A Comissão Justiça e Paz de São Paulo inicia, nesta sexta-feira (11/8), uma campanha para pressionar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a doar parte dos R$ 17 milhões que recebeu em doações via Pix para crianças e adolescentes que ficaram órfãos durante a pandemia de Covid, segundo o Metrópoles.
O ex-chefe do Executivo arrecadou mais de R$ 17 milhões depois de uma campanha para ajudar o ex-presidente a quitar multas com o estado de São Paulo por não usar máscara durante a pandemia.
A ideia da entidade, criada pelo arcebispo dom Paulo Evaristo Arns em 1972, é que Bolsonaro transfira para esses grupos o que sobrar após o pagamento das multas.
A iniciativa, que se dará por meio de publicações em redes sociais e abaixo-assinado, leva a assinatura de todas as entidades integrantes da Campanha Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais. Esses grupos pedirão que o valor seja repartido entre os cerca de 130 mil crianças e adolescentes que perderam seus pais durante a pandemia.
O presidente da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, Antonio Funari, afirmou, ao jornal O Estado de S.Paulo, que a campanha é uma resposta à declaração feita pelo ex-presidente quanto ao valor restante do montante.
“A ideia surgiu quando houve aquela manifestação do Bolsonaro de que o dinheiro que eles receberam dariam para pagar as multas e tomar garapa com pastel. A campanha é uma resposta ao escárnio que ele fez em relação a essa questão”, disse.
Funari defendeu que a reversão dessa quantia que sobrar em um fundo para auxiliar crianças e adolescentes órfãos durante a pandemia de Covid seria uma forma de “ressarcir” essas vítimas.
“Se está sobrando dinheiro, depois deles pagarem as multas, seria interessante se eles destinasse esse dinheiro então para atendimento desses órfãos que são vítimas do próprio governo. Seria uma maneira dele ressarcir esse pessoal que foi vítima da Covid e vítima também do tratamento que foi dado à pandemia.”
Em evento do PL Mulher em Santa Catarina, no dia 29 de julho, Jair Bolsonaro agradeceu a transferência de R$ 17,2 milhões recebidos por Pix entre 1º de janeiro e 4 de julho e reclamou da inelegibilidade decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho.
“Muito obrigado a todos aqueles que colaboraram comigo no PIX há poucas semanas. Mais do que o valor depositado, quase 1 milhão de pessoas colaboraram, de R$ 0,20 a R$ 20, em média”, disse ao discursar. “Muito obrigado, dá para pagar todas as minhas contas e ainda sobra dinheiro para a gente tomar um caldo de cana e comer um pastel com a dona Michelle”, brincou.
Um trecho do texto que será veiculado pela campanha também cita a declaração do ex-presidente: “Mais justo e nobre é dar um futuro digno a quem já perdeu tanto. Afinal, quanto tempo levaria para que ele alimentasse a sua família com caldo de cana e pastel com esses milhões? Segundo cálculos, mais de cinco séculos!”.
Em junho deste ano, bolsonaristas se juntaram em uma campanha para arrecadar dinheiro para que Bolsonaro quitasse uma dívida ativa com o estado de São Paulo no valor de R$ 1.062.416,65 pelo não uso de máscara durante a pandemia de Covid.
Segundo o Conselho e Controle de Atividades (Coaf), só entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho, o ex-presidente da República recebeu mais de 769 mil transações via Pix, que totalizaram R$ 17.196.005,80. Durante o mesmo período, Bolsonaro movimentou um total de R$ 18.498.532.
As informações foram enviadas à CPI dos Atos Antidemocráticos, do Congresso.
O Coaf detalha que o PL foi o responsável pela maior doação, no valor de R$ 47,8 mil — montante enviado em dois lançamentos. Outros 18 nomes depositaram entre R$ 5 mil e 20 mil na conta do ex-presidente.
São empresários, advogados, pecuaristas, militares, agricultores, estudantes e duas pessoas identificadas pelo Coaf como “do lar”. Há ainda três empresas. Só uma delas depositou R$ 9.647 na conta do ex-presidente em 62 lançamentos.
Os advogados de Bolsonaro dizem que o dinheiro recebido é proveniente de “milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, de origem absolutamente lícita”.
Por meio de nota, os defensores disseram ainda considerar que o vazamento das informações bancárias de Bolsonaro em relatório do Coaf são “criminosas”.
Na última segunda (7/8), Bolsonaro negou ter usado parte dos R$ 17 milhões que arrecadou de eleitores via Pix para fazer repasses à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e a outros parentes.