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Moro interrogou Tony Garcia sobre a festa de desembargadores do TRF-4 com prostitutas em Curitiba

Joaquim de Carvalho*

Enquanto o Senado não vota o convite ou convocação para o seu depoimento, como quer o senador Rogério Carvalho, o empresário Antônio Celso Garcia, o Tony, continua revelando os segredos da organização liderada por Sergio Moro, que em 2014 recebeu o nome de Lava Jato.

Nesta sexta-feira, Tony Garcia postou trecho do depoimento que prestou a Sergio Moro e também aos procuradores da república Carlos Fernando dos Santos Lima e Januário Paludo em 2005. Nele, Tony é interrogado sobre a festa que reuniu desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4a. Região (TRF-4) e prostitutas no hotel Bourbon, e dá detalhes.

No depoimento, Tony Garcia menciona “festa da cueca”. O depoimento confirma que Moro e os procuradores estavam investigando o evento. Em entrevista à TV 247, Tony Garcia disse que a festa foi gravada por Sérgio Costa, então sócio do advogado Roberto Bertholdo, e acabou nas mãos de Moro.

O vídeo, no entanto, ainda não foi encontrado em nenhum processo, o que, para Tony Garcia, desperta a suspeita de que o então juiz possa tê-la usado para chantagear desembargadores. O fato é que Moro acabaria se transformando num juiz com poderes de exceção não coibidos pelo tribunal.

As festas seriam organizadas pelo advogado Roberto Bertholdo, que era influente no TRF-4 até ser preso, em 2005, por ordem de Moro, num episódio também nebuloso, que envolve interceptação telefônica do ex-juiz e testemunhos falsos, como o próprio Tony Garcia admitiu.

Carlos Fernando perguntou a Tony sobre a festa dos desembargadores com prostitutas:

“O senhor mencionou em outra oportunidade que o advogado Bertholdo costumava dar festa para esses desembargadores e etc. O senhor poderia descrever de que forma ficou sabendo e que tipo de festas eram essas?”.

Tony respondeu:

“Que ele falava que convidava, que quando eles viriam para cá… um evento desses, depois de um evento, por exemplo, eles tinham um jantar e tudo. Era uma festa que ele fazia com jantar e com mulheres”.

Segundo a transcrição do depoimento anexada a um processo que tramitou na Vara de Moro, Januário Paludo interveio:

“Tinha alguma coisa específica a respeito disso?”

“Como assim?”, reagiu Tony.

Carlos Fernando disse algo que não foi transcrito por estar incompreensível na gravação.

Tony comentou:

“Que seria assim, brincando, falavam que era a festa da cueca”.

“Por que isso? Qual a razão?”, perguntou Carlos Fernando.

Tony explicou:

“É que, depois de um certo tempo de bebida e a coisa transcorrendo normal, que todos ficariam seminus ou nus”.

Paludo pediu mais detalhes:

“Isso se repetiu durante quanto tempo, mais ou menos?”

“Ele me falava que tinha isso há um bom tempo. Há um bom tempo que ele tinha esse relacionamento”, respondeu Tony.

O próprio Moro perguntou:

“Mas esse tipo de festa teria ocorrido várias vezes?”

“Às vezes aqui (Curitiba), às vezes em São Paulo, às vezes Rio de Janeiro”, disse Tony.

“São Paulo e Rio de Janeiro?”, quis confirmar Januário Paludo.

“Às vezes”, reforçou Tony.

“Que lugares específicos ele mencionava em São Paulo?”, Paludo pediu detalhes.

“É fácil saber que é o hotel que ele usa lá também. Isso eu posso saber depois, mas também tinha… ele falou, vamos supor, evento. Tinha um evento no Rio de Janeiro, qualquer coisa assim, ele convidava e hospedava esses amigos dele”, recordou Tony.

“O senhor não sabe nenhum específico?”, perguntou Januário Paulo mais uma vez.

“Um evento específico?”, repetiu Tony.

“É, isso”, afirmou Paludo.

“Não. Mas específico que eu sei é esse do jogo do Brasil, esse específico, que houve aqui. Agora, de São Paulo e Rio de Janeiro, específico, mesmo, não. Contava assim, sabe… a título às vezes de bravata e às vezes a título até de mostrar intimidade que se tinha, até quando se conversava com cliente novo”, comentou Tony.

Januário Paludo insistiu nos detalhes:

“Quem fornecia comida e bebida? O senhor sabe quem é que fornecia comida e bebida, se era o próprio hotel ou ele contratava alguém para esse tipo de festa?”

“Não, quando era no hotel, era o próprio hotel”, contou Tony.

Paludo perguntou, então, sobre as prostitutas:

“E as mulheres, o senhor sabe de onde é que vinham, se tinha alguma boate específica?”

“Tinha a Mirle”, informou Tony.

Januário: “A Midley?”

Tony: “É, que ele falava que era a Mirle”.

Moro pediu confirmação: “Mirley?”

“Mirle, essa que foi presa aí”.

Sem o vídeo, pode-se duvidar do relato de Tony Garcia. Mas o que dá verossimilhança ao que ele diz é a investigação que envolveu a própria agenciadora de garotas de programa, Mirlei de Oliveira.

Moro também deu credibilidade a Tony Garcia, ao escrever, em uma sentença de 2005, que a colaboração dele com a Justiça Federal do Paraná foi “valiosa”.

“É forçoso reconhecer, na esteira do requerido pelo MPF, que a colaboração de Antônio Celso Garcia foi efetiva e valiosa para a Justiça”, acrescentou”, chancelou Moro.

O caso da festa da cueca, no entanto, ficou em alguma gaveta da 13a. Vara Federal de Curitiba, que era comandada por ele.

Tony Garcia expõe o esqueleto, ao apontar nos autos relatos comprometedores.

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Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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