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Márcio Pochmann: Na América Latina governos neoliberais avançam para Estado Policial

Opção pelas medidas repressivas revela a intenção dos governos neoliberais do continente de procurar avançar para o Estado policial como gestão ofensiva contra a integração da violência com a desigualdade.

A crise global de 2008 despertou reação distinta no conjunto das economias latino-americanas quando comparada à Grande Depressão de 1929. Naquela oportunidade, países da região aproveitaram para alterar profundamente a sua orientação econômica, ao contrário do verificado mais recentemente, com a acomodação em torno das políticas neoliberais.

A divulgação do manifesto latino-americano por Raul Prebisch (O desenvolvimento econômico da América Latina e alguns de seus problemas principais), em 1949, apontou o equívoco na época que seria ter mantido o modelo de exportação das commodities da região centralizado na decadente Inglaterra. O abandono das políticas liberais vigentes e o deslocamento da centralidade para os Estados Unidos, o país mais dinâmico desde então, concedeu notável desempenho econômico à América Latina.

A elevação na participação da economia da região no Produto Interno Bruto mundial de menos de 7% para quase 12% entre as décadas de 1930 e 1970 resultou da instalação de governos nacionais comprometidos com projetos de substituição dos produtos industriais até então importados pela produção local, sempre que possível. Assim, as políticas desenvolvimentistas se destacaram na transformação inegável das bases materiais, cada vez mais diversificadas e integradas, e da mobilidade social ascendente da população latino-americana.

Na crise global desencadeada a partir de 2008, o conjunto da região não conseguiu alterar radicalmente a trajetória das políticas neoliberais adotadas desde a década de 1980, salvo exceções. Mesmo países como a Argentina, Brasil, Peru e Equador, por exemplo, que vinham adotando nos anos 2000 políticas desenvolvimentistas em reação à inserção passiva e subordinada do final do século 20, apresentaram retrocessos profundos na década de 2010, com a ascensão de governos pró-mercados.

Ejército de Chile/Reprodução
Exército chileno fazem a segurança do lado de fora da estação de metrô

Dessa forma, a crise global de 2008 terminou estabelecendo na região a consolidação do neoliberalismo e a subordinação à decadência relativa dos EUA, com o aprofundamento do modelo de especialização produtiva através da crescente dependência da exportação de commodities. O resultado passou a ser a continuidade na queda da participação relativa da economia latino-americana no PIB mundial para cerca de 7%, cada vez mais próxima do patamar verificado ainda na década de 1930.

O atual retorno ao modelo econômico prevalecente ao período pré-1930 tem implicado brutal regressão nas atuais bases materiais e sociais latino-americanas, pois não mais se tratam de sociedades agrárias, como no passado longínquo. O predomínio do padrão urbano de vida impõe a necessidade da convivência com custos cada vez mais difíceis de serem financiados frente à dominância das políticas de austeridade fiscal e de massificação, por consequência, da pobreza associada às ocupações precárias e ao desemprego generalizado.

Em função de mais de dois quintos da população ocupada na América Latina ter como rendimento do trabalho abaixo do valor do salário mínimo nacional, sobretudo entre jovens e mulheres, o corte no gasto público, sobretudo nos investimentos e políticas sociais, eleva ainda mais os constrangimentos à reprodução do padrão mínimo de vida urbana. A revolta que começa a se generalizar em vários países da região (Equador, Haiti e Chile) apenas enuncia a forma com que os governos de direita pretendem debelar o descontentamento social crescente.

A opção pelas medidas repressivas e de instalação do estado de emergência revela a intenção dos governos neoliberais da região de procurar avançar para o Estado policial como gestão ofensiva contra a integração da violência com a desigualdade, produto do próprio modelo econômico neoliberal em curso. Nestes termos, a América Latina que já possui a maior taxa mundial de homicídios (1 a cada 3 pessoas assassinadas), destacando-se ainda por deter 41 das 50 cidades mais violentas do mundo (21 pertencem ao Brasil), corre o sério risco do retrocesso político maior, que seria o abandono das recentes experiências de regimes democráticos, mais uma vez.

(*) Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

*Rede Brasil Atual

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Chega! Pequenos e médios empresários estouraram a paciência com as medidas de austeridade de Bolsonaro

Cresce a percepção junto ao setor produtivo de que as medidas de austeridade fiscal, tidas como o único instrumento capaz de recuperar a economia, fracassaram.

Na Folha de S. Paulo de 2/6/19, o jornalista Vinicius Torres Freire, relata o desalento e a impaciência de diversos pequenos e médios empresários brasileiros à beira da falência após mais de três anos de recessão ou baixo crescimento econômico.
Cresce a percepção junto ao setor produtivo de que as medidas de austeridade fiscal, tidas como o único instrumento capaz de recuperar a economia, fracassaram e que as políticas econômicas devem aumentar o investimento público, como forma de estimular a demanda e a atividade econômica.

Pibinho faz impaciência explodir
Pequenos e médios empresários escrevem para contar da exaustão e pedir solução já

“Deu!” “Não está funcionando.”

O estresse econômico transborda em fadiga de crise ou explosão de desesperança, a gente ouve por aí ou lê na caixa de mensagens. É a estafa de quem ao menos teve a boa sorte de sobreviver, pois muitos ficaram pelo caminho, para nem falar do povo largado na miséria.

recaída do Pibinho detonou de vez a insatisfação, a impaciência com a política econômica e com seus economistas. Deflagrou a conversa do “é preciso fazer alguma coisa, já, ninguém aguenta mais”.

Economistas-padrão, entre encabulados, perdidos ou estoicos, não têm muito a oferecer de novo, no melhor dos casos.

Nos dias piores desta depressão que já dura seis anos, este jornalista recebia vez e outra mensagens de pequenos e médios empresários contando durezas da vida e oferecendo sugestões do que fazer do país. Jamais foram tão frequentes quanto nas últimas semanas. É gente que conseguiu manter a empresa, mas está pelas tampas, para escrever português claro.

“A agenda de corte de gastos não está funcionando. Acho que talvez o governo devesse mudar de tática. Aumentar o endividamento, gastar com infraestrutura, convencer os bacanas da Bolsa de que não é gasto, e sim investimento, que resultará em melhor arrecadação e recuperação da economia. Porque teto disto e daquilo já mostrou que não vai tirar o Brasil do buraco”, escreve um empresário do “ramo de artigos industriais e agrícolas”.

recaída do Pibinho detonou de vez a insatisfação, a impaciência com a política econômica e com seus economistas. Deflagrou a conversa do “é preciso fazer alguma coisa, já, ninguém aguenta mais”.

“Minha empresa sobreviveu, eu não muito, eu não vejo as minhas filhas direito faz anos. Fico pensando se não é melhor vender logo tudo e viver de renda modesta, mas sem angústia de ficar cheio de dívida com fornecedor, colaborador ou falir, porque eu não sei o que vai ser o mês que vem”, desabafa um fabricante de alimentos.

“Não tenho ‘fobia’ de investir, como você escreveu. Eu não investiria porque acabou o dinheiro, minhas reservas, e o meu faturamento cai todo ano e minha empresa rende menos que o Tesouro Direto. Deu!”, escreve empresária do comércio e fabricação de roupas.

“Minha empresa caiu para um terço do que era, demiti dezenas. Entendo que precisa fazer reforma, acabar com desperdício do governo, impostos insanos, mas isso leva tempo e nem fizeram nada até agora. Meu problema é saber se no fim do ano vou ter para pagar o salário do sr. V., que está comigo faz 20 anos”, relata mais um, do ramo de logística ou de serviços gerais, não deu para entender bem.

“Hoje, para cada real investido no país, você demora em média três anos para recuperar. É melhor colocar na poupança”, conta um fabricante de material de construção.

Chega!

 

 

 

 

 

*Com informações do GGN