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Opinião

Para o editorial do Estadão, não existe povo, nem pobre no Brasil

“Qualquer pessoa com informação suficiente sobre o dia a dia dos negócios deve ser capaz de entender os choques motivados por palavras desastradas de um cidadão recém escolhido para governar o País” (Estadão)

Qualquer pessoa com informação suficiente sobre o dia a dia dos miseráveis e famintos deve ser capaz de entender os choques motivados por palavras desastradas de um jornalão da oligarquia que nunca foi escolhido pelo povo para governar o País.

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Política

Tudo em Moro é pobre, triste e medíocre

Seu vocabulário é limitado, previsível e todo o seu discurso se resume ao enfadonho truque de fazer política fingindo que detesta a política.

Também assisti à apresentação de Sergio Moro e o que tenho para dizer é que o personagem está longe de poder ser incluído no gênero do realismo fantástico sul-americano. Nada ali existe de singular ou de imaginário ou de extraordinário. O estilo está mais próximo do vaudeville europeu ou norte-americano – tudo ali é pobre, triste e medíocre. Pura e simplesmente não sabe falar em público, não tem esse treino, nunca aprendeu a ler em voz alta, nunca se interessou pela declamação, nunca cultivou a elo­quência, não tem presença em palco e não sabe ler um discurso.

Para além disso, seu vocabulário é limitado, previsível e todo o seu discurso se resume ao enfadonho truque de fazer política fingindo que detesta a política – esse mundo desonesto de intriga ao qual foi poupado durante toda a sua vida, na qual só conheceu o universo judicial, marcado pelo mando e pela obediência. Em síntese, e para não vos tomar mais tempo com este assunto, tudo ali me pareceu aflitivo, falso e pechisbeque.

Para a direita, que sonha com a redenção depois do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, este é o pior caminho – nada de bom, de democrático, de inovador ou de construtivo virá desta candidatura. Poderão dizer, e com razão, que perderão de qualquer forma. Talvez, mas dessa forma perderão sem dignidade. A dignidade que o Partido dos Trabalhadores manteve quando perdeu as eleições em 2018 e que lhe permite agora, quatro anos depois, ter uma boa expectativa de vitória.

O homem não tem espírito, pronto. Aliás, correndo o risco de ser mal interpretado, na comparação com Bolsonaro acho que sai a perder. O atual presidente apresentou-se aos brasileiros em toda a sua gloriosa e desarmante ignorância e impreparação. Ao longo desses anos foi exatamente aquilo que disse que era, para desgosto de alguns que votaram nele achando que o cargo poderia mudar o personagem. Não mudou, mas ninguém pode queixar-se de que foi enganado.

Quanto ao antigo juiz, a palavra que nos ocorre imediatamente ao espírito é a hipocrisia. Dizem por aí que não é tão extremista ou desbragado como o atual presidente. Talvez, mas nada o salva da justa fama de impostor. A instrumentalização do cargo judicial em favor da sua ambição e carreira política foi um dos atos mais repugnantes da vida pública brasileira. Exposta a fraude judicial, o resultado foi catastrófico – conspurcou as duas, a política e a Justiça. E, por favor, não desvalorizemos a infâmia. A autoridade do juiz não se constrói apenas com o seu curso de Direito ou com o concurso público para o lugar. Ela conquista-se com a imparcialidade. Perdida esta, nada mais resta. Sergio Moro e o julgamento de Lula representaram um sério dano na legitimidade da Justiça brasileira.

Moro não é a salvação, mas a maldição da direita. Que tristeza!

Depois, há ainda outro aspecto que tem a ver, se assim lhe podemos chamar, com a sua mundividência. Na tese de doutoramento, o antigo juiz escreve, em jeito de agradecimento à sua mulher, que “se é verdade que atrás de cada grande homem existe uma grande mulher, acrescentaria que às vezes isso ocorre mesmo quando se trata de um homem comum”. Mulheres atrás, diz ele. De grandes homens ou de homens comuns. O que realmente impressiona é a mediocridade cultural do personagem. A imprensa, à falta de melhor, dedicou-se a elogiar a melhora do timbre de voz. O timbre de voz como qualidade política, imaginem. Na verdade, deixem-me dizer-vos, uma boa parte desse mal-estar geral que se sente com a política contemporânea tem a ver com isso – a ideia de que a política pode ser produzida em laboratório por uma indústria de assessores e de especialistas que analisam o “mercado eleitoral” por forma a criar o personagem perfeito e ao qual é pedido que nada mais faça do que seguir os seus conselhos.

O focus group e os inquéritos de opinião passam a determinar a palavra e a ação do político, que assim está seguro de dizer o que agradará ao auditório que o ouve. Tudo previsível, tudo falso, tudo igual ao que já vimos, e ainda a horrível sensação de que por detrás do pano não há plano, nem programa, nem uma ideia. Nada senão o vazio. Moro é um daqueles personagens fabricados pelas televisões e pelos vazamentos que lhes forneceu como contrapartida para a fama e glória pessoal. Ali não há trajeto político, nem provas dadas, nem nenhuma convicção que valha a pena assinalar. Ali nada há que seja autêntico, genuíno, humano e imperfeito. É uma candidatura à procura da carreira e da oportunidade, desprezando o que de mais belo tem a política – o risco e a contingência da ação. A tão procurada “terceira via” acaba, assim, como arte kitsch – “arte previsível, com efeitos previsíveis, com recompensas previsíveis”.

A política brasileira parece ter perdido qualquer sentido estético. Moro não é a salvação, mas a maldição da direita. Que tristeza!

*José Sócrates/Carta Capital

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Educação

Sob o governo Bolsonaro, Enem tem 41% menos inscritos e afasta negros e pobres

Um levantamento feito pelo Semesp mostra que o número de inscritos com isenção da taxa por declaração de carência caiu 77% em relação à última prova. Além disso, apenas 11,7% dos inscritos para o Enem 2021 são pretos

Desde 2005, o Enem não tinha número tão baixo de inscrições. E, naquela época, a prova nem era usada para entrar em universidades públicas. O total de candidatos que vai fazer este Enem – cerca de 3,4 milhões – é quase metade do que o Ministério da Educação (MEC) esperava de inscritos no início do ano. Em relação ao ano passado, houve redução de 41% no total de inscrições, informa matéria do Estadão.

A queda é maior entre os candidatos que já haviam concluído o ensino médio. E excluiu ainda mais pretos, pardos e indígenas. O corte na gratuidade para quem faltou no ano passado afastou ainda estudantes pobres que não conseguiram pagar a taxa de R$ 85 para participar. O ministro da Educação, Milton Ribeiro, que brigou na Justiça para não reabrir o prazo de inscrição, minimizou no Congresso o recorde negativo. “Quero saber de fato quantos vão fazer o Enem”, disse.

Em setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a reabertura do prazo de inscrição com gratuidade para quem faltou na edição passada. O Enem de 2020, realizado em janeiro deste ano, teve recorde de abstenção – grande parte de jovens que faltaram com medo de contaminação pela covid-19. A adesão à nova rodada de inscrições agora foi baixa: só 280 mil alunos a mais, que vão fazer a prova apenas em janeiro de 2022.

O ensino remoto ruim, em meio à pandemia, desmotivou os estudantes. “É complicado, não tem como aprender como eu queria. Não me sinto preparada”, diz Karen Carla Alves, de 17 anos. Após quase dois anos de aulas online, a jovem mineira decidiu não se inscrever e tentar só depois uma vaga em Medicina Veterinária.

Já Thiago Henrique Almeida, de 18 anos, começou a trabalhar para ajudar o tio. Morador de Epitaciolândia, no Acre, ele leva e traz gado entre dois municípios do interior. “Não consegui aprender de verdade. A gente só pegava material na escola, e assistia pela televisão, quando dava o sinal”, diz. “Meu tio me disse que no próximo ano vai pagar um pré-Enem para mim. Quero fazer Engenharia Elétrica. Não adiantaria tentar agora.”

Diretores e professores bem que tentaram mobilizar os estudantes, mas a crise fez força contrária. No Amapá, Arnanda Oliveira, responsável pelo ensino médio na Secretaria de Educação, viu famílias saírem da capital e voltarem para comunidades rurais ou ribeirinhas para sobreviver – muitas delas sem computador ou celular.

“A gente já percebeu esse impacto no Enem 2020 e mais ainda este ano. Qualquer ação que envolva WhatsApp, ou algo simples de internet, temos dificuldade de alcance”, afirma. “A educação dificilmente vai ficar em primeiro plano, porque essas pessoas precisam comer.” A queda de inscritos neste Enem é ainda maior na faixa de 21 a 30 anos – 68,8% em relação à edição passada.

Oséas Ferreira, de 20 anos, trabalha como empacotador em um frigorífico. Em algum momento entre o início e o fim da jornada de dez horas, percebeu que o sonho de estudar escapava entre os dedos. Ele queria cursar Direito, mas hoje, quando colegas da mesma idade estiverem a caminho do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ficará ainda mais distante da universidade.

“Tem hora que dá desespero. Sempre gostei de estudar e não tenho oportunidade”, diz o jovem de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Ferreira faz parte de um grupo que se tornou mais numeroso este ano: aqueles que nem chegaram a se inscrever no Enem. Porta de entrada para o ensino superior brasileiro, o exame será aplicado hoje e no próximo domingo, em meio a denúncias de tentativa de controle sobre questões da prova e crise com servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo teste.

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Humor

Vídeo sensacional de Felipe Castanhari mostrando com muito humor quem é rico e quem é pobre

Esse vídeo é pra você que tem um conhecido, um parente ou mesmo um amigo nas redes sociais, ou seja, pessoas que, por terem uma casa própria, um carro importado na garagem e podem, vez por outra, viajar para São Lourenço e se hospedar numa pousada, se acham ricas e que são parte da elite econômica do Brasil e, por isso, votou e apoia Bolsonaro, mostre isso pra elas.

O vídeo é tão genial que vale a pena perder o amigo e até ser limado pelo parente.

 

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Política

Solitária, Pobre, Sórdida, Brutal e Curta

A grande façanha de Bolsonaro foi ter devolvido o Brasil ao que Hobbes chamava de “estado da natureza”.

Uma condição, sem regras, sem leis e sem Estado, na qual a vida humana é invariavelmente “solitária, pobre, sórdida, brutal e curta” (solitary, poor, nasty, brutish, and short). Uma guerra constante de todos contra todos (bellum omnium contra omnes).

De fato, sem auxílio emergencial, sem empregos e salários decentes, sem direitos, sem alimentos, sem perspectivas, sem vacina e até sem oxigênio a vida dos brasileiros se aproxima cada vez mais do pesadelo descrito por Hobbes.

No Brasil, o Estado parece ter sumido, principalmente quando se trata de defender a vida dos mais frágeis e pobres.

Ninguém é responsável por nada.

O Brasil, de acordo com o Lowy Institute, de Sidney, tem o pior desempenho do mundo no combate à pandemia de Covid-19. Recebeu nota 4,3, num total de 100. A mais baixa entre os 98 países pesquisados. Somos os campeões mundiais da morte. Uma glória.

Mas, de acordo com o governo, ele não é responsável. Bolsonaro, sem dúvida um estoico, já disse, há muito tempo, que não pode fazer nada. Portanto, conforme os ensinamentos estoicos, não deve se importar ou ter sentimentos sobre o assunto. Fatalista, afirma que “todo o mundo vai morrer mesmo”. Indagado sobre as centenas de milhares de mortes, “filosoficamente” responde: “e daí?” Um sábio.

Pazuello, o gênio da logística, também afirmou, na cara dos Senadores, que não é responsável. Faltou oxigênio em Manaus? Acontece. Morreram mais de 230 mil brasileiros de “gripezinha”? Coisas da vida.

É possível, no entanto, que juízes na Haia não tenham o entendimento de que as ações e omissões do nosso governo de filósofos possam ser justificadas pelos ensinamentos de Epiteto e Sêneca. É até provável que, com base do Estatuto de Roma, julguem que o governo do capitão é responsável pelo crime de extermínio, diferente do genocídio.

Também é bem possível que a situação do Brasil venha a se agravar, neste ano.

No plano internacional, o Banco Mundial prevê crescimento de cerca de 4%, em 2021, após a queda de 4,6%, no ano passado. Insuficiente, portanto, para que a atividade econômica volta aos níveis pré-pandemia.

Para a América Latina, a CEPAL prevê recuperação de apenas 3,7% em 2021, subsequente a uma contração média de -7,7% em 2020, a maior em 120 anos.

Entretanto, tal recuperação tímida e relativa da economia mundial, puxada basicamente pela China, que não reporá a atividade econômica aos níveis pré-pandemia, dependerá estreitamente da questão sanitária. Caso a vacinação ocorra de forma lenta, o Banco Mundial prevê uma estagnação nos níveis muito baixos de hoje (crescimento de somente 1,6%).

Essa relativa recuperação dependerá também da capacidade dos governos implantarem pacotes de estímulos para suas economias. No caso dos EUA, por exemplo, o governo Biden lançou um pacote de estímulos que ascende a US$ 1,9 trilhão. Boa parte dos governos minimamente responsáveis do mundo fará o mesmo.

No Brasil, nosso governo pretende, ao contrário da tendência mundial, insistir na salada mortal e indigesta do teto de gastos, da austeridade fiscal, da extinção de direitos e da indigência sanitária. Salada regada com molho de cloroquina, terraplanismo, discurso de ódio e fake news. Uma delícia.

Pretende-se, assim, seguir o rumo do Estado omisso e irresponsável e do excitante “estado da natureza”. O rumo, na verdade, do neoliberalismo.

O neoliberalismo nada mais é do que aposta num Estado omisso e irresponsável, frente às necessidades do grosso da população, que faz voltar o capitalismo a um estado de barbárie incontrolada. Sua acumulação primitiva e “natural”.

Em tal contexto, o Estado só existe mesmo para servir aos interesses de 1% da população.

O resto que leve uma vida solitária, pobre, sórdida, brutal e curta.

Resta ver por quanto tempo a população manterá a mesma atitude “estoica” do nosso governo de filósofos, com um auxílio emergencial de estratosféricos R$ 250,00.

Resta indagar por quanto tempo os nossos “democratas” da direita tradicional e do “centro” fingirão que fazem oposição real ao governo Bolsonaro quando, na realidade, apoiam sua agenda regressiva e destruidora.

Resta perguntar por quanto tempo a mídia tradicional fingirá que não tem nenhuma responsabilidade por este estado de coisas.

E resta ver, por último, por quanto tempo o judiciário acobertará os crimes da Lava Jato e manterá o absurdo “cancelamento” político de Lula.

Enquanto isso, a vida prossegue cada vez mais solitária, pobre, sórdida, brutal e curta.

*Marcelo Zero/247

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