Ano: 2019

A loucura foi instalada no Brasil como método de destruição, diz ex-chanceler Celso Amorim

Tolstói abre seu clássico Anna Karenina com a célebre frase “todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira”, “e a nossa maneira é mais cruel”, acrescenta o ex-chanceler Celso Amorim, ao explicar os desafios que o Brasil deve enfrentar para voltar a se posicionar no mundo como um país soberano.

Em conversa exclusiva com a Carta Maior, o ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa dos governos Lula e Dilma analisou o cenário político brasileiro, as mudanças no quadro geopolítico e os impactos da Operação Lava Jato na soberania nacional. Para o diplomata, que em 2009 foi considerado o melhor chanceler do mundo, o Brasil e o povo brasileiro são vítimas de um projeto de desmonte acelerado e será necessário o trabalho de gerações para reverter o estrago. “[O que está acontecendo] é uma coisa muito horrorosa, é uma loucura, é a instalação da loucura como método. Método de destruição”.

Amorim vê com muita preocupação as políticas do governo Bolsonaro e não titubeia ao afirmar que “eles estão dando os tiros certos: destruíram a Unasul”. Trata-se de um projeto sólido, de grandes potências, para enfraquecer a América Latina e voltar a ter o controle deste território, ao mesmo tempo que garante a subserviência brasileira como um “quintal estratégico”.

Desde a eleição de Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, a América Latina deu passos largos rumo à integração e à soberania. Consolidou mecanismos internacionais importantes e conseguiu se posicionar no mundo como um território com voz ativa em negociações de relevância global. O Brasil foi protagonista deste processo, não só pela extensão territorial e peso econômico, mas pela vontade política de não se fortalecer sozinho no xadrez mundial.

A mudança que este impulso progressista da América Latina causou no mundo incomodou as grandes potências, em especial os Estados Unidos que, como explica Amorim, “estava com o prato cheio” com as guerras no Oriente Médio no começo deste século. Mas agora se voltou novamente – com todas as fichas – para recuperar o território perdido ao Sul do mundo.

O peso na balança foi tanto que tivemos o direito de sonhar, por um pequeno instante, com o mapa invertido de Torres Garcia se tornar realidade. O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, chegou a propor a “Canção Para Todos”, de Mercedes Sosa, como um hino da Unasul: “Canta conmigo, canta/hermano americano/libera tu esperanza/con un grito em la voz”.

Porém, com um golpe atrás do outro e uma falsa operação jurídica no Brasil, o projeto da Nuestra América de Martí foi por água abaixo em poucos meses e reverter este quadro é o desafio das próximas gerações, afirma o ex-ministro. A entrevista faz parte da série de Carta Maior sobre o impacto dos cinco anos de Operação Lava Jato no Brasil.

Leia os principais trechos:

Impacto da Lava Jato na soberania nacional

A Unasul, por exemplo, foi desativada já no governo Temer. A decisão jurídica de sair foi do governo Bolsonaro, mas já estava acontecendo antes. Na época do Brexit, ainda no governo Temer, o Brasil começou a cumprir tabela, não tinha nenhuma iniciativa. Eu acho que agora vai piorar. Essas coisas se juntam e não é só a Petrobras, as nossas empresas de engenharia também. A Odebrecht, por exemplo, era uma potência! Tinha que corrigi-la, e não liquidá-la. Você já imaginou a Alemanha liquidar a Volkswagen porque eles tinham um software que enganava na questão de meio-ambiente? Não, eles demitiram o responsável.

A questão externa no Brasil era dada graças à presença de grandes empresas nacionais; o BNDES, para empréstimos na área de construção e na aquisição de outras coisas; e por fim a nossa ação diplomática. Essas coisas estão sendo demolidas de maneira sistemática. A Lava-Jato quis atingir sim o cerne da soberania. A libertação do Lula tem a ver obviamente com a sua inocência, seus direitos como cidadão e ser humano, claro, mas tem a ver também com o símbolo da soberania brasileira. No Brasil e na América Latina, quando você tem a luta pela soberania e pela igualdade combinadas, acontece um golpe.

[Neste momento] é importante que a esquerda e as forças progressistas sejam atentas, observadoras, porque tem muita coisa acontecendo. Precisamos nos perguntar: onde está o chão de fábrica, aquele que antes era mobilizado pelo Lula nas grandes greves? Como mobilizar essas pessoas é um desafio. Como é que você organiza a grande massa de beneficiados pelo presidente Lula, em grande parte pessoas destituídas, que não fazem parte de nenhum movimento? Em época de grande desemprego – como é agora –, a capacidade de militância dos sindicatos diminui. É preciso se reorganizar para mobilizar os trabalhadores.

O Lula tem uma grande capacidade de entender a realidade e se colocar diante dela. Não vejo nenhum outro líder no Brasil com essa capacidade, independentemente da capacidade intelectual que cada um tem. Você pode entender intelectualmente um problema, agora quem é capaz de falar com o povo, isso é o Lula.

Os sindicatos continuam a ser importantes, a gente teve essa greve geral que foi bem sucedida, mas é uma coisa mais ampla e mais complexa. Mas reconquistar a classe média é muito importante porque ela oscila. Muita gente que achava o Lula bom, depois achou ruim porque acreditou nas fábulas todas da corrupção, agora deve estar escandalizada com o [Sérgio] Moro.

Tem a famosa frase do Tolstoi que abria Anna Karenina: ‘todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira’. A nossa maneira é mais cruel. A organização hoje tem vários níveis. Tem que continuar trabalhando pela coisa do longo prazo, evidentemente, sem esquecer da frase do [John Maynard] Keynes que “no longo prazo estaremos todos mortos”.

Mas ainda não estamos discutindo um programa de governo. Claro que tem que começar a discutir porque tem que oferecer um horizonte alternativo. Não basta dizer que o que está aí está ruim, tem que dizer como que vai ser o bom. Mas tem que ter muita clareza que nós estamos vivendo uma situação tão dramática no Brasil de demonização da cultura… Se há uma coisa que caracteriza a atual administração é o ataque à razão. Tudo que é racional está sendo atacado.

O interesse norte-americano no Brasil

Obviamente [o motivo de incômodo dos Estados Unidos com a soberania nacional] foi a decisão do Brasil de tomar conta do pré-sal – porque não é só dizer ‘ah as companhias norte-americanas’ é lógico que as companhias norte-americanas têm interesse. Mas é muito mais complexo que isso. Quem está investindo no pré-sal? Tem companhia chinesa, tem companhia norueguesa, tem de tudo. Claro que há um interesse das empresas americanas, mas mais do que isso, é o interesse estratégico dos EUA.

Isso aqui sempre foi visto como quintal dos EUA. ‘Quintal’ parece uma expressão que a gente inventou aqui feito complexo de vira-lata, mas não é. É tratado nos livros acadêmicos norte-americanos a América Latina como ‘back área’ ou seja, é o quintal estratégico deles. Então isso aqui não pode mudar. [Os EUA consideram que] alguém pode até explorar o nosso petróleo, mas tem que ser parte da reserva estratégica deles num caso de conflito.

Brics

Se você tem uma política externa – não só brasileira – que começa a ter consequências práticas como os Brics… Os Brics talvez tenham sido o ponto mais importante porque implica numa possível associação mais profunda com China e Rússia. O IBAS [Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul] não incomodava eles [os EUA], mas o Brics é uma mudança possível na geopolítica mundial.

Eu fui convidado para participar de uma reunião de estratégia europeia para falar sobre Brics e uma das perguntas que eles me fizeram foi: ‘mas o banco dos Brics é para substituir o Banco Mundial?’. Então havia uma percepção que talvez fosse até exagerada com relação à realidade mas que estava mudando a organização estratégica do mundo. Você tem o petróleo aqui, tem os Brics, tem uma percepção que se consolida em 2009, 2010, com todas as iniciativas que o Brasil tinha tomado, e outros países da América do Sul também tinham tomado para participar que foi a Unasul e a Celac. Isso é concreto, não são palavras ao vento. Nosso comércio com a América do Sul aumentou muitíssimo, e o deles conosco.

Este conjunto de coisas fez com que o famoso Estado profundo norte-americano despertasse para o problema geopolítico que significava a atuação externa do Brasil. O Brasil é um dos maiores países, junto com os EUA, e tem projeção na África, nos países árabes, na Índia, etc… e a América Latina passou a ser vista já não mais como um quintal. Tudo isso fez com que tenha despertado a visão de ‘temos que ter alguma ação’. É por aí que as ciosas começam.

Mudanças no quadro geopolítico na última década

Um fato [novo] muito importante é o ressurgimento desse nacionalismo populista na Europa, que é um nacionalismo de direita, diferente de países em desenvolvimento. Isso ocorre também nos Estados Unidos. É curioso porque é muito novo. Quer dizer, pela primeira vez, eu diria, desde a Segunda Guerra Mundial, o [Donald] Trump representa uma defesa — claro que os Estados Unidos sempre defenderam o interesse deles em primeiro lugar, mas eles procuravam definir o interesse deles em termo de uma ordem mundial. Claro que nisso tinha muita hipocrisia, mas também muito de realmente procurar algum ordenamento. Agora não, agora é o seguinte: ‘a propriedade intelectual nos interessa, vamos lá dar um cacete no cara que não tá respeitando, entendeu?’. Simplificando muito é isso. Os Estados Unidos — no caso da primeira Guerra do Golfo, pelo menos, que é uma ação armada contra o Iraque — [disseram] ‘vamos tentar obter a aprovação da ONU’, e assim foi. Agora não, agora é ‘vamos lá e fazemos o que a gente quer’. Ninguém pergunta. Os Estados Unidos pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial defendem de maneira totalmente crua e direta, o seu interesse.

Hoje em dia há três polos de poder muito grandes, são Estados Unidos, China e Rússia. Com a possível associação que se vê de maneira crescente entre Rússia e China, serão dois polos novamente. Não será mais o polo ideológico Leste-Oeste do passado, que era capitalismo contra comunismo. Agora é uma coisa bem mais complicada. Mas pode ser Estados Unidos de um lado, e Eurásia de outro, com a União Europeia ali no meio sem saber que partido tomar. Ideologicamente mais do lado capitalista, mas com os seus interesses também…

Como a América Latina e o Brasil devem se comportar em relação a isso? Devem simplesmente explorar essas diferenças em seu benefício. Porque não se trata só dos Estados Unidos, a China é uma negociadora braba! Então você tem que ter essa atuação, e o Brasil tem um potencial de liderança no mundo em desenvolvimento…

Da política externa altiva e ativa ao desmonte do Itaramaty

Eu não estou falando uma coisa abstrata. Eu vi nas negociações da Organização Mundial do Comércio! Eu vi delegados africanos dizendo: ‘Vota igual o Brasil’. Porque eles sabiam que não tinham condição de levar. A Índia dizia assim: ‘A gente vai com vocês, mas vocês vão na frente’. Na época do presidente Lula era assim. Já era um pouco antes, eu devo dizer, porque o Brasil tem um peso.

Quando eu vejo o que está ocorrendo hoje na política externa… é uma coisa dramática. Não é só contra o Lula. Não é o regresso à política do Fernando Henrique Cardoso — que eu já lamentaria em muitos aspectos — é um retrocesso inominável.

[Diante deste cenário] o desafio é defender a soberania no plano internacional, com esse quadro redefinido, exige coisas que eu, digamos, a curto prazo não vejo como. Mas [precisa] restabelecer a integração. Porque o Brasil sozinho, apesar de grande, ele também não tem esse peso todo. Não tem o peso da China, dos Estados Unidos. Porém, a América Latina pode ter. América do Sul pode ter.

É possível a continuidade do ciclo progressista?

Essa eleição na Argentina com o Alberto Fernández, quem sabe?! Com o kirchnerismo voltando… O nosso presidente é tosco e tudo isso que dizem, mas ele tem intuição. Porque que ele diz: ‘Eu não tô preocupado tanto com a Venezuela, agora eu tô preocupado com a Argentina’?

Mas eu vejo que há uma determinação de impedir que a América Latina volte a ficar de pé. É escandaloso que não tenha havido uma reação na América Latina em relação à ameaça norte-americana de aumentar as tarifas do México, ou diante da proposta de construção de um muro. Agora, veja que eles estão dando os tiros certos: destruíram a Unasul. Começou no governo Temer e o Bolsonaro consolidou.

O que acontece na Argentina, pro bem ou pro mal, tem um impacto no Brasil. Eles acabaram com a ditadura lá, em poucos meses acabou aqui; tem uma crise financeira lá, pouco depois tem uma crise aqui. Da mesma forma que a democratização lá acelerou a redemocratização aqui, se você tiver governos progressistas na Argentina, México, Bolívia, na própria Venezuela que está conseguindo se segurar… é importante, por isso o Bolsonaro está tão interessado.

Agora, claro, o Brasil tem um peso muito grande: todos os outros países do mundo têm interesses comerciais e econômicos aqui. Não é à toa que quando fala-se dos países que apoiam a linha americana em relação à Venezuela falam logo do Brasil.

Retomada do desenvolvimento e soberania

[Retomar o desenvolvimento nacional] é um grande desafio. É preciso que muitas pessoas entendam que o discurso da soberania está junto com o discurso da democracia, não existe democracia sem soberania.

Temos que alargar a frente pela soberania com as pessoas que, digamos, são mais derrotadas na democracia, que não tão pensando tanto na soberania, mas que pensam na democracia. E é indispensável que haja uma repactuação, mas quem nós podemos incluir nessa repactuação pra mim não é claro. Por exemplo, eu tenho pouca confiança numa boa parte da indústria brasileira.

No passado a gente imaginava a burguesia nacional [como um grupo importante para o desenvolvimento]. Não vejo mais isso. A verdadeira burguesia nacional hoje — vou dizer uma coisa chocante —, a verdadeira burguesia nacional hoje é o agronegócio.

[A demissão do Joaquim Levy] retoma a ideia de que estamos vivendo uma profunda anormalidade insustentável. O governo vai ter que fazer uma adaptação para sobreviver. Quando o Bolsonaro comenta que vai armar a população para evitar o golpe… o que ele quer dizer com isso? Se eventualmente o Lula for solto e o exército não resolver agir, então a população age? O que é o golpe? Uma eventual tentativa de impeachment? Não acho nem que é o caso de mexer com isso agora, mas vai que alguém mexa… O que me espanta nisso é que essa declaração tenha sido feita em uma cerimônia militar. É como dizer que não se confia no Exército, e sim “no meu povo”. Isso é espantoso e vai obrigar uma reorganização.

Veja bem, eu não gosto desse artigo da Constituição do jeito que é, acaba servindo para dar um poder de arbítrio; mas na Constituição atual é missão das forças armadas: ‘1. A defesa da pátria; 2. A garantia dos poderes constituídos e a pedido deles a lei e a ordem’. Quem teria que evitar o golpe, em teoria, são as forças armadas! Se você passa essa obrigação para a população, qual o papel das forças armadas? Você mexe com um dos pilares do atual governo, os militares, que devem estar abalados com todas essas mudanças.

Outro pilar do governo é o capital financeiro, e eles não querem só representantes, querem ordem, previsibilidade, quando o cara é demitido do BNDES por supostamente ter empregado um petista, isso gera instabilidade. Eu acho que são duas coisas diferentes: um é o problema estrutural no Brasil, isto é, o domínio do capital financeiro, do capitalismo internacional, do neoliberalismo, coisas que já eram marca do governo Temer; depois há um núcleo de irracionalidade que é típico do governo atual. O que podemos discutir é se esse núcleo de irracionalidade pode ser abalado, modificado. A antessala para um projeto progressista, na minha opinião, está um pouco mais longe.

A gente tem que aceitar que nesse plano mais amplo temos outros aliados também, ainda que no meio do caminho a gente se separe. A nossa estratégia de desenvolvimento tem que ter o lado econômico fundamental que o professor Bresser-Pereira enfatiza sempre, que faz parte do nosso Projeto Brasil Nação. Mas ela tem que ter também um lado de igualdade social, racial.

O Brasil não é um país que tem uma nação a ser defendida, é um país que ainda precisa construir uma nação. Com tantas pessoas excluídas, e a questão de classe ainda não superada… é difícil fazer um projeto.

E aí voltamos ao ponto inicial, como é que pode ter discussão de soberania nacional se você não construiu a nação a partir da soberania popular? O conceito de soberania nasce com a formação dos estados nacionais da Europa, era algo para se defender de fora. Aí vem o Jean-Jacques Rousseau e cria o conceito de soberania popular, ou seja, a soberania para dentro.

Desta forma, só há soberania quando é o povo que exerce o poder. Está nas nossas Constituições antigas “todo poder emana do povo”. Enfim, são esses dois âmbitos, e quando você diz que o poder emana do povo, é do povo mesmo, não é da elite, é do povo pobre, negro, do nordestino, das mulheres, dos LGBTs, dos índios. Você tem que reconstruir isso ao mesmo tempo que se prepara para enfrentar as pressões externas, não é uma tarefa fácil, é uma tarefa gigantesca. E não vai ser uma tarefa para uma geração.

Com todas as críticas que eu faço ao Fernando Henrique, foi um governo de tolerância, um governo democrático, não mandou prender ninguém, não havia reitores se suicidando por perseguição. Também não se pode desprezar isso, entende? Eu me lembro de 1964, [falávamos] da democracia burguesa. Aí veio o golpe militar e ficamos morrendo de saudade da democracia burguesa. Não podemos nos satisfazer com ela, mas também não podemos desprezá-la. É [por] isso que a gente tem que brigar, eu não quero ver reitores se suicidando, não quero ver mulheres e negros sendo espancados, não quero ver o dinheiro faltar para a universidade, e ao mesmo tempo quero ver o Brasil capaz de defender seu interesse no plano internacional.

O que acontece é o seguinte, na época da ditadura eu tinha vergonha do Brasil, mas eu não chegava ter vergonha da diplomacia brasileira. Você pega um chanceler feito o Gibson Barboza [ministro das Relações Exteriores do governo Médici entre 1969 e 1974] ele não saía por aí defendendo a tortura. Ele evitava o assunto, procurava outras agendas. Hoje em dia não, é uma coisa muito horrorosa, é uma loucura, é a instalação da loucura como método. Método de destruição.

 

*Da Carta Maior

A manipulação grosseira de Moro na carta de Leo Pinheiro à Folha

Leo Pinheiro resolveu “depor” contra Lula na Folha com um conjunto gritante de contradições, deixando um rastro das pegadas do próprio Moro.

Não sei quem teve essa infeliz ideia de soprar para Moro, um dia depois de desmascarado pelos deputados na CCJ da Câmara, que ele deveria usar seus velhos métodos de pressão sobre um prisioneiro da Lava Jato para que ele “confessasse” o que Moro queria.

Na verdade, Moro usou uma pulga magra de Palocci, com aquela delação forçada, para dar as suas mordidelas na imagem de Lula. Como não deu certo, resolveu usar o próprio Leo Pinheiro, dono do triplex, para produzir “novidades” tanto no apartamento quanto no sítio.

Moro está tentando construir sua sobrevivência, ratificando o que o site The Intercept Brasil vem denunciando sobre a sua conduta. Ele é um grosseiro manipulador que, no desespero, tenta construir testemunhas a seu favor, utilizando justamente aquilo do que está sendo acusado: pilantragem jurídica.

Assim fica fácil mostrar a todos a parva mentira que é Sergio Moro, porque, depois dessa carta, ficam claras  as digitais de Moro na caneta de Leo Pinheiro.

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

Manifestantes do MTST fazem compras na Havan e “pagam” com a dívida de Luciano Hang ao INSS

Integrantes do MTST fizeram um protesto inusitado em uma loja da Havan, do empresário Bolsonarista Luciano Hang, em São Paulo nesta quinta-feira (4).

Para pagar a compra realizada na loja, os integrantes do movimento levaram um cheque simbólico, no valor de R$ 168 milhões, que seria o montante devido pelo empresário à Receita Federal e ao Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

“É preciso expor a hipocrisia de caloteiros que defendem a Reforma da Previdência”, afirmou, em sua página no Facebook, o líder do MTST, Guilherme Boulos, que compartilhou as fotos do protesto.

O MTST acabou de realizar manifestação em loja da Havan em São Paulo. Sem-tetos entraram na loja, encheram os carrinhos e apresentaram um cheque simbólico de R$168 milhões, dívida que o dono da empresa tem com a Receita e o INSS. É preciso expor a hipocrisia de caloteiros que defendem a Reforma da Previdência.

 

*Com informações do 247

Reinaldo Azevedo desmonta a farsa de Moro com Leo Pinheiro

O empresário Léo Pinheiro, que está preso, aguardando há cinco meses que a PGR analise os termos de sua delação premiada para ser enviada a Edson Fachin, relator do petrolão no Supremo, inventou um novo, sei lá como chamar, “tipo judicial” talvez: trata-se da pós-delação. Ele enviou uma carta à Folha em que reafirma as acusações que fez contra Lula em depoimento a Sergio Moro e em que nega que tenha sido pressionado por procuradores ou que tenha mudado versão anterior para ter sua delação aceita. Com a devida vênia, cai na patranha quem quer.

Ainda que procure, ao elencar detalhes do que chama “provas”, ser rigoroso, estamos diante de um caso clássico de gato escondido com o rabo de fora. Você vê aquela cauda ali, em movimentos algo lentos, mas nervosos, e logo conclui: “Na ponta dessa cauda, há um gato”. Miguilim, o de casa, faz muito isso com o objetivo de dar botes benignos, sem ferir, nas pernas dos passantes. Em seguida, sai correndo, aos pulos meio desengonçados, esperando ser perseguido só para se esconder de novo e repetir a operação. Gatos domésticos têm lá suas brincadeiras. Empreiteiros não brincam em serviço.

A carta de Léo, nota-se, é meticulosamente orientada. Há até um errinho ou outro de gramática que conferem o charme da autenticidade voluntariosa ao documento. Emprega-se, por exemplo, o “a”, sem “h”, para indicar tempo decorrido. Além do estado de direito e das garantias individuais, o verbo “haver” é a maior vítima da Lava-Jato. Ok. Advogados que façam o seu trabalho em defesa de seus respectivos clientes. Eu faço o meu em defesa dos fatos.

O empresário afirma, por exemplo: “A minha opção pela colaboração premiada se deu em meados de 2016, quando estava em liberdade, e não preso pela operação Lava Jato. Assim, não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros que cometi ao longo da minha vida. Também afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal.”.

De saída, noto o tom de contrição e arrependimento, que vi recentemente ser exercitado por Sérgio Cabral, ex-governador do Rio. Um pouco mais histriônico, ele exagerou na dose e até exaltou as grandezas do juiz Marcelo Bretas. Algumas datas se fazem necessárias aqui, não é? Vencida a emoção, o leitor há de se lembrar que a primeira delação de Pinheiro, esta que ele diz ter decidido fazer em liberdade, foi suspensa pela PGR no dia 22 de agosto de 2016. E depois mandada para o lixo. Nunca se soube exatamente o motivo.

No curso da investigação, como revelam diálogos entre procuradores, Pinheiro nunca havia afirmado existir uma conta geral de propina ou que Lula o teria orientado a destruir provas. Isso foi dito apenas em depoimento ao então juiz Sergio Moro no dia 20 de abril de 2017. O empresário não tratava o apartamento de Guarujá como propina.

No dia desse depoimento, Pinheiro estava preso, sim, senhores! Como preso está agora. Só para lembrar: ele conheceu a cadeia pela primeira vez na 7ª fase da Lava Jato, em novembro de 2014. Foi condenado pela Justiça Federal, em primeira instância, a 16 anos e quatro meses de prisão, acusado de corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Foi posto em liberdade provisória em 2015 e voltou a ser preso no dia 5 de setembro de 2016 por determinação de Sergio Moro. E preso está até agora. Assim, mesmo a primeira delação, aquela que foi anulada, foi feita por um liberto provisório. E, quando a Lava Jato e Sergio Moro vivem fase inédita de descrédito, eis que Pinheiro, grande patriota!, sai em seu socorro.

Trecho da carta de Léo Pinheiro enviada à Folha (Reprodução)

A carta que Léo Pinheiro envia à Folha tem um elemento inescapável que a torna inútil até como peça de proselitismo. Ele aguarda ainda que a PGR envie a sua delação para homologação. Venham cá: ele teria como afirmar algo diferente disso? Se dissesse que fez a delação sob pressão e que alterou versões no curso das investigações, o que aconteceria? A sua delação iria para o lixo. Como está, pode ser homologada pela máquina automática de homologar delações que Edson Fachin deve ter escondida em seu gabinete.

Há outros elementos que chamam a atenção. Um dos que mais se destacam, além da confissão de que está decidido a ser uma pessoa boa, é a defesa que faz do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. A escrita será certamente usada como material de propaganda para enfrentar a onda de descrédito que colhe a Lava Jato dentro e fora do país. Parece piada, mas é assim: apela-se àquele que deu o testemunho que sustentou a condenação de Lula — se falasse como delator, teria de apresentar evidências da conta geral de propina e da suposta ordem dada pelo petista para destruir provas — para dar um segundo testemunho que a justifique.

Celebre-se ainda a prodigiosa memória do prisioneiro. Nem que estivesse com todos os autos em mãos e o estudasse dia e noite na cadeia, conseguiria aquela riqueza de detalhes — todos, notem bem!, a endossar a versão de que o tal tríplex de Guarujá pertencia a Lula. Adicionalmente, há a menção ao sítio de Atibaia, também debitado na tal conta geral de propina de que o Ministério Público Federal nunca tinha ouvido falar. Aí já se tenta cuidar do segundo processo mais avançado do petista, com o recado sendo mandado ao TRF-4.

Mais surpreendente ainda na elefantina memória de Pinheiro: não apenas se lembra das supostas provas que ele mesmo forneceu como tem na ponta da caneta as que foram entregues por terceiros. Trata-se mesmo de um caso a ser estudado pela ciência.

O chato nessa história é que, para condenar Lula, o MPF deveria ter apresentado a Moro provas de que o tríplex, se propriedade do petista, tinha como origem os contratos celebrados pela OAS com a Petrobras, o que justificaria o caso estar na 13ª Vara Federal de Curitiba. Mas o então juiz escreveu: “Este juízo jamais afirmou, na sentença ou em lugar algum, que os valores obtidos pela Construtora OAS nos contratos com a Petrobras foram usados para pagamento da vantagem indevida para o ex-Presidente”.

Pinheiro nega que a condição de preso e de futuro delator esteja na raiz daquele seu depoimento a Moro. E agora certamente há de negar que, na raiz dessa carta, esteja o mesmo presidiário que aguarda a homologação da segunda delação e que vê aumentar o risco de que seja rejeitada em razão das revelações feitas pelo site The Intercept Brasil.

Um criminoso confesso foi escalado para atestar a lisura da Lava Jato e de Sergio Moro. Só o fundo do poço os contempla.

 

*Por Reinaldo Azevedo

Vídeo: “Espero que defensores do Moro ouçam e compreendam”, diz Glenn impressionado com a mensagem do Papa

Em um vídeo, que foi divulgado dias depois do vazamento das conversas do ex-juiz Sergio Moro com Deltan Dallagnol e demais procuradores da força-tarefa da Lava Jato pelo Intercept, o Papa Francisco mostra a importância da independência dos juízes, dizendo que eles devem ser “isentos de favoritismos e das pressões que possam contaminar as decisões que devem tomar”.

O jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, assistiu ao vídeo e ficou impressionado com a mensagem do Papa e disse que espera que defensores do Moro “ouçam e compreendam”.

Glenn postou em seu twitter:

“Eu mal posso acreditar no que estou vendo. Muito bem falado e muito bem feito. Obrigado, @Pontifex_pt. Espero que os defensores do @SF_Moro que ainda restam ouçam e compreendam. É exatamente disso que trata o jornalismo que fazemos na #VazaJato”

Coincidência ou não, no vídeo do Papa aparece a encenação de uma audiência em que as partes mostram diferentes imóveis: de um lado um prédio em um resort; do outro, uma casa simples.

Assista

 

*Com informações da Forum

Vídeo: “Moro está se transformando em um boneco de barro”, diz Lula em entrevista

Em entrevista ao site do Rio Grande do Sul, ex-presidente falou sobre o relacionamento promíscuo entre o ministro Sergio Moro e procuradores da Lava Jato.

“Moro está se transformando em um boneco de barro. Ele vai desmilinguir (…) porque inventaram uma grande mentira para me colocar aqui aonde estou e, agora eles têm que passar a vida inteira contando dezenas de mentiras para tentar justificar”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que concedeu entrevista hoje (3) para o jornalista Marco Weissheimer, do portal Sul21. A primeira parte da entrevista foi divulgada no início da noite. Nela, Lula fala sobre o escândalo que ficou conhecido como Vaza Jato.

Conversas do ex-juiz, hoje ministro da Justiça, Sergio Moro, e procuradores da Lava Jato revelam um conluio entre acusação e julgador. As orientações de Moro aos procuradores foram no sentido de prejudicar o ex-presidente, como defende: “Moro, você é mentiroso. Dallagnol, você é mentiroso. Os delegados que fizeram o inquérito são mentirosos. Sei que é duro falar isso. É uma briga minha, de um cidadão de mais de 70 anos de idade contra o aparato do Estado”.

O ex-presidente defende que a articulação teve como objetivo concretizar um projeto de poder. “Não era possível dar o golpe na Dilma e deixar o Lula ser candidato a presidente em 2018. Não fechava. Era preciso tirar o Lula da jogada. Então, inventaram essa quantidade enorme de mentiras (…) A Lava Jato é uma operação que se transformou em partido político”, disse.

Os primeiros 10 minutos da entrevista

 

*Da Rede Brasil Atual

Fim do fundo bilionário da Amazônia pela Alemanha e Noruega

O Fundo da Amazônia, criado em 2008 e administrado atualmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), pode ser extinto. Só o governo da Noruega repassou mais de 3 bilhões de reais. A Alemanha, cujo envio é mais modesto, de cerca de 190 milhões de reais, anunciou nesta quarta-feira, 3, que suspendeu novo repasse previsto de 150 milhões de reais.

Embaixadores da Noruega, Alemanha e Brasil, além do Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles já admitem a a possibilidade de extinção do fundo.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) divulgados nesta quarta indicaram que o desmatamento na região foi 88% maior que no mesmo período de 2018.

O governo de Jair Bolsonaro já havia sugerido em maio a intenção de alterar o funcionamento do fundo. Quer, por exemplo, passar a usar o dinheiro para indenizar proprietários rurais em unidades de conservação, o que é rechaçado por Noruega e Alemanha.

Numa lambança do governo brasileiro, na última sexta-feira (28), por decisão unilateral, ou seja, sequer avisou aos parceiros europeus, extinguiu o colegiado que coordenava a distribuição.

E não foi só isso, um decreto de Bolsonaro em abril também fechou centenas de órgãos ligados à administração pública e que tratavam de temas ambientais.

Os embaixadores europeus se reuniram com o ministro brasileiro nesta quarta, em Brasília, e afirmaram que seguem trabalhando pela manutenção da parceria. Mas também já admitem a descontinuidade.

Segundo os representantes dos governos norueguês e alemão, os doadores fizeram uma série de questionamentos. E esperam por respostas até o fim deste mês.

O norueguês Nils Martin Gunneng disse esperar, aliás, que o fim dos conselhos fosse revisto pelo presidente brasileiro.

O fundo é o maior projeto de cooperação internacional para preservar a floresta amazônica. O dinheiro, gerido pelo BNDES, é repassado a estados, municípios, universidades e ONGs.

 

*Com informações da Veja

Moro e o seu troféu Boca Aberta

O chilique do deputado Éder Mauro, do PSD do Pará, e o troféu entregue pelo deputado Boca Aberta, do PROS do Paraná, formam, junto com a tropa histérica de puxa sacos da base governista, o mosaico do que restou de apoio a Sérgio Moro, no Parlamento e, por extensão, na sociedade.

As manifestações do dia 30 de julho, curiosamente chamadas de “protestos de apoio”, demonstraram com bastante clareza o refluxo desse apoio, que pode ser medido pelo número de quarteirões ocupados por esses inusitados protestantes, nos maiores centros urbanos do País.

Fustigado pelos vazamentos do Intercept Brasil, para os quais montou uma estratégia de defesa confusa e errática, Moro tem se virado como pode.

No Senado Federal e na Câmara dos Deputados, comportou-se como um autômato, focado no treinamento de media training que o orientou a fugir das perguntas irrespondíveis e se apegar, não sem algum constrangimento, à bajulação ensaiada dos beócios que hoje compõem a base de apoio do governo Bolsonaro.

A fala final, na Comissão de Constituição de Constituição e Justiça, do deputado Glauber Braga, do PSOL do Rio, acionou todos os gatilhos emocionais dessa gente. Ao chamar Moro de “juiz ladrão”, como antes, no processo de impeachment, havia colado na testa de Eduardo Cunha a pecha de “gangster”, Braga abriu a Caixa de Pandora onde repousavam os piores demônios aliados do ministro da Justiça.

Éder Mauro, delegado de polícia do Pará, foi o primeiro a surtar. Quase perdeu a peruca ao vociferar contra Braga, a quem chamou de “viado”, um xingamento cafona, ridiculamente homofóbico, mas que pode lhe custar uma cassação de mandato. Isso, claro, se ainda houver algum respeito ao regimento interno da Câmara.

Boca Aberta foi mais além, embora sem tantos faniquitos. Sacou um troféu de honra ao mérito para Moro. Segundo ele mesmo, uma taça “à maior estrela do combate à corrupção, no País”. Merecia, ele mesmo, troféu semelhante, de maior puxa saco de Moro. Sem falar na faixa de Miss Brasil Sem Noção.

Ali, naquele momento, reverenciado por esse gueto de loucos e fascistas, Moro

percebeu que, daqui para frente, será só ladeira abaixo.

 

*Por Leandro Fortes/247

Se Moro usar polícia para perseguir Glenn Greenwald, abrirá caminho para ser processado

Segundo professor de Direito, qualquer cidadão, partido ou entidade representativa pode mover uma ação por improbidade contra o ministro no STF

O eventual uso do aparato ligado ao Ministério da Justiça – pasta responsável pela Polícia Federal – para criminalizar um veículo de comunicação ou perseguir um jornalista, em retaliação a reportagens que colocam a Lava Jato em xeque, pode abrir caminho para que Sergio Moro seja processado.

Nesta terça (2), o site Antagonista – o favorito de Moro para comunicar seus atos oficiais desde os tempos de Lava Jato – informou que a Polícia Federal solicitou ao Coaf um relatório completo das finanças de Glenn Greenwald, um dos jornalistas responsáveis pelo Intercept Brasil.

Com esse contra-ataque da PF, Glenn ficará sujeito a vazamentos de dados pessoais, em meio à guerra de narrativas contra Moro e os procuradores de Curitiba, que insistem que as mensagens de Telegram divulgadas pelo site de jornalismo foram adulteradas.

Em manifestações nas redes, os deputados Paulo Pimenta (PT) e Marcelo Freixo (PSOL) apontaram “tirania” no ato da Polícia Federal sob Moro e denunciaram o “abuso de poder” do ministro.

Glenn também afirmou que a atitude é tirânica, mas afirmou que o ex-juiz pode fazer a devassa que quiser em suas contas, pois a cobertura da #vazajato não irá recuar.

O PROCESSO

Em entrevista exclusiva ao GGN, no dia 15 de junho – muito antes, portanto, da ação da PF contra Glenn – o professor de Direito Rogério Dultra, da Universidade Federal Fluminense, explicou que Moro poderia ser alvo de 2 tipos de ação se viesse a usar o cargo em benefício próprio.

Uma das ações pode ser por crime de responsabilidade – em que o Congresso será chamado a se manifestar e processar – e a outra, mais “eficaz”, por improbidade.

“Qualquer um pode entrar com a ação [no Supremo Tribunal Federal] contra ele. Na hipótese de Moro usar cargo público para finalidade indevida, ele fica submetido aos crimes previstos no artigo 11 da lei de improbidade.”

“A lei de improbidade não é a mesma que a lei de impeachment. Ela vale contra qualquer funcionário público. Uma das penas é a exoneração do funcionário, e a outra pena é banir, por alguns anos, o agente condenado de qualquer cargo público – similar ao que está previsto na lei do impeachment”, explicou Dultra.

Na visão do professor, “Moro já provou que, como juiz, fez advocacia administrativa, ou seja, advogou para a parte [acusação]. Para o País, é mais interessante que Moro seja escorraçado da vida pública o quanto antes.”

 

*Do GGN

Quem é a misteriosa Olga Zucolotto na vida de Moro?

Antes de deixar a Câmara dos Deputados por uma saída secreta, Sergio Moro foi confrontado por questões que, se respondidas, podem esclarecer alguns pontos da trajetória de Moro quando era juiz.

Uma delas é: Quem pagava as despesas de Moro quando ia para o exterior?

A deputada Gleisi Hoffmann foi direto ao ponto: “O senhor ou a esposa tiveram ou têm conta no exterior?”

Moro não respondeu e considerou que a pergunta era “maluquice”.

Não respondeu também se viajou para o exterior com Carlos Zucolotto Júnior.

Gleisi não tirou esta pergunta do nada. Nem foi provocação.

Moro teria, sim, viajado com Zucolotto para o exterior. Mas, se respondesse afirmativamente, abriria espaço para outras questões incômodas para o juiz.

Desde que Moro acertou com Bolsonaro sua ida para o governo, o advogado se tornou lobista de carteirinha. É membro da Associação Brasileira de Relações Governamentais.

Zucolotto também foi sócio de Rosângela Moro, conforme ela mesma anunciou, em post antigo no Instagram.

“Sim! É meu amigo. Foi meu sócio, é meu compadre, é parceiro e é do bem. O tempo esclarece tudo! Enquanto isso seguimos na nossa amizade e de nossas famílias, enlouquecendo mentes criativas e destrutivas. Zucolotto faz o melhor churrasco da vida toda”, disse.

Moro é, digamos assim, da cozinha de Zucolotto Júnior, como mostra uma foto postada no Facebook pela mãe do advogado e agora lobista, Olga.

A postagem é do dia 13 de setembro de 2015, auge da Lava Jato. Uma amiga comentou:

— Aeee dona Olga.. Tietando rs.

Outra, de sobrenome Moro, disse:

— Quanto orgulho deste homem! Que Deus abençoe a vida dele, cada dia.

Outra perguntou:

— Conta aí dona Olga. Quando vai ser o dia dos rojões? Fala pra ele prender logo o Lula e a Dilma kkkkk.

Olga diz que perguntou:

— Já falei. Ele só deu risada, disse que seria o maior foguetório do Brasil, adoro.

Quando a foto foi postada, Lula nem sequer havia sido denunciado pelo Ministério Público Federal.

Moro decretaria a condução coercitiva de Lula seis meses depois; o interrogaria um ano e sete meses depois; e o condenaria um ano e nove meses depois.

Nesse meio de tempo, Zucolotto Júnior foi denunciado pelo advogado Rodrigo Tacla Durán por extorsão.

Zucolotto, segundo mensagens trocadas entre eles nos dias 24 e 25 de maio de 2016, apresentadas por Tacla Durán, queria 5 milhões de dólares em troca de facilidades num acordo de delação.

No dia 14 de julho de 2016 – menos de dois meses depois —., Tacla Durán transferiu 612 mil dólares (o equivalente a R$ 2,4 milhões) para a conta de outro advogado curitibano, Marlus Arns.

Gleisi perguntou a Moro se Rosângela tinha sido sócia de Marlus Arns. Moro não respondeu.

Rosângela trabalhou com Marlus em ações da massa falida da GVA, que tinha como sindica a família Simão, denunciada em uma CPI por integrar a máfia das falências no Paraná.

A transferência dos 612 mil dólares de uma conta da empresa de Tacla Durán para o escritório de Marlus Arns se deu após encontro entre os dois, nos Estados Unidos, onde Tacla Durán morava.

“Paguei para não ser preso”, contou o advogado. A transferência seria a primeira parcela do total acertado com Zucolotto.

Em junho, antes de Marlus viajar lá, a Lava Jato tinha pedido a prisão de Tacla Durán, mas Moro ainda não a tinha decretado. A prisão só seria decretada cinco meses depois.

No dia 31 de agosto de 2016, segundo as conversas secretas vazadas pelo Intercept, Moro perguntou a Dallagnol se não era muito tempo sem operação.

“É sim”, responde o procurador. “O problema é que as operações estão com as mesmas pessoas que estão com a denúncia do Lula. Decidimos postergar tudo até sair essa denúncia, menos a op do taccla (Rodrigo Tacla Durán) pelo risco de evasão, mas ela depende de Articulacao com os americanos”, acrescentou.

Quando a prisão foi decretada, em 10 de novembro de 2016, as autoridades americanas não quiseram cumprir o mandado.

Tacla Durán viajou dos Estados Unidos para Madri e foi preso no hotel Intercontinental em 18 de novembro.

Três meses depois, seria solto e, em seguida, fixaria residência na Espanha, após o país negar sua extradição ao Brasil.

Em Madri, começou a escrever um livro, Testemunho, ainda não publicado. O primeiro capítulo, postado na internet durante alguns dias, narra como foi a negociação com Zucolotto.

Quando Moro foi procurado pela jornalista Mônica Bergamo, em agosto de 2017, para comentar a denúncias relatadas no livro, Moro não quis responder.

Depois que saiu a reportagem, Moro se manifestou, numa manhã de domingo, através de uma nota dura, em que lamentou que “a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira esteja sendo usada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça”.

Defendeu Zucolotto, que descreveu como “profissional sério e competente”, e faltou com a verdade, ao assegurar que ele nunca havia atuado na área criminal.

Zucolotto foi seu advogado em um processo criminal, movido pelo Ministério Público Federal contra o advogado Roberto Bertholdo, por calunia e difamação.

Moro nem cogitou determinar investigação para averiguar a denúncia de Tacla Durán — até para garantir que o nome dele (ou dos procuradores) não tivesse sido usado indevidamente.

Em vez disso, pensou em processar a jornalista que publicou a notícia, Mônica Bergamo, conforme revela a coluna Painel da Folha de S. Paulo de hoje.

Na troca de mensagens com Deltan Dallagnol, vazadas pelo Intercept, aparece uma em que Moro considerou a reportagem de Mônica Bergamo “ridícula” e disse que pensava em processá-la:

“Estou pensando em entrar com ação por danos morais contra ela.”

Não entrou, mas o caso, pelo visto ontem, ficou atravessado em sua garganta.

Ele se referiu à jornalista como “colunista social”, como se esta atividade fosse menor.

Ao não responder às perguntas de Gleisi, sobre viagem ao exterior, sociedade com Rosângela e conta, Moro atrai suspeita para si. Difícil entender por que Zucolotto é tão protegido por ele.

 

*Do DCM