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Molon: um candidato de si mesmo

Ricardo Bruno – Se Alessandro Molon mantiver seu projeto pessoal e, como tudo indica, perder as eleições, terá de deixar a vida pública. O desmedido apego à candidatura, à revelia dos objetivos centrais de seu próprio grupo político, tirou-lhe condições de convivência em ambiente partidário.

Nesta empreitada contra o bom senso, violou um dos princípios basilares das agremiações partidárias: pôs seu projeto pessoal acima dos interesses e metas da legenda. Ao fazê-lo, perdeu credibilidade e confiança de seus pares, transformando-se em estorvo para a consecução do objetivo primordial da aliança PSB-PT: juntar, agregar, somar, reunir e potencializar energias para assegurar a vitória de Lula.

A obsessão do parlamentar de viabilizar o sonho de se tornar senador, em desacordo com pacto firmado diretamente como ex-presidente Lula, desidrata, drena e fragiliza a força da aliança entre as duas principais legendas da esquerda brasileira. Ao invés de se organizar estratégias para o avanço da chapa Lula-Alckmin, despende-se tempo e energia para tentar contornar a aventura individualista do parlamentar fluminense.

Os partidos não devem ser utilizados como instrumentos de projetos pessoais, desconectados das estratégias centrais do grupo. Essa talvez seja uma das maiores distorções da política nacional, na maioria das vezes resultante da ação das chamadas legendas de aluguel – siglas que são capturadas pelo objetivo raso de políticos despudorados.

Molon tem história no parlamento brasileiro, construiu trajetória ilibada na defesa de causas progressistas, ainda que tenha cedido à tentação moralista de apoiar Sérgio Moro e Marcelo Bretas nos desvios e arbítrios da operação Lava Jato. Em sua atuação, há indiscutivelmente um certo “lacerdismo” enrustido, ao agrado de boa parte da Zona Sul, base de seu eleitorado. Egresso da militância católica, ostenta a imagem de carola pudico, sublinhada pelo cabelo em corte que remete às tonsuras clericais.

Se na atividade parlamentar reúne muitos acertos, se a imagem se mostra aparentemente imaculada, a prática partidária é desastrosa. Molon controla o PSB utilizando métodos que fazem lembrar os políticos mais retrógados. Preside um diretório, cujos os integrantes, em sua maioria, são funcionários de seu gabinete parlamentar. Atuam exclusivamente para fazer valer os interesses e as vontades do patrão. Isto desqualifica e reduz o conjunto de sua atuação parlamentar. E retira legitimidade de sua indicação como candidato ao Senado.

Após sofrer sanções de seu próprio partido por incontinência de suas ambições pessoais, com o corte de recursos do fundo eleitoral e a possibilidade de perder espaço na propaganda na televisão, Molon se tornou candidato de si mesmo. Isolou-se no ambiente político-partidário e tenta levar à frente sua aventura com o apoio de alguns artistas e intelectuais respeitáveis, mas distantes da lide política, onde de fato se constrói os planos e estratégias de atuação eleitoral dos partidos.

Sua candidatura descumpre o acordo entre as legendas, traz prejuízos, portanto, à aliança PT-PSB e produz embaraços à convivência prática entre petistas e socialistas. Que deveriam estar terrivelmente unidos na defesa do projeto de redemocratização do país, representado pela chapa Lula-Alckmin. Perde também o candidato ao governo do PSB, Marcelo Freixo, que tem de se equilibrar entre as pretensões descabidas do presidente regional do partido e os objetivos maiores de seu projeto eleitoral de parceria com Lula e o PT.

Todos perdem, até mesmo o próprio Molon, que provavelmente será levado a encerrar sua respeitável carreira parlamentar, por pequenez política e demasiada ambição pessoal.

Ricardo Bruno é Jornalista político, apresentador do programa Jogo do Poder (Rio) e ex-secretário de comunicação do Estado do Rio/247

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