De Buenos Aires à Cidade do México, mulheres ao redor das maiores cidades da América Latina foram às ruas no Dia Internacional da Mulher, neste domingo (8), estimuladas por crescentes demandas em relação à desigualdade, feminicídio e rígido controle de abortos.
À medida que eventos do Dia das Mulheres se desenvolvem em todo o mundo, as marchas na América Latina acontecem em um contexto de agitação social mais ampla na região.
Milhares de manifestantes reuniram-se na capital Santiago e em outros locais do Chile. A polícia afirmou que 1.700 oficiais estavam de prontidão para controlar a multidão ao redor do país. Muitos carregaram cartazes pedindo acesso a aborto e o fim da violência contra a mulher.
“Estou tão feliz com o que está acontecendo”, afirmou uma manifestante, que pediu para ser identificada como Patricia V.
“O Chile precisa de mulheres para aumentar o poder delas na vida pública, pelo bem de todos os homens e mulheres. Precisamos de mais igualdade, não apenas social, mas também econômica e política.”
As marchas no Chile podem acabar sendo gigantes, na esteira de protestos mais amplos contra a desigualdade social que começaram em outubro e, no auge, incluíram mais de um milhão de pessoas.
Nos últimos dias, senadores chilenos aprovaram uma lei que busca dar às mulheres a mesma voz na construção de uma nova constituição, enquanto o presidente reforçou a punição ao feminicídio, ou assassinato de mulheres por causa do seu gênero.
Na Colômbia, mulheres em Bogotá planejam comemorar a primeira mulher prefeita, e também se espera protestos contra a recente decisão da Justiça de manter limitações ao aborto.
O Dia das Mulheres na Argentina acontece com pouco mais de três meses do novo governo, que anunciou planos de criar um ministério para mulheres e apoiar uma nova tentativa de legalizar o aborto, após a anterior ser derrotada no Congresso.
Evento reúne camponesas de todo país na capital e terá uma grande marcha marcando o Dia Internacional da Mulher.
Com o lema “Mulheres em Luta: Semeando a Resistência”, cerca de 3,5 mil mulheres ocuparão Brasília (DF), entre os dias 5 e 9 de março, durante o 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra.
Esta é a primeira vez na história do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que um encontro é protagonizado exclusivamente por mulheres camponesas. O evento ocorrerá no Parque da Cidade, um dos maiores parques urbanos do mundo e o maior da América Latina.
“Nós temos, desde a Amazônia até o Sul do país, as nossas experiências de resistência e, com certeza, nesses dias nós teremos um importante diagnóstico e, mais do que isso, uma projeção sobre como que as mulheres participam e vão participar ainda mais da luta”, diz Kelli Mafort, integrante da coordenação nacional do MST, que explica que o Encontro também servirá para orientar os movimentos sobre a questão de gênero.
As bases do MST estão se mobilizando há dois anos para viabilizar o evento. Mulheres sem terra de acampamentos e assentamentos em 24 estados participaram de debates e formações sobre vários temas, como a produção agroecológica, produção de alimentos saudáveis, enfrentamento à violência, autonomia econômica das mulheres e resistência nos territórios.
Mafort destaca que o encontro está estrategicamente posicionado em uma conjuntura de ataque do governo Bolsonaro às políticas de reforma agrária e pautas das mulheres e que um dos objetivos é traçar uma perspectiva de médio prazo para a luta política do país.
“A conjuntura exige uma ação de radicalidade para gente poder enfrentar e derrotar esse projeto que está no poder. Essa luta radical, ela vem daqueles e daquelas que lutam por terra, por direitos, mas também lutam em defesa da vida e quando a gente fala da luta das mulheres, a gente fala da luta de seres humanos que lutam para se manter vivos. Então falamos de situações extremas de violência de feminicídio, violência que ainda são piores em relação as mulheres do campo, as mulheres negras”, aponta Mafort.
“Quando a gente fala da luta das mulheres, a gente fala da luta de seres humanos que lutam para se manter vivos”.
Povo sob pressão
Entre os focos das denúncias do encontro está a Medida Provisória (MP) 910, que pretende legalizar, até 2022, cerca de 600 mil imóveis rurais. Terras públicas que serão apropriadas por grileiros e grandes proprietários rurais, segundo a visão do MST.
“A terra pública pertence ao povo brasileiro, ela não pode ser negociada, vendida, ela tem que ser repassada para a reforma agrária de acordo com a Constituição Brasileira e ao fazer essa medida provisória ele está premiando os criminosos da grilagem de terra, o que vai fatalmente aumentar o desmatamento e também a pressão sob os povos que vivem nos territórios do nosso país”, explica Mafort.
A terra pública pertence ao povo brasileiro, ela não pode ser negociada, vendida, ela tem que ser repassada para a reforma agrária.
Outro ponto de discussão do Encontro, destacado pela dirigente do Movimento, é o decreto 10.252, de fevereiro de 2020, que inviabiliza a continuidade do Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária (Pronera). Em 20 anos, o Pronera garantiu 192 mil jovens e adolescentes escolarizados desde a educação básica até o nível de pós-graduação.
“O Pronera é uma questão de justiça social, porque nos sabemos que é no campo onde existe uma maior desigualdade social e são também sobre os camponeses e camponesas onde há a maior taxa negativa de escolarização. Então acabar com o ele é um crime igualmente o que esse governo tem prometido em relação a essa fila imensa de renovação de cadastro de Bolsa Família, fila do INSS”, denuncia Mafort.
Na programação estão mesas e debates sobre capitalismo, patriarcado, racismo e violência. Além de oficinas, atividades artísticas e culturais e uma grande marcha que unirá campo e cidade pelas ruas do distrito federal, no dia 8 de março.
“Nesses dias todos nós teremos essa beleza dessa luta sem terra, da luta das mulheres e, com certeza, sairemos fortalecidas para poder continuar fazendo a resistência e travar as lutas necessárias”, exclama a coordenadora.