Categorias
Cotidiano

Conar abre processo ético contra Volkswagen por uso de imagem de Elis em propaganda

A cantora, que já morreu, aparece fazendo dueto com sua filha graças ao uso da Inteligência Artificial (IA)

O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) instaurou um processo ético para investigar o anúncio em que a Volkswagen usa a imagem de Elis Regina em uma propaganda da marca. A peça é assinada pela agência AlmapBBDO, segundo Mônica Bergamo, Folha.

A cantora morreu em 1982.

Segundo o Conar, a representação foi aberta depois de queixa de consumidores que “questionam se é ético ou não o uso da Inteligência Artificial (IA) para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha”.

O processo analisará se herdeiros podem autorizar o uso da imagem de uma pessoa que já morreu para uma peça criada por meio de IA em cenas das quais ela não participou em momento algum de sua vida e que são, na verdade, ficcionais.

Na propaganda, Elis Regina aparece dirigindo uma velha Kombi e, como se ainda estivesse viva, faz dueto com a filha dela, Maria Rita, que comanda um outro automóvel.

A publicidade gerou grande polêmica nas redes sociais. Além do uso da Inteligência Artificial, foi lembrado que Elis sempre combateu a ditadura militar no país, enquanto a VW apoiava o regime.

De acordo com o conselho, que regulamenta a atividade das agências de publicidade, o caso será examinado à luz do código que autorregulamenta a propaganda no país, à luz dos “princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade”.

O Conar vai avaliar, portanto, também o fato de a publicidade não ter alertado os espectadores de que usava Inteligência Artificial para criar a cena.

Isso pode ter levado uma parte do público, especialmente aquele mais jovem, que não conheceu a artista, a acreditar que se tratava de uma pessoa real e que Elis Regina ainda estivesse viva.

A publicidade pode, assim, ter gerado confusão entre ficção e realidade. E o Conar vai analisar se ela ultrapassou os limites éticos que toda peça de propaganda deveria seguir.

“Questiona-se a possibilidade de tal uso causar confusão entre ficção e realidade para alguns, principalmente crianças e adolescentes”, diz o órgão.

Segundo o Conar, o caso deve ser julgado em até 45 dias.

Não há hoje no Brasil um regramento definido sobre o uso da Inteligência Artificial (IA), o que torna o desafio do Conar ainda maior.

Segundo a montadora, a campanha fez uso da tecnologia deepfake para retratar Elis, que morreu em janeiro de 1982, aos 36 anos.

À coluna, o produtor musical João Marcello Bôscoli, filho mais velho de Elis Regina, disse que se “emocionou muitíssimo” ao ver o comercial. “Ver a Elis cantando ao lado da filha que ela não viu crescer, isso me comoveu muito”, afirmou.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental.

Caixa Econômica, Agência: 0197

Operação: 1288
Poupança: 772850953-6
PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição

Categorias
Opinião

Nada vai reduzir o impacto causado pela propaganda da Volkswagen com a Elis Regina

Elis Regina continua sendo, talvez até mais hoje, do que quando estava viva, unanimidade nacional.

Isso não é pouca coisa em um país em que sua música se confunde com o próprio povo.

Elis Regina é Elis Regina em qualquer época, por isso não dá para reduzi-la a questões que envolvem a Volkswagen que apoiou a ditadura e foi estratégica na questão do nazismo na Alemanha.

É preciso que as pessoas vejam mais à frente, na verdade, que vejam muito mais à frente.

O impacto que Elis causou, com sua filha Maria Rita, cantando “Nossos Pais”, muito mais pelas duas do que pela composição de Belchior, foi uma sacada publicitária de gênio, porque trabalhou com aquilo que o brasileiro mais presa, a memória afetiva pela música.

Nada faz com que o brasileiro enxergue melhor o mundo do que pela música que o povo criou.

Apesar da nova kombi ser um produto à venda, o entendimento que todos fazem dessa publicidade não é da nova kombi e muito menos da Volkswagen. Esse debate lateral acaba por entrar mais como exotismo, por mais que tenha importância histórica, que de fato tem e muita.

Mas estamos falando de publicidade e do objetivo do publicitário de atingir um sucesso arrebatador e original no momento em que a revolução tecnológica abriu extremamente o leque de atenção das pessoas, porque, na internet, há indicações e massificação de todo o tipo de entretenimento.

Por isso o sucesso dessa campanha tem um peso ainda maior, pois mostra que há sim estratégias de marketing que, se bem pensadas, conseguem protagonizar e se transformar no assunto nacional, claro, se forem devidamente pensadas e trabalhadas.

É só perguntar há quanto tempo não víamos uma publicidade tradicional ganhar tanta notoriedade.

E não foi por conta inteligência artificial utilizada na cena, mas a inteligência humana de quem teve essa bela sacada, que até a polêmica em torno da história da Volkswagen impulsiona ainda mais o objetivo almejado pela peça publicitária.

Seja como for, todos sabem que a Volkswagen lançou uma kombi nova e há de se reconhecer que foi um feito de craque num mundo circunscrito a links, algoritmos e monetização.

Tem muito o que comemorar, porque, ao fim e ao cabo, foi uma vitória da cultura brasileira. E ninguém lutou mais pela cultura brasileira no pior momento, o da ditadura, do que Elis Regina.

Apoie o Antropofagista com qualquer valor

Agradecemos aos que formam essa comunidade e convidamos todos que possam a fortalecer essa corrente progressista. Seu apoio é fundamental.

Caixa Econômica, Agência: 0197

Operação: 1288
Poupança: 772850953-6
PIX: 45013993768 – CPF

Agradecemos imensamente a sua contribuição