O governo precisa equilibrar o interesse da indústria com a atuação dos órgãos reguladores, alega especialista, consultado pela Sputnik Brasil.
O número de licenças de defensivos agrícolas registrado em 2019 é o mais expressivo desde 2005, de acordo com monitoramento feito pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, quando começou a série histórica.
Segundo o Greenpeace, desses produtos, 22 contêm ingredientes ativos que têm seu uso proibido na União Europeia. Além disso, 25 constam na lista dos produtos extrema ou altamente tóxicos à saúde humana.
Sob o governo Bolsonaro, o Brasil bateu recorde do número de agrotóxicos liberados, com 467 licenças em 2019.
Segundo a pesquisa da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – 23% dos alimentos analisados têm resíduos de agrotóxicos acima do limite permitido ou proibidos para a cultura.
O governo Bolsonaro afrouxou deliberadamente o controle sobre os agrotóxicos no Brasil? Isso pode repercutir no mercado externo? Quais são os riscos para a saúde da população?
Segundo Carlos Canejo, professor de Engenharia Ambiental na Universidade Veiga de Almeida, é necessário que as regras sobre o uso de agrotóxicos sejam mais rígidas.
“O uso desses agrotóxicos causa uma significativa degradação ambiental. Ele contamina solos, rios, lençol freático. Isso vem a ocorrer porque esses agrotóxicos que são usados durante o processo de irrigação, fazem com que aconteça uma contaminação de todo o sistema de modo contínuo”, alertou o especialista para Sputnik Brasil.
Desse modo, os agrotóxicos afetam uma região muito maior, do que a área, na qual são aplicados.
Por outro lado, o professor destacou que uma fiscalização mais rigorosa deve ser aplicada, uma vez que o uso de substâncias químicas no solo nem sempre é realizado de forma legal.
Canejo destacou que a legislação brasileira “não deve nada” aos países mais desenvolvidos. O problema, segundo ele, está na implementação das leis.
“A grande gama de agrotóxicos disponibilizados pelo mercado dificulta essa fiscalização. E também não temos a segurança sobre o uso humano de muitos desses agrotóxicos”, ponderou o especialista.
Apesar da Anvisa realizar pesquisas sobre a segurança das substâncias químicas utilizadas no cultivo, o avanço da indústria nem sempre é acompanhado pelos órgãos governamentais.
“A gente está sujeito a problemas que devem ser melhor avaliados”, alertou o professor.
Carlos Canejo avalia que, o novo governo, sem entrar em méritos políticos, buscou firmar um acordo para o avanço na “liberação de novas licenças para motivar a indústria”.
“Claro que isso precisa de uma discussão mais ampla”, avaliou o interlocutor da Sputnik Brasil.
A indústria agrícola é muito importante para o país, afirmou o acadêmico. No entanto, o setor precisa de maior regulação.
“A gente opera com agrotóxicos que não foram liberados em outros países…então a gente precisa refletir um pouco”, declarou o entrevistado.
“O grande passivo ambiental acaba ficando no nosso país”, concluiu o pesquisador.
O governo não está medindo os riscos para pode exportar mais, dessa forma. Para o cientista a resposta está na regulação e na implementação das leis já existentes, que são muito mais modernas, do que a prática do mercado.
*Com informações do Sputnik