Dia: 11 de fevereiro de 2024

A tentativa de autogolpe estava escrito nas estrelas

A pergunta que mais foi feita durante a campanha de 2018, era se, chegando ao poder, Bolsonaro e os militares que o cercavam não tentariam um autogolpe, porque Bolsonaro nunca inspirou confiança. Mourão, idem, tanto que os dois se atrapalharam quando perguntados sobre o risco de um autogolpe.

É difícil dizer quanto tempo os militares queriam se manter no comando do país e, sobretudo, qual a intenção. Eles não tinham qualquer projeto e, assim, governaram para os ricos contra os pobres. Por isso, Bolsonaro se tornou o queridinho da Faria Lima.

Por outro lado, Bolsonaro devolveu 33 milhões de brasileiros à miséria e o Brasil ao mapa da fome.

Agora, fica claro que a desconfiança de que Bolsonaro e seus generais tentariam uma aventura golpista que, certamente não ocorreu, porque não tiveram apoio dentro dos próprios quartéis e boa parte da burguesia, mas sobretudo dos EUA e muitos países da Europa prometiam retaliações que liquidaria a economia brasileira.

Três versões da ‘minuta do golpe’ e documento pedindo prisão de ministros do STF e de Pacheco engrossam material golpista apreendido pela PF

Apurações da PF indicam que no entorno de Bolsonaro havia uma equipe para assessorar e elaborar documentos e decretos com fundamentação jurídica e doutrinária.

Pelo menos três versões de minutas que revelam objetivos golpistas foram citadas nas investigações ou encontradas em endereços de aliados próximos a Jair Bolsonaro desde o fim de sua gestão. Apurações da Polícia Federal (PF) indicam que no entorno do ex-mandatário havia uma equipe para assessorar e elaborar documentos de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem os interesses de manter o grupo no poder.

Um dos quatro alvos de mandados de prisão, na última quinta-feira, o ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe Martins, teria entregue a Bolsonaro uma minuta que detalhava supostas interferências do Poder Judiciário no Executivo e decretava a prisão de autoridades. A defesa de Martins diz que ele está submetido a uma “prisão ilegal”.

Segundo os investigadores, Bolsonaro teria lido o documento e solicitado que o assessor alterasse as ordens contidas na minuta, que teria sido entregue novamente, com as alterações. Segundo a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, entre as alterações solicitadas, estava a retirada da ordem de prisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mantendo no texto apenas a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

A PF aponta que, uma vez atendida a solicitação e apresentada a nova versão da minuta, Bolsonaro teria concordado com os termos ajustados e convocado os chefes das Forças Armadas, para que comparecessem ao Alvorada, no mesmo dia, a fim de apresentar a minuta e “pressioná-los a aderir ao golpe de Estado”.

No despacho em que deferiu a operação, Moraes enumerou núcleos de atuação do suposto grupo criminoso que atuava para manter Bolsonaro no poder. Entre esses grupos, haveria o “Jurídico”, justamente o que tratava das minutas.

O documento citado é a terceira minuta de teor golpista revelada pelas investigações. Em janeiro de 2023, um documento apócrifo foi apreendido na casa do ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres.

A minuta propunha a instauração de um Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de reverter o resultado das eleições de 2022, em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vencedor. Em seu depoimento na CPI dos Atos Golpistas, Torres classificou a minuta como “imprestável” e negou conhecer sua origem.

– A polícia encontrou um texto apócrifo, sem data, uma fantasiosa minuta, que vai para coleção de absurdos que constantemente chegam aos detentores de cargos públicos — disse. — Basta uma breve leitura para que se perceba ser imprestável para qualquer fim, uma verdadeira aberração jurídica. Este papel não foi para o lixo, por mero descuido.

No início do segundo semestre do ano passado, a PF também encontrou no celular do coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, a minuta de um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e alguns “estudos” que seriam destinados a dar suporte a um eventual golpe de Estado. A defesa de Cid disse que só vai se manifestar depois que tiver acesso às investigações.

A GLO é uma operação militar que permite ao presidente da República convocar as Forças Armadas em situações de perturbação da ordem pública. Na decisão que autorizou o depoimento de Cid, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que o oficial “reuniu documentos com o objetivo de obter suporte jurídico e legal para a execução de um golpe de Estado”.

Além dessas minutas, a Polícia Federal encontrou na sala de Bolsonaro na sede do PL, em Brasília, na quinta-feira, documento que previa uma “declaração” de estado de sítio e um “decreto” de GLO no país.

Em entrevista na noite de sexta-feira, o ex-presidente minimizou o teor do texto e negou ter relação com o documento que, segundo Bolsonaro, seria peça de um processo solicitado por ele para tomar conhecimento.

— O presidente não decreta estado de sítio. Ouve o Conselho da República e encaminha para o Congresso. Isso não é golpe — afirmou à “TV Record”, de sua casa em Angra dos Reis (RJ).

 

A derrocada a jato do general Walter Braga Netto

Walter Braga Netto tinha a expectativa de ser vice-presidente da República, mas tornou-se um dos nomes mais encrencados na trama golpista.

Foi dura a queda de Walter Braga Netto. O general, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro em 2022, figura como um dos nomes mais encrencados nas investigações da Polícia Federal contra os golpistas que circundavam o ex-presidente.

Braga Netto chegou a ser cotado como o candidato bolsonarista à Prefeitura do Rio de Janeiro. Descartou a ideia por alimentar o sonho de se lançar na disputa pelo Senado em 2026, mas acabou inelegível, ao ser condenado pelo TSE por instrumentalizar as festividades do 7 de Setembro.

Na quinta-feira (8/2), o general foi alvo de mandados de busca e apreensão e entregou o passaporte às autoridades. Mensagens de WhatsApp mostraram Braga Netto instruindo ataques aos chefes do Exército e da Aeronáutica, que não teriam aderido ao plano golpista formulado com a anuência de Bolsonaro, diz Guilherme Amado, Metrópoles.

Braga Netto tornou-se conhecido da população ao ser nomeado interventor federal na segurança do Rio de Janeiro pelo então presidente, Michel Temer, em fevereiro de 2018. Na época, os feitos do general quatro estrelas ganharam destaque na imprensa, mas a intervenção em nada mudou a situação do Rio.

No governo Bolsonaro, Braga Netto atuou como ministro-chefe da Casa Civil, entre fevereiro de 2020 e março de 2021, e ministro da Defesa, entre março de 2021 e abril de 2022.

PF suspeita de que Carlos Bolsonaro tinha celular para ser apreendido

Polícia Federal apreendeu celular de Carlos Bolsonaro em operação no último dia 29.

A Polícia Federal suspeita que Carlos Bolsonaro tinha um celular propositalmente preparado para ser apreendido. Os agentes tiveram a mesma impressão sobre um celular de Bolsonaro que foi coletado numa operação do ano passado.

Esses aparelhos, estranhamente, não tinham vestígios de que eram efetivamente usados. Os aplicativos de mensagem não tinham registros longos de conversa nem muitos aplicativos instalados, segundo Guilherme Amado, Metrópoles..

Se confirmada a hipótese, significaria que os verdadeiros aparelhos de ambos, os que de fato eram usados no dia a dia, ainda podem estar por aí, escondidos ou aos estilhaços.

 

OTAN defende intensificar produção de armas e preparar ‘confronto de décadas’ contra a Rússia

Secretário-geral Jens Stoltenberg afirmou que países membros da aliança militar devem ‘reconstruir e expandir mais rapidamente’ sua base industrial.

Em coletiva ao jornal alemão Welt am Sonntag, publicada neste sábado (10/02), o diplomata norueguês Jens Stoltenberg, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), afirmou que os países membros da aliança militar foram aconselhados a incrementar a produção de armas nos próximos anos.

Segundo o chefe da OTAN, esse reforço na fabricação de novos armamentos deve ter como objeto a preparação para um possível “confronto de décadas” contra a Rússia.

“A OTAN não procura uma guerra com a Rússia, mas devemos nos preparar para um confronto que poderá durar décadas”, explicou Stoltenberg.

Em outro trecho da entrevista, o diplomata norueguês disse que os países da aliança devem “reconstruir e expandir sua base industrial o mais rapidamente, para aumentar o fornecimento à Ucrânia e reabastecer suas reservas próprias”.

Jens Stoltenberg afirma que países de Otan devem se preparar para possível conflito prolongado contra a Rússia
“Isso significa passar do atual ritmo de produção mais lento, típico de tempos de paz, para uma produção rápida, mais adequada a tempos de conflito”, ressaltou.

Polêmica surgida na Alemanha

As declarações de Stoltenberg surgem em meio a um debate que acontece principalmente na Alemanha, após o ministro da Defesa desse país, Boris Pistorius, afirmar que Berlim está se preparando para um possível ataque de Moscou.

“A dissuasão é o único meio eficaz de se posicionar antecipadamente contra um agressor. Se formos atacados, devemos ser capazes de travar uma guerra. Isso é crucial. Temos de nos preparar para isso”, afirmou o ministro germânico.

*Opera Mundi

De software a agente infiltrado, PF aponta como governo Bolsonaro buscou vigiar adversários

Investigações revelam que antiga gestão operou estrutura paralela de inteligência com objetivo de manter o ex-presidente no poder.

As operações recentes envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados mais próximos trouxeram à tona indícios de que o antigo governo lançou mão de uma estrutura paralela de inteligência com monitoramento de viagens de autoridades, infiltração de agentes e uso de programa espião. Todo esse aparato, segundo apontam investigações da Polícia Federal, foi operado para espionar adversários políticos e minar o processo eleitoral em 2022, com o objetivo de manter o ex-mandatário no poder.

Esse núcleo de inteligência paralela, conforme revelam os inquéritos, tinha duas frentes de atuação. A primeira envolvia uma atividade mais informal desempenhada por auxiliares próximos do ex-presidente, responsáveis por levantar informações clandestinas para ajudar na “consumação do golpe de Estado”. A segunda era encabeçada pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que coletavam dados do interesse pessoal de Bolsonaro sobre adversários.

A existência de uma “Abin paralela” foi apontada, em março de 2020, pelo ex-secretário geral da Presidência Gustavo Bebianno, que rompeu com Bolsonaro logo no início do governo. Em entrevista ao “Roda Viva”, ele afirmou que o vereador Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente, não confiava na agência de Inteligência. A desconfiança foi abordada pelo próprio Bolsonaro em uma reunião ministerial em abril daquele ano.

— Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que tem oficialmente, desinforma — disse ele, na ocasião.

A defesa do ex-presidente disse que ele não “atuou ou conspirou contra a Constituição e o estado democrático de direito”. A Abin e o GSI não se manifestaram, mas, anteriormente, já informaram que colaboram com as apurações.

Um dos alvos centrais do núcleo de inteligência paralela era o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrante do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado era responsável por conduzir o processo de votação em 2022 e pelos principais inquéritos envolvendo o ex-presidente e seu entorno.

De olho nisso, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e o coronel Marcelo Câmara, que também assessorava o então presidente, trocavam informações sobre os passos de Moraes. Em dezembro de 2022, os dois militares conversaram em mensagens sobre os voos dele entre Brasília e São Paulo — as viagens citadas coincidiram com o itinerário feito pelo ministro naquela ocasião. Os homens de confiança de Bolsonaro estavam dispostos, de acordo com o inquérito, a prender Moraes em 18 de dezembro de 2022, num plano eu envolvia a tomada do poder.

“As circunstâncias identificadas evidenciam ações de vigilância e monitoramento em níveis avançados, o que pode significar a utilização de equipamentos tecnológicos fora do alcance legal das autoridades de controle”, diz a PF.

Auxiliar mais próximo a Bolsonaro, Cid concentrava as informações que chegavam ao presidente no mesmo período em que participava diretamente das discussões sobre o plano de ruptura institucional — uma minuta com teor golpista foi encontrada no celular dele. Câmara era responsável por checar relatos que chegavam a Bolsonaro via WhatsApp, principal fonte de informações usada por ele.

*Da coluna de Bernardo Mello Franco/O Globo