O novo partido criado por Bolsonaro terá o racismo como principal plataforma

Alguém viu Bolsonaro repudiar a atitude racista do Deputado Coronel Tadeu e o discurso também racista do Deputado PM Daniel Silveira? Não.

O espetáculo de discriminação protagonizado pelos dois, repudiado pela maioria dos brasileiros, encontrou eco numa parcela da classe média que não admite que o negro seja um cidadão.

Isso aconteceu no mesmo dia em que a perícia constatou que a bala que matou a menina Ágatha de oito anos, negra, veio da arma de um PM.

O que há de novidade nisso? Nada, em um país onde a injustiça secular contra os negros não é verdadeiramente um assunto em que o Estado trata com a devida urgência, ao contrário, no Rio de Janeiro, o governador Wilson Witzel trata uma questão tão grave como uma aquisição política de seu currículo, pior ainda por se tratar de um ex-juiz. Isso dá a dimensão do racismo no Brasil.

Na verdade, nesta terça-feira (19) tanto o Coronel quanto o PM, que estão deputados, praticamente proclamaram o lançamento do partido de Bolsonaro com múltiplos slogans racistas e querem que os negros aceitem tranquilos o discurso dos dois como oficial, como se fosse uma evolução da sociedade.

Num país sério, os dois sairiam algemados e perderiam os mandatos por crime de racismo, mas ao contrário, como se vê na foto, comemoram no plenário da Câmara dos Deputados o racismo como profissão de fé, dizendo que isso, através de suas interpretações, não é racismo.

Dentro da proposta dos dois o preconceito contra os negros não existe na PM, preconceito muito bem retratado pela obra de Latuff, ignorando que essa força policial multiplicadora de racismo foi criada pelo império para proteger escravocratas contra os escravos. Por isso, no brasão da corporação o desenho de um pé de cana e, outro, de café, é um símbolo claro de que a intolerância com os negros é a principal resposta da aliança do império com os senhores das fazendas de café e cana de açúcar.

Em um país de pouco mais de cinco séculos em que quatro deles a escravidão era oficial, ou seja, o racismo foi incorporado como um dos principais pilares de sua civilização, manter a essência da PM através de seu brasão, é manter o discurso do racismo imperial contra os negros nos dias atuais.

Certamente ninguém vai cobrar dos dois mastodontes racistas que eles tenham capacidade intelectual para entender essa lógica. Por isso, seguiram nas redes sociais produzindo discursos ainda mais racistas para justificar seus atos que, inacreditavelmente, foram praticados dentro da Câmara dos Deputados.

Na realidade, não há qualquer dúvida de que eles falavam em nome do novo partido criado por Bolsonaro do qual os dois certamente serão parte e querem ter o direito de reivindicar a liberdade da intolerância, do racismo e do preconceito sem serem acusados de racistas, assim como a PM ostenta um símbolo de racismo do império em seu brasão, mas não aceita ser considerada uma corporação racista. E assim ela adestra seus feitores em pleno 2019.

 

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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