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Política

Homem de confiança de Ciro Nogueira é alvo da polícia na Carbono Oculto do Piauí

Victor Linhares de Paiva recebeu 230 mil reais em conta de fintech suspeita de lavar dinheiro para o PCC

Por Leandro Demori, Flávio VM Costa e Alice Maciel

A Polícia Civil do Piauí cumpriu nesta terça-feira (4) mandado de busca e apreensão contra Victor Linhares de Paiva, ex-assessor, aliado político e compadre do senador piauiense Ciro Nogueira (PP). Ele é alvo da Operação Carbono Oculto 86 que investiga um esquema de lavagem de dinheiro envolvendo postos de combustíveis que supostamente atendem à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).

Victor Linhares recebeu a quantia de R$ 230 mil de outro alvo da mesma operação, o empresário Haran Santhiago Girão Sampaio, antigo dono da rede de postos HD que seria o epicentro do esquema criminoso no Piauí. O ICL Notícias teve acesso exclusivo a um documento que comprova a transação financeira.

O dinheiro foi transferido em 20 de dezembro de 2023 para uma conta aberta por Linhares apenas oito dias antes na fintech BK Bank. A instituição financeira foi apontada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) como peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro do PCC. A ligação entre o banco e a facção criminosa foi revelada na Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto e que atingiu empresas e fundos sediados na Faria Lima, em São Paulo.

A investigação piauiense é um desdobramento da operação homônima, que teve o foco maior em São Paulo. Por essa razão, foi batizada com acréscimo do número 86, referente ao DDD do Piauí. A Justiça autorizou o compartilhamento de provas entre as duas operações.

A comunicação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), ao qual o ICL Notícias teve acesso, registra que Victor Linhares de Paiva transferiu o dinheiro para outra conta bancária registrada em seu nome, assim que recebeu o depósito de Sampaio.

“Após isso não houve mais nenhuma transação, indicando que a abertura de conta pode ter sido apenas para essa transação”, lê-se no documento.

Ciro

A movimentação financeira chamou a atenção dos investigadores do Piauí porque coincide com o período em que Haran Sampaio e seu sócio, Daniel Coelho de Souza, venderam os postos de combustíveis da rede HD para um fundo de investimentos administrado pela Altinvest Gestão de Administração de Recursos de Terceiros – empresa que também foi alvo da Carbono Oculto.

A suspeita dos investigadores é a de que Victor Linhares Paiva recebeu a quantia por intermediar a negociação.

Sampaio, Souza e Linhares foram alvos de mandados de busca e apreensão autorizados pela Justiça do Piauí, que rejeitou os pedidos de prisão temporária feitos pela Polícia Civil.

Os crimes investigados são de adulteração de combustíveis, fraudes fiscais e lavagem de dinheiro, num esquema semelhante ao identificado pela PF e pelo MP-SP. Investigadores apontam que o mesmo esquema foi levado até o Piauí e replicado na rede de postos de gasolina HD.

Procurados pela reportagem, Haran Sampaio e Victor Linhares não responderam aos questionamentos da reportagem.

Questionado pela reportagem, o senador Ciro Nogueira renovou os ataques contra o ICL Notícias em vez de responder aos questionamentos.”A única coisa que tenho a dizer é que fiquei impressionado de vcs conseguirem divulgar a operação antes dela acontecer kkkk”, afirmou, por meio de mensagem por WhatsApp. “Na próxima sincronizem direito com quem contratou vcs”.

As ligações entre Victor Linhares e Ciro Nogueira
Aliado político do senador Ciro Nogueira, Victor Linhares ocupou, de 2 de janeiro até esta segunda-feira (3), o cargo de secretário municipal de Articulação Institucional (SEMAI) da prefeitura de Teresina. Na função, ele era responsável por intermediar, junto ao governo federal e ao Congresso Nacional, projetos e a liberação de verbas destinadas à capital piauiense.

Linhares já exerceu cargo de vereador da capital piauiense entre julho e dezembro de 2024. Ele trabalhou, anteriormente, no gabinete de Ciro Nogueira entre abril de 2018 e março de 2019 e também na liderança do Partido Progressista (PP) no Senado em 2020.

O senador é padrinho de uma filha de Linhares. Diversas fotos postadas em redes sociais mostram a proximidade entre os dois.

Em julho deste ano, a revista piauí revelou que Victor Linhares recebeu R$ 625 mil, entre dezembro de 2023 e setembro de 2024, do empresário do setor de apostas, Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG.

No mesmo período, Paiva repassou R$ 35 mil à conta pessoal do senador Ciro Nogueira. As informações são do Relatório de Inteligência Financeira Relatórios de Inteligência Financeira (os chamados RIFs), acessados pela CPI das Bets, instalada em novembro de 2024 para investigar as empresas de apostas on-line.

À revista piauí, o senador afirmou que “o valor era o reembolso de uma reserva de hotel em Capri, na Itália, e que os R$ 625 mil foram o pagamento por um relógio Richard Mille, negociado diretamente entre Fernandin e seu ex-assessor”.

Linhares é apontado por políticos do Piauí ouvidos pela reportagem como “pupilo” de Ciro Nogueira. Em entrevista a um veículo local em agosto do ano passado, o senador disse que vai apoiar a candidatura do seu ex-assessor em 2026 para deputado federal ou estadual.

O ex-secretário era filiado ao PP até março deste ano, quando filiou-se ao União Brasil, que integra junto à sua ex-legenda, a Federação União Progressista.

O empresário que transferiu R$ 230 mil a Victor Linhares era dono da rede de postos de combustíveis “Postos HD”, que também foi alvo da Operação da Polícia Civil do Piauí, e é um dos principais grupos empresariais do setor nos estados do Piauí, Maranhão e Tocantins.

A investigação, segundo relatório da Polícia Civil, “foi iniciada após ocorrências sobre adulteração na quantidade de combustível abastecida e buscou explorar possíveis conexões com o crime organizado”. Os investigadores também apontam no relatório “similaridade com a operação Carbono Oculto”.

A principal empresa do grupo, HD Petróleo Ltda, foi aberta em 13 de outubro de 2014 por Haran Santhiago Girão Sampaio e Danilo Coelho de Souza, com o capital social de R$ 200 mil e com cotas divididas igualmente entre ambos.

A rede cresceu e ganhou notoriedade regional. Em dezembro de 2023, a empresa foi vendida para a Pima Energia Participações Ltda. O valor da venda não foi informado no contrato de compra e venda registrado na Junta Comercial do Piauí. Apenas foi informado que o capital social da empresa subiu para 300 mil e que 100% das contas pertencem à Pima Energia.

O que chama atenção, segundo relatório da Polícia Civil do Piauí,é que a Pima Energia foi aberta em um endereço em São Paulo, apenas seis dias antes de comprar a rede de postos HD, “levantando a suspeita de que foi criada especificamente para formalizar a referida transação comercial”. Os investigadores suspeitam que foi uma venda de fachada, uma vez que houve uma “substituição de bandeira (de HD para Pima e Diamante) sem alteração operacional real”.

A investigação detectou 32 pessoas jurídicas que tinham como sócios Haran Sampaio e Danilo Souza e foram transferidas para a Pima Energia Participações Ltda.

O único sócio da Pima Energia à época da venda era o Jersey Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, que por sua vez é administrado por uma empresa, também suspeita de lavar dinheiro e, igualmente, alvo da operação Carbono Oculto: a gestora de fundos Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros.

Hub de soluções financeiras, a Altinvest é liderada pelo empresário Rogério Garcia Peres e administra 10 fundos citados pelos promotores na Carbono Oculto. O MP-SP afirma que Peres é um dos responsáveis pelas “dinâmicas fraudulentas envolvendo fundos e a BK Instituição de Pagamento”.

Advogado, Peres também é apontado pela promotoria como “administrador de fundos de investimento, amplamente envolvido com o grupo Mohamad [Mohamed Hussein Mourad], sócio em postos de combustíveis”. Mourad, mais conhecido como “Primo”, é acusado de liderar o esquema de lavagem de dinheiro do PCC, junto a Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”. Ambos estão foragidos da Justiça.

Segundo relatório da Polícia Civil do Piauí, após a conclusão da venda dos postos de combustível da rede HD, Moisés Eduardo Soares Pereira passou a figurar como único sócio da Pima Energia Participações Ltda. Ele é um ex-funcionário de Haran Sampaio e Danilo de Souza. Investigadores suspeitam que ele é um laranja de seus patrões.

Após a compra pela Pima Energia, os postos de gasolina da rede “Postos HD” passaram a ser chamados de Red Diamante. De acordo com a investigação da Operação Carbono Oculto 86, há evidências de uso de empresas de fachadas vinculadas às marcas “Postos HD”, “Postos Pima” e “Postos Diamante”, “que tem suspeita de ligação com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC)”.

“As evidências apontam para possível sobreposição de registros ou compartilhamento de estrutura física entre diferentes pessoas jurídicas, indicando manobra para ocultar operações financeiras e dificultar a rastreabilidade de recursos, prática típica de lavagem de capitais”, destacam os investigadores.

*Com exclusividade n ICL


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