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Bolsonaro não pode ver uma arma que logo atira nele mesmo

De fora da foto oficial na posse de Javier Milei na Argentina.

Já seria de bom tamanho para Bolsonaro a narrativa de que ele foi o primeiro líder estrangeiro a reunir-se com Javier Milei antes da posse do novo presidente da Argentina, e que fora ovacionado na chegada à cerimônia no Congresso.

Talvez por falta de programa melhor, Bolsonaro desembarcou em Buenos Aires antes dos demais líderes da extrema direita internacional. Natural, pois, que fosse o primeiro a ser recebido por Milei. Quanto à ovação, confira no vídeo abaixo.

Bolsonaro sabe tirar proveito de multidões. A que se postou diante do Congresso estava ali para ouvir Milei e aplaudir os convidados. Bolsonaro foi ao encontro da turba, estendeu a mão atrás de apertos e ouviu um coro que gritava seu nome.

Valeu a demorada exposição ao sol. Seus assessores deram-se por satisfeitos com as imagens a serem postadas nas redes sociais, mas ele não. Queria mais. E, num lance ousado, tentou se infiltrar na foto oficial de Milei com chefes de Estado.

Deu ruim, segundo a Folha de S. Paulo. Luis Lacalle Pou (Uruguai), Santiago Peña (Paraguai), Gabriel Boric (Chile) e Daniel Noboa (Equador) manifestaram contrariedade, dizendo que seria imprópria a presença de um ex-chefe de Estado na foto.

Ainda mais em se tratando de um adversário do presidente do Brasil, representado na posse por Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores. Vieira foi o primeiro a cumprimentar Milei na Casa Rosada, sede do governo argentino.

Ninguém perguntou a Bolsonaro sobre o tamanho das manifestações convocadas por seus aliados no Brasil para protestar contra a indicação de Flávio Dino para ministro do Supremo Tribunal Federal — ou, se perguntou, ele calou-se.

A maior delas ocorreu na tarde do domingo na Avenida Paulista e ocupou duas vias em torno do Museu de Arte de São Paulo. Uma das faixas penduradas em um carro de som dizia:

“Senador que vota em comunista vota contra o Brasil e contra a liberdade”.

Os oradores apelaram para o discurso do medo, afirmando que Dino no Supremo significará “a legalização do aborto, a censura e a perseguição aos patriotas conservadores”. Foram ouvidos por quantas pessoas na hora do maior pico de gente?

Cerca de 5,6 mil pessoas marcaram presença no ato às 15h45, de acordo com levantamento do Monitor do Debate Político no Meio Digital, grupo de pesquisa da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo.

Em Brasília, o ato na Esplanada dos Ministérios ocorreu pela manhã, sob um sol forte e temperatura de 30 graus. Algumas centenas de pessoas deram o ar de sua graça. A Polícia Militar disse que não divulga estimativa de público.

A oposição planeja transformar a sabatina de Dino no Senado em uma extensão da CPI do Golpe. Quer desgastá-lo para tentar barrar sua nomeação. Das vezes que os bolsonaristas bateram boca com Dino no Congresso, perderam feio.

Acabaram achincalhados por ele. Desta vez, Dino está orientado a responder às perguntas como se fosse um lorde inglês. Não será fácil para ele. Sua aprovação é dada como certa na Comissão de Justiça e no plenário do Senado.

No plenário, ele precisa de 41 votos de um total de 81. Deverá ter entre 50 a 52. A conferir.

*Blog do Noblat

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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