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A estupidez de Jair Messias Bolsonaro

Por Sebastião Nunes

As inteligências são várias.

Claro que estou me referindo à inteligência humana e não à de ratos, amebas, cães, baratas ou golfinhos, sendo cada animal inteligente à sua maneira.

Pesquisadores sérios, aqueles que veem inteligência como processo adaptativo de seres vivos ao ambiente, consideram que uma barata, por exemplo, é mais inteligente do que a soma da inteligência do antipresidente Jair Messias e dos seus ministros.

A estupidez, contudo, é, genericamente falando, uma só.

Embora sejam considerados estúpidos, os quadrúpedes orelhudos tipo burros, asnos, mulas e jegues conseguem diferenciar o que é comestível do que não é, além de empacar quando lhes dá na telha, de modo que não podem ser considerados totalmente estúpidos. Têm o que se pode chamar de inteligência funcional mínima.

Para medir inteligência e estupidez o conceito de QI não é mais suficiente. Há muito passamos a utilizar o conceito de inteligências múltiplas para descrever a grande variedade de habilidades cognitivas humanas.

Ao contrário, e embora seja difícil medir estupidez, acredita-se que seja mais do que simplesmente ignorância, aquilo que, exemplificando, fez com que a antiministra Maldares confundisse Cristo com goiaba.

Ignorância é um fenômeno sociocultural, existente em larga escala nos países subdesenvolvidos. Sua incidência varia de 60 a 90% e atinge sobretudo as parcelas mais desfavorecidas da população.

A quem interessa a ignorância? Ora, meu irmão, não sejas parvo como aquele antiministro que tem nome de pedra. Interessa aos donos do poder, às elites dirigentes, à mídia autoritária, aos caga-regras do judiciário, enfim, interessa aos que desmandam e continuarão a desmandar, sempre e eternamente.

Os ignorantes que se fodam, dizem eles lá entre si.

Por outro lado, a estupidez costuma ser definida como falta de inteligência, uso inadequado do juízo e, como a cereja do bolo, insensibilidade a nuances. Exemplo? Ora, meu filho, basta olhar para cima, não para o céu, onde nada verás, mas para a ilustração que suprematiza este texto, que lá estará ele, escarrado e orelhudo exemplo.

Portanto – e pelo amor de Deus! – não bote jamais ignorância e estupidez no mesmo saco.

Estupidez é uma cratera aberta no cérebro, um vazio de conhecimento, um oco, um abominável desperdício de neurônios e sinapses, a incapacidade total de admitir conflito entre conceitos e abarcar dúvidas entre meias-verdades.

O diabo é medir o tamanho desse desperdício, ou seja, da estupidez.

En passant, fique claro que ninguém reconhece a própria estupidez.

Não foi à toa que Einstein disse certa vez que “só duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez do ser humano”. E acrescentou, para o bom entendimento dos mais lerdos: “Mas não estou seguro sobre a infinitude da primeira”.

Se você acha que estou pensando em Jair Messias Bolsonaro, acertou.

Mas antes de chegar a ele preciso repassar os diversos tipos de inteligência.

A estupidez de Jair Messias Bolsonaro

Apesar dos poucos meses em que depôs a bunda na cadeira presidencial, sendo na verdade um antipresidente, Bolsonaro já pode ter o grau de estupidez aferido pelos testes de QI, apesar de todas as limitações destes e por causa das infinitas deficiências intelectuais daquele. Mesmo porque seria risível medir sua estupidez por qualquer dos métodos que medem tipos mais, digamos assim, sofisticados de inteligência.

Devo, contudo, e antes de finalizar, admitir que “a estupidez é o fundamento de nossa civilização”, conforme sugeriu o sábio Matthijs van Boxsel em sua notável “De Encyclopedie van de Domheid” (A Enciclopédia da Estupidez) e concluir que a eleição de 2018 foi uma farsa grotesca, resultante da combinação dos vários crimes cometidos pela #VazaJato, com exaustiva cobertura da Rede Globo, a conivência do STF e apoio de considerável parcela da população, não necessariamente estúpida, mas ignorante.

Diante disso, e utilizando o padrão mais comum nos testes de QI para as diversas intervenções de Jair Messias através do Twitter e ao vivo, acredito que seu Quociente de Inteligência esteja firmemente estacionado abaixo de 50 no referido teste. Resta definir se ele alcança 40 pontos ou estará melhor classificado, situando-se entre 35 e 30.

 

*Do GGN

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Brasil, um país adoecido

Jair Bolsonaro é um perverso. Não um louco, nomeação injusta (e preconceituosa) com os efetivamente loucos, grande parte deles incapaz de produzir mal a um outro. O presidente do Brasil é perverso, um tipo de gente que só mantém os dentes (temporariamente, pelo menos) longe de quem é do seu sangue ou de quem abana o rabo para as suas ideias. Enquanto estiver abanando o rabo – se parar, será também mastigado. Um tipo de gente sem limites, que não se preocupa em colocar outras pessoas em risco de morte, mesmo que sejam funcionários públicos a serviço do Estado, como os fiscais do IBAMA, nem se importa em mentir descaradamente sobre os números produzidos pelas próprias instituições governamentais desde que isso lhe convenha, como tem feito com as estatísticas alarmantes do desmatamento da Amazônia. O Brasil está nas mãos deste perverso, que reúne ao seu redor outros perversos e alguns oportunistas. Submetidos a um cotidiano dominado pela autoverdade, fenômeno que converte a verdade numa escolha pessoal, e portanto destrói a possibilidade da verdade, os brasileiros têm adoecido. Adoecimento mental, que resulta também em queda de imunidade e sintomas físicos, já que o corpo é um só.

É desta ordem os relatos que tenho recolhido nos últimos meses junto a psicanalistas e psiquiatras, e também a médicos da clínica geral, medicina interna e cardiologia, onde as pessoas desembarcam queixando-se de taquicardia, tontura e falta de ar. Um destes médicos, cardiologista, confessou-se exausto, porque mais da metade da sua clínica, atualmente, corresponde a queixas sem relação com problemas do coração, o órgão, e, sim, com ansiedade extrema e/ou depressão. Está trabalhando mais, em consultas mais longas, e inseguro sobre como lidar com algo para o qual não se sente preparado.

O fenômeno começou a ser notado nos consultórios nos últimos anos de polarização política, que dividiu famílias, destruiu amizades e corroeu as relações em todos os espaços da vida, ao mesmo tempo em que a crise econômica se agravava, o desemprego aumentava e as condições de trabalho se deterioravam. Acirrou-se enormemente a partir da campanha eleitoral baseada no incitamento à violência produzida por Jair Bolsonaro em 2018. Com um presidente que, desde janeiro, governa a partir da administração do ódio, não dá sinais de arrefecer. Pelo contrário. A percepção é de crescimento do número de pessoas que se dizem “doentes”, sem saber como buscar a cura.

Vou insistir, mais uma vez, neste espaço, que precisamos chamar as coisas pelo nome. Não apenas porque é o mais correto a fazer, mas porque essa é uma forma de resistir ao adoecimento. Não é do “jogo democrático” ter um homem como Jair Bolsonaro na presidência. Tanto como não havia “normalidade” alguma em ter Adolf Hitler no comando da Alemanha. Não dá para tratar o que vivemos como algo que pode ser apenas gerido, porque não há como gerir a perversão. Ou o que mais precisa ser feito ou dito por Bolsonaro para perceber que não há gestão possível de um perverso no poder? Bolsonaro não é “autêntico”. Bolsonaro é um mentiroso.

Podemos – e devemos – discutir como chegamos a ter um presidente que usa, como estratégia, a guerra contra todos que não são ele mesmo e o seu clã. Como chegamos a ter um presidente que mente sistematicamente sobre tudo. Podemos – e devemos discutir – como chegamos a ter um antipresidente. Assim como podemos – e devemos – perceber que a experiência brasileira está inserida num fenômeno global, que se reproduz, com particularidades próprias, em diferentes países.

Esse esforço de entendimento do processo, de interpretação dos fatos e de produção de memória é insubstituível. Mas é necessário também responder ao que está nos adoecendo agora, antes que nos mate.

Em 10 de julho, o psiquiatra Fernando Tenório escreveu um post no Facebook que viralizou e foi replicado em vários grupos de Whatsapp. Aqui, um trecho: “Acabei de atender a um homem de 45 anos, negro, sem escolaridade. Nos últimos cinco anos, viu seus colegas de setor serem demitidos um a um e ele passou a acumular as funções de todos. Disse-me que nem reclamou por medo de ser o próximo da fila. Tem sintomas de esgotamento que descambam para ansiedade. Qual o diagnóstico para isso? Brasil. Adoeceu de Brasil. Se eu tivesse algum poder iria sugerir ao DSM (o manual de transtornos mentais da psiquiatria) esse novo diagnóstico. Adoecer de Brasil é a mais prevalente das doenças. Entrei agora na Internet e vi que a reforma da previdência corre para ser aprovada sem sustos. O povo, adoecido de Brasil, permanece inerte. Vai trabalhar sem direito a aposentadoria até morrer de Brasil”.

Não há normalidade nem jogo democrático quando um perverso governa a partir da administração do ódio e da mentira.

Alagoano da pequena Marimbondo, Fernando Tenório fez residência e atuou na rede pública de saúde mental do Rio de Janeiro. Atualmente, mantém consultório na capital fluminense e atende trabalhadores de um sindicato do setor hoteleiro. O psiquiatra me conta, por telefone, que cresceu muito o número de pessoas que chegavam ao seu consultório com sintomas como taquicardia, desmaios na rua, sinais de esgotamento corporal, dores de cabeça frequentes, sentimentos depressivos. Eram pessoas que estavam objetiva e subjetivamente esgotadas pela precarização das condições de trabalho, como jornada excessiva, acúmulo de funções, metas impossíveis de cumprir, falta de perspectivas de mudança, insegurança extrema. Tinham um “trabalho de merda” e, ao mesmo tempo, medo de perder o “trabalho de merda”, como testemunharam acontecer com vários colegas.

O psiquiatra diz que ele mesmo se descobriu adoecido meses atrás. “Fiquei muito mal, porque me senti quase um traficante de drogas legais. Estava tratando uma crise, que é social, no indivíduo. E, de certo modo, ao dar medicamentos, estava tornando essa pessoa apta a sofrer mais, porque a jogava de volta ao trabalho.” Na sua avaliação, o adoecimento está relacionado à precarização do mundo do trabalho nos últimos anos, acentuada pela reforma trabalhista aprovada em 2017, e foi agravado com a ascensão de um governo “que declarou guerra ao seu povo”. “O Brasil hoje é tóxico”, afirma.

Após a publicação do post, Tenório sentiu ainda mais o nível da toxicidade cotidiana do país: recebeu xingamentos e ameaças. Um dos agressores lembrou que sua filha, cuja foto viu em uma rede social, um dia poderia ser estuprada. A menina é um bebê de menos de 2 anos.

“Tóxico” é palavra de uso frequente de brasileiros ao relatarem o sentimento de viver em um país onde já não conseguem respirar. Na constatação de que o governo Bolsonaro já aprovou 290 agrotóxicos em apenas sete meses, o envenenamento ganha uma outra camada. É como se os corpos fossem um objeto atacado por todos os lados. País que ultrapassou a possibilidade das metáforas, a toxicidade do Brasil abrange todas as acepções.

Cresce nos consultórios os casos de depressão provocados e alimentados pelo contexto político e social

Mas que adoecimento é este que Tenório chama de “doente de Brasil”? Um psicanalista que prefere não se identificar por temer represálias explica que aumentou muito nos consultórios os quadros depressivos provocados pelo momento vivido pelo Brasil, em que especialmente pessoas ligadas à esquerda, mas não necessariamente ao PT, sentem uma total perda de sentido e horizonte. “Para a psiquiatria, a depressão é a tristeza sem contexto. Ou seja, ela é relacionada à estrutura psíquica de cada pessoa, às fundações e alicerces construídos na infância”, explica. “O que temos vivido hoje nos consultórios é o aumento da depressão com contexto, esta que não tem a ver com a estrutura do indivíduo e que nem vai melhorar no divã. Esta em que o uso de medicamentos só vai servir para obscurecer o esclarecimento das questões. Esta que só pode ser sanada por mudanças sociais.”

O rompimento dos laços, como a divisão das famílias provocada pela polarização política, tornou as pessoas ainda mais sujeitas ao adoecimento mental e com menos ferramentas para lidar com ele. Como disse um filósofo, ninguém deixa de dormir porque está tendo uma guerra no outro lado do mundo, com exceção daqueles que vivem a guerra. Com isso, ele queria dizer que as pessoas perdiam o sono muito mais por pequenas dores e preocupações comezinhas com as quais se identificavam, como as relacionadas à família e ao mundo dos afetos, do que por enormes barbáries que ocorriam no outro lado do mundo.

É preciso dizer: não vai ficar mais fácil. Não estamos mais lutando pela democracia. Estamos lutando pela civilização.

 

*Por Eliane Brum/El País