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Ultradireita se torna segunda maior força política na Alemanha

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve um avanço expressivo nas eleições federais antecipadas deste domingo (23/02), consolidando-se como a segunda maior força política do país. Com 19,9% dos votos, a legenda quase dobrou sua votação em relação a 2021, superando os social-democratas do SPD e os Verdes. A sigla de ultradireita ficou atrás […]

O partido Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve um avanço expressivo nas eleições federais antecipadas deste domingo (23/02), consolidando-se como a segunda maior força política do país. Com 19,9% dos votos, a legenda quase dobrou sua votação em relação a 2021, superando os social-democratas do SPD e os Verdes.

A sigla de ultradireita ficou atrás apenas da União Democrata-Cristã (CDU), de Friedrich Merz, que deverá liderar a formação do próximo governo. Com a derrota do SPD, a legenda do chanceler Olaf Scholz caiu para terceiro lugar no Parlamento.

A AfD indicou como candidata a chanceler a deputada Alice Weidel, uma das colíderes do partido. Após a divulgação dos primeiros resultados, Weidel celebrou o desempenho da legenda:

“Somos o único partido a dobrar em relação à última eleição – o dobro!”

Crescimento sem acesso ao poder
Apesar do crescimento expressivo, a AfD continua isolada politicamente. Nenhum dos partidos tradicionais pretende formar uma coalizão com a legenda, o que inviabiliza sua participação direta no governo.

A CDU precisará buscar parceiros para garantir maioria no Bundestag. No entanto, Merz já descartou qualquer possibilidade de aliança com a AfD, reforçando o “cordão sanitário” imposto pela política alemã contra a ultradireita.

Esse isolamento tem sido um padrão nas eleições estaduais. Mesmo quando terminou em primeiro lugar, como no pleito de 2024 na Turíngia, a AfD não conseguiu integrar governos locais, pois partidos adversários se uniram para evitar sua ascensão ao poder.

Trajetória da AfD e apoio externo
Fundada em 2013, a AfD começou como um partido eurocético de tendência liberal, mas rapidamente migrou para a ultradireita, principalmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Hoje, a legenda defende políticas radicalmente anti-imigração e tem membros monitorados pelos serviços de inteligência por ligações com o extremismo de direita.

A AfD é especialmente forte no Leste da Alemanha, onde liderou as eleições estaduais na Turíngia e ficou em segundo lugar na Saxônia e Brandemburgo. Entre os eleitores de 16 a 24 anos, o partido conquistou a maior fatia de votos nessas regiões.

Durante a campanha, a legenda recebeu apoio internacional, incluindo um endosso do bilionário Elon Musk e do vice-presidente dos EUA, J.D. Vance. Musk chegou a participar, por vídeo, de um comício da AfD e declarou:

“Só a AfD pode salvar a Alemanha.”

A declaração gerou acusações de interferência externa na eleição. O governo alemão também acusou a Rússia de espalhar desinformação para influenciar o pleito e minar a confiança na democracia.

Além disso, membros da AfD enfrentaram escândalos envolvendo financiamento estrangeiro. Em 2024, um deputado do partido foi acusado de receber dinheiro da Rússia, e um assessor foi preso sob suspeita de espionagem para a China.

Apesar da resistência política e dos escândalos, a AfD segue ampliando sua base eleitoral e consolidando-se como uma das principais forças da política alemã.

*Jean-Philip Struck | 23/02/2025 | DW

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Secretário de Bolsonaro diz na Unesco que arte brasileira servia a projeto absolutista

Pela primeira vez, governo brasileiro usa tom ultraconservador em organismo internacional de cultura, ataca produção artística nos últimos 20 anos e gera espanto de delegações estrangeiras. “A arte brasileira transformou-se em um meio para escravizar a mentalidade do povo em nome de um violento projeto de poder esquerdista“, atacou Roberto Alvim.

Num discurso no final da tarde de terça-feira (19) diante da reunião anual da Unesco, em Paris, o novo secretário da Cultura do governo Jair Bolsonaro, Roberto Alvim, fez um dos ataques mais duros contra as artes no Brasil nos últimos anos. Citando Deus e prometendo criar uma “nova geração de artistas”, ele ainda garantiu que o novo governo retomaria a “beleza” nas obras de arte.

Há dez dias, Bolsonaro nomeou Alvim para o cargo de secretário especial de Cultura. Antes de assumir o posto, ele era o diretor do Centro de Artes Cênicas (Ceacen) da Funarte e causou polêmica ao atacar a atriz Fernanda Montenegro.

Em Paris, o secretário ainda se reuniu com autoridades de governos de ultra-direita, como da Hungria e Polônia, além de encontros com o governo de direita da Grécia.

Mas foi seu discurso que chamou a atenção de delegações estrangeiras. Uma dessas missões enviou à coluna o texto que foi lido pelo brasileiro, surpresa diante da guinada na direção do discurso sobre as artes no Brasil. Procurada desde terça-feira, a secretaria de Cultura não respondeu ainda aos pedidos da reportagem.

Um governo europeu por exemplo, tomou a palavra momentos depois para fazer amplos elogios à arte brasileira, cantores e sua diversidade. Outros diplomatas de países vizinhos indicaram que o discurso chegou a gerar sorrisos por parte de alguns governos. Organizadores em Paris ainda indicaram que colocaram a fala do secretário para o final do dia depois de um pedido do governo para que sua presença não coincidisse com a presença de delegações de Cuba e Venezuela.

O discurso de Alvim, de fato, não poupou nenhum segmento e os ataques foram direcionados explicitamente aos governos de esquerda no Brasil e à classe artística.

“Nas últimas duas décadas, a arte e a cultura brasileira foram reduzidas a meros veículos de propaganda ideológica, de palanque político, de propagação de uma agenda progressista avessa às bases de nossa civilização e às aspirações da maioria do nosso povo”, disse o secretário diante de ministros de todo o mundo.

“Passamos não mais a produzir e experimentar arte como uma ferramenta para o florescimento do gênio humano”, afirmou o secretário. “A arte brasileira transformou-se em um meio para escravizar a mentalidade do povo em nome de um violento projeto de poder esquerdista, um projeto mesquinho que perseguiu e marginalizou a autêntica pluralidade artística de nossa nação”, insistiu.

Segundo ele, esse movimento “abarcou a quase totalidade do teatro, da musica, das artes plásticas, da literatura e do Cinema, e não ocorreu de modo espontâneo”.

“Foi meticulosamente pensado, orquestrado e executado por lideranças tirânicas para nossa submissão”, afirmou. E lançou um alerta: “Quando a arte e a cultura adoecem, o povo adoece junto”.

Bestialização Alvim ainda atacou a forma pela qual a arte era produzida no país até a chegada de seu governo. “A arte e a cultura no Brasil estavam a serviço da bestialização e da redução do indivíduo a categorias ideológicas, fomentando antagonismos sectários carregados de ódio – palcos, telas, livros, não traziam elaborações simbólicas e experiências sensíveis, mas discursos diretos repletos de jargões do marxismo cultural, cujo único objetivo era manipular as pessoas, usando-as como massa de manobra de um projeto absolutista”, atacou.

Segundo ele, a “ideologia de esquerda perpetrou uma terrível guerra cultural contra todos os que se opuseram ao seu projeto de poder, no qual a arte e a cultura eram instrumentos centrais de doutrinação”.

Parte de seu discurso, porém, foi dirigido contra a “esquerda”. “A esquerda perseguiu, difamou, destruiu as possibilidades de trabalho ou existência de qualquer voz que discordasse de seu credo revolucionário”, atacou.

Beleza

Alvim, porém, insiste que tudo isso acabou. Com eleição de Bolsonaro, “os valores ancestrais de elegância, beleza, transcendência e complexidade encontraram uma nova atmosfera”.

“E isso nos permitir retomar o sonho de libertar a cultura e coloca-la na direção de princípios poéticos sagrados”, afirmou.

Recém empossado numa secretaria que fica sob a administração do Ministério do Turismo, ele garante que o novo governo está “envolvido na árdua tarefa de promover um renascimento da arte e da cultura brasileira”.

“Estamos comprometidos com a redefinição da identidade e da sensibilidade nacionais, em consonância com os valores e os mitos fundantes de nossa nação”, disse.

Alvim ainda prometeu “trazer de volta o conceito de obra de obra”. E, uma vez mais, atacou a esquerda.

“Um governo de esquerda patrocina propaganda ideológica. Um governo de direita apoia obras de arte. Vamos devolver a arte aos espaços de arte”, disse.

Outro destaque do secretário foi suas referências aos clássicos. “Vamos promover uma cultura alinhada às grandes realizações de nossa civilização judaica-cristã”, disse.

Ele ainda definiu o que chamou de “conservadorismo em arte”. Isso inclui o “amor aos clássicos”. Para ele, será a partir disso que “brotará a ambição de criarmos obras de grandeza semelhante em nosso tempo”.

Alvim ainda prometeu uma “arte não seja para a doutrinação”. Mas sim para a “prosperidade do caráter e a recuperação da soberania de cada indivíduo”.

Entre as tarefas que ele indicou para o governo está “a criação de uma nova geração de artistas”.

E indicou com uma mensagem de que “o novo trabalho serve para a edificação de nossa civilização brasileira”.

Tudo isso seria, para concluir, “para a glória de Deus”. “Que Deus os abençoe”, completou o secretário diante de ministros de todo o mundo.

 

*Jamil Chade/Uol