mais férteis da Cisjordânia: o Vale do Jordão, em particular, é uma região agrícola rica em recursos.

*Opera Mundi

Datafolha mostra disputa acirrada em São Paulo, com Boulos e Nunes em empate técnico na disputa pela prefeitura

Os números revelam 14% de votos em branco ou nulo, enquanto 6% dos entrevistados ainda não decidiram em quem votar.

Em meio à polarização nacional que se estende ao cenário municipal, Boulos atinge 30%, enquanto Nunes alcança 29%, isolando-se do segundo pelotão de pré-candidatos. Boulos conta com o apoio do presidente Lula (PT), enquanto Nunes recebe o respaldo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo a Folha.

Tabata Amaral (PSB) registra 8%, seguida por Marina Helena (Novo) com 7%, Kim Kataguiri (União Brasil) com 4%, e Altino (PSTU) com 2%.

Os números revelam 14% de votos em branco ou nulo, enquanto 6% dos entrevistados ainda não decidiram em quem votar. A margem de erro é de três pontos para mais ou para menos.

Considerando a possibilidade de a União Brasil não lançar Kim, mantendo-se o apoio de Milton Leite a Nunes, o empate persiste, mas com o emedebista numericamente à frente, registrando 30% contra 29% de Boulos. Tabata aparece com 9%, Marina Helena com 7%, e Altino com 1%. Brancos e nulos somam 16%, e 7% dos entrevistados ainda não têm uma escolha definida.

Em uma hipótese em que Tabata não seja candidata, e Lula trabalhe para unificar as siglas de centro-esquerda em torno de Boulos, a pesquisa indica que ambos os rivais permanecem à frente, ambos com 33%. Marina Helena registra 8%, Altino marca 2%, 17% declaram voto branco ou nulo, e 7% não decidiram.

A pesquisa, realizada nos dias 7 e 8 de março, ouviu 1.090 eleitores e está registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo SP-08862/2024. O primeiro turno da eleição está marcado para 6 de outubro, com a campanha oficial começando em agosto.

 

 

O general que falta no quebra-cabeça do golpe

Todas as atenções estão voltadas ao ex-comandante do Exército Marco Antonio Freire Gomes, que deu um depoimento de 8 horas à Polícia Federal na semana passada.

Embora o interrogatório com 250 perguntas seja em tese sigiloso, já vazou que o general confirmou que esteve em uma reunião com o então presidente Jair Bolsonaro, na qual foi discutida a minuta golpista. A versão conhecida é que Freire Gomes se opôs às intenções disruptivas do ex-chefe.

O fato de Freire Gomes ter corroborado várias hipóteses das investigações motivou a PF a requisitar mais um depoimento do tenente-coronel Mauro Cid.

O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro chegou a ser preso e acabou fazendo delação premiada. É a partir de seus relatos e de provas obtidas com ele, como mensagens trocadas no seu celular, que as investigações avançaram.

Toda essa apuração é fundamental para que o enredo golpista seja conhecido, e seus autores, responsabilizados.

Mas tem uma peça nesse quebra-cabeça que até agora foi poupada. Trata-se de Júlio Cesar Arruda, o general que comandava o Exército no 8 de janeiro de 2023, diz Thais Bilenky, Uol.

Freire Gomes comandou a Força de março a dezembro de 2022. Arruda assumiu no dia 30 de dezembro.

Após o 8 de janeiro e com os indícios de, no mínimo, inação do Exército diante da invasão dos palácios em Brasília, a situação de Arruda ficou insustentável. Depois de três semanas no cargo, ele foi demitido. O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que houve uma “fratura no nível de confiança” da relação do governo com o Exército.

Mas teve mais um componente na queda de Arruda. Ele se recusava a barrar a promoção de Mauro Cid, no Exército, ao comando do 1º Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia.

Segundo um relato da Veja na época, Arruda também tentou barrar uma operação da PF contra Mauro Cid, que morava no mesmo condomínio que ele.

A suposta proteção de Julio Cesar Arruda a Mauro Cid já causava desconfiança. Agora, à luz de tudo o que já se sabe —e do papel central de Mauro Cid na organização das tentativas de golpe—, essa relação fica ainda mais importante de ser desnudada.

Na decisão do Supremo que autorizou a megaoperação da PF contra Bolsonaro, generais e políticos supostamente envolvidos na trama golpista, há citações ao ex-comandante.

Aponta o documento que, no dia 2 de janeiro de 2023, já efetuada a transição de governo, Mauro Cid encaminhou uma reportagem ao general Estevam Teophilo, que integrava o Alto Comando do Exército e chefiava as Operações Terrestres em 2022. Segundo as investigações, Teophilo teria consentido com a adesão ao golpe, desde que Bolsonaro assinasse o documento instalando-o.

Bolsonaro e Braga Netto consultaram general Villas-Bôas sobre golpe e pediram ‘bênçãos’ para o ataque à democracia, aponta investigação

Autoridades políticas e militares visitaram o general Villas Bôas em dezembro de 2022, mês que antecedeu o 8/1.

O general Eduardo Villas Bôas anda distante do X (antigo Twitter), mas a reverência de seus pares e o simbolismo político do ex-comandante do Exército continuam presentes em momentos turbulentos da história recente do país.

As investigações sobre a tentativa de um golpe por parte de Jair Bolsonaro e correligionários para impedir a posse de Lula trouxeram à tona mais detalhes sobre visitas de autoridades políticas e militares a Villas Bôas em dezembro de 2022 – mês que antecedeu os ataques de 8 de janeiro e no qual, segundo a Polícia Federal, foi engendrada a trama golpista.

Entre os elementos que embasam o relatório da PF sobre a Operação Tempus Veritatis há uma mensagem encaminhada pelo general Walter Braga Netto ao capitão Ailton Barros em 17 de dezembro de 2022 criticando o general Tomás Ribeiro Paiva – na época chefe do Comando Militar do Sudeste, hoje comandante do Exército – por uma visita a Villas Bôas na véspera.

“O Tomás foi no VB, ontem…E aí…acredite… ele deu uma mijada no VB e na Cida!”, diz o texto, em referência à esposa de Villas Bôas. Segue a mensagem: “Terminou dizendo que os dois serão prejudicados com as intervenções ‘sem noção’ que estão fazendo… na saída, ele resolveu abrir o jogo e falou mal de todo o ACE [Alto Comando do Exército]. (…) Parece até que ele é PT, desde pequenininho…!”.

A mensagem afirma ainda que Tomás “nunca valeu nada!!”. “A ambição derrota o caráter dos fracos. Aliás…revela. Ele ainda meteu o pau no Paulo Sérgio [ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa], disse que ele tem que ficar quieto! A Cida ficou louca. Se retirou da sala. Pra não botar o artista pra fora! Na verdade o VB tinha paixões discutíveis… Fernando… Tomás”.

Braga Netto, ex-candidato a vice na chapa de Bolsonaro pelo PL, confirmou a interlocutores que os prints do relatório da PF são de uma conversa dele com o capitão Ailton (expulso do Exército por malfeitos após punições disciplinares), mas argumenta que não foi o autor do texto desancando Tomás – diz que o recebeu de terceiros e o encaminhou.

Já naquela época surgiu em grupos bolsonaristas o rumor de que Tomás tinha ido pressionar Villas Bôas e a esposa para não aderirem a conspirações golpistas. Circulavam na internet um vídeo em que Cida Villas Bôas foi saudada no acampamento golpista em frente ao quartel-general do Exército em Brasília e outro em que ela passou no local dentro de uma van com vidros escuros e fez um gesto de que o marido estava na parte de trás do veículo.

Se por um lado era celebrada por muitos integrantes do Exército, a presença de Cida no acampamento virou um estorvo para parte dos generais. Estes avaliavam que os vídeos da esposa de Villas Bôas entre os bolsonaristas inflamavam ainda mais os radicais enquanto a maioria do Alto Comando do Exército atuava nos bastidores para comunicar que não endossaria uma ruptura institucional.

Tanto Tomás quanto Villas Bôas negaram que o motivo da visita foi aquele propalado à época, bem como qualquer mal-estar entre os dois.

“O general Villas Bôas me mandou recentemente um zap falando assim: ‘Pô, você é meu amigo, irmão, parente, filho’. A relação que eu tenho com ele é de cadete, meu comandante de companhia. Foram botar essa porcaria, que eu fui chantagear o general Villas Bôas, uma mentira sórdida”, afirmou Tomás em uma palestra fechada para oficiais do Comando Militar do Sudeste em janeiro do ano passado, cujo áudio foi divulgado pelo podcast Roteirices.

Villas Bôas foi instrutor de Tomás na Aman, a Academia Militar das Agulhas Negras, e, quando comandou o Exército, de 2015 ao final de 2018, o nomeou chefe de gabinete. Em seu livro de memórias, o ex-comandante afirma sobre seu ex-cadete: “Tomás é certamente, num círculo bem estreito, o mais completo oficial que eu conheci”.

No tumultuoso final de 2022, Bolsonaro e Braga Netto também foram à casa de Villas Bôas pelo menos duas vezes: a primeira no dia 7 de dezembro, horas antes da reunião em que, segundo a PF, o então presidente apresentou uma minuta golpista aos comandantes militares. A segunda ocorreu em 20 de dezembro.

Militares que trabalharam com Bolsonaro dizem que o ex-presidente foi consultar Villas Bôas sobre a conjuntura política da transição e pedir uma espécie de bênção para os planos golpistas.

Amigo de infância de Villas Bôas e chefe do Estado-Maior do Exército quando o colega comandou a corporação, o general Sergio Etchegoyen considera uma “canalhice” a difusão dessa história. “Quem é que vai ouvir esse cara para saber a versão dele?”, indagou.

Etchegoyen se refere à condição de saúde de Villas Bôas, que sofre de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença degenerativa. O ex-comandante se locomove com cadeira de rodas e não consegue falar. Comunica-se com o auxílio de um programa no qual consegue digitar a partir do movimento dos olhos – o texto então pode ser transformado numa voz mecânica.

É desse modo que nos últimos tempos trocava mensagens por aplicativos com amigos –com a ajuda de uma secretária e de familiares – e até conversava com os que iam visitá-lo. Interlocutores do ex-comandante relatam que esses contatos têm sido menos frequentes nos últimos meses.

Etchegoyen diz que há muito tempo não conversa com Villas Bôas (o primeiro mora em Novo Hamburgo-RS e o segundo, em Brasília), e que às vezes tem notícia do amigo por meio da família dele. Confrontado com as versões sobre as visitas de Tomás e Bolsonaro, afirmou que não há atrito algum entre o ex-comandante e o atual, que não tem conhecimento das visitas do ex-presidente nem do teor das conversas entre ele e o general e que não faz juízo de valor sobre o episódio.

“Posso dizer que tenho uma vida inteira de amizade com o Villas Bôas, que é meu irmão, uma pessoa em cujos princípios e valores confio plenamente”, afirmou Etchegoyen.

Procurado pela reportagem por mensagem em 15 de fevereiro passado, Villas Bôas respondeu: “Prezado jornalista, estou na reserva e por isso me reservo o direito de não responder tuas perguntas”. Uma das filhas do ex-comandante, Adriana, também foi contatada, mas não respondeu.

Um dos principais responsáveis pela politização do Exército iniciada no governo Michel Temer e ampliada por Jair Bolsonaro, Villas Bôas foi o autor, em abril de 2018, do célebre tuíte em que pressionou o Supremo Tribunal Federal às vésperas do julgamento de um habeas corpus impetrado por Lula – o HC terminou negado e o petista foi impedido de concorrer na eleição daquele ano; dois dias depois, foi preso, por decisão do então juiz Sergio Moro.

Após deixar o comando do Exército, Villas Bôas foi nomeado assessor especial do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) no governo Bolsonaro, cargo que ocupou até julho de 2022. Mudou-se do Setor Militar Urbano para uma casa num condomínio no Lago Norte de Brasília.

Os últimos tuítes políticos de Villas Bôas foram publicados em novembro de 2022, o primeiro para endossar a nota dos comandantes militares em apoio aos acampamentos em frente a quartéis nos quais manifestantes pediam golpe militar e negavam o resultados das urnas; o segundo para defender generais tidos por bolsonaristas como traidores.

Depois disso, o ex-comandante fez outras duas publicações na rede social, em dezembro de 2022, para anunciar que passaria a ser colunista da revista Oeste e para divulgar dois desses artigos, ambos sobre a Amazônia. No segundo, destacou o trecho: “O ambientalismo vem, crescentemente, sendo empregado como um braço do imperialismo”.

Não deixem uma alma viva… Inclusive bebês, diz o rabino Eliyahu Mali

“Não deixem uma alma viva… Inclusive bebês. Os terroristas de hoje são os filhos das operações anteriores que vocês mantiveram vivos. São as mulheres que criam os terroristas”

Em palestra ontem (07), o rabino Eliyahu Mali, chefe de escola religiosa em “israel”, incitou os alunos que servem no exército a matar todos os palestinos em Gaza, incluindo bebês.

Ele fez referência aos “princípios judaicos de guerra”, afirmando: “A lei – nenhuma alma viverá. Se você não os matar, eles o matarão.” Quando questionado se bebês estavam incluídos, ele respondeu: “Isso mesmo, atire neles”.

*Fepal

Em média, covid-19 ainda mata 3 crianças a cada 4 dias no Brasil

Decreto de pandemia completa quatro anos; vacinação infantil ainda não bate metas.

Quatro anos depois do início da pandemia de Covid-19, declarada pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 11 de março de 2020, ainda morrem no Brasil a cada quatro dias ao menos três crianças ou adolescentes de até 14 anos, em média, devido a complicações da doença.

Análise inédita do boletim Observa-Infância, produzido com dados do Sivep-Gripe/Fiocruz das nove primeiras semanas de cada ano, entre 2021 e 2024, mostra que as baixas taxas de cobertura vacinal estão associadas à persistência da mortalidade nessa faixa etária.

Neste ano, foram 48 mortes por Covid até o último dia 8, segundo dados preliminares do projeto. O número indica uma média de 0,71 morte ao dia ou de 2,8 mortes a cada quatro dias. Elas representam 32,4% dos falecimentos deste grupo etário por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave).

Nessa faixa etária, a cobertura vacinal está em torno de 11,4%, um pouco abaixo do percentual de adultos com as quatro doses da vacina (14,9%).

O grupo com pior cobertura são de crianças de 3 a 4 anos. Apenas um quarto (23%) tomou duas doses da vacina e apenas 7% estão com o esquema vacinal completo com três doses (até o fim de fevereiro).

Na faixa de 5 a 11 anos, a situação é um pouco melhor, com 55,9% tendo recebido duas doses e 12,8% completando o esquema com três doses.

O número de mortes deste ano é similar ao registrado nas oito primeiras semanas de 2023, um total de 50, e indica que houve uma queda significativa de mortes desde que as vacinas se tornaram disponíveis para o público infantojuvenil.

Em 2022, por exemplo, houve 326 mortes por Covid até 14 anos, representando 47% dos óbitos por SRAG no país. Em 2021, foram 118 mortes, que responderam por 38% dos óbitos pela síndrome.

Segundo Cristiano Boccolini, pesquisador da Fiocruz e coordenador do Observa Infância, a queda das mortes por Covid e da proporção em relação ao total de óbitos por SRAG indicam a eficácia da vacinação e a importância da ampliação da cobertura, diz a Folha

Para ele, apesar da relativa estabilidade dos números de óbitos em 2024, a situação é ainda muito preocupante. “Estabilização parece uma coisa boa, mas não é. Se a gente teve tempo e recurso, estar com os mesmos números de 2023 é péssimo.”

Boccolini afirma que a percepção é que, com a alta da dengue, a Covid tem saído do foco dos gestores públicos de saúde.

“A notícia agora é só dengue, dengue, dengue. Para as crianças menores de dez anos, ainda não temos vacina, e para a Covid a gente tem. As crianças estão morrendo mais de Covid do que dengue”, diz ele.

Em 2024, das 48 perdas, 26 foram de crianças abaixo de 2 anos; quatro entre 2 e 4 anos e 18 dos 5 aos 14 anos.

A vendedora Miriam Elaine Nadalon, atualmente com 33 anos, estava grávida de 32 semanas e com Covid quando a bolsa dela se rompeu, em 2021.

O bebê dela, Leandro Júnior, infectado de forma vertical, nasceu sob os cuidados da equipe dos Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (HCRP) e ficou dois meses e 22 dias internado, mas não resistiu à doença.

“Ele era o estado mais grave que tinha lá naquele hospital. Estava sofrendo muito e os médicos fizeram tudo que foi possível. Foi terrível. Nem pude pegar no colo. Peguei quando ele estava sem vida já”, lembra.

Nadalon estava vacinada, assim como a filha dela Ana Clara, que hoje tem 8 anos, e o restante da família, mas o pequeno não teve essa chance. “Liberaram ela para ver o irmão quatro dias antes de eles nos deixar e, até hoje, tudo ela lembra dele. Ele ia fazer 3 anos agora, no dia 31”, lamenta.

A situação de tristeza também foi vivida pela família da bebê Helena Alves, de apenas oito meses, que morreu no último dia 28 de fevereiro por causa de complicações de Covid-19 e dengue.

A mãe dela, Gabriella Alves, 32, buscou dois hospitais e uma unidade básica de saúde em Planaltina, no Distrito Federal, e foi liberada de todas.

A criança faleceu em casa, e a família voltou a um dos hospitais, onde a equipe tentou reanimar a bebê. O laudo do IML (Instituto de Médico-Legal) mostrou que, além da dengue investigada, a garota também havia sido acometida pela Covid-19.