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Para se vingar do STF, Hugo Motta se alia a bolsonaristas em pautas-bombas

Em Nova York, onde participa de eventos ao lado de lideranças da terceira via e da burguesia brasileira, Hugo Motta (Republicanos-PB) mostrou irritação com a derrubada da manobra, aprovada a toque de caixa pela Câmara, para livrar Jair Bolsonaro (PL) e o núcleo crucial da quadrilha golpista na esteira de uma ilusória imunidade parlamentar do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Abin que foi eleito em meio à articulação do golpe em 2022.

Além de apresentar uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para que o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) avalie a decisão da primeira turma que impediu uma manobra da oposição bolsonarista na Câmara, o deputado Motta está buscando colocar em votação pautas-bomba para desafiar o judiciário.

Uma das propostas inclui a formação de uma comissão para analisar a PEC 8/2021, que limita o poder dos ministros do STF de derrubar, por decisão monocrática, leis aprovadas pelo Congresso. A PEC, que foi aprovada em outubro pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ficou paralisada devido a um entendimento prévio com o STF, mas agora Motta planeja retomar a análise e pôr a proposta em votação em dois turnos no plenário antes de ser novamente revisada pelos senadores.

Adicionalmente, existem dois Projetos de Lei, parte de um pacote anti-STF sugerido pelos bolsonaristas, que foram aprovados na mesma sessão da CCJ e que permanecem sem votação. Um desses projetos tipifica como crime de responsabilidade a usurpação de competências do Legislativo ou do Executivo por ministros do STF, enquanto o outro busca penalizar ministros com processo de impeachment por comentarem sobre processos pendentes ou por adotarem decisões que usurpem as funções do Legislativo, criando normas que seriam de competência exclusiva do Congresso Nacional.

Aproveitando a crescente tensão entre Motta e o STF, os bolsonaristas também protocolaram três novos Projetos de Lei esta semana, intensificando a hostilidade contra o poder judiciário. Na terça-feira (13), a bancada bolsonarista subscreveu um PL liderado por Gustavo Gayer (PL-GO) que visa revogar os artigos 359-L e 359-M do Código Penal Brasileiro, que foram instituídos pelo próprio Bolsonaro em 2021.
Os dois artigos em questão caracterizam crimes contra o “Estado Democrático de Direito” e foram mencionados na ação contra o ex-presidente e sua suposta quadrilha ao tentar um golpe de Estado. Os artigos 359-L e 359-M tipificam, respectivamente, “tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído” e “tentar abolir o Estado Democrático de Direito”.

No entanto, Gayer aponta que a redação desses artigos é vagamente formulada e carece de objetividade, o que torna sua aplicação suscetível à interpretação subjetiva por autoridades judiciárias e pelo Ministério Público, ferindo o princípio da legalidade estrita do Estado de Direito. Ele solicita, portanto, a revogação dos artigos.

Segundo ele e a bancada bolsonarista, essa incerteza já se concretizou nos últimos anos, especialmente com o uso desses dispositivos por tribunais superiores, como o Supremo Tribunal Federal (STF), para reprimir manifestações políticas, sociais e ideológicas. De acordo com a Forum, o Projeto de Lei (PL) visa, portanto, liberar a articulação e a tentativa de implementar um golpe de Estado no Brasil.

Além disso, dois deputados bolsonaristas, incluindo o Sargento Gonçalves (PL-RN), apresentaram uma proposta semelhante, afirmando que o PL se destina a garantir os princípios constitucionais da liberdade de expressão, do direito de reunião e da segurança jurídica.

Alberto Fraga (PL-DF), um antigo aliado de Bolsonaro, ressalta a necessidade de discutir essa legislação penal com a sociedade, argumentando que os tipos penais que se busca abolir estão sendo utilizados para perseguições políticas. Em resumo, o debate gira em torno da ambiguidade das leis e suas implicações potenciais sobre a liberdade de expressão e as manifestações democráticas no Brasil.

 

Por Celeste Silveira

Produtora cultural

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