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Abandono: Sem água nem esgoto, moradores da Cidade de Deus enfrentam o medo da epidemia

Com cerca de 38 mil moradores, a Cidade de Deus foi a primeira comunidade carioca a ter um caso de coronavírus confirmado pelas autoridades municipais. Outros 19 estão sendo investigados somente na favela de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, que sofre sem abastecimento regular de água e sem tratamento de esgoto. Com muitos vivendo em até um único cômodo e em péssimas condições de higiene, cumprir a determinação de não sair de casa é quase impossível, e o medo da pandemia de coronavírus se espalha.

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, são investigados 61 casos suspeitos da Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, em comunidades do Rio. Numa das áreas mais miseráveis da CDD, o Brejo, conhecido como “a favela da favela”, que surgiu logo depois das Olimpíadas de 2016, o medo da pandemia é ainda maior. Lá, as casas são de madeira, e as condições sanitárias são o oposto das recomendadas para o combate à doença que assusta o mundo. Em termos de serviços públicos, moradores da região vivem ao deus-dará, ou seja, entregues à própria sorte.

A desempregada Deise Moreira do Espírito Santo, de 32 anos, divide um barraco de menos de 12 metros quadrados no Brejo com o marido e sete filhos — de 14, 11, 9, 8, 4 e 2 anos, além de um bebê de cinco meses. As telhas da casa estão caindo, e a família precisa esperar a chegada da água, que é incerta, para poder ter um mínimo de higiene.

— A nossa maior dificuldade é a falta de água e de comida — conta Deise.

Marido de Deise, o entregador Valmir Rodrigues Santos, de 39 anos, não vai para o trabalho desde que o patrão suspendeu as atividades, há mais de uma semana. Desolado, ele afirma que em poucos dias começará a faltar alimento para a família e diz que seu maior medo hoje é ser infectado pelo novo coronavírus.

— Já pensou? Vamos para onde? Se eu pegar isso, não terei como proteger meus filhos.

Muitos dos cerca de 700 moradores da localidade do Brejo catam restos de comida, frutas e legumes, num lixão na Estrada do Urubu, em Jacarepaguá, onde sacolões deixam as sobras de mercadoria que não foram vendidas. Aos 101 anos, Hilda Ramos vive de pensão e mora com um filho e um neto. Ela conta que não tem condições de arcar com os custos da compra de álcool gel ou máscara para se proteger do tão temido novo coronavírus.

— A gente vai levando a vida. Foi assim que Deus quis. A gente só queria um pouco de dignidade — desabafa a idosa.

Uma das fundadoras do SOS CDD, a cabeleireira Gisela Maria Lopes alerta:

— Tem criança aqui que morre de pneumonia por causa da insalubridade. Elas precisam que as autoridades olhem por elas.

A diarista Joana Célia da Conceição, de 53 anos, vive em uma casa de oito metros quadrados ao lado de um valão, no Brejo, com cinco filhos e 11 netos. Para a família, falta água para beber. Que dirá para lavar as mãos, hábito fundamental na prevenção ao coronavírus.

— Vivemos com essa quantidade de gente aqui em casa. Temos pouca comida e nos viramos como dá. A água é pouca e damos prioridade para beber. Como vamos lavar (as mãos) de tempos em tempos? Aqui é muito difícil (ter água). Nosso maior medo é essa doença chegar aqui e pegar todo mundo de surpresa. Infelizmente, hoje em dia tenho que sair de porta em porta pedindo as coisas para conseguir manter a minha família de barriga cheia — afirma Joana.

A Cedae prometeu enviar 40 carros-pipas para comunidades da Região Metropolitana. Em nota, a companhia informou que, entre o dia 16 e a última terça-feira (24), foram feitos 561 atendimentos de serviços operacionais somente em comunidades do Grande Rio. A Cedae também destacou que mantém núcleos permanentes de atendimento dentro das favelas com equipe em contato direto com moradores e associações. A estatal pediu ainda que ninguém manuseie bombas e registros da empresa para evitar causar danos.

 

 

*Com informações do Extra

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Se nada de concreto for feito contra Bolsonaro, coronavírus será devastador nas populações pobres

Brasileiros fazem panelaço contra Bolsonaro, mídia diz que ele não governa mais, mas tudo não sai de dados políticos sem propósitos concretos diante de um caos em que estamos todos juntos, mas que, sem sombra de dúvida, os pobres sofrerão muito mais.

Não há qualquer sentido de favelas no Rio estarem sem água, ao mesmo tempo em que bancos públicos destinam verbas bilionárias para empresas e agronegócios, fortalecendo os caixas dos ricos.

Disparidades como essa promoverão uma mortandade inimaginável nas favelas e periferias do Brasil se a própria sociedade não tiver consciência da dor do outro e não exigir imediata atenção a um país onde a medicina é essencialmente elitista e tem um presidente que, além de não ter a menor condição moral e comportamental de governar, expulsou do país, assim que eleito, 11 mil médicos cubanos, os mesmos que cobriam de assistência médica e de humanidade milhões de brasileiros de áreas carentes tanto de grandes e pequenas cidades quanto de lugares longínquos Brasil afora, além de uma bomba relógio prestes a explodir com a falta de saneamento básico e de água nas favelas do Rio de Janeiro.

Se os pobres nunca puderam exercer seus direitos, agora os veremos, em massa, perderem a vida em função da pandemia que assola o mundo.

Brasília tem conseguido, com sucesso, estabelecer ações públicas de combate ao coronavírus, porque lá está o poder, mostrando que isso faz toda a diferença diante de um inferno como esse que o Brasil como um todo vive, mas para os favelados, o inferno está dois andares acima. É preciso melhorar muito as condições atuais dos moradores das favelas e periferias dos grandes centros para que eles vivam ao menos o inferno da pandemia.

Essas são as questões centrais para entender as do preconceito, do racismo e da discriminação, herdadas de um pensamento escravocrata que, nos dias que correm, trarão, com todas as letras, o exame do descaso humano produzido pelo sentimento civilizatório.

A cada momento que passa, lugares com uma concentração demográfica intensa como as favelas do Rio, por exemplo, sem um mínimo de chance de combate à pandemia do coronavírus, por falta de água, correm o risco de sofrerem um massacre, uma devastação sem precedentes na história da humanidade, se nada for feito.

Bolsonaro segue alheio à pandemia do coronavírus, mas não aos ricos. A eles foram destinados recursos de R$ 10 bilhões através dos planos de saúde.

O governo Bolsonaro destinou recursos financeiros aos seguintes segmentos:

Empresas terão acesso a 88 bilhões (49,4%), o agronegócio a R$ 30 bilhões (16,9%) e outros R$ 30 bilhões serão disponiblizados para a aquisição de outras instituições financeiras. Outros R$ 24 bilhões (13,4%) serão colocados à disposição de pessoas físicas e R$ 6 bilhões (3,4%) para hospitais, estados e municípios.

Aonde ficam os moradores de favelas, miseráveis e moradores de rua e mais uma dezena de milhões de brasileiros miseráveis nessa conta de Bolsonaro e Guedes? Não há lugar nenhum na cabeça desses monstros que caiba um mínimo de compaixão pelos pobres, sejam eles idosos, jovens ou crianças.

E se a sociedade civil organizada não fizer nada contra isso, tudo o que se vê na Itália, na Espanha e na China, junto, parecerá uma Disneylândia perto do inferno ao quadrado que o Brasil assistirá, atingindo sobretudo às populações mais vulneráveis e que mais precisam da proteção do Estado que, friamente, insiste em negar em prol dos milionários e das classes economicamente dominantes.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas