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Não tenho competência para ser ministro da Economia, como acusam alguns gentis detratores a cada vez que critico Paulo Guedes. Dizem que eu também não poderia ser titular da Justiça sempre que aponto uma bobagem de André Mendonça, o que acontece todo dia. Se há alguém fiel a si mesmo, eis o homem. Os línguas de trapo se esquecem, no entanto, de que, com efeito, não reunindo qualidades para comandar a economia, eu não a comando. Mas Guedes sim!
O ministro é hoje aquele parente inconveniente, chamado para as festas de aniversário e para a churrasco da família porque, afinal, ficaria chato não convidar, mas todos esperam que não compareça porque vai acabar dizendo inconveniências distintas e combinadas. Todos ficam chateados, e nisso entram em acordo, mas por motivos distintos.
É tão difícil assim constatar que a hora do ministro chegou? Acabou! O que havia de supostamente virtuoso não há mais. Quando Bolsonaro estava empenhado em hostilizar a classe política, apostando nas saídas escatológicas oferecidas por seus extremistas de direita, o ministro da Economia cumpria bem o papel do “baixinho invocado”. É um tipo literário, não um preconceito.
Como esquecer seu chilique do já pré-histórico 30 de outubro de 2018, quando uma jornalista argentina insistiu na pergunta sobre o futuro do Mercosul? O homem disparou, como um gigante: “O Mercosul não será uma prioridade no próximo governo. É isso que você queria ouvir? Você está vendo que aqui tem um estilo que combina com o presidente, que fala a verdade. Não estamos preocupados em agradar”.
Ali estava aquele que se via como o Pigmaleão de uma estátua, então muda em economia, chamada Jair Bolsonaro. Mesmo sem saber para onde ia ou ter um plano de voo detalhado — além da permanente demonização do Estado e do que ele chamava “social-democracia” —, o homem ia empurrando o troço com arrogância que fazia as vezes da barriga.
E o mercadismo respondia bem. Imberbes e “baby facies” iam inaugurando páginas de finanças pessoais no Youtube, ensinando à velharada os caminhos do sucesso e da fortuna. O Brasil regredia à surrealista condição de um Jardim de Infância do liberalismo dos anos 50, com pós-crianças de “gadgets” nas mãos a nos dizer qual era a boa do século passado.
O manejo que faziam do vocabulário, da regência e da sintaxe estavam a me indicar que não tomavam nem o cuidado de ler uma bula de remédio, como faço, para depois procurar em mim os efeitos colaterais que atingem apenas 0,1% dos que experimentaram a droga em teste cego…
Os escatológicos do golpismo perderam a parada, com medo do inquérito aberto por Dias Toffoli e relatado por Alexandre de Moraes. Veio o coronavírus para antecipar a ineficácia das soluções do liberalismo de anteontem de Guedes, e foi preciso arrancar da gaveta, ainda que ninguém ousasse pronunciar o nome, um keynesianismo de efeito rápido — uma espécie, assim, de adrenalina, na forma de cinco parcelas de R$ 600, contra o choque anafilático que sufocava a economia.
Foi ali que Guedes perdeu o pé da realidade. E ele nunca mais se encontrou. Bolsonaro, a estátua, evidenciou que tinha vida própria, mas não subordinada àquele que se considerava seu escultor. Sem a perspectiva do autogolpe, que nunca se mostrou viável, restava-lhe o caminho do povo. Guedes e reeleição não se combinam.
Alguém precisa encontrar uma saída para Bolsonaro que estabeleça um novo teto de gastos, mas a revisão tem de ser parte de um plano de reformas que não leve aquela molecada — e outros nem tanto — à especulação desenfreada. E isso tem de ser feito com o Congresso.
A última grande ideia de Guedes, no entanto, foi hostilizar Rodrigo Maia, presidente da Câmara, acusando-o de conspirar com as esquerdas contra as privatizações. Como se estas pudessem estar descoladas de um pacote de rearranjo da economia — e não podem — e como se o Executivo houvesse modelado uma proposta, o que não aconteceu.
Guedes atrapalha Bolsonaro. É por isso que, dia desses, o general Luiz Eduardo Ramos o pegou pelo braço e o tirou de circulação. Já não diz coisa com coisa. Se é que chegou a fazê-lo algum dia. Não tendo de encarar uma frente de oposição minimamente articulada, resta a Bolsonaro cair nos braços do povo ainda se aproveitando da popularidade decorrente do auxílio emergencial e ir administrando a bagunça que é seu governo.
Os deputados Joice Hasselmann (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) voltaram a bater boca neste sábado, por meio do Twitter. Após o deputado compartilhar – ao comentar um post de Joice – a hashtag #DeixeDeSeguirAPepa, em referência ao desenho animado Peppa Pig, sobre a família amorosa de uma porquinha, a parlamentar respondeu:
“Picareta! Menininho nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado. Um zero a esquerda. A canalhice de vocês está sendo vista em todo Brasil”.
Joice também contou que foi aplaudida em um restaurante de São Paulo:
“Ouvi agora aplausos num tradicional restaurante em SP e a palavra: como eles foram canalhas com vc! Saiba que VOCÊ está entre o ‘eles’.”
Picareta! Menininho nem-nem: nem embaixador, nem líder, nem respeitado. Um zero a esquerda. A canalhice de vocês está sendo vista em todo Brasil. Ouvi agora aplausos num tradicional restaurante em SP e a palavra: como eles foram canalhas com vc! Saiba que VOCÊ está entre o “eles”
Em outro post, logo depois, a deputada chama o filho do presidente Jair Bolsonaro de moleque e diz que não tem medo dele:
Robôs, neuróticos e paus-mandados se vão com a campanha do filhote nem-nem @BolsonaroSP contra mim. Tem dinheiro público nisso? O gabinete da maldade está empenhado? Aqueles perfis fakes tbm? NÃO TENHO MEDO DE VC, MOLEQUE. Olha aí, a maioria esclarecida sabe o q tá acontecendo.
Robôs, neuróticos e paus-mandados se vão com a campanha do filhote nem-nem @BolsonaroSP contra mim. Tem dinheiro público nisso? O gabinete da maldade está empenhado? Aqueles perfis fakes tbm? NÃO TENHO MEDO DE VC, MOLEQUE. Olha aí, a maioria esclarecida sabe o q tá acontecendo. pic.twitter.com/LEoKwYmbtD
A troca de ofensas começou após Joice ter sido destituída do cargo de líder do governo no Congresso em retaliação ao apoio da deputada à permanência de Delegado Waldir (GO) na liderança do PSL na Câmara. Bolsonaro articulou para que o deputado Eduardo Bolsonaro (SP) assumisse o cargo, mas não conseguiu o objetivo. A briga pelo comando dos cargos do partido tem como pano de fundo o controle das milionárias fatias dos fundos partidário e eleitoral.
Na sexta-feira, Eduardo já havia atacado a parlamentar ao compartilhar a imagem de uma nota falsa de R$ 3 com a foto de Joice e afirmar que ela estava trabalhando contra “o cara que a elegeu”.
“Se acha a dona de tudo, ‘porque EU aprovei’, ‘porque EU isso’, ‘EU aquilo’, ‘EU sou mais filha do que os filhos do presidente’, ‘EU sou a Bolsonaro de saias’, mas correu a noite coletando assinaturas para termos Delegado Waldir de líder, pessoa que irritada com o Presidente orientou obstrução à MP 886, botando em risco uma pauta nacional devido a um problema pessoal”, escreveu Eduardo em seu perfil no Instagram e no Facebook.
“Ou seja, final das contas estão todos trabalhando contra o cara que os elegeu, mas pela frente dizem que estão com Bolsonaro e postam fotos com ele – se não precisavam de Bolsonaro por que se filiaram ao partido dele na eleição?”