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Capitólio: não foi “acidente”

Álvaro Nascimento – Anos atrás fui ao sul da França, numa viagem curta com meu filho e minha nora. Depois de assistirmos a um festival de jazz em Carcassone, viajamos a Nimes e de lá decidimos passar um dia ensolarado em Cassis, no litoral, onde um dos baratos é pegar um barco (há dezenas deles) para visitar os famosos calanques, espécies de cânions, que na verdade são grandes penhascos que se abrem em enormes grutas banhadas por um de mar cristalino de um azul impressionante. Os calanques são uma verdadeira obra de arte da natureza (foto anexa).

 

Calanque no sul da França

Era um dia de sol forte, céu azul, praia cheia e logo que chegamos fomos atrás de um barco que nos levasse aos calanques. No cais, a decepção. Nenhum barco poderia sair naquele dia. Estranhamos, claro, pois a cidade estava cheia de turistas, estrangeiros e franceses de férias, o dia estava lindo, céu azul, sem nuvens, o mar calmo com ondinhas de no máximo um metro na arrebentação. Mas os barcos não iam sair “à cause du vent” (por causa do vento). Nós três nos entreolhamos, rindo, nos perguntando: “Vento? Que vento?”. Realmente era uma brisa de média pressão, apenas, que para nós não justificaria a proibição. Mas nos explicaram que se houvesse uma rápida elevação do vento, ela poderia jogar um barco contra as rochas, causando um acidente mais sério. Então, ninguém poderia se aproximar dos calanques naquele dia. Batemos os ombros, conformados, e fomos para a praia, passeamos pela cidade e no final do dia retornamos a Nimes.

Por que conto esta história? O Instituto de Meteorologia está há dias informando que haveria a incidência de fortes chuvas em Minas Gerais, citando inclusive a região de Capitólio. Os alertas meteorológicos não foram poucos.

Depois do que ocorreu neste final da manhã, resultando em oito mortos (até agora), duas pessoas desaparecidas e de 30 feridos, além das perdas materiais e econômicas momentâneas e futuras, o porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o tenente Pedro Aihara, declarou que o “acidente” ocorreu por causa de uma “cabeça d’água”:

– É um local que tem um tipo de rocha mais suscetível a processos erosivos e de intempéries. Como a gente tem chuvas muito intensas neste mês, aparentemente teve uma aceleração considerável desse processo erosivo, que acabou gerando o desprendimento dessa rocha, explicou.

Já a Marinha do Brasil informou que um inquérito será aberto para investigar “as causas do acidente”. Aposto um mês de meu salário como a Marinha concluirá que a culpa é da natureza.

Postagem de Flávio Freitas em 2012 já previa que a pedra ia despencar um dia

Resumindo:

1. O Instituto de Meteorologia informa há dias a incidência de chuvas fortes e acima do normal na região. Isto foi reafirmado ontem, véspera do que, segundo os bombeiros, foi um “acidente”;

2. Sabidamente, aquele ponto do Lago de Furnas recebe a vazão de vários rios, que ali se transformam em cachoeiras;

3. Com chuvas fortes como as previstas há dias, a possibilidade da ocorrência de “cabeças d´água” cresce enormemente;

4. O local exato (cânions tipo calanques) onde estavam estacionados os barcos mineiros, segundo os próprios bombeiros “tem um tipo de rocha mais suscetível a processos erosivos e de intempéries”, propensos em momentos de chuvas mais fortes a uma aceleração considerável de um “processo erosivo”.

Assim que vi os barcos de Minas Gerais sendo apanhados pelo rochedo que se desprendeu, me veio à mente aquele dia de sol, céu azul, uma leve brisa em Cassis e a proibição de saída dos barcos, devido apenas à possibilidade dos ventos virem a aumentar.

A pergunta é: dá para chamar de “acidente” o que ocorreu hoje em Capitólio?

*Por Álvaro Nascimento/Jornalistas livres

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Vídeo: Paredão de cânion em Capitólio (MG) desmorona sobre lanchas; 1 morte confirmada e 15 feridos com gravidade

Uma estrutura rochosa desabou na região dos cânions de Capitólio, em Minas Gerais, a 293 km de Belo Horizonte, neste sábado (8), atingindo lanchas com turistas que visitavam o local.

O Corpo de Bombeiros informou que o acidente teria relação com uma tromba d’água e que três lanchas teriam sido atingidas.

Segundo o porta-voz do Corpo de Bombeiros de MG, Pedro Aihara, há informações preliminares de 15 feridos e um óbito, ‘podendo evoluir para dois’.

*Com informações do 247

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Cientistas projetam que Brasil pode ter 1 milhão de casos diários de Covid em duas semanas

Estimativa da Universidade de Washington aponta que números atuais já são muito superiores aos oficiais.

Em duas semanas, o Brasil pode chegar a um milhão de pessoas infectadas por dia com Covid. A projeção, feita pela Universidade de Washington (EUA), considera que os casos são muito superiores aos dados oficiais e devem mais do que dobrar em 15 dias, informa a Folha.

O país vive um apagão de números sobre a doença, portanto não se sabe o tamanho da onda de contaminações impulsionada pela variante ômicron atualmente. Isso porque os sistemas de notificação do Ministério da Saúde estão instáveis há um mês, após ataques hackers, e não há uma política ampla de testagem.

A universidade estima que 468 mil pessoas tenham sido infectadas no Brasil apenas nesta sexta (7), incluindo aquelas que não fizeram exames. A quantidade é quase nove vezes superior aos testes positivos registrados pelos estados nas últimas 24 horas (53.419, segundo o consórcio de veículos de imprensa).

Seguindo a projeção, o país deve chegar a 1 milhão de infectados no dia 23 de janeiro e a um pico de 1,3 milhão em meados de fevereiro.

A estimativa é dez vezes maior do que o número registrado no auge da doença no Brasil, em março do ano passado, quando foram quase 100 mil casos positivos por dia.

Segundo a epidemiologista Fátima Marinho, integrante da rede de pesquisadores que envia os dados brasileiros à Universidade de Washington, a projeção é baseada num cálculo complexo, considerando vários fatores de cada país, e é bastante confiável a curto prazo.

“Esse aumento para 1 milhão em duas semanas é plausível, porque o modelo aplica o que já se sabe da doença nos EUA e na Europa, por exemplo, que têm números muito apurados. Na Inglaterra o teste é gratuito em qualquer farmácia e vai direto para o sistema do governo”, diz.

De acordo com ela, é esperado que a doença siga neste ano o mesmo caminho dos últimos dois anos: um aumento durante o inverno no hemisfério norte, depois uma alta nas transmissões no Brasil em janeiro e fevereiro, com um pico em março.

“Vamos repetir, como temos repetido todo ano. Não tem por que o cenário ser diferente dos outros anos e dos outros países. É impressionante que o governo não faça nada, sabendo antecipadamente o que vai acontecer”, critica a professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

O ritmo de crescimento projetado para as mortes, porém, é muito inferior. Os cálculos indicam que o país pode chegar a 313 óbitos diários por Covid em duas semanas, apenas 12% a mais do que as 279 mortes estimadas para esta sexta. Ainda assim, a projeção é bastante superior ao registro oficial dos estados, que foi de 148 nas últimas 24 horas.

Segundo especialistas, a menor letalidade da doença está ligada à menor gravidade da variante ômicron e ao avanço da cobertura vacinal no país. O Brasil tem 78% da população com ao menos uma dose da vacina, 68% com o primeiro ciclo de imunização completo e 13,4% com o reforço.

Os dados registrados pelos estados indicam que, enquanto a média móvel de casos cresceu 639% em relação aos dados de duas semanas atrás, a média de mortes continua estável, ou seja, não teve variações superiores a 15% nesse período.

“Felizmente, temos a vacina para evitar uma tragédia como a que vimos no ano passado, em relação às mortes. Mas, se quisermos o controle da situação e evitar que novos óbitos ocorram, precisamos saber a quantidade de casos. Com a política atual de testagem, não teremos esse controle”, diz Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Para os especialistas, exatamente pela falta de testagem no país, os dados oficiais não devem alcançar os da projeção. No entanto, eles dizem que, mesmo com a subnotificação, o registro de casos confirmados deve dobrar até a próxima semana.

“O dado oficial nunca vai chegar nem perto do número real de infectados porque não testamos. As informações que teremos nos próximos dias serão apenas daquelas pessoas que se infectaram e tiveram sintomas mais graves e, por isso, foram testadas”, diz Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, projeto da USP e Unifesp que monitora a pandemia.

Os especialistas explicam que a subnotificação ocorre principalmente pela falta de testagem em massa, o que leva, em geral, à contabilização apenas dos sintomáticos moderados a graves, e a um atraso, ou, muitas vezes, à ausência completa do registro dos casos.

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Comandante da Marinha usou avião da FAB para passar Natal no Rio

Agenda do almirante Garnier não aponta nenhum compromisso oficial, contrariando decreto de Bolsonaro; Marinha silencia.

O comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para passar o Natal no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu. O comandante não informou ter cumprido nenhum compromisso oficial no período, o que contraria as regras para o uso de aviões da FAB por autoridades, informa Guilherme Amado, Metrópoles.

Garnier e outras cinco pessoas, cujos nomes são mantidos em sigilo, saíram de Brasília às 13h10 do dia 24 de dezembro, uma sexta-feira, véspera de Natal, em um avião da FAB. Quatro dias depois, um voo da FAB com o comandante e mais cinco acompanhantes partiu do Rio de Janeiro às 16h10 do dia 28 de dezembro, uma terça-feira.

A FAB aponta que a viagem foi a serviço, o que não foi comprovado pela Marinha. O decreto que regulamenta o uso desses aviões mantidos com dinheiro público, assinado por Jair Bolsonaro no início de 2020, aponta que no caso de viagens a serviço é necessário registrar em agenda oficial o compromisso público da autoridade. Isso não aconteceu.

A agenda oficial de Garnier não mostra compromisso oficial algum no período em que o militar esteve no Rio de Janeiro. Segundo os documentos públicos, a única atividade de trabalho que o almirante cumpriu na capital carioca foi “despachos internos” em 28 de dezembro, na manhã antes do voo. Ou seja: o comandante poderia ter voado de FAB apenas no dia 28, e não quatro dias antes, logo antes do Natal.

Em outras ocasiões, fora das festas de fim de ano, Garnier cumpriu o decreto. Em 15 de dezembro, uma quarta-feira, por exemplo, o almirante foi ao Rio de Janeiro ainda de manhã. Sua agenda mostra que ele participou de duas cerimônias oficiais na cidade a partir das 10h.

A Marinha foi questionada por três vezes desde o último dia 27, mas não obteve resposta. A Força se recusou a responder o motivo da viagem do comandante e quem eram os outros integrantes da comitiva.

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Mais de 36 mil militares da FAB e do Exército não se vacinaram contra a covid

Quase metade dos militares ainda não está completamente imunizada. Dados foram obtidos na LAI (Lei de Acesso à Informação).

Enquanto a imunização avança em todo o país, quase metade dos integrantes do Exército e da Aeronáutica ainda não está devidamente vacinada contra o novo coronavírus. O número de militares que se negaram a receber o imunizante é 32,2 mil (15%) e 4,3 mil (6,6%) nas respectivas Forças (12,96% nas duas juntas).

Dados obtidos com exclusividade pelo Metrópoles por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), revelam que cerca de 121,2 mil integrantes do Exército e 36,5 mil da Força Aérea Brasileira (FAB) foram completamente imunizados contra a Covid. Na prática, isso representa 56,3% e 54,9%, respectivamente, do total de militares das duas Forças.

A Marinha se recusou a divulgar a informação ao alegar não possuir os dados sobre vacinação. Os números foram pedidos em novembro.

Em comparação, mais de 142 milhões de brasileiros, o equivalente a 78,3% da população com mais de 12 anos, foram devidamente imunizados contra a Covid-19. Esses números foram atualizados na quinta-feira (26/12) pelo consórcio de veículos de imprensa.

As Forças Armadas exigem que seus servidores se vacinem contra febre amarela, tétano e hepatite B – mas não contra a Covid-19.

No total, 182,9 mil militares da ativa do Exército e 62,1 mil da Aeronáutica tomaram ao menos uma dose da vacina.

Os dados revelam ainda uma baixa taxa de militares que tomaram a dose de reforço, o que, segundo especialistas, pode estar associada a um alto contingente de jovens na corporação.

Enquanto 24,5 milhões de brasileiros, o equivalente a 13,5% da população do país, já receberam uma dose extra da vacina, pouco mais de 2 mil militares do Exército (0,9%) completaram a imunização; na FAB, foram 544 (0,8%).

Negacionismo

Para o epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (RS) Pedro Hallal, os dados confirmam a hipótese de negacionismo, que tenta se espalhar pelo Brasil. “Infelizmente, tem se espalhado mais nas Forças Armadas do que na sociedade civil”, aponta ele.

O Ministério da Defesa esclareceu, sobre a vacinação contra a Covid-19, que “os militares das Forças Armadas seguem as mesmas regras adotadas para a população brasileira”.

A reportagem questionou se a pasta fez alguma campanha interna para incentivar seus servidores a se vacinarem, mas não houve respostas. Os comandantes do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira; da Marinha, almirante Almir Garnier Santos; e da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, também foram procurados para informar se foram vacinados contra a Covid, mas, do mesmo modo, não se manifestaram. O espaço segue aberto.

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Variante Ômicron chegou ao Brasil

Einstein confirma variante ômicron em dois testes positivos de Covid no Brasil; Adolfo Lutz fará confirmação.

Testes positivos são do passageiro e sua esposa que vieram da África do Sul.

O laboratório do hospital Albert Einstein, em São Paulo, confirmou dois resultados positivos para a variante ômicron da Covid-19 no Brasil. Com isso, a Agência Nacional de Vigilância Nacional informa que os resultados serão enviados para o Adolfo Lutz para análise laboratorial comprobatória.

Uma das testagens é do passageiro vindo da África do Sul e que desembarcou em Guarulhos no dia 23 de novembro.

Ele portava um teste RT-PCR negativo, mas como se preparava para voltar à África do Sul, procurou o laboratório localizado no aeroporto de Guarulhos, no dia 25/11, para fazer o teste de retorno. Naquele momento, ambos testaram positivo para a Covid-19 e o fato foi comunicado ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) de São Paulo.

“Diante dos resultados positivos, o laboratório Albert Einstein adotou a iniciativa de realizar o sequenciamento genético das amostras. O laboratório notificou a Anvisa sobre os resultados positivos dos testes e sobre o início dos procedimentos para sequenciamento genético no dia 29/11 e, na data de hoje, 30/11, informou que, em análises prévias, foi identificada a variante Ômicron do Sars-Cov-2”, diz nota da Anvisa.

De acordo com os protocolos nacionais, o material deve ser enviado ao Instituto Adolfo Lutz (IAL) para fins de confirmação do sequenciamento genético.

A Anvisa também oficiou o Ministério da Saúde e as Secretarias de Saúde estadual e municipal de São Paulo sobre o evento em saúde identificado na data de hoje para adoção das medidas de saúde pública pertinentes.

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A fome que assola o Brasil refletida em São Paulo

Sem comer, pessoas desmaiam em filas de postos de saúde de São Paulo e pedem comida nas consultas.

As cadeiras da recepção da UBS (Unidade Básica de Saúde) Jardim Três Corações, na zona sul de São Paulo, ficam distantes umas das outras. Mesmo assim, as pessoas perceberam que Felipe Santos de Oliveira, 23, passava mal. “Comecei a sentir tontura e a mulher do lado perguntou se eu tava bem. Eu caí, apaguei. Foi muito rápido. Acordei e tava todo mundo assustado. Eu tava sem entender o que aconteceu.”, mostra reportagem do Uol.

Todos foram acudi-lo e virou aquela coisa de traz um copo d’água, abana, abre espaço para o moço respirar. Até que perguntaram se Felipe havia tomado café. Ele contou que fazia mais de 24 horas que não comia. O rapaz desmaiou de fome.

Médica da UBS Jardim Campinas, também na região sul da capital, Daniela Silvestre viu entrar em seu consultório, em junho, uma grávida de 30 anos que cambaleava. Olhos fundos, boca seca e muita magreza. Ela perguntou se a paciente usara drogas ou se havia bebido. Arregalou os olhos com a resposta da mulher. “Não. Você não tem nada para eu comer? Eu preciso comer.”

A grávida não comia havia dois dias. Além de tratar doenças, as pessoas têm ido aos postos de saúde procurar remédio para problemas sociais.

Tenho bastante medo de virar morador de rua. Quando a coisa [pandemia] começou, eu perdi emprego e depois fiquei sem comida. Ficava pensando no dia em que ia ser obrigado a pegar minha malinha e ir morar numa calçada.

O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, disse que os casos de pessoas que procuram unidades de saúde por causa de fome começaram a aparecer há três meses. O primeiro deles foi em Parelheiros, também na zona sul.

Uma enfermeira que trabalha na UBS de Parelheiros contou ao TAB, em condição de anonimato, que toda semana atende crianças que pedem comida durante a consulta. Ela acrescentou que idosos diabéticos não conseguem controlar a glicemia porque têm apenas pão e bolacha para comer em casa. As consequências são feridas que nunca cicatrizam e crises que os fazem ter de procurar hospital.

A enfermeira da UBS de Parelheiros disse que profissionais do postinho pedem doações e fazem vaquinhas entre si para a compra de cestas básicas. Idosos acamados e mães com filhos pequenos têm prioridade na distribuição. Outra medida é enviar os pacientes que se queixam de fome à assistência social para tentar incluí-los em algum programa municipal, estadual ou federal. Contatos com ONGs e igrejas também estão na lista de providências.

Sandra Sabino, secretária-executiva municipal de Atenção Básica, Especialidades e Vigilância em Saúde, fez um levantamento logo que soube do caso de Parelheiros, três meses atrás. Descobriu situações idênticas em quase toda a periferia de São Paulo. A lista de bairros inclui São Mateus, São Miguel Paulista, Guaianazes, Ermelino Matarazzo, Itaim Paulista, Grajaú, M’Boi Mirim, Parelheiros, Jardim Ângela, Pirituba e Perus.

O monitoramento iniciado em setembro mostra que a situação está estável, ou seja, em algum canto de São Paulo, todo dia tem gente indo ao posto de saúde por causa de fome.

O caso de Felipe mostra que houve um lapso temporal até as penúrias das periferias chegarem aos gabinetes da prefeitura.

Em julho, ele perdia os sentidos e desmaiava na UBS Jardim Três Corações. Era consequência de um ano de privações. Felipe trabalhava em um lava a jato e foi demitido logo que a pandemia começou. Sem carteira assinada, recebeu apenas agradecimentos e desejos de boa sorte. O primeiro ano de covid-19 foi administrável. No segundo, a sorte foi embora.

Morador da Ocupação Porto Velho, na zona sul de São Paulo, Felipe nunca aspirou sequer ao básico. Cresceu num barraco de chão batido e está acostumado a dormir num quarto com paredes de compensado. Os banhos de caneca sempre foram num banheiro cujas paredes eram panos esticados.

Com a pandemia, também se acostumou a passar 24 horas ininterruptas sem comer nada — hábito que cobrou seu preço. Depois de acordar do desmaio na UBS, Felipe foi colocado no soro. Saiu do posto de saúde com uma receita de Pantoprazol Sódico Sesqui-Hidratado (remédio para gastrite) e uma guia para exame de sangue. O rapaz nunca o fez. Sabe que não teria condições de seguir qualquer dieta sugerida.

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Com ajuda de Bolsonaro e do Congresso, agronegócio vive boom inédito no mercado financeiro

Levantamento do Joio expõe conexão entre explosão de investimentos e medidas do Congresso e de Bolsonaro.

Os investimentos do agronegócio ligados ao mercado financeiro vivem um boom inédito. O montante aplicado em apenas seis dos principais ativos do setor já supera o Plano Safra, que até então representava a principal fonte de financiamento.

Um levantamento exclusivo do Joio mostra um crescimento vertiginoso nos últimos dois anos, resultado de uma série de medidas e promessas do governo de Jair Bolsonaro e do Congresso Nacional.

As duas commodities mais movimentadas (milho e boi gordo), as duas maiores empresas de compra e venda de terras (SLC Agrícola e Brasil Agro) e os dois principais títulos ligados ao setor (LCA e CRA) movimentaram R$ 730 bilhões no biênio 2020-2021, crescimento de 80% em relação ao período anterior.

O nosso levantamento não inclui outras commodities nem grandes empresas do agronegócio, como JBS, BRF e Cosan, que também vivem uma onda de crescimento.

Em outras palavras, os recursos totais são ainda maiores do que o estimado por nós – líderes do setor dizem que o Plano Safra responderá este ano por apenas um terço do montante total movimentado pelo agro.

O crescimento do volume de recursos é fruto tanto da atração de pessoas físicas como de grandes investidores nacionais e estrangeiros e resulta de uma série de medidas que começaram a ser formuladas no governo de Michel Temer – e foram adiante com Bolsonaro e seus ministros Tereza Cristina, Paulo Guedes e Ricardo Salles:

– Lei do Agro, que facilita a entrada de investidores estrangeiros e pessoas físicas no agronegócio.

– Normas do Banco Central que tornam as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) atrativas tanto para bancos como para consumidores.

– Criação dos Fundos de Investimento do Agronegócio (Fiagro).

– Transferência do processo de regularização de terras griladas aos municípios, com o programa Titula Brasil.

– Tramitação de projetos de lei que incentivam o avanço sobre terras indígenas e quilombolas.

– Desmonte das leis de licenciamento ambiental.

Esse processo pode agravar a perda de terras da agricultura familiar voltadas à produção de alimentos, com impacto sobre a inflação e a diversidade alimentar. Pode também dar ainda mais impulso ao avanço sobre terras indígenas e sobre a Amazônia e o Cerrado.

Os impactos são discutidos na série de reportagens “Muito além da porteira”, que o Joio começa a publicar hoje. Ao longo das próximas duas semanas serão publicadas cinco reportagens. O trabalho de apuração envolveu nove pessoas e se desdobrará em novas investigações que explicam por que o Brasil é o espaço central para a produção de um ciclo de acumulação de dinheiro.

Nosso levantamento expõe uma correlação entre o que acontece nos territórios, como desmatamento e queimadas, e os processos políticos de Brasília.

Os dias de pico do agronegócio na bolsa de valores claramente se relacionam ao avanço de projetos de lei ou medidas governamentais que criam novas frentes de expansão para a produção de grãos (soja e milho) e pecuária.

Um dos impactos diretos desse processo é que as terras brasileiras ficam atreladas à lógica volátil do mercado financeiro. O deslocamento repentino de investidores em busca de lucros rápidos pode causar uma forte especulação nos preços de propriedades rurais e de produtos agrícolas, com impactos sobre a inflação e a possibilidade de criar uma bolha especulativa.

O segundo texto da série explica quais foram as mudanças e por que isso causa euforia no mercado financeiro.

O levantamento do Joio ajuda a entender por que justamente o agronegócio e o mercado financeiro são dois setores importantes na sustentação de Jair Bolsonaro – a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), por exemplo, é investigada por financiar os atos golpistas de 7 de setembro.

Participação de pessoas físicas

Um dos momentos de maior movimentação de investimentos se deu na semana de 10 de maio, quando o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei que dispensa o pedido de licenciamento ambiental para vários empreendimentos.

Relatado pelo deputado e ex-ministro da Agricultura Neri Geller (PP-MT), o PL 3.729, de 2004, dispensa o licenciamento para o uso de terras indígenas e quilombolas que não tenham sido demarcadas.

Tanto LCAs como as ações da Brasil Agro e da SLC Agrícola tiveram forte movimentação naquela semana. O grande número de operações envolvendo os papéis das empresas é um indício de participação de pessoas físicas no processo de especulação.

Em setembro, novamente as ações de Brasil Agro e SLC Agrícola tiveram picos de movimentação, o que chegou a causar questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários, responsável por regular as negociações no mercado financeiro.

Nos dias de alta, havia pelo menos dois fatos políticos capazes de alimentar o boom. O Supremo Tribunal Federal arrastava a discussão sobre o marco temporal para a demarcação de terras indígenas, e o PL que dispensa licenciamento ambiental avançava no Senado.

Em 2021, quatro milhões de contas da bolsa de valores, a B3 (antiga Bovespa), estão vinculados a pessoas físicas. Um crescimento de quatro vezes em relação a 2019, quando pela primeira vez se ultrapassou a marca de um milhão de pessoas. Elas já representam 24% da movimentação financeira.

Em um dos principais ativos relacionados ao agronegócio, os contratos futuros de milho, as pessoas físicas já respondem por 40%. O volume desses contratos quintuplicou de um ano para o outro. Entre janeiro e setembro de 2021, a B3 negociou R$ 103 bilhões em sacas de milho, suficiente para comprar 60% da safra brasileira estimada para o próximo ano.

Entre todos os investimentos de renda fixa, as LCAs foram justamente as que apresentaram maior crescimento nos três primeiros trimestres de 2021 e o mesmo período de 2020. A base de pessoas físicas cresceu 49% no período, chegando a quase 600 mil atreladas a esse investimento. Houve um aumento de 40% no montante investido, atingindo um estoque inédito de R$ 160 bilhões.

As LCAs são consideradas um mecanismo de captação de recursos para os bancos. De um lado, agricultores precisam de dinheiro. De outro, pessoas e empresas buscam investimentos rentáveis. Nesse caso, existe um gasto indireto do governo, já que as LCAs têm isenção de imposto de renda graças à ideia de que se trata de um investimento com resultado positivo para o país.

Na prática, como mostramos no Joio, é falsa a ideia de que o Brasil alimenta o mundo, mas essa construção retórica serve para justificar subsídios públicos e atrair investimentos privados. Nas projeções da Receita Federal, em 2022 a desoneração relativa a títulos do setor imobiliário e do agronegócio representará uma perda de R$ 6,28 bilhões – o dobro do que foi gasto no ano passado. Uma importante mudança nas LCAs se deu em 2019, quando o governo retirou o limite sobre a taxa de juros cobrada dos produtores rurais e liberou o uso das letras de crédito em operações de agroindústria – antes, o dinheiro poderia ser usado apenas para o financiamento de atividades dentro da propriedade rural.

Uma das maneiras pelas quais LCAs se transformam em dinheiro são as Cédulas de Produto Rural. Grosso modo, uma cédula significa que um produtor promete entregar parte da produção em troca de financiamento – se ele não entrega, pode perder a própria produção ou as terras. Por exemplo, ele pode firmar uma cédula com uma loja de fertilizantes para conseguir levar adiante a safra. Tanto as cédulas como as LCAs passaram por uma importante transformação com a Lei do Agro – leia a segunda reportagem da série, nesta quarta-feira (24).

1. Cédula do Produto Rural (CPR)

Regulamentada em 1994, permite ao produtor contrair uma dívida mediante a promessa de entregar parte da produção.

O que muda com a Lei do Agro:

– precisa ser registrada em uma organização financeira reconhecida pelo Banco Central

– caso o produtor não pague a dívida, a transferência das terras ao credor é praticamente automática, sem necessidade de ação judicial

2. Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRAs)

Regulamentados em 2004, são títulos de renda fixa usados para o financiamento de produtores rurais ou cooperativas. Devem ser emitidos por uma securitizadora, em geral em parceria com uma instituição financeira.

3. Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs)

Regulamentado em 2004, é uma das maneiras utilizadas para transformar uma Cédula de Produto Rural em dinheiro. A instituição financeira oferece a LCA a empresas e investidores pessoa física. Neste momento, é o principal instrumento de financiamento privado do agro em termos de volume de recursos.

o caso dos contratos futuros de boi, a segunda commodity agrícola mais movimentada da bolsa, a participação de pessoas físicas chega a 56%. Essa entrada de investidores avulsos pode ter impactos negativos diretos e indiretos. O volume de recursos amplia o investimento nas frentes de interesse do agronegócio, intensificando a disputa por terras utilizadas para a produção de alimentos.

Segundo as projeções do Ministério da Agricultura, a soja e o milho ainda avançarão quase 30% até 2030, chegando a 70 milhões de hectares. Na soma, o arroz, o feijão e a mandioca terão perdido oito milhões de hectares desde 1994, quando o processo de atrelamento das terras brasileiras à produção global de grãos e carnes se intensificou.

Made with Flourish

Outro impacto direto da presença de pessoas físicas em investimentos do agronegócio é a possibilidade de criação de uma bolha financeira. Se em algum momento os produtores não conseguirem entregar a produção estimada ou se houver problemas climáticos, uma quantidade expressiva de famílias atreladas ao mercado financeiro será afetada. E isso pode ter um impacto indireto sobre toda a economia, já que as famílias dependentes da renda financeira terão uma redução da capacidade de consumo, afetando outras famílias.

Boi, boiada e o fim da Amazônia

As empresas-chave do agronegócio, com frequência, são denunciadas por participação direta ou indireta em crimes ambientais e trabalho escravo. A Brasil Agro, dona de 280 mil hectares (duas vezes a cidade de São Paulo), tem denúncias por compra ilegal de terras – a empresa é controlada por investidores argentinos e precisaria de autorização do Congresso e do Incra para fazer uma operação de aquisição, como registra uma reportagem da Agência Pública.

Um relatório do Chain Reaction Research mostra que “entre 2012 e 2017, a Brasil Agro teria derrubado mais de 21 mil hectares de matas nativas em suas fazendas”. A empresa foi multada pelo Ibama em 2012. O relatório mais recente entregue aos investidores registra uma arrastada tramitação no Judiciário, onde desde 2018 se espera por um recurso do instituto público para executar a dívida, estimada em R$ 5,7 milhões.

Os processos não impedem a Brasil Agro de estar na crista da onda. O BTG, maior banco de investimentos da América Latina, uniu-se a outro gigante do setor, a XP, para promover a venda de R$ 670 milhões em ações da empresa.

No geral, várias investigações têm exposto como os bancos são falhos na fiscalização dos efeitos decorrentes do crédito bilionário dado a frigoríficos e outras empresas do agronegócio.

Em 2020, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou um relatório no qual informa que oito conglomerados destinaram US$ 7 bilhões apenas para as grandes processadoras de carne entre 2013 e 2019. O Guia dos Bancos Responsáveis recorda que as instituições deveriam garantir o cumprimento das Políticas de Responsabilidade Socioambiental, determinadas em 2014 pelo Conselho Monetário Nacional. Porém, “a média da nota dos nove maiores bancos brasileiros no tema de proteção das florestas é somente 29% do total, e menor ainda (24%) nas políticas para o agronegócio”.

Dessa maneira, os grupos econômicos estão indiretamente financiando o desmatamento. “O volume transacionado entre os grandes bancos e os grandes frigoríficos mostra a interdependência que eles têm. Portanto, é essencial que os bancos tomem atitude para frear o desmatamento da floresta equatorial.” No entanto, o mercado seguiu no rumo contrário: o boom financeiro nos títulos ligados ao agronegócio dá uma espécie de aval a quem grilou e desmatou.

Um México pela frente

“O mercado de terras é gigante?”, perguntou Leonardo Zambolin, gestor dos fundos de investimentos de agronegócio do BTG Pactual, durante uma transmissão ao vivo. E ele mesmo respondeu: “Claro que é. Tem 70 milhões de hectares de [terra] produtiva, 200 milhões de hectares de terras degradadas ou em conversão.” Se ele estiver certo, 200 milhões de hectares adicionais são o equivalente ao México. A hipótese “pessimista” de 70 milhões de hectares representaria quase o dobro da área atualmente cultivada com soja.

Ao apresentar os fundos de investimento do BTG, Zambolin nos ajudou a entender o tamanho dos recursos que estão chegando: “O Banco do Brasil, que é o maior financiador do agro, vai fazer um bi e meio pra funding de armazenagem. Eu falei ‘tô lendo errado. Não pode ser um bi e meio’. Como que o Banco do Brasil vai fazer um bi e meio? É nada.”

O otimismo se baseia em uma nova frente de investimento aberta pela bancada ruralista. O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), ex-secretário de Agricultura de São Paulo e um dos expoentes da Frente Parlamentar da Agropecuária, apresentou em 2020 um projeto para criar os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais ou, simplesmente, Fiagro.

Olhar para o Projeto de Lei 5.191 é importante por duas razões. Uma, por aquilo que propõe. Duas, porque é um case de como o Congresso Nacional deixou de lado qualquer verniz de participação democrática.

O objetivo é garantir ao agronegócio o mesmo mecanismo criado nos anos 1990 para os fundos de investimento imobiliários. Esses fundos foram parte de uma ofensiva sobre a estrutura das cidades, criando vários processos de especulação imobiliária. Esses processos, via de regra, empurram os mais pobres para cada vez mais longe das regiões centrais. E mesmo a classe média fica em situação difícil.

Nas palavras dos defensores do Fiagro, é uma maneira de garantir que se possa ser uma espécie de sócio do agronegócio, mesmo sem ser dono de terras. Afinal, as terras ficam automaticamente atreladas aos fundos. As palavras de um dos relatores, o deputado Christino Áureo (PP-RJ), são particularmente transparentes: “Essa possibilidade supera, ao menos em parte, a polêmica em torno da aquisição de terras por estrangeiros, sem reduzir os atuais níveis de proteção dos interesses nacionais.”

Foi um pulo do gato que se somou aos dispositivos da Lei do Agro que facilitam a transferência de terras para corporações estrangeiras. Do outro lado do Salão Verde, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) também tratou de ser explícito quanto aos propósitos do Fiagro. “No caso do não residente, esse modelo satisfaz a legislação vigente, afastando questionamentos relativos à segurança nacional. Assim, há novos recursos internacionais ingressando mais facilmente no setor rural, superando limites de aquisição de terras imposta a estrangeiros.”

Guilherme da Costa Delgado, pesquisador aposentado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), alertou em entrevista ao Joio que o Fiagro dá aos investidores a possibilidade de especular com as terras, sem qualquer relação com a real produtividade de uma fazenda. De quebra, deixa o país exposto a uma fuga repentina de investidores. “O Brasil vai ficar mais vulnerável a uma crise hipotecária, como a que aconteceu no mercado imobiliário dos Estados Unidos em 2008.”

Para piorar, a soma de Lei do Agro e fundos de investimento abre a possibilidade de que títulos falsos sejam utilizados nesse processo especulativo e oferece mais um incentivo para a grilagem. Nada impede, também, que uma mesma propriedade seja utilizada para contrair várias dívidas diferentes, criando uma disputa pela titularidade. “Grandes proprietários podem oferecer como garantia não as fazendas onde está a produção agropecuária, mas outras terras que estão sob seu registro.”
Alguns riscos associados aos novos instrumentos do agro:

– contrair várias dívidas usando uma mesma propriedade;

– atrelar terras griladas ao mercado financeiro;

– estimular o avanço sobre terras públicas e áreas de indígenas e quilombolas;

– deixar o país vulnerável a uma fuga repentina de investidores estrangeiros;

– tornar volátil o mercado de terras;

– concentrar ainda mais a propriedade das terras brasileiras

– desestimular ainda mais a produção de alimentos

Uma seleção nada natural

O outro ponto importante relativo ao Fiagro é a maneira como foi aprovado. O projeto passou pelo Congresso sem a realização de qualquer audiência pública. Tanto na Câmara como no Senado, chama atenção o fato de que os relatores apresentaram pareceres no mesmo dia em que foram designados. E eram documentos completos, com mais de uma dezena de páginas.

“Era fundamental que tivesse um debate mais amplo com a sociedade, com todos os setores que acompanham esse debate”, reclamou o deputado Nilto Tatto (PT-SP), sem, no entanto, conseguir qualquer brecha para negociação. “Ele tem uma série de problemas. Ele exagera nos incentivos fiscais para a formação desse fundo, com isenções de impostos, e tem um problema mais sério que, na medida em que a gente não tem uma política de apoio para a agricultura familiar, para a produção de alimentos, vamos criar mecanismos que vão favorecer o agro exportador de commodities e a concentração de terra.”

O PL do Fiagro foi aprovado na Câmara em 22 de dezembro de 2020, último dia de sessões no plenário. Na volta do recesso, o Senado também estava com pressa, e já no segundo dia útil designou relator e aprovou o projeto, cuja tramitação foi encerrada no começo de março. Já em julho, a Comissão de Valores Mobiliários havia regulamentado os Fiagro, e as gestoras de investimentos lançaram os primeiros fundos – em outubro, já eram 12.

A carteira de investimentos do BTG começa modesta: 25 mil hectares. “Agora pense que, quando a gente desenhou o produto, você tem ali um universo de 70 milhões de hectares de terras produtivas. Esse negócio é tão grande, mas tão grande, que a gente vai começar com uma seleção natural”, disse Leonardo Zambolin.

A seleção natural, no caso, envolve um contrato “punitivo”, no jargão do mercado. As terras ficam atreladas ao fundo e o produtor só volta a ser proprietário se conseguir cobrir o valor proposto — caso contrário, o fundo passa a ser o real proprietário por um valor abaixo do mercado. “Qual o cenário no qual a terra vai ficar com o fundo? Só se esse cara quebrar”, explicou. O fundo do BTG mira, nas palavras de Zambolin, a classe B rural. A classe A tem crédito fácil, as classes C, D e E não interessam, por enquanto.

“Toda a geração de riqueza daquela propriedade vai estar com o fundo, logo o incentivo do cara em te pagar é maior, porque se ele não pagar, eu tenho que tirá-lo da propriedade e fico com a terra. Como ele sabe que ele vendeu a propriedade por menos do que ela vale, ele vai fazer de tudo para recomprá-la. Então não tem muita mágica, né?”

Os dois fundos do BTG são um exemplo, entre tantos, de uma ofensiva coordenada em busca das terras brasileiras.

*Matéria publicada no Brasil de Fato

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Relatos sobre o melhor emprego do mundo: a doce vida do General Heleno nos 6 anos como diretor do COB

Agência Sport Ligth – R$ 58.581,00. Por extenso: cinquenta e oito mil, quinhentos e oitenta e um reais.

Era o salário do general Heleno no Comitê Olímpico Brasileiro (COB) em outubro de 2017, mês de seu último contracheque. Corrigidos, são nada modestos atuais R$ 86.791,03 (IGP-M). A maior parte vinda de dinheiro público.

O nome do cargo era pomposo: “diretor de comunicação e educação corporativa do COB”.

No entanto, os relatos colhidos pela reportagem sobre sua verdadeira atuação e função no comitê onde estava tão próximo a Carlos Arthur Nuzman, que depois viria a ser preso por escândalos na Rio 2016, não condizem em nada com a solenidade do título e estão em total desencontro com o protagonismo que o cargo traduz.

“Nos 6 anos que ficou lá, não fez absolutamente nada”, lembra funcionário que estava muito próximo e acompanhou de perto a atuação do general e que prefere não se identificar, assim como outros escutados pela reportagem. Que são unânimes e coincidentes no que contam sobre o general e sua missão no COB: uma verdadeira Batalha de Itararé.

A batalha que foi sem nunca ter sido.

O combate militar mais anunciado em território brasileiro mas que jamais aconteceu.

E que por fim virou sinônimo de algo que na verdade não se confirmou.

Décadas depois, as olimpíadas do Rio em 2016 ainda escondem, entre os tantos segredos de uma caixa-preta ainda por ser totalmente revelada, algumas “Batalhas de Itararé”. Como um alegado protagonismo de alguns generais na organização daquela competição.

O protagonismo olímpico do general Augusto Heleno é uma dessas “Batalhas de Itararé” dos novos tempos. Como mostra apuração da Agência Sportlight em diferentes frentes.

R$ 47.024,00 do salário do general no COB vinha de verba pública

Dos R$ 58.581,00 acima citados do salário do general Heleno como “diretor de comunicação e educação corporativa do COB”, R$ 47.024,00 vinham de fonte pública, como mostram os registros públicos contendo os salários dos funcionários do COB. A sigla “LAP” que acompanha a descrição dos vencimentos ao lado dessa quantia quer dizer que ela era vinda dos recursos oriundos da Lei Agnelo Piva, fruto de arrecadação pública.

Valor que ele recebeu em outubro de 2017. No mês seguinte, em novembro, atropelado pela prisão do seu par no comitê, Carlos Arthur Nuzman, por envolvimento em malfeitos durante sua jornada olímpica, o general Heleno discretamente pediu para sair, tentando se desvincular de qualquer relação no comitê e com Nuzman. Depois de seis anos no COB.

O general Augusto Heleno entrou no COB assim que foi para a reserva do exército, exatamente no mês seguinte, e lá ficou entre 1º de agosto de 2011 e 9 de novembro de 2017, quando a bomba se abateu sobre o mundo olímpico. E sobre o gordo contracheque, então interrompido.

R$ 6.248.955,79. Leia bem: seis milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos nos 6 anos no COB

Em um cálculo amplo, usando um fator de correção a soma final e bruta dos vencimentos e não a maior exatidão da correção mês a mês, recebeu, ao longo dos seis anos no COB, um total de R$ 4.217,833 (quatro milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos), que reajustados pelo IGP-M dariam hoje o equivalente a R$ 6.248.955,79. Por extenso: seis milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos. Para uma função na qual não era qualificado e, de acordo com os funcionários do COB, para “não fazer nada”.

Se nenhum profissional de jornalismo que cobriu a área ao longo daqueles anos sequer chegou a ter algum contato ou mesmo saber de ação do general nas demandas com o comitê ou menção sobre formulação de estratégias ou diretrizes da comunicação da entidade, ou ainda participação em simples resposta para eventual pedido, o mesmo é dito por quem estava dentro da trincheira do COB.

Nos anos do general Heleno no COB, período contido dentro da gestão Nuzman, o “diretor de comunicação” ficou na figuração. As decisões e execução se davam por uma estrutura profissional, que tinha um “gerente executivo”, abaixo dele um “gerente” e demais “assessores”. Assim como a comunicação do Comitê Rio 2016, feita por estrutura formada por profissionais da área.

Os depoimentos quanto a presença e participação do general Heleno na área tem todos o mesmo tom. E coincidem no tom incisivo e definitivo sem qualquer margem quanto ao mínimo traço de participação do atual ministro.
“São todos uns filhos da p…”.

Uma única frase dita de 15 em 15 dias é a lembrança da presença do general no COB

“O general Heleno ia de 15 em 15 dias em uma reunião da comunicação do Comitê. Era a única função dele. Entrava mudo e saia calado”.

O silêncio do general, de acordo com os relatos, só era rompido nos encontros de trabalho em uma situação que hoje, quando se vê a forma de atuação dele como ministro do GSI e a proximidade e afinidade com Jair Bolsonaro, parece bem familiar aos ouvidos. Um comentário monocórdio e repetitivo, sistemático que a cada aparição quinzenal do general no comitê soava na sala de reunião.

De tempos em tempos ouvia-se a frase mais dita pelo general em seus anos em que o trabalho se limitava a visita quinzenal, referindo-se a cobertura da imprensa e jornalistas:

“São todos uns filhos da p…”. E assim marcava sua participação quinzenal.

Além do generoso salário vindo de fonte pública em sua maior parte, o general Heleno ainda teve uma das mais invejadas recompensas em tempos olímpicos: duas credenciais universais com acesso para todas as competições realizadas no Rio de Janeiro. Assim, no que deveria ser o auge do trabalho de um diretor de comunicação do Comitê Olímpico Brasileiro em tempos de jogos, virou um lazer acompanhado da cônjuge.

A repulsa por jornalistas e o trabalho da imprensa é traço relevante e notório de alguém forjado em sua formação no seio de uma ditadura militar antidemocrática e que censurava a imprensa, com absoluto desprezo pelo contraponto e pelo papel fiscalizador dos órgãos e profissionais de jornalismo.

A carreira militar do general Heleno é desde suas origens construída ao lado da ala de linhagem antidemocrática das forças armadas. Ainda capitão esteve no governo Geisel, quando foi ajudante de ordens do então ministro do exército, o general Sylvio Frota, o mesmo que se opôs ao processo de abertura política e redemocratização. E ao ver que tal processo não podia ser detido em razão da mobilização popular, o mentor do hoje general Heleno procurou em 12 de outubro de 1977 dar um golpe dentro do golpe militar e o triunfo da linha mais radical do exército. O general foi exonerado naquele dia, assim como seu ajudante, o capitão Augusto Heleno.

Mas o desprezo pela função da imprensa hoje tão notório pode ter seu nascedouro identificado ali e curiosamente, numa ironia da história e contradição marcante das instituições, culminou com ele sendo “diretor de comunicação” de um órgão sustentado em sua maior parte com verba pública. Que financiava inclusive os vencimentos de quem estava nessa função. O “diretor de comunicação” do COB não fazia por menos em sua vaga e espaçada agenda de trabalho ao falar sobre a imprensa. Trazendo os mesmos traços da linha mais dura da ditadura e que hoje moram no governo Bolsonaro.

Um outro funcionário que viveu aqueles anos pré-olimpíadas e muito pouco viu o general Heleno nas dependências do COB se lembra de uma outra participação dele no comitê além da reunião quinzenal onde xingava toda a imprensa e os jornalistas. Somente essa e não mais.

“A cúpula do comitê tinha um almoço todas as sextas-feiras. Ele participava também desse almoço. Eram horas de almoço. Muito mais de amenidades, piadas e coisas do tipo. E só”, conta.

Em uma oportunidade foi possível conhecer as ideias e formulações do general Heleno sobre sua missão como diretor de comunicação do COB. Em entrevista para a edição 13 da revista Alterjor, da Escola de Comunicação da USP, publicada no primeiro semestre de 2016, o atual ministro do GSI não faz por menos e evoca para si a responsabilidade de ser quem decidiu como seria a política de comunicação do COB e sobre como foi formulado o que, segundo ele, foi o plano estratégico base de tudo no quadriênio das olimpíadas do Rio, com os três objetivos principais (ver arte reproduzindo a revista Alterjor abaixo).

Mesmo que isso jamais tenha sido implementado e sequer tenha sido visto pelos corredores no dia a dia, como tampouco sua atuação além dos xingamentos quinzenais dirigidos aos jornalistas na reunião interna e dos almoços de toda sexta-feira, o que chama atenção é o teor das ideias rudimentares e e um tanto quanto primárias sobre a tarefa e papel da comunicação da maior instituição de esportes do país em seu momento mais crucial e de destaque diante do mundo.

Conheça as ideias do general Heleno sobre como comunicação:

As formulações rasas dos objetivos lembram um pouco um catado de autoajuda desses tão em voga. Está lá praticamente uma ordem unida lida às 6h da manhã numa alvorada da caserna. Falando em elevação da autoestima e do orgulho dos integrantes do COB, quase um prenúncio do “Brasil acima de tudo” que viria nos anos seguintes. Há também a descoberta quase como quem comunica a revelação da pólvora sobre a importância e relevância das redes sociais na atualidade. Na descoberta do general, “um revolucionário instrumento na interação entre o público interno e externo”:

Houve um momento em que efetivamente o general Heleno participou da formulação da estratégia do comitê, segundo os relatos.

Talvez tivesse sido melhor que os seis anos do general Heleno como diretor de comunicação do COB e seu lauto vencimento mensal tivessem sido cem por cento e integralmente da mais absoluta inépcia e imobilismo como contam os diversos relatos ouvidos pela reportagem. Teria poupado a todos de um momentos trágico, um dos piores nos anos que antecederam os jogos. Uma mistura de tragédia e do grotesco. E que terminou em desastre. Literal e com danos irreversíveis de imagem.

Em junho de 2016, o evento de revezamento da tocha olímpica passou por Manaus. Na ocasião, o general Heleno, de acordo com diferentes fontes ouvidas pela reportagem, tomou à frente de organizar alguns aspectos do que era para ser uma celebração. Acabou sendo uma operação digna do padrão de competência de outro general do exército, assemelhada em seus êxitos a uma missão de logística comandada pelo general Pazuello.

Em sua missão, o general Heleno fez a ponte entre o COB e o exército para organização e ficou responsável pela parte militar da festa. E eis que na celebração, aparece a onça Juma, exibida durante horas como grande atração da passagem.

Os relatos dão conta que, após as horas de exibição ao público e centenas de pessoas tirando foto com a onça durante a cerimônia, na qual dois militares se mantiveram permanentemente segurando Juma em uma corrente, o animal, estressado pelas horas de exibição e multidão, conseguiu fugir. Veterinários tentaram conter a corrida com disparos de tranquilizante mas, sem êxito, militares deram um tiro de pistola na cabeça da onça.

O sacrifício do animal, que de acordo com o Ibama está ameaçado de extinção no Brasil desde 2003, eclodiu como uma bomba, com repercussão mundial. E, às vésperas dos jogos, numa crise de imagem e reputação do comitê dos jogos.

“Foi o único momento em que o general Heleno realmente operou. E foi uma trapalhada sem igual”.

O comitê tentou por diversas formas gerenciar a crise de imagem e, conforme relatos, por iniciativa de quem efetivamente operava a comunicação, fez alguns comunicados se desculpando pelo desastre indesculpável, além de um mea culpa nas redes sociais.

Um outro fato também tem as digitais do general Heleno no comitê organizador dos jogos. E também não muito abonador quanto a competência e capacidade gestora. Uma indicação para um cargo dentro do comitê organizador. Com a voracidade fardada vista entre os que hoje ocupam mais de seis mil cargos no governo Bolsonaro, o general Heleno operou para emplacar um par de quatro estrelas no efetivo do comitê. E emplacou.

Um ano depois de assumir seu posto no COB, o general Heleno, depois de trabalho silencioso nos bastidores, teve a assinatura por trás de uma nomeação no Comitê Rio 2016. É dele todo o trabalho para emplacar outro fardado, o general Marco Aurélio Costa Vieira. Em cargo altamente estratégico na operação do Corio. Ao contrário do cargo de Augusto Heleno, no qual era possível não desempenhar e limitar o ofício a uma reunião quinzenal, o general Marco Aurélio é nomeado como “diretor de operações do comitê organizador”.

A vitória na indicação do general Heleno se materializa em 20 de julho de 2012, quando o outro general é anunciado com pompa em comunicado de Carlos Arthur Nuzman.

“Ao nos aproximarmos dos quatro anos para o início dos Jogos Rio 2016, estamos satisfeitos de ver Marco Aurélio se juntar a nós como o novo diretor-executivo de Operações. Ele traz uma rica experiência multidisciplinar de gerenciamento de grandes eventos e estou certo que terá um forte impacto positivo agora que o Rio 2016 dá um novo passo na sua jornada para receber os Jogos”.

Uma fonte ouvida nessa área de operações pela reportagem conta como seu deu.

“Heleno botou o grupo deles. É o grupo que eles chamam de o ‘grupo do Haiti’. Os mesmos que estiveram juntos à frente da operação do Brasil no Haiti seguiram juntos. E o Marco Aurélio era da turma”, diz.

A nomeação se mostrou um fracasso.

“Foi péssimo, deu tudo errado. O general Marco Aurélio se mostrou totalmente inoperante para a função e sem preparo para tal. Foi caindo de função por não dar conta e acabou como 1º secretário”.

A atuação do indicado do general Heleno resultou numa necessária correção de rota.

Sem poder melindrar o ‘grupo do Haiti’ e o general Heleno porque eram necessárias boas relações com as forças armadas, o que explica a manutenção do entre aspas responsável pela comunicação do COB, a organização faz uma intervenção na área de operações para botar o general Marco Aurélio de lado.

Um efetivo novo diretor de operações é contratado. Rodrigo Tostes, então vice presidente de finanças do Flamengo, assume efetivamente o cargo e a função de diretor de operações do Corio.

No papel, a inusitada situação bate estranha ao olhar. Dois diretores de operação passam a assinar pelo comitê: Rodrigo Tostes e o general Marco Aurélio.

Diretor de Operações do Comitê Rio 2016:

General Marco Aurélio Costa Vieira assume em julho de 2012

Rodrigo Tostes assume em agosto de 2013

Os dois aparecem assinando documentos pelo comitê na mesma função.

Se no papel a solução encontrada pelo Comitê Rio 2016 para não melindrar os quarteis foi manter o general Marco Aurélio no cargo, deixando ele seguir assinando como diretor de operações, na vida real, no organograma do Rio 2016, o militar “caiu pra cima”. Enquanto Tostes fica como o único efetivamente diretor de operações, Marco Aurélio já aparece no organograma como o responsável pela operação do “revezamento de tocha”, algo bem menor na estrutura e praticamente simbólico. E Rodrigo Tostes efetivamente como “diretor de operações”.

No governo Bolsonaro, o general Marco Aurélio reaparece como titular da secretaria especial de esporte de Bolsonaro mas a coisa também não vai muito longe e fica apenas por 107 dias.

Prisão de Nuzman e saída à francesa do general Heleno

Eram exatas seis horas da manhã no dia 5 de outubro de 2017 quando uma ação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro entrou na casa de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador Rio 2016 (CORIO) e prendeu o todo poderoso do esporte brasileiro. Sob denúncia de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Sem alarde, nesse mesmo outubro o general Heleno se desliga do cargo de diretor de comunicação. Em novembro recebe o que tem direito pelos seis anos.

Seis milhões, duzentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinquenta e cinco reais e setenta e nove centavos (R$ 6.248.955,79) a mais na conta ao longo desses anos. Tendo, de acordo com os relatos, ido a um almoço semanal nas sextas-feiras e duas vezes por mês a uma reunião do comitê, na qual sua participação se limitava, dito em vários relatos, a chamar os jornalistas de “filhos da p…”.

Doze meses depois da saída do COB estava de volta a um cargo muito bem remunerado com dinheiro público somado aos vencimentos de general da reserva. O desligamento oficial do COB foi 9 de novembro de 2017. Em 5 de novembro de 2018, foi nomeado no apagar das luzes do governo Michel Temer para o gabinete presidencial, num aparente acordo entre ex e futuro presidentes, já que, menos de um mês depois, Jair Bolsonaro tomaria posse.

Como ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Heleno recebeu R$ 30.934,70 em dezembro último, fora os vencimentos como militar. Ao contrário da atuação no COB nos seis anos, agora aqui revelados, ainda não se sabe muito sobre a efetiva atuação do ministro no GSI. E se a frase mais marcante do que foi sua atuação ao longo desses seis anos, na qual comenta sua ideia de liberdade de expressão, segue sendo mais marcante do que o próprio trabalho.

Outro lado:

General Heleno:

A reportagem tentou contato com o General Augusto Heleno através da assessoria de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mas não obteve resposta.

General Marco Aurélio Costa Vieira

A reportagem não obteve contato com o general Marco Aurélio Costa Vieira.
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Auditoria da CGU aponta que 800 militares receberam salário acima do teto

Segundo levantamento da Controladoria, pagamento além do limite permitido teve custo de R$ 5,7 milhões em um mês.

Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou que pouco mais de 800 militares ou pensionistas de militares que ocupam cargos públicos civis podem ter recebido salários acima do teto no ano passado. Em apenas um mês, o valor extra chegaria a R$ 5,7 milhões — que podem ter que ser ressarcidos aos cofres públicos, segundo reportagem de O Globo.

O levantamento da CGU indicou que, em dezembro de 2020, 729 militares ou pensionistas com vínculos civis não tiveram nenhum tipo de abatimento no seu salário (o chamado “abate-teto”), o que teria levado a um pagamento indevido de R$ 5,1 milhões. Além disso, outros 110 tiveram abate-teto, mas no valor inferior ao necessário, o que teria custado R$ 657 mil, no mesmo mês.

O relatório diz que “o montante envolvido é bastante expressivo” e destaca que o achado pode levar à “possível recuperação de valores pagos indevidamente nos casos irregulares que forem confirmados, com consequente reparação do dano ao erário”.

O relatório da CGU destaca que os fatos apresentados são “indícios de irregularidades”, que ainda precisam ser confirmados pelos órgãos envolvidos, como os ministérios da Defesa e da Economia, além da Secretaria Federal de Controle Interno (SFC), vinculada à própria controladoria.

Procurado, o Ministério da Economia respondeu que “as recomendações serão avaliadas, tratadas e respondidas dentro do prazo fixado pela Controladoria Geral da União”. As outras duas pastas ainda não retornaram.

Portaria permitiu acúmulo

O teto constitucional é calculado a partir do salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, atualmente R$ 39,2 mil. Quando as duas remunerações ultrapassam esse valor, o excedente é descontado.

Em abril, o Ministério da Economia publicou uma portaria autorizando o acúmulo de dois salários por parte de militares da reserva que ocupam cargos civis, sem a necessidade do abate-teto. Na época, o vice-presidente Hamilton Mourão, um dos beneficiados, disse que a medida poderia ser “legal”, mas não era “ética”.

No relatório, a CGU afirma que as análises foram efetuadas antes da publicação da portaria, mas ressalta que “isso não invalida os resultados obtidos, uma vez que a portaria possui data de vigência posterior à sua publicação, o que indica que os valores pagos indevidamente em data anterior, e confirmados, permanecem irregulares, devendo observar o procedimento de devolução e reposição ao erário”.

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