A luta gigantesca empenhada em tirar Bolsonaro do atoleiro político é de fato intensa, porém, o capítulo que, segundo Bolsonaro, fará com que adquira musculatura política, entregando basicamente seu destino nas mãos do centrão, pode lhe criar muito mais embaraços.
Estamos falando de um grupo, uma frente ou seja lá o que for que caracteriza o centrão que é, antes de qualquer coisa, pragmaticamente fisiológica, é a mais clara tradução do toma lá dá cá, aqui e acolá.
Mas Bolsonaro, no desespero de se salvar, parece ignorar isso, ou pelo menos finge ignorar, pois é isso ou isso. Hoje, não há margem de manobra para mais nada.
Bolsonaro carrega nas costas a culpa pelo morticínio provocado pelo governo claramente genocida que até a chegada da CPI a sociedade imaginava que se limitava à ideia absurda e cômoda de Bolsonaro e os asseclas que o cercam que bastaria 70% da população se contaminar com o coronavírus, não importando quantos morressem, que se chegaria à imunidade de rebanho, tese que já foi repudiado pelo mundo inteiro, que chegou à conclusão de que o grau de letalidade seria gigantesco, além de um número inimaginável de reinfecção.
Mas o mais grave foi descoberto pela CPI que revelou uma teia de corrupção instalada dentro do ministério da Saúde com a compra de vacinas envolvendo muitos militares da alta patente.
Mas não só isso, os militares deixam de ser os protagonistas do governo a partir do momento em que foram obrigados a passar o bastão para o centrão.
O fato é que não há qualquer sinal de recuperação econômica que possa, até a eleição de 2022, trazer benefícios para a população com o desemprego que não para de bater recorde. É possível que o aumento de 50% do Bolsa Família, anunciado pelo governo, traga algum cisco de popularidade. Talvez, com isso, compense um pouco a perda de muitos seguidores do ex-mito, por conta da sua aliança com o centrão.
Há também a possibilidade de fazer uso político eleitoral de uma nova rodada de auxílio emergencial, mas há o risco do enfurecimento do mercado, que é, em última análise, quem está segurando Bolsonaro pelos fundilhos.
A inoperância do governo, a incapacidade dos militares de governar é assombrosa. E se Bolsonaro, em dois anos e meio, não apresentou rigorosamente nada, como é tradição do clã metido na política, não será em um ano e meio, mesmo jogando pesadamente com a máquina do governo nas mãos, que Bolsonaro vai recuperar alguma coisa que dê a ele a reeleição. Não dá para esquecer que ele só cresceu em 2018 porque Lula foi impedido de se candidatar.
Dois detalhes, em 2022 Lula estará no páreo e, como mostram as pesquisas, tem uma invejável vantagem sobre Bolsonaro, além de lembrar que um dos pontos mais fortes do pragmatismo do centrão, assim como Bolsonaro, é a traição que ele exerce sem corar.
Isso que foi aqui narrado ainda prima pelo otimismo, porque a CPI ainda pode trazer revelações que, muito mais que tirá-lo da cadeira da presidência, poderá levá-lo direto para a prisão.
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