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No Brasil, gritaria dos porta-vozes do dinheiro só aparece quando a desigualdade cai, não quando cresce

Com o neoliberalismo cresceu a miséria, alterando a sua composição, como no caso dos usuários do programa de refeições para pobres em SP, originalmente para pessoas em situação de rua, agora frequentado por aposentados, subocupados e desempregados em longas filas de espera.

Em conformidade com dados do governo paulista, a quantidade de usuários que frequentam restaurantes de baixa renda em 2019 cresceu 250% no segmento social de renda zero, 224% para aqueles que recebem até meio salário mínimo mensal e 221% para pessoas com rendimento variável.

Governo Bolsonaro não representa a volta a fase pré Revolução de 1930, mas o retorno ao Estado teocrático, quando a igreja integrava a Monarquia.

Elogio ao deputado herdeiro da família real portuguesa e a posição do Itamaraty sobre religião como política de Estado não deixa dúvida.

Se depender do governo Bolsonaro, a situação do ano que vem não melhora, pois continuará o desembarque dos pobres do orçamento, com recursos de investimento para habitação de R$ 2,5 bilhões insuficientes para pagar obras em andamento, contratos assinados e nada de programa novo.

Retirada do Estado das políticas públicas pelo neoliberalismo aprofunda as desigualdades.

A restrição orçamentária ao SUS, que atende + de 80% do povo, empurra parte restante da população com renda a se transferir para os planos privados que atendem só 17% dos brasileiros negros.

Setores que sustentam o receituário neoliberal, como bancos e mídia, são os que + se distanciam da livre concorrência no Brasil.

Enquanto bancos monopolizam meios de pagamentos, como máquinas, emissores e bandeiras de cartão de crédito, nem 10 famílias controlam a mídia no país.

No Brasil de Bolsonaro, a relação de 32 candidatos por vaga no concurso para coletor de resíduos e material reciclável supera disputas no processo seletivo para o ingresso em cursos de graduação nas universidades paulistas que estão entre as mais concorridas do país.

Mídia comercial expõe sua parcialidade na cobertura amplíssima sobre a posição contrária dos bancos ao tabelamento do cheque especial imposto pelo governo Bolsonaro. Mas quando se trata da retirada de direitos social e trabalhista, inexiste espaço midiático para os trabalhadores.

Manifestação positiva de empresários à gestão de Bolsonaro comprova que desde o golpe de Estado que enterrou o ciclo político da Nova República (1985-2016) não há mais governo voltado à conciliação de classes, pois submetido a influência argentária dominante, exerce a plutocracia.

Da mesma forma que se explicita o adesismo de dirigentes patronais ao governo Bolsonaro, prometendo a melhora no desempenho da economia nacional, acelera a fuga dos recursos de investidores estrangeiros na bolsa de valores, a mais alta saída do Brasil dos últimos 15 anos.

Deterioração rápida das contas externas, estimada em + de 3% do PIB, revela subestimação das possibilidades da economia brasileira melhorar o desempenho em 2020. Saída de recursos para o exterior, asfixia de endividados em dólar e piora na balança comercial mantém a estagnação.

Tamanho do fosso que separa ricos e pobres no Brasil pode ser contabilizado pelo extremo pobre de 15 milhões de pessoas (7,2% da população) disporem de R$6,60 por dia e pelo extremo rico de 1,2 milhão de pessoas (1% da população) deterem R$1.824,00 diários (276 vezes mais).

No Brasil, gritaria dos porta-vozes do dinheiro só aparece quando a desigualdade cai, não quando cresce.

Desde 2015, os 50%+ pobres acumulam perdas de 17,1% na renda e os 40% de renda intermediária reduziram em 4,2%, enquanto os 10%+ ricos aumentaram em 4,2% e o 1%+ rico em 10,1%

Impressiona o grau do despreparo e até incompetência de membros da equipe econômica do governo Bolsonaro.

São tantos erros, manipulações e omissões como na projeção da previdência, dados da balança comercial, estimativas nas despesas de pessoal e na receita da cessão onerosa.

Queda na taxa de juros pode revelar o quanto a economia brasileira encontra-se necrosada pelo receituário neoliberal.

Em tese, reduzir juros motiva o investimento, quando não há registro de capacidade ociosa no parque produtivo, pois do contrário poderia prolongar a estagnação.

Vasamento de informações privilegiadas por membros do governo que permite o enriquecimento de especuladores, especialmente no mercado financeiro, constitui corrupção grave.

*Marcio Pochmann