Ano: 2020

O Estado mínimo de Bolsonaro que destrói o país

Há uma lógica nessa loucura do governo Bolsonaro. A lógica da destruição do Estado brasileiro e a imposição da centralidade do mercado.

A direita, na sua era neoliberal, se empenha sistematicamente em desqualificar ao Estado, acusando-o de ineficiente, de burocrático, de corrupto. Promove o Estado mínimo, forma de promover a mercantilização da sociedade, de promover de uma sociedade em que tudo é mercadoria, tudo tem preço, tudo se vende, tudo se compra.

Para lograr esse objetivo, é necessário desarticular o Estado, com seus processos de regulação do mercado, de promoção dos direitos sociais de todos, de proteção dos cidadãos, de impulso ao crescimento da economia mediante investimentos e créditos, entre outras atividades.

É preciso criar na opinião publica a imagem negativa do Estado, que cobra muitos impostos e entrega pouco em troca, que intervém na vida dos cidadãos, tirando-lhes a liberdade, que deforma a economia intervindo nos mercados.
O Estado mínimo abriria espaço para o crescimento da economia, movida pelo mercado, que incentivaria os investimentos e fixaria os preços conforme a lei da oferta e da procura. Para a liberdade das pessoas, livradas à sua sorte, sem intervenção do Estado. Para que cada um possa ter acesso aos armamentos que deseje, para se defender dos riscos à sua segurança. Para que as religiões possam ter atividades sem limite, de qualquer ordem, incluso de ter lucros e acumular riquezas para as igrejas e para seus membros.

É o que faz o governo Bolsonaro, entre arbitrariedades e ex abruptos, vaivéns, valendo-se do assalto ao Estado que promoveu nas eleições de 2018. Destrói a capacidade do governo de regular a economia, desarticula os ministérios de caráter social – educação, saúde, assistência social, cultura -, que garantem os direitos de todos. Deixa todos livrados à sua sorte, da população que vive na rua aos desempregados, das pequenas empresas aos ambulantes.

A imagem das famílias vivendo nas ruas e praças das nossas cidades é a imagem mais expressiva desse governo e da ausência de Estado para proteger a população, especialmente os mais desvalidos. Populações abandonadas, sem emprego para ganhar seu sustento, sem casa para viver, sem poder público para protegê-la das milícias, dos traficantes e de todos os que atentam contra seus direitos mínimos na sua difícil vida privada.

É um governo que veio para desfazer tudo o que de melhor tinha sido feito no Brasil no passado recente. Desfazer as políticas sociais, a assistência aos mais pobres, a democratização da educação, o fortalecimento da saúde pública, o orgulho de ser brasileiro, o amor ao Brasil, a solidariedade social, a prioridade de ajudar aos mais necessitados, o papel do Estado de resguardar o direito de todos, a função dos governos de cuidar de toda a população.

Um governo que deixará o pais devastado, indefeso diante dos interesses brutais do capital especulativo, das grandes empresas internacionais e seus interesses de se apropriar das riquezas do pais. Um Estado liquidado das propriedades publicas, pelos processos de privatização que destroem as empresas construídas por décadas pelo povo brasileiro.

Mas, como é um governo para os ricos, fortalece os mecanismo de repressão das vítimas das suas políticas: as polícias, o Exército, as fábricas de armamentos. O presidente se vale dos espaços de que dispõem para atacar a democracia, para ofender os movimentos de cidadania, para elogiar os organismos de repressão, para incentivar o armamento e a violência na sociedade.

É uma loucura com a lógica da opressão, da exploração, da violência, da degradação. Que precisa ser combatida e derrotada pela lógica da democracia, da solidariedade, da convivência e da paz. Para isso é necessário recuperar um Estado democrático, defensor dos direitos de todos, garantia das condições de vida dignas para todos, que regulamente e limite as ações selvagens do mercado e promova a dignidade e a solidariedade como princípios da vida em sociedade.

 

*Emir Sader

 

Ao punir Bretas, TRF-2 informa que democracia ainda respira

Órgão Especial do tribunal deu um pequeno passo em favor do resgate do decoro do Poder Judiciário.

Reinaldo Azevedo – Num país em chamas, em que o devido processo legal está sendo esturricado junto com as onças e os jacarés —enquanto doutores do punitivismo pisam nos astros desastrados—, o Órgão Especial do TRF-2 deu um pequeno passo em favor do resgate do decoro do Poder Judiciário. Decoro! Gosto dessa palavra nas lentes do direito ou em Paulo, o apóstolo. “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém.”

Por 12 votos a 1, com um impedimento, os juízes federais aplicaram a pena de censura ao juiz Marcelo Bretas, triunfando, por quase unanimidade, o voto do relator, Ivan Athié, que viu “superexposição e autopromoção” na conduta do chamado “juiz da Lava Jato do Rio” ao participar de eventos públicos, no dia 15 de fevereiro, em companhia do presidente da República e de outros políticos.

Em seu voto, Athié citou trechos de um texto que publiquei em meu blog, apontando a desconformidade da atuação de Bretas com o que dispõe resolução do Conselho Nacional de Justiça, que recomenda ao juiz “evitar expressar opiniões ou compartilhar informações que possam prejudicar o conceito da sociedade em relação à independência, à imparcialidade, à integridade e à idoneidade do magistrado ou que possam afetar a confiança do público no Poder Judiciário”.

O mesmo texto alerta que o magistrado deve “evitar manifestações que busquem autopromoção ou superexposição”. Os leitores desta coluna certamente conhecem ao menos parte das minhas reservas à atuação judicial e extrajudicial de Marcelo Bretas. De seu particularíssimo entendimento do artigo 312 do Código de Processo Penal, por exemplo, que regula a prisão preventiva, à exibição narcísica de sua, digamos, musculatura jurídica, não me parece que ele seja um bom discípulo de Paulo.

Seja no entendimento da Constituição, seja na interpretação que faz do Evangelho, entendo que o juiz é mais um a ignorar a letra explícita das leis, dos códigos e mesmo das escrituras. E o faz em favor do solipsismo estridente, de modo que seu subjetivismo e seu personalismo, embora alinhados com a metafísica influente destes tempos, atuam contra as garantias do devido processo legal e do Estado democrático e de Direito.

Não destaco por vaidade o fato de o juiz federal Athié ter citado um texto meu num voto que encontrou uma única dissensão, sendo referendado por 11 outros. Eu o faço em homenagem a uma postura —hoje minoritária no país e na imprensa—, que reconhece não haver saída para o Brasil fora do ordenamento legal e da prevalência das instituições.

E assim é porque vivemos num regime democrático, ainda que literalmente sufocado por fumaças, imposturas e omissões. Numa ditadura, numa tirania, a subversão é um dever moral e um imperativo ético. E me orgulho muito de, dentro das limitações do que me permitia a juventude, ter atuado para sabotar o estado ditatorial. Na democracia, um conservador preserva instituições. Se em desconformidade com elas, força os limites da moldura em favor de mudanças.

Considero inaceitável, aí sim, que quadros que integram o aparato da ordem —devendo, pois, atuar em defesa da sua permanência, assegurando, por óbvio, a eficácia dos mecanismos que lhe permitem a mudança— atuem como subversivos de toga, de sorte que as garantias que a própria Constituição assegura à magistratura ou ao Ministério Público são postas, então, a serviço da corrosão da institucionalidade.

Infelizmente, essa visão intervencionista, subversiva e corrosiva da Justiça já chegou às cortes superiores. Para quem sabe ler as linhas e as entrelinhas, o discurso de posse de Luiz Fux como presidente do STF acena para a condescendência com os métodos ilegais e heterodoxos da Lava Jato. A substituição da política pela polícia —de sorte que se pode falar hoje, em certos casos, de uma polícia política— abriu o caminho para o triunfo dos “hooligans” contra a ordem democrática.

Estão por aí, a crestar, real ou simbolicamente, tudo o que encontram pela frente: Constituição, bicho ou gente. Em meio à fumaça e à cultura da morte, o TRF-2 emprestou um respirador à democracia.

 

*Reinaldo Azevedo/Folha

 

Vídeo – Requião: Frustração levará à queda de Bolsonaro

“Bolsonaro vai acabar porque foi um acidente de percurso. Os milionários não suportam mais o Bolsonaro, as suas boçalidades. Bolsonaro vai ser defenestrado. Cai do governo com ou sem impeachment. Ele não é tolerado pela burguesia brasileira. Ele está tentando fazer como um Beppe Grillo [político italiano], se identificar com o lumpesinato. Ele não vai poder sustentar economicamente as esperanças. Ele será uma frustração para a população. A minha preocupação é que nessa frustração surja um projeto para o Brasil ou ficamos na mão de ditadores”.

A avaliação é de Roberto Requião em entrevista ao TUTAMÉIA, na qual trata da necessidade de união em torno de um projeto nacional, das divisões das oposições, de militares, empresários, movimentos sociais e da interferência dos EUA, do mercado financeiro e da mídia no processo político no Brasil (acompanhe a íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Três vezes governador do Paraná, o ex-senador avalia que o crescimento do apoio a Bolsonaro nas pesquisas de opinião está ligado ao auxílio emergencial, que será cortado em breve. “Ele se apropria do eleitorado mais afastado das questões políticas e econômicas, que foi do Lula com as políticas compensatórias. Mas o povo brasileiro, que conheceu o Getúlio Vargas, a CLT, que conheceu a evolução do Ocidente em relação a direitos de trabalhadores, das mulheres e isso tudo se incorporou à nossa legislação, quando a crise apertar, mais não vai se conformar e se submeter a essa canalha que acabou com a CLT. Não acredito que o auxílio emergencial vá manter na coleira esse eleitorado lulista”, declara.

E os empresários, que apoiam as políticas de Guedes e Bolsonaro? “As empresas são aliadas agora do Bolsonaro porque não viram onde vão parar. Com a permissão de venda de terra, os tais produtores do agronegócio vão desaparecer. E vão ser substituídos por fundos de pensão e grandes capitais exploradores. A burguesia que está ganhando dinheiro, amanhã vão perder totalmente o poder. A crise que vai chegando ai vai levar todo mundo para o mesmo barco”, prevê. E acrescenta:

“Estamos sendo destruídos pela submissão do Brasil aos interesses geopolíticos dos EUA e do capital financeiro. Como é possível aceitar que o capital financeiro, essa mais valia apropriada por uma minoria cada vez mais minoria e cada vez mais rica no Brasil e no mundo, dite as regras e escravize as pessoas? Marginalize os trabalhadores e crie uma sociedade para muito poucos? Isso não é sustentável. O Brasil não vai se subordinar a essa loucura de ser transformado numa plantation. Não podemos nos submeter a isso. É preciso devolver ao país a possibilidade de construir o seu processo civilizatório como vinha acontecendo. Estamos regredindo não ao século passado, estamos regredindo para uma economia primária, com semiescravização. É uma loucura”.

Requião diz não suportar mais a definição de Bolsonaro como fascista. “O fascista é autoritário e nacionalista. O Bolsonaro não é porra nenhuma. Bolsonaro é um equívoco, é um efeito colateral desse processo de desmoralização da política. Bolsonaro não tem a menor ideia do que seja pátria, nação, processo civilizatório. Os generais que o estão apoiando com pijama e sem pijama são generais despidos de qualquer amor pelo Brasil e de identidade como nosso povo. Exército, Marinha e Aeronáutica somam 400 mil homens. Eu simplesmente não acredito que tenhamos 400 mil entreguistas. Esses oficiais não têm sentimento de pátria mais. De repente são servos dos EUA. O nosso Exército, as nossas Forças Armadas não vão aceitar isso. Por mais que a sua cúpula de hoje esteja corrompida em favor do seu próprio salário, do seu domínio, da sua aposentadoria especial, da pensão para as suas viúvas, filhos, mulheres, não vai ser mantido isso, o Brasil não vai aceitar isso”.

Na sua análise, a ascensão de Bolsonaro foi resultado de um jogo de mobilização pela decepção, não ideológico. “Ele não tem enraizamento na população. Veio o jogo geopolítico dos EUA, a destruição da imagem dos políticos, a participação brutal da Globo desmoralizando tudo. A Lava Jato foi contra a corrupção, que tem que ser contida sempre, e atuou no sentido da desorganização das empresas brasileiras. Se o Lula lá atrás tivesse entregado o Pré-Sal para os americanos, não teria havido Lava Jato nem nada disso. É uma jogada que se repete no mundo, essa política de trabalhar com a decepção não propondo nada, como com Beppe Grillo, Erdorgan e Trump e Bolsonaro. Essa guerra híbrida, essa manipulação com suporte nos meios de comunicação e com o apoio de um judiciário que tem uma tendência muito clara de ir para a direita, que perdeu a perspectiva de identificação com o nosso povo, e que não tem o sentido de pátria. Esse sentido existia até na direitona fascista do golpe militar. Geisel era um nacionalista. Era autoritário, mas no peito do Geisel batia um coração brasileiro. Isso não existe mais. Eu, como nacionalista desenvolvimentista, quero Forças Armadas fortes e bem equipadas no Brasil”.

Para Requião, a saída está na formulação de um projeto nacional, democrático e popular. “Estamos chegando num limite e, por isso, precisamos ter um projeto eficiente. Um ato meio. Não seja um ato de covardia da frente ampla, que incorpora a canalha toda que jogou o país nessa merda em que nós estamos, e que não se submeta ao capital financeiro. Mas que não seja um projeto ousado demais, que a gente não sustente se chegar ao poder. Não tem firula. É restabelecer a soberania, resgatar as empresas nacionais estratégicas, restabelecer a democracia midiática, respeitar o trabalho e corrigir os absurdos feitos com a CLT e com a aposentadoria”.

E como aglutinar a oposição em torno de um projeto, já que há tanta divisão? “A oposição é uma convivência de capelas. Capela, aqui no Paraná, é o coletivo de bugios. Essa oposição está pensando eleitoralmente. Estão, de repente, acenando para o mercado financeiro, acenando para a imprensa, saúdam com entusiasmo o Rodrigo Maia. Tem que acabar com essa perspectiva eleitoral, essa visão limitada. Tínhamos que ter um candidato único à Presidência da República. Um projeto nacional de restabelecimento da soberania, da democracia, do respeito ao trabalho. Um projeto claro, moderado, sem o extremos da covardia, que é ao frente ampla, nem o extremo da temeridade, que é o avanço que não se pode sustentar depois”.

Requião achou interessante o último discurso de Lula. “Ele não abordou a tese do BC dependente da banca e da minoria rentista, mas falou de novo no trabalho, que é uma das bases do início do PT. Foi uma evolução, eu gostei do discurso, Para mim não é suficiente, mas também não estou querendo a radicalização que não é sustentada e inviabiliza qualquer governo que suceda essa loucura bolsonarista e liberal”. Defendendo Lula nos casos dos processos da Lava Jato, o ex-senador ataca a ideia de necessidade de autocrítica por parte do T:

“Autocrítica porra nenhuma. Quem faz autocritica é o devoto para o padre no confessionário, pedindo perdão a deus O político chama os erros de experiência e não comete outra vez. O PT é a única base partidária no Brasil capaz de alavancar uma mudança. Acho uma besteira o que o Ciro faz. Estou enxergando a importância da mudança no Brasil e a importância dessa força organizada. Se não tivermos uma proposta de unidade nacional vamos continuar numa briga de bugios candidatos à Presidência. É preciso um projeto sério, factível, sustentável e moderno, que incorpore 70% da população. Que restabeleça a esperança do povo. É preciso deixar as vaidades de lado. O momento é da união nacional”.

 

*Do Tutaméia

 

Fux faz críticas aos colegas sobre o tema “prisão em 2ª instância” e Marco Aurélio o enquadra

Marco Aurélio, relator do caso da 2ª instância, responde Fux; presidente afirmou em entrevista que decisão do STF foi de “baixa densidade jurídica”.

Em entrevista para as páginas amarelas da Revista Veja, o novo presidente do STF Luiz Fux elogiou a Lava Jato, criticou o excesso de julgamento de habeas-corpus pelo Supremo e afirmou que as discussões a respeito da condenação em segunda instância devem ser retomadas.

Sobre este último assunto, o ministro afirmou que a presunção de inocência não tem relação com a prisão em segunda instância. Fux foi um dos votos vencidos quando o STF mudou o entendimento e voltou a proibir a possibilidade de prisão após condenação em 2ª instância.

Na entrevista, Fux afirma que a jurisprudência que se firmou é de “baixa densidade jurídica” e que a Corte “não está em paz sobre esse tema e mais dia, menos dia, teremos um novo encontro com essa questão”.

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Após as declarações do novo presidente do Supremo, o relator do julgamento sobre o tema, ministro Marco Aurélio, mandou um ofício a Fux, encaminhando o voto proferido, a ementa e a ata de julgamento alusivos às ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54.

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Veja a íntegra do ofício.

 

*Do site jurídico Migalhas

 

Vídeo: Incêndios já tomam quase metade das terras indígenas no Pantanal

Dados indicam que parte das queimadas começou em terras privadas; indígenas relatam que “fogo veio de fora” e “destruiu tudo”.

No Mato Grosso, focos começaram em áreas de reserva legal próximas a terra indígena.
Servidor denuncia que governo previu aumento de queimadas, mas demorou a agir.
Indígenas são maioria dos brigadistas do Ibama no Mato Grosso, que pedem mais recursos.

Apenas em setembro, 164 focos de incêndio avançaram sobre terras indígenas (TIs) no Pantanal. Mais de 200 em agosto. Quase metade das áreas indígenas regularizadas na região já enfrenta queimadas – que têm cercado aldeias, destruído casas e plantações e levado a internações por problemas respiratórios.

As conclusões são resultado de um levantamento da Agência Pública a partir de dados de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A apuração, que analisou todos os focos de incêndio registrados no Pantanal em 2020, revelou que o número começou a aumentar no final de julho, mas explodiu em agosto e setembro – 72% dos focos do ano ocorreram apenas nesses meses.

Os dados de satélite revelam também que, em alguns dos locais que mais sofreram com as queimadas, os focos de incêndio surgiram e se multiplicaram primeiro em propriedades privadas para depois tomar as TIs. Além disso, parte do fogo teve início em áreas de reserva legal e de mata nativa de donos de terra, que são protegidas por lei e devem ser preservadas.

“O fogo entrou de uma hora para outra”, “tudo está acabando”, dizem indígenas

“O fogo se iniciou de fora da terra indígena. Quando veio, veio com tudo, entrou de uma hora para outra”, relata à reportagem o educador indígena Estêvão Bororo, conhecido como Estevinho. A Pública procurou Estevinho depois de ter verificado, nas imagens de satélite, que a TI Tereza Cristina, do povo Bororo, estava tomada por focos de incêndio. O território, que fica numa área de transição do Cerrado para o Pantanal no município de Santo Antônio do Leverger, registrou 86 focos de incêndio, 81 deles apenas nas duas primeiras semanas de setembro.

“A terra é cortada pelo rio São Lourenço: a margem esquerda do rio pegou fogo, cercou duas aldeias, queimou uma ponte. Depois, o fogo avançou em direção à aldeia Córrego Grande, que foi a mais impactada. Veio com tudo, cercou até mesmo as residências. Apesar de não ter pego fogo nas casas, nosso líder precisou ir para Rondonópolis porque inalou muita fumaça. Temos idosos, gestantes, puérperas [mulheres que pariram recentemente], crianças”, relata Estevinho.

Segundo o indígena, as queimadas haviam começado primeiro fora do Pantanal, na área de Cerrado da TI Tadarimana, que fica no município vizinho de Rondonópolis – região de plantações de soja, algodão e milho. Estevinho conta que, em julho, incêndios tomaram 60% da Tadarimana. Já agora em setembro, com a migração das queimadas para a área da Tereza Cristina e de outras terras dos Bororo no Pantanal, indígenas precisaram sair de suas casas e se refugiar justamente na Tadarimana, que enfrentou as queimadas antes.

Indígenas relataram que, terra Tadarimana, próximo a Rondonópolis e fora do Pantanal, sofreu antes com as queimadas. Pessoas precisaram ir para lá quando as queimadas passaram à terra Tereza Cristina, em agosto e setembro.

A situação é crítica também na Baía dos Guató, terra do povo Guató, no município de Barão de Melgaço, vizinho de Santo Antônio do Leverger. Os dados de satélite do Inpe registram 57 focos de incêndio na área em setembro e 85 em agosto. Quase toda a extensão da terra foi tomada por focos.

“As queimadas destruíram roças, queimaram casas. O fogo destruiu uma parte bem grande do nosso território, destruindo muitas árvores, animais, aves, prejudicando nossa fauna e flora e a nossa segurança alimentar, porque destruiu nossas roças. Estamos muito preocupado com as nossas matas porque é delas que retiramos o nosso sustento, as nossas medicações tradicionais. Com a queimada, tudo isso está comprometido. Não encontramos mais muitas ervas que usamos para tratar das enfermidades e também a palmeira acuri, que utilizamos para fazer cobertura das casas tradicionais e alguns utensílios, e pra fazer a chicha, uma bebida tradicional. Tudo está acabando”, desabafa Alessandra Guató.

 

A terra dos Guató fica próxima ao Parque Estadual Encontro das Águas, que também foi tomado por focos de incêndio: foram 456 apenas em agosto e setembro. Segundo reportagem do G1, 85% da área do parque foi destruída pelas queimadas.

O território dos Guató é um exemplo de como focos de incêndio podem proliferar em propriedades privadas para depois atingir TIs e unidades de conservação. No início de agosto, quase não havia focos de incêndio ao norte da terra dos Guató. Com o passar dos dias, eles passaram a ser registrados em áreas de reserva legal e mata nativa dentro de propriedades privadas ao norte da área indígena. Em seguida, surgiram incêndios dentro da TI. Ao final do mês de agosto, já havia focos em quase todo o território indígena, e 36 foram registrados em apenas um dia.

Cinco TIs registram incêndios; três parques estaduais e federais também

Ao todo, a Pública encontrou focos de incêndio em cinco TIs regularizadas nos municípios do Pantanal: cerca de metade das 11 da região. A área indígena com mais focos é também a maior, a TI Kadiwéu, dos Terena e Kadiwéu, no Mato Grosso do Sul. Foram 176 focos desde maio deste ano, a maior parte deles em agosto.

A reportagem procurou a Funai, questionando sobre a situação das terras e qual apoio os indígenas têm recebido, mas não obtivemos resposta.

Além disso, em todo o Pantanal há focos de incêndio em três parques estaduais, em um nacional, em uma área de proteção ambiental, em duas reservas particulares e em uma estação ecológica.

Todos os municípios do Pantanal registraram focos de incêndio entre julho e setembro. Poconé e Barão de Melgaço, no Mato Grosso, foram os com maior número – o Parque Estadual Encontro das Águas está localizado nesses dois municípios.

Aumento de queimadas era previsto, mas governo demorou a agir, denuncia servidor.

A Pública conversou com um agente do PrevFogo, do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, que não quis se identificar por medo de represálias. Segundo o servidor, os monitoramentos meteorológicos já apontavam a intensificação das queimadas em 2020, com as temperaturas acima da média e as chuvas abaixo. De acordo com ele, o planejamento estratégico do órgão contava com a antecipação da contratação de brigadistas para trabalhar na prevenção das queimadas.

Contudo, o edital de contratação, que costuma ser publicado em meados de abril, só foi aberto em 23 de junho. O edital abriu 60 vagas para brigadistas indígenas no Mato Grosso do Sul, nas aldeias Taunay Ipegue, Limão Verde, São João e Alves de Barros, nos municípios de Aquidauana e Porto Murtinho, além de 29 brigadistas não indígenas em Corumbá, município recordista das queimadas no Brasil. Já no Mato Grosso, 46 vagas foram abertas para as brigadas nos municípios de Cotriguaçu e Serra Nova Dourada. Nenhuma em território indígena.

Para o servidor, o atraso na contratação prejudicou as ações de prevenção do órgão. “A gente acredita que isso prejudicou bastante o nosso trabalho. A nossa previsão era trabalhar a prevenção no mês de junho, para que a gente tivesse uma temporada um pouco menos pior do que estamos tendo”, relata.

A reportagem questionou o Ibama sobre a demora na contratação de brigadistas e sobre as ações que o órgão está tomando para combater as queimadas. O órgão não respondeu até a publicação da reportagem.

Em 20 de agosto, o presidente Jair Bolsonaro admitiu em uma live que a situação do bioma é grave, mas alegou que as dificuldades impostas pelo tamanho da região e “questões ideológicas”, como a proibição da criação de gado solto, pioraram o quadro. “A gente faz o possível, mas a oposição vai continuar botando a culpa em mim do fogo da Amazônia, do fogo do Pantanal, mas vamos tocar o barco. Como se nunca tivesse pegado fogo nessa região.” No dia 15 de setembro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o fogo no Pantanal “tomou proporções gigantescas”.

Maioria dos brigadistas no Mato Grosso são indígenas, que pedem mais recursos

Além de serem afetados pelo fogo que avança pelo Pantanal, os indígenas são uma parte da força que tenta impedir a destruição de seus territórios. Segundo o último edital do Ibama para brigadistas no Mato Grosso do Sul, das cinco brigadas existentes no estado, quatro são indígenas. A reportagem questionou o órgão sobre a quantidade de brigadas indígenas no Mato Grosso, mas não obteve resposta.

Para Eliane Bakairi, da Federação dos Povos Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), o número de brigadas é insuficiente, principalmente em territórios mais afetados, como a Baía dos Guató e a TI Perigara, em Barão de Melgaço. “Conversando com o cacique Roberto, ele disse que o fogo passou por lá na aldeia Perigara. E o fogo queimou tudo, queimou toda a TI. Conversando com o pessoal dos Guató, também a situação é bem complicada lá. As brigadas são insuficientes, o PrevFogo sofreu cortes orçamentários e isso está sendo sentido nas brigadas, mas o Pantanal continua queimando”, critica.

As brigadas fazem parte do Programa Brigadas Federais do PrevFogo, do Ibama, que deve realizar o controle, a prevenção e o combate a incêndios florestais. Contudo, segundo reportagem da Deutsche Welle, entre 2019 e 2020 o governo federal reduziu em 58% a verba destinada ao centro, um corte de R$ 13,79 milhões, que impactou a contratação de brigadistas para prevenção e o controle de incêndios florestais.

Para Eliane Bakairi, é necessário expandir as brigadas além de fortalecer as já existentes, “o Pantanal está queimando, por que não aumenta o contingente de pessoas? Por que não investe em mais carro, mais material de combate? Se não tivesse o recurso, mas tem. Sempre há cortes, mas nesse governo a gente tem sentido mais os cortes, cortes de pessoal, cortes de investimento no combate ao fogo, no combate ao desmatamento. Nos outros também aconteciam, mas não com essa intensidade”, questiona.

A crítica de Estêvão Bororo é parecida: “É imprescindível que as terras indígenas tenham equipes de brigadistas”, diz. “Aprendemos a lição: dizem que não podemos montar brigada porque tem corpo de bombeiros próximo. A terra Tereza Cristina está a 120 quilômetros de Rondonópolis, distante 200 quilômetros da sede do município de Santo Antônio de Leverger, longe de Cuiabá. Se tivéssemos apoio para manter a brigada, teríamos equipes de vigias, grupos de guarda à noite, equipe para fazer os aceiros [quando se retira vegetação para impedir avanço do fogo]. Teríamos poder de prevenção mais consolidado”, avalia.

Para ele, as brigadas indígenas devem ser apoiadas institucionalmente pelos governos federal e estaduais, que devem ter responsabilidade de custear as equipes, mas também de oferecer treinamento e atuar junto às organizações dos próprios indígenas.

As brigadas indígenas se queixam, além do corte de investimento, da pandemia. Um agente do PrevFogo, que conversou anonimamente com a reportagem, explicou que o órgão optou por isolar as brigadas indígenas para evitar o contágio dos brigadistas. O receio é que indígenas se infectem e levem o vírus para as suas comunidades.

O programa de brigadas indígenas foi criado em 2013 por um acordo entre a Funai e o Ibama. Os brigadistas indígenas são contratados temporariamente durante seis meses, recebendo um salário mínimo. De acordo com a Funai, atualmente existem 39 brigadas indígenas atuando em todo o Brasil.

Assim como na Amazônia, Ibama multa cada vez menos no Pantanal

Com o governo Bolsonaro, o Ibama tem aplicado menos multas em todo o Brasil – e a situação se repete no Pantanal. Segundo dados coletados pela Pública, no primeiro ano de mandato do presidente houve redução de 71% na quantidade de multas relacionadas à flora no Pantanal, em comparação ao ano anterior. Multas nessa categoria incluem infrações decorrentes de desmatamento e queimadas ilegais, por exemplo.

A diminuição se manteve em 2020. Até o final de agosto, foram registradas 21 multas nos municípios do Pantanal, menor número de multas da década, comparando-se os mesmos meses. No ano anterior, esse número foi mais que o dobro, com 54 multas aplicadas na região entre janeiro e agosto de 2019.

Dos 16 municípios que fazem parte do Pantanal, dez tiveram queda na aplicação de multas em 2019 em relação a 2018. Entre eles está Corumbá, cidade com o maior número de focos de incêndio registrados nesta temporada e onde se investiga um possível início criminoso das queimadas no Mato Grosso do Sul.

“As pessoas acabam se sentindo livres para poderem cometer crimes ambientais, e isso vem sendo reforçado pelo próprio presidente”, diz à reportagem um brigadista do Ibama, em condição de anonimato. Segundo ele, o órgão tem encontrado dificuldades para embargar propriedades e destruir o maquinário utilizado nas infrações ambientais, o que compromete a fiscalização.

A reportagem procurou o Ibama, sobre a razão da diminuição das multas e se isso poderia incentivar crimes ambientes. O órgão não respondeu.

Em agosto, a Pública revelou situação parecida na Amazônia, onde as multas caíram em regiões com aumento de desmatamento. Na última terça-feira (15), a Polícia Federal deflagrou a Operação Tokens, que investiga fraudes no sistema de multas do Ibama em territórios da Amazônia Legal. Criminosos tinham acesso ao sistema de infrações, tirando o embargo de áreas multadas.

O fogo se espalha – e a desinformação também

Apesar de integrarem brigadas que combatem as queimadas, indígenas e brigadistas têm sido acusados nas redes sociais como responsáveis por elas no Pantanal. Em mensagens em grupos no WhatsApp, um grupo de indígenas é apontado por incendiar a vegetação. Contudo, de acordo com Eliane, trata-se de indígenas que, contratados pelo próprio Ibama, utilizam técnicas de queimada controlada, antes do período dos incêndios, justamente para evitar que estes se espalhem descontroladamente.

Conteúdos falsos compartilhados em redes sociais acusam indígenas e brigadistas de provocarem queimadas. Técnicos utilizam fogo controlado para retirar parte da vegetação, impedindo que incêndios se espalhem ainda mais

“Alguns fazendeiros em grupos de WhatsApp acusaram de serem os indígenas que tinham iniciado o fogo lá, e não é bem isso. Pelo contrário, a gente sabe que é o meio de queima de roça, que faz foco de fogo por causa disso”, conta Eliane Bakairi, da Federação dos Povos Indígenas do Mato Grosso.

De acordo com a Eliane, os indígenas são alvo também de acusações sobre a chegada do coronavírus na região. “Até o próprio Covid, somos acusados de levar o Covid. E não é verdade. Quem que trouxe pra gente? Como sempre, é o não indígena, e é o não indígena que tem dinheiro que traz as coisas ruins. Que vai passando pra todo mundo até chegar nos povos tradicionais”, desabafa.

Vídeos de brigadistas fazendo o manejo controlado do fogo foram utilizados para culpá-los pelos incêndios no Pantanal. O conteúdo falso afirmava que os funcionários do ICMBio tinham a intenção de prejudicar a imagem do presidente. “Existe todo um estudo técnico e científico para prescrever esse uso do fogo. E era isso que estava sendo feito naquele vídeo que circulou. Esse tipo de informação falsa que corre desconstrói todo um trabalho de anos que a instituição vem fazendo justamente para impedir que os incêndios florestais ocorram”, diz Luciano Pereira, morador de Cáceres e integrante do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (Icomos).

Metodologia da análise de dados:

1) Download dos dados abertos de multas aplicadas pelo Ibama. Foram exportadas, no dia 31 de agosto, as planilhas dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

2) Limpeza das planilhas

– Unimos as planilhas do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

– Filtramos os municípios que fazem parte do Pantanal (Aquidauana, Barão de Melgaço, Bodoquena, Cáceres, Corumbá, Coxim, Itiquira, Ladário, Lambari d’Oeste, Miranda, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Porto Murtinho, Rio Verde de Mato Grosso, Santo Antônio do Leverger e Sonora) e removemos as outras cidades da planilha.

– Filtramos as entradas de multas aplicadas no período de janeiro de 2011 a agosto de 2020 e removemos os registros de 1985 a 2010.

– Os registros duplicados foram removidos, totalizando 911 multas para análise, que podem ser vistas nesta planilha.

3) Download e limpeza dos dados de queimadas: a partir de dados do satélite de referência (AQUA-MT), fizemos a exportação dos dados espaciais de focos de queimadas no Pantanal em todo o ano de 2020.

4) Cruzamento entre os dados de geolocalização das áreas queimadas, áreas de conservação e TIs no Pantanal com os dados de Cadastro Ambiental Rural, para identificar se os primeiros focos de incêndio ocorreram em imóveis privados. O resultado pode ser conferido aqui.

 

*Bianca Muniz, Bruno Fonseca, Raphaela Ribeiro/Agência Pública

 

Mais um capítulo da tragédia nacional: Bretas e Witzel, padrinho e afilhado são punidos no mesmo dia

Com a mesma velocidade que surgiu na cauda da histeria midiática contra o PT, a meteórica ascensão do bolsonarismo se esfarela numa velocidade ainda maior.

Witzel sofre impeachment por corrupção e Bretas é punido por participação em evento político com Bolsonaro e Crivella.

Aparentemente há uma coincidência no fato de Witzel ver a aprovação pela Alerj do seu processo de impeachment no mesmo dia em que seu padrinho político, Marcelo Bretas, sofre uma amarga punição vinda do TRF-2, ou seja, de dentro do próprio ambiente jurídico.

É preciso entender isso por um ponto de vista amplo, porque sabe-se hoje que, enfim, Moro conseguiu sua carteira da OAB.

Aqui fala-se de três juízes de primeira instância, e é para esse ponto que tem que se atentar, que tiveram ascensão instantânea no país depois de, praticamente, uma década em que o judiciário se prestou à politicagem mais rastaquera de que se tem notícia na história do Brasil, deixando-se pautar pela mídia e pelos interesses nada republicanos que colocaram o judiciário de joelhos para o grande capital.

Em nome de um combate à corrupção, o STF aceitou ser protagonista da farsa do mensalão que serviu de degrau para a farsa da Lava Jato que, por sua vez, serviu de degrau para o militarismo representado pelo governo Bolsonaro chegar ao poder.

Hoje, para todos esses pontos em que se olha, que se concatenam pela mesma mentira, o resultado é igual, terra arrasada.

O STF nunca imaginou viver o inferno que viveu há pouco tempo por quem tinha o Supremo como o oráculo do antipetismo. Em seguida, foi Moro que se achou mais bolsonarista do que o próprio Bolsonaro, apostando numa popularidade efêmera e, hoje, além de amargar o ostracismo, vê a sua Lava Jato rebaixada a uma quadrilha de espertos que tentou, através de uma série de combinações, criar uma nova via para se chegar ao poder.

O resultado disso tudo foi o governo Bolsonaro com o aniquilamento completo do PSDB, que foi quem organizou essa barafunda em parceria com a Globo para sabotar e derrubar o governo Dilma.

O PSDB não existe mais, tanto que o Globo e o programa Roda Viva da TV Cultura farão homenagens póstumas ao túmulo do tucano desconhecido exaltando a múmia de FHC.

Ou seja, o PSDB não se sentindo satisfeito em quebrar o país três vezes durante o governo FHC, resolveu aniquilar com o país depois da quarta derrota consecutiva para o PT.

Hoje vê-se um governo de militares completamente incompetente em todas as áreas, produzindo a morte, até o momento, de mais de 134 mil brasileiros por Covid-19, incêndio de proporções catastróficas na Amazônia e pantanal, aumento exponencial da miséria e da fome, além da economia aos cacos que expões o Brasil ao vexame internacional, ao isolamento global e à marginalização do país no sistema financeiro mundial.

Isso tudo vem da mesma fonte, tanto que a imagem não mente quando se vê Witzel e Bretas comemorando juntos, no mesmo avião, o passeio à Brasília para a posse de Bolsonaro.

Nessa tragédia que o Brasil vive, mídia, Bolsonaro, Bretas, Crivella, Moro, Dallagnol, Lava Jato, STF, militares, PGR, estão todos juntos e misturados. Basta puxar um fio que vem o novelo inteiro.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

 

 

 

Juiz Bretas é condenado pelo TRF-2 por participar de atos ao lado de Bolsonaro

Ao participar de eventos ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, demonstrou uma desnecessária proximidade com políticos, comprometendo sua imparcialidade com magistrado.

Com esse entendimento, o Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES) concluiu, por 12 votos a 1, nesta quinta-feira (17/9), que Bretas praticou os atos de superexposição e autopromoção e o condenou à pena de censura.

Em 15 de fevereiro, Bretas participou, ao lado de Bolsonaro e Crivella, da inauguração da ligação da ponte Rio-Niterói com a Linha Vermelha e de um evento religioso na praia de Botafogo. No Twitter, negou que tivesse violado regras da magistratura. “Em nenhum momento cogitou-se tratar de eventos político-partidários, mas apenas de solenidades de caráter técnico/institucional (obra) e religioso (culto)”.

“Vale notar que a participação de autoridades do Poder Judiciário em eventos de igual natureza dos demais Poderes da República é muito comum, e expressa a harmonia entre esses Poderes de Estado, sem prejuízo da independência recíproca”, complementou.

O relator do caso, desembargador Ivan Athié, afirmou que os eventos não tinham nada a ver com o Judiciário. Portanto, a ida a eles ao lado de Bolsonaro e Crivella representou sua proximidade com os políticos, o que coloca em xeque sua imparcialidade. Até porque o juiz fez questão de divulgar os eventos em suas redes sociais.

Athié também apontou que Bretas entrou em contradição ao alegar que não sabia que haveria a inauguração da ligação da ponte Rio-Niterói com a Linha Vermelha, mas só o culto evangélico. Isso porque o próprio juiz federal anexou em sua defesa documento do gabinete pessoal da Presidência da República que informava a ocorrência do evento. Dessa maneira, o relator entendeu que Marcelo Bretas praticou os atos de superexposição e autopromoção.

No entanto, o magistrado avaliou que o juiz não exerceu atividade político-partidária. Afinal, acompanhar presidente ou prefeito em inauguração de obra pública fora do período eleitoral não configura essa infração, conforme precedente do Conselho Nacional de Justiça.

O vice-presidente da corte, desembargador Messod Azulay Neto, ressaltou que Marcelo Bretas não poderia ir aos eventos. O motivo disso é que ele passou a imagem de representar o Judiciário, o que só poderia ser feito pelo presidente do TRF-2, Reis Friede, ou quem fosse indicado por ele.

Na visão de Azulay Neto, a presença de Bretas em eventos ao lado de Bolsonaro e Crivella representa, sim, apoio a esses políticos. O desembargador também criticou a exposição excessiva do juiz federal.

“Eu não sei dizer o nome, por exemplo, do juiz da ‘lava jato’ de São Paulo ou de Brasília. Nunca vi os desembargadores Abel Gomes, relator, Paulo Espírito Santo, revisor, ou Ivan Athié, que integram a 1ª Turma Especializada do TRF-2 [que julga processos da operação], se manifestarem sobre qualquer processo da ‘lava jato’. Isso é um comportamento adequado.”

O desembargador federal Guilherme Couto de Castro afirmou que o procedimento administrativo disciplinar contra Bretas não enfraquece a operação “lava jato”, e sim reforça a imagem republicana do Judiciário.

Por sua vez, a desembargadora Simone Schreiber disse que diversos corregedores do TRF-2 alertaram Bretas sobre o risco de seu comportamento para a imagem da Justiça.

“Por cuidar da ‘lava jato’, que tem vários políticos envolvidos, a sua [de Bretas] responsabilidade é aumentada. Ele deve se conduzir de maneira reservada, se preservar, não permitir que políticos capitalizem para si resultados da ‘lava jato’. Não pode parecer que está dando apoio a segmentos políticos. Isso gera descrédito sobre a atuação do tribunal”, avaliou Simone.

Ela também opinou que magistrados não deveriam ter poder para decidir a destinação de recursos recuperados em processos. Segundo a magistrada, isso permite uma aproximação indevida de juízes com políticos, como ocorreu com Bretas e militares, como Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, e políticos, como Crivella.

De acordo com Simone Schreiber, o presidente está sempre em atividade politico-eleitoral. E Crivella irá disputar a reeleição neste ano.

 

*Do Conjur

 

Mortes por covid-19 cresceram nove vezes no período da gestão interina do general Pazuello

Marca da gestão até agora foi a defesa do uso da cloroquina. Militar tem como principal aposta acordo por vacina desenvolvida pela Oxford e AstraZeneca.

Depois de afastar dois médicos do cargo de ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro optou por colocar o general do Exército Eduardo Pazuello no comando. Ele assumiu a pasta em 15 de maio, logo após a saída de Nelson Teich, de quem era secretário-executivo. Pazuello é o terceiro titular da pasta durante a pandemia do novo coronavírus.

Em maio, no primeiro dia dele no cargo, o número de mortes pelo novo coronavírus no Brasil era de 14.817 e os casos confirmados, 218.223, segundo o próprio Ministério da Saúde. Na quarta-feira, 16, data em que Pazuello tomou posse como ministro, são 134.174 mortes confirmadas e 4,4 milhões de casos confirmados, segundo o consórcio de veículos de imprensa. O total de vítimas cresceu nove vezes no período.

A primeira ação efetiva de Pazuello no cargo, em maio, foi atender ao pedido de Bolsonaro que Luiz Henrique Mandetta e Teich, os dois antecessores, se recusaram: recomendar a cloroquina para todos os pacientes de covid-19. Em documento divulgado em 20 de maio, o ministério orientou a prescrição do medicamento desde os primeiros sinais da doença, apesar de vários estudos terem mostrado a falta de eficácia do medicamento. Pouco depois, o Ministério das Relações Exteriores informou que o governo dos Estados Unidos entregou ao Brasil 2 milhões de doses de hidroxicloroquina.

Em seguida, Pazuello acabou com as entrevistas coletivas diárias. Desde que havia começado a pandemia no Brasil, em março, o ministério concedia diariamente uma coletiva para a imprensa com números e novas informações sobre o combate à doença.

Em junho, após o governo Bolsonaro restringir o acesso a dados sobre a pandemia de covid-19, foi articulada uma parceria entre veículos de imprensa para manter a atualização diária dos números, com base nos dados das secretarias estaduais de Saúde. Os veículos Estadão, Folha de S.Paulo, O Globo, Extra, G1 e UOL fazem parte desse consórcio. Após essa iniciativa, o governo retomou a apresentação dos dados, mas sem entrevista coletiva.

Em seu primeiro discurso após ser efetivado como titular da Saúde, Pazuello pregou, nesta quarta-feira, a necessidade de diagnóstico precoce no tratamento de pacientes infectados pelo coronavírus e disse que as pessoas não deveriam ficar em casa “esperando a falta de ar”. Ele assegurou que o governo está preparado para enfrentar o período posterior à pandemia.

 

*João Prata/Estadão

 

Depois do golpe, insegurança alimentar atingiu quase 85 milhões de brasileiros

Situação é pior no Norte, onde apenas 43,0% das casas tinham acesso regular aos alimentos e no Nordeste (49,7%).

Em 2017-2018, a insegurança alimentar (IA) afetou os lares de 10,3 milhões de brasileiros que, em alguns momentos entre os dois anos após o golpe de estado de 2016, viveram com fome ou medo de inanição. Dos 68,9 milhões de domicílios do país, 36,7% estavam com algum nível de insegurança alimentar, atingindo, ao todo, 84,9 milhões de pessoas.

Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (17).

Na comparação com 2013, a última vez em que o IBGE investigou a situação da fome no país, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a insegurança alimentar aumentou 62,4% nos lares do Brasil.

De acordo com o IBGE, a insegurança vinha diminuindo ao longo dos anos, desde 2004, quando aparecia em 34,9% dos lares, 30,2% na PNAD 2009 e 22,6% na PNAD 2013.

Depois do golpe que destituiu a presidenta Dilma Rousseff acabando com a agenda dos governos petistas de desenvolvimento social, com justiça e inclusão social, e combate à fome, impondo novamente ao Brasil uma agenda de investimentos e de direitos sociais e trabalhistas, a insegurança alimentar subiu para 36,7%, ou seja, tem mais brasileiros passando fome ou comendo menos.

De acordo com a pesquisa, dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 25,3 milhões (36,7%) estavam com algum grau de insegurança alimentar no período 2017-2018. Deste total, 16,4 milhões (24%) com insegurança leve; 5,6 milhões (8,1%) moderada; e 3,1 milhões (4,6%) grave.

Na população residente, estimada em 207,1 milhões de habitantes, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões habitavam aqueles com alguma insegurança alimentar – 56 milhões em domicílios com insegurança leve, 18,6 milhões moderada e 10,3 milhões grave.

No Norte, apenas 43,0% das casas tinham pleno e regular acesso aos alimentos. No Nordeste, 49,7%; no Centro-Oeste, 64,8%; no Sudeste, 68,8%; e, Sul, 79,3%.

Os domicílios onde os homens predominam têm mais segurança alimentar (61,4%). Já onde as mulheres são as pessoas de referência da casa, a insegurança alimentar é maior e pode chegar a 51,9% de domicílios com IA grave.

O recorte por cor ou raça mostra que nos domicílios com pessoa de referência autodeclarada parda, em 36,9% tinham segurança alimentar, mas em mais de 50% foi constatado todos os níveis de insegurança alimentar (50,7% para IA leve, 56,6% para IA moderada e 58,1% para IA grave).

Insegurança alimentar grave atingiu 3,1 milhões de domicílios, onde viviam 10,3 milhões de pessoas

A condição de Segurança Alimentar (SA) reflete o pleno acesso dos moradores dos domicílios aos alimentos, tanto em quantidade suficiente como em qualidade adequada, de tal modo que a pessoa entrevistada sequer relata preocupação ou iminência de sofrer qualquer restrição alimentar no futuro próximo.

Já na Insegurança Alimentar Leve (IA leve) há preocupação com o acesso aos alimentos no futuro e já se verifica comprometimento da qualidade da alimentação, ou os adultos da família assumem estratégias para manter uma quantidade mínima de alimentos disponível aos seus integrantes.

Nos domicílios com Insegurança Alimentar Moderada (IA moderada), os moradores, em especial os adultos, passaram a conviver com restrição quantitativa de alimentos no período de referência.

O nível de Insegurança Alimentar Grave (IA grave) significa que houve ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo, quando presentes, as crianças.

Em 2017-2018, a POF estimou a existência de 68,9 milhões de domicílios particulares permanentes no Brasil. Deste total, 63,3% (43,6 milhões) estavam em situação de Segurança Alimentar, enquanto os outros 36,7% (25,3 milhões) estavam com algum grau de Insegurança Alimentar: leve (24,0%, ou 16,4 milhões), moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou grave (4,6%, ou 3,1 milhões).

Esse cenário foi proporcionalmente mais expressivo nos domicílios na área rural: lá, a proporção de IA grave foi de 7,1% (676 mil domicílios), acima do verificado na área urbana (4,1%, ou 2,5 milhões de domicílios).

Aquisição de grãos, farinhas, massas e pescados cresce segundo a insegurança alimentar

Quanto maior a gravidade da insegurança alimentar ( IA), menor aquisição alimentar domiciliar per capita anual de hortaliças, das frutas, dos produtos panificados, de carnes, de aves, de ovos, dos laticínios, dos açúcares, doces e produtos de confeitaria, de sais e condimentos, óleos e gorduras, bebidas e infusões e dos alimentos preparados e misturas industriais.

No sentido oposto, o aumento da IA refletiu diretamente apenas na aquisição de três grupos de alimentos específicos: os cereais e leguminosas, as farinhas, féculas e massas, e os pescados.

Confira aqui a íntegra da pesquisa.

 

*Marize Muniz/CUT

 

 

Vídeo – Criatura ataca o criador: “Corrupção para valer é com a família Marinho”, escreve Bolsonaro

Para ter a agenda econômica de destruição nacional, como sonhava a Globo, Bolsonaro teve total apoio dos Marinho.

A retomada neoliberal que a Globo queria está lhe custando um preço maior que esperava, mas assim mesmo ela segue sua veneração por Paulo Guedes, assim como venerou a agenda de desmonte de Temer depois do golpe em Dilma que ela liderou.

A catástrofe nacional que a própria Globo mostra em seus programas, vale a pena se a política de arrocho e desmonte de Guedes não for pequena. E não é.

O importante é que o sistema bancário parasitário do rentismo siga ganhando, mesmo que, para isso, Bolsonaro esculache a Globo, como fez em seu twitter.

O neoliberalismo do governo Bolsonaro diz a que veio. E é isso que interessa à Globo.

E se Bolsonaro compartilha no seu twitter uma matéria da Record acusando a Globo de corrupta, e o próprio faz a chamada dizendo:
“Corrupção para valer é com a família Marinho.”

Isso para a Globo sai pela urina.

O importante para Globo é a retomada da cartilha de FHC contra o país, já que nada cola nela dentro do judiciário.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas