Ano: 2019

“Você sentirá medo”, diz Raoni a Bolsonaro em artigo publicado no britânico The Guardian

Leia a íntegra do artigo de Raoni Metuktire, líder indígena brasileiro da etnia caiapó, publicado no britânico The Guardian em 2 de setembro:

Por muitos anos, nós, os líderes indígenas e os povos da Amazônia, temos avisado vocês, nossos irmãos que causaram tantos danos às nossas florestas. O que você está fazendo mudará o mundo inteiro e destruirá nossa casa – e destruirá sua casa também.

Temos deixado de lado nossa história dividida para nos unirmos. Apenas uma geração atrás, muitos de nossos povos estavam lutando entre si, mas agora estamos juntos, lutando juntos contra nosso inimigo comum. E esse inimigo comum é você, os povos não-indígenas que invadiram nossas terras e agora estão queimando até mesmo aquelas pequenas partes das florestas onde vivemos que você deixou para nós. O presidente Bolsonaro do Brasil está incentivando os proprietários de fazendas perto de nossas terras a limpar a floresta – e ele não está fazendo nada para impedir que invadam nosso território.

Pedimos que você pare o que está fazendo, pare a destruição, pare o seu ataque aos espíritos da Terra. Quando você corta as árvores, agride os espíritos de nossos ancestrais. Quando você procura minerais, empala o coração da Terra. E quando você derrama venenos na terra e nos rios – produtos químicos da agricultura e mercúrio das minas de ouro – você enfraquece os espíritos, as plantas, os animais e a própria terra. Quando você enfraquece a terra assim, ela começa a morrer. Se a terra morrer, se nossa Terra morrer, nenhum de nós será capaz de viver, e todos nós também morreremos.

Por que você faz isso? Você diz que é para desenvolvimento – mas que tipo de desenvolvimento tira a riqueza da floresta e a substitui por apenas um tipo de planta ou um tipo de animal? Onde os espíritos nos deram tudo o que precisávamos para uma vida feliz – toda a nossa comida, nossas casas, nossos remédios – agora só há soja ou gado. Para quem é esse desenvolvimento? Apenas algumas pessoas vivem nas terras agrícolas; eles não podem apoiar muitas pessoas e são estéreis.

Você destrói nossas terras, envenena o planeta e semeia a morte, porque está perdido. E logo será tarde demais para mudar.

Então, por que você faz isso? Podemos ver que é para que alguns de vocês possam obter uma grande quantia de dinheiro. Na língua Kayapó, chamamos seu dinheiro de piu caprim, “folhas tristes”, porque é uma coisa morta e inútil, e traz apenas danos e tristeza.

Quando seu dinheiro entra em nossas comunidades, muitas vezes causa grandes problemas, separando nosso pessoal. E podemos ver que faz o mesmo em suas cidades, onde o que você chama de gente rica vive isolado de todos os outros, com medo de que outras pessoas venham tirar seu piu caprim. Enquanto isso, outras pessoas passam fome ou vivem na miséria porque não têm dinheiro suficiente para conseguir comida para si e para seus filhos.

Mas essas pessoas ricas vão morrer, como todos nós vamos morrer. E quando seus espíritos forem separados de seus corpos, seus espíritos ficarão tristes e vão sofrer, porque enquanto vivos fizeram com que muitas outras pessoas sofressem em vez de ajudá-las, em vez de garantir que todos os outros tenham o suficiente para comer, antes de alimentar a si próprio, como é o nosso caminho, o caminho dos Kayapó, o caminho dos povos indígenas.

Você tem que mudar a sua maneira de viver porque está perdido, você se perdeu. Onde você está indo é apenas o caminho da destruição e da morte. Para viver, você deve respeitar o mundo, as árvores, as plantas, os animais, os rios e até a própria terra. Porque todas essas coisas têm espíritos, todas elas são espíritos, e sem os espíritos a Terra morrerá, a chuva irá parar e as plantas alimentares murcharão e morrerão também.

Todos nós respiramos esse ar, todos bebemos a mesma água. Vivemos neste planeta. Precisamos proteger a Terra. Se não o fizermos, os grandes ventos virão e destruirão a floresta.

Então você sentirá o medo que nós sentimos.

A tradução é da Mídia Ninja

 

 

*Do 247

 

Barroso, o curador da Lava Jato

Todas as respostas punitivas que atropelaram os direitos de Lula, vindas de Barroso, atendiam à urgência de Dallagnol e Moro.

As novas revelações da Vaza Jato dispensam interpretações. A forma sistemática com que um ministro do STF se relaciona com o chefe da Força-tarefa da Lava Jato é multitelar e mostra que o critério de julgamento de Lula, vindo de Barroso, tinha caráter afetivo, travestido de técnico, mais que isso, Barroso, em muitos casos, elaborou, em sua troca de figurinhas com Dallagnol, as formas de ação da Lava Jato, fazendo uma curadoria absolutamente conflitante com a ética indispensável ao magistrado, sobretudo para um ministro do STF.

Se Barroso operasse como uma testemunha privilegiada em suas conversas clandestinas com Dallagnol, já seria, do ponto de vista ético, um escândalo. Mas ele, dentro do que se apurou até o momento, pelos vazamentos do Intercept, despachava com Dallagnol fora das quatro linhas do judiciário, orientando o acusador contra o acusado.

É a própria dominação do judiciário sobre o Ministério Público, usando um precedente de autonomia pessoal, afetiva para mobilizar a tropa da Lava Jato num contrato extrajudicial promíscuo.

É só lembrar que Barroso esteve no caso de Lula no TSE e, no STF, foi contrário a qualquer decisão favorável a Lula, como queria Dallagnol. Neste momento não se sabe quem é o servo de quem na dialética entre o juiz e o procurador, apenas se pode dizer que o pensamento dos dois era somente um, porque as atuações recíprocas entre essas duas partes se misturaram a tal ponto que fica difícil reconhecer aonde termina o papel de Dallagnol e começa o de Barroso e vice-versa.

 

*Por Carlos Henrique Machado Freitas

 

Vaza Jato: A relação promíscua de Barroso e Dallagnol

Por Reinaldo Azevedo e Leandro Demori, do The Intercept Brasil, em parceria com Portal UOL – Ao contrariar parecer da Procuradoria Geral da República e determinar mandado de busca e apreensão no gabinete da liderança do governo no Senado — ocupado pelo senador Fernando Bezerra (MDB-PE) —, o ministro Roberto Barroso, do Supremo, pode ter surpreendido a alguns, mas não aos integrantes da força-tarefa de Curitiba — em especial Deltan Dallagnol, com quem mantém uma relação de proximidade que beira a cumplicidade.

Vem à luz, de novo, um dos aspectos mais deletérios da Lava Jato, que é a relação promíscua, dados os marcos do devido processo legal no Brasil, entre o órgão acusador e o juiz — nesse caso, fala-se, em muitos aspectos, daquele que integra o seleto grupo de juízes de juízes. Nas relações especiais que mantém com Dallagnol, nota-se que Barroso se comporta como um chefe, guia, tutor, um pai doce e dedicado, pronto a cuidar do jovem ousado.

A proximidade parece ter se estabelecido numa viagem que os dois fizeram a Oxford, com direito a passeio pelas ruas, como dois “flaneurs” a refletir em terras ignotas sobre o estado de direito em sua colônia de origem, mas com o distanciamento que lhes propiciava a ambiência estrangeira.

As conversas de Dallagnol com seus pares evidenciam que o acesso a Barroso é privilégio apenas seu. Foi ele que selou essa amizade inquebrantável, que galopa, como disse o poeta, por cima de qualquer fosso de funções. O procurador de primeira instância tem no ministro da corte constitucional brasileira o seu pai espiritual.

Abaixo, vocês lerão algumas das muitas situações — há ainda uma penca delas cujas circunstâncias têm de ser clarificadas e, por isso, não estão aqui — em que Dallagnol apela ao conselheiro sênior. Impetuoso, há diálogos em que o procurador de primeira instância também se atreve a aconselhar o tutor. Barroso parece admirar tal impetuosidade.

Em agosto de 2016, o ministro ofereceu em sua casa um coquetel de que Dallagnol era um dos convidados ilustres, como já noticiei aqui. O entendimento espiritual já havia se dado antes.

SUBSTITUTO DE TEORI ZAVASCKI, BARROSO E OS “MINISTROS VAGABUNDOS” DO STF
Teori Zavascki, relator do petrolão no Supremo, morreu num acidente aéreo no dia 19 de janeiro de 2017. Sem nem mesmo uma nota de pesar, os bravos integrantes da Lava Jato iniciam uma articulação para guindar Roberto Barroso ao posto de relator. E, por incrível que pareça, o doutor não era mero polo passivo nessa articulação. Os diálogos deixam claro que ele conversou a respeito, ora vejam, com representantes do órgão acusador — ou, para ser claro, com Dallagnol.

A estratégia, como revelam os diálogos, passa por mobilizar aliados na imprensa para plantar informações e, sobretudo, “queimar” nomes. O grupo queria evitar a todo custo que a relatoria caísse nas mãos de Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski ou Dias Toffoli.

Ainda no dia da morte, o procurador Diogo Castor de Mattos, que deixou a operação, informa aos colegas uma conjectura do ministro Marco Aurélio em entrevista. E, claro!, Castor deixa claro quem é o preferido da Lava Jato: Barroso. Mas também eram aceitáveis Edson Fachin e Luiz Fux. Ele só não queria os que considera “vagabundos”. A grafia dos diálogos segue conforme a grafia que aparece nos chats do Telegram.

21:54:41 – Diogo: Marco aurélio disse agora na rádio q pode cair em qualquer ministro, não sendo a redistribuicao restrita a segunda turma. Me parece bom, pois aumenta chances de cair com alguém bom como Barroso, fachin e fux.
No dia 31 de janeiro de 2017, não estava claro ainda qual seria o procedimento para definir o novo relator da Lava Jato. Os procuradores articulam freneticamente. Laura Tesseler enviar ao grupo um link de resportagem da Folha afirmando que Cármen Lúcia, então presidente do STF, pretendia promover um sorteio. Segue diálogo a partir de uma observação nada lisonjeira de Diogo Castor de Mattos:
09:24:39 – Diogo: 3 em 4 de cair com um vagabundo
09:37:37 – Laura Tessler: Vamos apostar na nossa sorte!
10:12:55 – Laura: 3 em 5
10:13:17 – Diogo: E se for o marco aurekio?

O grupo fica sabendo que será Edson Fachin a migrar da Primeira para a Segunda turma. Dallagnol desenha, então, a estratégia, depois de relatar uma opinião que lhe foi passada pelo jornalista Vladimir Neto, da TV Globo. Na mensagem, o coordenador da força-tarefa informa que vai mobilizar os tais “movimentos sociais” e propor um tuitasso para pressionar o Supremo:

12:03:42 – Deltan: Caros, falei ontem com Vladimir Neto. Ele acha que nenhum jornal está peitando dizer que sorteio na segunda turma seria loucura, ou falando contra Gilmar, Toffoli ou Lewa, pq se forem escolhidos o jornal estaria queimado com o relator… Concordo que não podemos ajudar, mas podemos queimar. Creio que devemos nos manifestar em off nesse sentido, falando que sorteio é roleta russa e que tememos que Toff, Gilm ou Lew assumam. Em minha leitura, isso não gerará efeito contrário. O que acham? Meu receio é não fazermos nada antes (embora o que possamos fazer é pouco) e depois ficar o caso com um desses. Reclamar depois será absolutamente inócuo. Os movimentos sociais têm falado sobre isso. Posso falar com eles e sugerir um tuitasso contra o sorteio, mas o problema é que sem sorteio a solução de consenso pode não ser boa também… enfim, sugestões? Cruzar os dedos rsrs? Vou sondar minha fonte enquanto isso
12:04:04 – Deltan: a sessão administrativa para discutir o critério ou a escolha seria amanhã
12:04:43 – Diogo: acho q devemos fazer tudo oq for possível
12:04:54 – Diogo: um dos tres na relatoria da lava jato seria o começo do fim
12:17:45 – Roberson: MPF [procurador Roberson Pozzobon]: Melhor caminho seria defender que deve ficar com um dos revisores (Barroso – o que seria ideal – ou Celso – que seria a opção menos pior na 2a). É fácil de defender racional e juridicamente para a população que esse é o melhor caminho, já que o caso iria para os ministros que naturalmente já estão mais familiarizados com a operação.
12:22:15: Creio que nossa manifestação não seria bem recebida pelo STF. Não vejo muito o que fazer. Eles estão se encaminhando para o sorteio simplesmente porque não houve possibilidade de fecharem um nome consensual.
12:24:51 – Paulo: minha opinião: partindo de nós qq manifestação, não teria nenhum efeito moral sobre o STF (v. resposta da Carmen Lúcia ao Moro) e, pelo contrário, poderia gerar uma mega-prevenção contra nós ou ainda vontade de revidar
12:25:13 – Paulo: agora, se houver um movimento social, sem vinculação conosco, contra o sorteio, aí pode ter algum resultado…12:25:35 – Paulo: a questão da roleta russa, que saiu no antagonista, é uma boa hashtag para insuflar as redes sociais

Conversa do dia 1º de fevereiro de 2017 dá conta de que o próprio Barroso tratava com Dallagnol sobre o substituto de Teori Zavascki. E, segundo testemunho de seu confidente, em conversa com a procuradora Anna Carolina Resende, o ministro sentia-se alijado do processo. Talvez considerasse uma grande injustiça. Afinal, isenção para tanto não lhe faltava, certo?
12:11:18 – CarolPGR: Deltan, fale com Barroso
12:11:37- CarolPGR: insista para ele ir pra 2 Turma
12:18:07- Deltan: Há infos novas? E Fachin?
12:18:11- Deltan: Ele seria ótimo
13:54:21- CarolPGR: Vai ser definido hj
13:54:33- CarolPGR: Fachin não eh ruim mas não eh bom como Barroso
13:54:44 – CarolPGR: Mas nunca se sabe quem será sorteado
13:56:40- CarolPGR: Barroso tinha q entrar nessa briga. Ele não tem rabo preso. Eh uma oportunidade dele mostrar o trabalho dele. Os outros ministros devem ter ciúmes dele, pq sabem que ele brilharia na LJ. Ele tem que ser forte e corajoso. Ele pode pedir p ir p 2 turma e ninguém pode impedi-lo. Vão achar ruim mas paciência, ele teria feito a parte dele
14:11:37 – Deltan: Ele ficou alijado de todo processo. Ninguém consultou ele em nenhum momento. Há poréns na visão dele em ir, mas insisti com um pedido final. É possível, mas improvável.
14:30:16 – Deltan: Mas sua mensagem foi ótima, Caroll
14:30:24 – Deltan: Por favor não comente isso com ninguém
14:30:25 – Deltan: Please
14:30:29 – Deltan: Ele pediu reserva
14:30:31 – Carol PGR: clarooo, nem se preocupe
14:30:45 – Carol PGR: só lhe pedi para falar novamente com ele porque isso está sendo decidido hoje
14:30:52 – Deltan: Foi o tom do meu último peido14:31:18 – Carol PGR: vamos rezar para Deus fazer o melhor
14:32:22 – Carol PGR: mas nosso mentalização aqui é toda em Barroso

Esse trecho acima já foi publicado por The Intercept Brasil. É evidente que Deltan sabe que a conversa que manteve com Roberto Barroso nada tinha de republicada. Daí o apelo para que fosse mantida em sigilo.

O INDULTO DE NATAL DE TEMER
Quando o então presidente Michel Temer tornou público seu indulto de Natal de 2017, a Lava Jato tonitruou aos quatro ventos que a medida teria sido feita com o intuito de beneficiar condenados da Lava Jato. Era cascata. Mas e daí? A operação ainda não havia desistido da ideia de derrubar mais um presidente.

Cármen Lúcia, então na presidência do STF, suspendeu parcialmente parte do decreto, numa afronta explícita ao Artigo 84 da Constituição, que trata das prerrogativas do presidente. Diogo Castor havia escrito um violento artigo contra o ato presidencial. Dallagnol revelou a colegas parte das conversas confidenciais que mantinha com Barroso.

28 de dezembro de 2017
13:46:56 – Laura Tessler: Diogo, parabéns pelo artigo. Ficou muito bom.
13:50:32 – Diogo: Obrigado Laura!
17:03:20 – Deltan: Saiu a liminar. Carmem Lúcia suspendeu parcialmente o decreto.
17:05:30 – Deltan: Caso distribuído para Barroso
17:05:52 – Deltan: Que cá entre nós me escreveu elogiando o artigo sobre o indulto
17:06:13 – Deltan: A distribuicao pro Barroso foi o que pedi a Deus!!

Como se vê, a relação entre Dallagnol e Barroso já tem apelos de outro mundo. O jovem procurador ora, e Deus joga Barroso em seu colo. Ora vejam… O ministro trocava confidências sobre um caso de que virou relator com um membro do mesmo MPF que havia recorrido contra o decreto. É do balacobaco!

Dá para imaginar a sua isenção depois de ter elogiado o artigo de Castor.

FORÇA-TAREFA COMO TROPA AUXILIAR DE BARROSO
Barroso determinou, no dia 29 de março de 2018, a prisão de José Yunes, ex-assessor do então presidente Michel Temer. Tratou-se de uma exorbitância, mas não cabe tratar do assunto neste texto. O relevante é outra coisa. Mais uma vez, lá estava Deltan no Telegram. Depois de repassar a notícia do G1 com a informação, emendou: “Barroso foi para guerra aberta. E conta conosco como tropa auxiliar”.

70 MEDIDAS CONTRA A CORRUPÇÃO
Lembram-se das tais “70 Medidas Contra a corrupção”, encampadas por Dallagnol e pela Transparência Internacional? Sim, também elas passaram pelo escrutínio do onipresente Barroso. Deltan escreve num chat privado no dia 28 de maio de 2018:
22:54:18 – Deltan: Caros, comentei com Bruno, mas isso tem que ficar entre nós três, please. Hoje falei com Barroso, que gostou muito da ideia das medidas e da campanha da TI e vai divulgar. Passei pra ele os arquivos e materiais.

“Bruno” é Bruno Brandão, da Transparência Internacional, que evidencia, com a divulgação dos diálogos revelados por The Intercept Brasil, uma proximidade com a força-tarefa e com Dallagnol que deveria ser considerada incômoda para um ente que se quer independente da política — o que a Lava Jato não é, tampouco Dallagnol, que já revelou em outras circunstâncias pretensões político-eleitorais. Moro, como se sabe, já é ministro de Bolsonaro.

MAIS UMA VEZ, O CONSELHEIRO
No dia 21 de maio, Dallagnol informa que vai a uma de suas famosas palestras, desta vez acompanhado de ninguém menos do que seu tutor. Não consegue esconder o entusiasmo. Escreve aos colegas:
09:03:11 – Deltan: Yep. Pela manhã, palestra na FIEP. Tentarei falar com Barroso, nem que seja no almoço, mas não sei se haverá momento propício. Questoes a abordar?
09:10:20 – O principal é saber qual é o clima do STF em relação a nós.

Como se nota, Dallagnol também usava Barroso como uma espécie de Candinha do Supremo.

BARROSO, O QUE VALE POR DEZ
Em abril de 2019, Barroso concedeu uma palestra na Universidade de Columbia, em Nova York, e atacou o Supremo de modo espantoso. Sugeriu que o achincalhe de que era alvo o tribunal era bastante compreensível, quem sabe justo. Disse: “A pergunta que me faço frequentemente é por que o STF está sob ataque, por que está sofrendo esse momento de descrédito. Bem, o que acho que está acontecendo é que há uma percepção em grande parte da sociedade e da imprensa brasileira de que o STF é um obstáculo na luta contra a corrupção no Brasil”.

O procurador Júlio Noronha posta no Telegram, no dia 25 de abril, link com reportagem da Folha. Deltan expressa, mais uma vez, seu apreço pelo pai intelectual:
20:49:58 – Julio Noronha: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/04/stf-esta-sob-ataque-e-sofre-momento-de-descredito-afirma-barroso.shtml
22:10:11 – Deltan: Engracado o momento em que quem nos desagrava é outro ministro e não a PGR
22:10:24 – Deltan: Um Barroso vale 10 PGRs

AS DEZ MEDIDAS
Vocês se lembram das tais “Dez Medidas Contra a Corrupção” inventadas por Dallagnol, não? Vieram a público na forma de um projeto de lei de origem popular — uma mentira muito bem urdida com apoio de setores da imprensa. Quatro delas tinham características obviamente fascistoides — virtual extinção do habeas corpus, licença irrestrita para prisões preventivas, aceitação de provas colhidas ilegalmente e teste de honestidade —, mas o garotão não hesitou: passou para papai Barroso a sua mais deletéria criação. No dia 26 de julho de 2016, informa em conversa com a procuradora Luciana Asper — todas as transcrições serão feitas sempre conforme o original:
21:59:17- Deltan: Luciana, passei as 10 medias pro Min. Barroso, que tende a ser simpático a elas, pelo menos em sua maior parte. Ele se intererssou e disse que lerá no recesso…. é um apoio em potencial

DELTAN: 89% BARROSO
O apreço de Dallagnol por Barroso tem até um número percentual. A Veja publicou um teste para saber com qual ministro do Supremo, dadas as suas opiniões, os leitores mais se identificavam. Num chat privado, no dia 20 de abril de 2018, o professor de direito da FGV Michael Mohallem afirma ter respondido as questões e ter recebido como resposta que sua maior identidade era com Luiz Fux: 75%. Deltan, conforme o esperado, informa que ele e Barroso coincidiam em 89%. Não se deve perguntar a Wesley Safadão o que são os outros 11%.

18:07:33 – Michael Mohallem: https://complemento.veja.abril.com.br/brasil/teste-quem-e-voce-no-stf/
18:07:50 – Michael Mohallem: 75% fux😞
18:42:21 – Deltan: Ha!
18:42:23 – Deltan: Eu sabia
18:42:29 – Deltan: 89% Barroso

Convenham: Mohallem poderia ter dito: “Eu também sabia”

ESTREITANDO LAÇOS
No dia 13 de maio de 2017, a procuradora Anna Carolina Resende pergunta se Dallagnol está em Oxford nestes termos: “Deltan, vc tá em Oxford? Vi que Barroso foi e me lembrei q foi aí q vcs estreitaram laços.”

A amiga de Deltan já havia percebido o tal estreitamento. Com efeito, ele havia se dado no ano anterior, quando ambos estiveram em Oxford. No dia 19 de junho de 2016, Deltan informa à sua mulher: “Estamos passeando aqui com o ministro barroso”. Como diria o policial Louis a Rick, no filme Casablanca, “era o início de uma bela amizade”.

É crime um procurador passear com um ministro do Supremo em Oxford, informando, inclusive, à sua mulher que ambos estão “chiques”? A resposta é “não”.

Nestes poucos exemplos, de um elenco enorme de conversas em que o procurador trata o ministro como orientador, parceiro e interlocutor — e em que ousa mesmo patrocinar a sua candidatura a relator do petrolão —, o que se tem é um exemplo flagrante da promiscuidade entre órgão acusador e órgão julgador.

Chega-se a tratar a Lava Jato como tropa auxiliar de um general — Barroso! — que decidiu, então, ir à guerra — no caso, entende-se, contra o governo Michel Temer.

Pergunta-se: papel de ministro é ir à guerra? Papel de procuradores é se comportar como tropa auxiliar?

Dallagnol pode ser, se quiser, 99% Barroso, a exemplo daquela música, como condição, vamos dizer, afetivo-existencial. Inaceitável é que procurador e ministro deixem que essa amizade contamine assuntos que interessam ao estado democrático e de direito.

Já sabemos que Barroso considera isso tudo, como é mesmo?, “fofoca” e que Deltan Dallagnol e os demais procuradores não reconhecem a autenticidade das conversas, embora não as neguem. E poderiam negá-las? Pois é… A resposta é “não”!

Nestes poucos exemplos, de um elenco enorme de conversas em que o procurador trata o ministro como orientador, parceiro e interlocutor — e em que ousa mesmo patrocinar a sua candidatura a relator do petrolão —, o que se tem é um exemplo flagrante da promiscuidade entre órgão acusador e órgão julgador.

Chega-se a tratar a Lava Jato como tropa auxiliar de um general — Barroso! — que decidiu, então, ir à guerra — no caso, entende-se, contra o governo Michel Temer.

Pergunta-se: papel de ministro é ir à guerra? Papel de procuradores é se comportar como tropa auxiliar?

Dallagnol pode ser, se quiser, 99% Barroso, a exemplo daquela música, como condição, vamos dizer, afetivo-existencial. Inaceitável é que procurador e ministro deixem que essa amizade contamine assuntos que interessam ao estado democrático e de direito.

Já sabemos que Barroso considera isso tudo, como é mesmo?, “fofoca” e que Deltan Dallagnol e os demais procuradores não reconhecem a autenticidade das conversas, embora não as neguem. E poderiam negá-las? Pois é… A resposta é “não”!

 

 

*Do 247

*Foto: Et Urbis Magna

 

Vídeo: Reação de americanos em um bar ao anúncio da abertura do impeachment de Trump

A presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, anunciou nesta terça-feira (24) a abertura de um inquérito formal de impeachment contra o presidente Donald Trump.

Esse pedido é o primeiro entre as diversas tentativas dos democratas de iniciarem o processo de impedimento do presidente republicano desde o início de seu mandato.

A acusação é de que ele violou a lei ao tentar recrutar um poder estrangeiro para interferir a seu favor na eleição de 2020. “o presidente deve ser responsabilizado. Ninguém está acima da lei”, afirmou Pelosi em uma declaração na TV.

Após o anúncio, Trump usou o twiter para se manifestar contra o que chamou de nova “caça às bruxas”, mesmo termo que usava na época da investigação sobre a Rússia do procurador especial Robert Mueller.

“Em um dia tão importante nas Nações Unidas, tanto trabalho e tanto sucesso, e os democratas propositalmente tinham que arruinar e degradar com mais notícias do lixo da caça às bruxas. Péssimo para o nosso país!”, escreveu.

Assistam à explosão da comemoração ao anúncio da abertura de um inquérito do impeachment contra Donald Trump.

 

 

*Com informações do G1

Congresso impõe derrota a Bolsonaro e Moro derrubando vetos do abuso de autoridade

O Congresso Nacional impôs hoje uma derrota ao governo Jair Bolsonaro (PSL) e decidiu pela derrubada de 18 vetos presidenciais a dispositivos do projeto de lei do abuso de autoridade. Outros 15 foram mantidos. Grupos de parlamentares ainda questionam a votação e tentam modificar a decisão.

O presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), anunciou o resultado no painel eletrônico por volta de 19h45.

Nos bastidores, o governo ainda busca construir um acordo com outras bancadas a fim de apreciar em separado alguns itens do projeto. São os chamados “destaques”. Nesse caso, tais dispositivos são votados nominalmente.

Alcolumbre ainda não definiu se os itens destacados e que foram rejeitados na primeira votação estão ou não prejudicados. Dessa forma, é possível que o placar ainda seja alterado, dependendo das votações nominais.

Até 20h, o clima no plenário era de confusão e com reações indignadas por parte de deputados do Partido Novo. O líder, Marcel Van Hattem (RS), reclama que Alcolumbre autorização a divulgação do resultado antes da análise da votação em separado dos pontos destacados.

Além de representar uma derrota para o governo, a derrubada dos vetos é um revés pessoal para o ex-juiz e ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), que pleiteou com o presidente da República, em nome de magistrados de todo o país, as supressões no texto aprovado pelo Congresso.

A sessão conjunta de hoje foi convocada de forma inesperada por Alcolumbre, que ficou irritado com a operação da Polícia Federal que teve como alvo o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Com autorização do STF (Supremo Tribunal Federal), os agentes cumpriram mandado de busca e apreensão no gabinete do parlamentar.

Solidário a Bezerra, Alcolumbre decidiu por os vetos em análise e deliberação como uma forma de responder ao que considerou ser um ato arbitrário por parte do Supremo e da PF.

 

 

*Com informações do Uol

Anunciada nesta tarde a abertura do processo de impeachment de Trump

A queda de Trump representaria um grande revés para a política externa de Jair Bolsonaro, que elogiou o estadunidense em discurso na ONU.

A deputada democrata Nancy Pelosi, presidenta da Câmara dos Estados Unidos, anunciou na tarde desta terça-feira (24) a abertura de processo de impeachment contra o presidente Donald Trump, segundo a imprensa dos EUA.

O pedido é baseado em denúncia de que ele teria pressionado o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, a investigar o filho do pré-candidato democrata Joe Biden.

Segundo o jornal de Nova York, Pelosi chegou à conclusão de que deve realmente apresentar o pedido de impeachment, após meses de discussões. O anúncio deve ser feito por volta das 18h de Brasília, logo após uma reunião da bancada Democrata na Câmara.

“É o que eu já havia dito: assim que tivermos os fatos, estaremos prontos. Agora nós temos os fatos, estamos prontos… para hoje, mais tarde”, declarou a democrata durante coletiva de imprensa no do Atlatic Festival, promovido pelo um think tank Aspen Institute.

O presidente Donald Trump, que participou mais cedo da Assembleia Geral da ONU e apertou a mão de Jair Bolsonaro, atacou os Democratas pelo Twitter: “Os democratas estão tão focados em ferir o Partido Republicano e o Presidente que não conseguem fazer nada por causa disso, incluindo legislação sobre segurança de armas, redução de preços de medicamentos prescritos, infraestrutura, etc. Tão ruim para o nosso país!”.

Elizabeth Warren, pré-candidata democrata à presidência, defendeu a abertura do processo. “Ninguém está acima da lei – nem mesmo o presidente dos Estados Unidos. O Congresso tem autoridade constitucional e responsabilidade de responsabilizar o presidente. Isso não é sobre política, é sobre princípio. Temos de iniciar um processo de impeachment”, tuitou

 

 

*Com informações da Forum

Vídeo: A índia fake que Bolsonaro levou para a ONU, dá aula de como é peido de índio

Um dos piores momentos do discurso de Bolsonaro, foi o ataque ao Cacique Raoni, aos índios que afirmou que colocam fogo na floresta amazônica, ao passo que citou Ysani Kalapalo, a índia fake que ele levou para a ONU, que é youtuber, como a grande liderança indígena brasileira.

Para um presidente que só fala em cocô, levar para a ONU, entusiasmado, levar uma falsa índia, que usa o youtube para explicar como é peido de índio, até faz sentido, mas reduzir a popular a população indígena do Brasil a um personagem tão degradante quanto ela, foi uma cusparada na cara dos chefes de Estado e da própria ONU, mostrando não só a descompostura de Bolsonaro, mas o teatro ambulante que ele levou para a Assembleia das Nações Unidas, provocando ainda mais repúdio em todo o mundo por uma atitude tão baixa ligada a um tema tão sério que ganha cada vez mais espaço no debate global, que é a preservação dos índios e dos povos da floresta amazônica.

Vídeo: Depois de esperar Trump por 1 hora, Bolsonaro toma um toco com um aperto de mão e um adeus

Com a intenção de usar Trump para seu cabotinismo americanófilo, Bolsonaro, o caçador de imagens, pintou o retrato mais constrangedor da ONU. Tomou um chá de cadeira por 1 hora esperando Trump para, no momento derradeiro, ser solenemente ignorado por seu astro, levando para casa um aperto de mão apressado, um tapa no ombro de despedida e um adeus curto e grosso, deixando o pateta com a cara de jeca maior do que já tem, perdido no meio de outras pessoas.

Isso foi um torpedo na testa do imbecil e de uma legião de idiotas que votaram nele, achando que Bolsonaro teria algum espaço na agenda política de Trump.

O presidente americano concedeu a Bolsonaro míseros 17 segundos para ver se ele sairia do ostracismo num vale de sombras. O parco momento que conseguiu estar com Trump vai lhe custar caro pelo constrangimento que causou a milhões de brasileiros que assistirem a este vídeo de comédia bufa.

Um lacaio dos EUA arrotando soberania na ONU

O ódio de Bolsonaro contra a natureza, falseando soberania, em embate com grandes potências, agredindo os índios brasileiros em nome do patriotismo, em suas labaredas retóricas extraídas da xepa da ditadura militar, não conseguiram esconder o lacaio dos EUA que gritava na tribuna da ONU em nome de uma soberania de arrotos.

O grau mais alto de suas inúmeras mentiras, foi o do Bolsonaro patriota, de um Brasil soberano.

Não foi preciso prestar muito atenção no discurso de Bolsonaro para se chegar a uma conclusão que, fora do quadro pintado por ele atestava-se um presidente típico dos ditadores latino-americanos do século passado que se colocavam como tapetes dos presidentes norte-americanos para serem usados como limpa-trilhos de suas botas.

Bolsonaro quis enfeitar seu fracassado governo de glórias bancando um burro de carroça que oferece montaria a Donald Trump. Uma coisa que substitui qualquer história de submissão de que se tem notícia.

Aquele amontoado de mentiras, de vigarices, típicas de um político do baixo clero, falando em nacionalismo e entregando o país nas mãos das grandes corporações americanas revelou ao mundo um tutor primitivo das políticas imperialistas dos EUA na América Latina. Uma espécie de frouxidão com ênfase no mais constrangedor rapapé que um brasileiro provinciano pode produzir de forma personalíssima.

 

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

A irremediável ruína de Bolsonaro diante do mundo por seu discurso na ONU

Em tom agressivo, presidente brasileiro mandou duros recados à ONU, a governos, a ONGs e à imprensa, surpreendendo atores internacionais e levando muitos a lamentar.

Jair Bolsonaro não tinha chegado nem sequer à metade de seu discurso e meu WhatAapp, Signal e email já estavam sendo bombardeados por mensagens de diplomatas e representantes de entidades internacionais. Todos chocados com o que estavam ouvindo.

Mas uma das mensagens, particularmente dura, veio de um representante que faz parte da cúpula das Nações Unidas: “Ele (Bolsonaro) acabou de perder a última chance de ser respeitado”. Em outra mensagem, um mediador perguntava: “Há algo mais extremo que essa visão de mundo?”.

Enquanto ele discursava, a câmera oficial da ONU percorria o salão, apenas para registrar rostos fechados, inclusive o da chanceler Angela Merkel.

Depois do vexame do discurso de seis minutos em Davos, em janeiro, de uma participação apagada no G-20 e de ofensas a líderes internacionais, Bolsonaro tinha mais uma chance de mostrar ao mundo que poderia ser moderado e, assim, começar a recuperar seu respeito internacional. Fracassou rotundamente.

Dentro da ONU, não foram poucos os comentários diante de seu discurso. Era esperado do Brasil um sinal de que o país estava pronto a fazer parte do esforço internacional para lidar com desafios globais. Mas Bolsonaro chamou a atenção ao repetir em várias ocasiões as palavras soberania e pátria.

O presidente, sem dúvida, fez questão de reposicionar o Brasil no mundo e na ONU. Mas não da forma que muitos na entidade esperavam.

A ONU, segundo ele, não representa interesses globais. Mas é, sim, um espaço de nações soberanas. “Não estamos aqui para apagar nacionalidades em nome de interesses globais”, disse. E emendou um alerta de que o Brasil não aceitará que haja uma mudança na ONU.

Uma forma de dizer: não mexam comigo. No fundo, o que se viu no palco foi um presidente com um discurso ainda mais radicalizado, intolerante e nacionalista que nas demais reuniões internacionais.

Militarismo, Deus, elogios à polícia e ameaças substituíram palavras como sociedade civil, espaço democrático, diversidade, multilateralismo e o sistema internacional. “Acho que nunca começamos nosso trabalho nesse tom”, lamentou uma fonte.

No lugar de se comprometer com metas ambientais, Bolsonaro preferiu partir para o ataque e rejeitou a tese de que a Amazônia seja um patrimônio da humanidade. Sem citar nomes, fez alusão ao “espírito colonialista” da França e preferiu garantir que a Amazônia está “praticamente intocada”, gerando inúmeros comentários.

Fustigou Raoni, acusado de ser usado como “peça de manobra” em uma guerra pela floresta, e manobrou a própria Constituição. “Bolsonaro distorce argumentos sobre autonomia dos povos originários para negar direitos que a própria Constituição garante”, disse Camila Asano, coordenadora de programas da Conectas Direitos Humanos.

“Categoricamente, anuncia que não promoverá novas demarcações de terras indígenas. É extremamente grave que o presidente tenha usado a Assembleia Geral da ONU como palanque para atacar uma liderança indígena e ameaçar a segurança jurídica das terras ianomâmis e Raposa Serra do Sol, que já estão demarcadas”, afirmou.

Bolsonaro atacou ONGs e a imprensa internacional, proliferou teorias da conspiração e fez um discurso com a forte marca da demagogia de um populista que duvida do poder da democracia.

Ditaduras Bolsonaro também surpreendeu com sua nova apologia às ditaduras do Cone Sul, desta vez feita sem citar nomes. Experientes embaixadores brasileiros admitiram que o que ele fez no palco da ONU não tem precedentes na era democrática do país e poderia se igualar à apologia a um torturados que ele fez em pleno Congresso Nacional, ainda quando era deputado.

Ele justificou o Golpe de Estado de 1964 e as demais ditaduras na região, num tom radicalmente oposto ao que disse José Sarney quando falou no mesmo palco, nos anos 80. Naquele momento, ele lembrou que o Brasil “saiu de uma longa noite autoritária” e se apresentava ao mundo como uma democracia.

Ao citar socialistas cubanos, ele indicou que teriam “tentaram mudar o regime brasileiro” e de outros países. “Civis e militares foram mortos e outros tantos tiveram reputação destruídas. Mas vencemos aquela guerra e resguardamos nossa liberdade”, declarou.

Ao dizer essa frase, ele simplesmente cuspiu sobre a entidade, que o havia criticado por sua apologia às ditaduras. Um dos representantes da ONU exclamou: “não posso acreditar no que estou ouvindo”.

Bolsonaro fez um discurso de guerra, repleto de termos e inimigos dos anos 60 e 70: a ameaça socialista e a necessidade de impedir que nossa soberania seja questionada.

Mas, acima de tudo, ofendeu a muitos naquela sala. Num trecho comentado por vários diplomatas, ele alfinetou os demais governos e entidades, alertando que eles tinham aplaudido os presidentes brasileiros que, por ali, tinham passado.

Sua insistência em citar a Bíblia, os cristãos e Deus foram vistas com cautela, num sinal de que tentará redirecionar a agenda internacional com base nesses valores. “Ele esqueceu que preside sobre um país diverso”, disse um diplomatas.

Ele ainda chocou ao falar das vítimas entre os policiais e não citar os números de mortos pela polícia no Brasil.

Elogios? Apenas para seu mentor, Donald Trump.

Nos minutos que esteve no palco do mundo, não deu garantias, não construiu pontes, não reconheceu os problemas do país.

Usando um tom de voz desafiador, como se o Brasil estivesse em guerra e como se o microfone não estivesse funcionando, Bolsonaro escolheu apenas os inimigos imaginários, enquanto os reais problemas foram ignorados.

Em Nova York, ele apenas confirmou a visão ideológica da política externa e do que será seu governo. E agora o mundo inteiro ouviu, em todas as línguas oficiais da ONU.

“Quando será a próxima eleição?”, me escreveu um experiente embaixador asiático.

 

*Jamil Chade/Uol