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Por pandemia e Amazônia, Brasil será visto como país que põe Humanidade em risco

Monica de Bolle, pesquisadora da Universidade Johns Hopkins e do Peterson Institute, ambos em Washington (EUA), acredita que a vacinação desigual amplia as dificuldades de recuperação econômica de países emergentes, com muitos isolados da indústria do turismo, por exemplo. A economista brasileira, que se especializou em imunologia genética pela Universidade de Harvard e integra o Observatório Covid, alerta que o risco é global: ao ficar sem vacinas, países mais pobres podem favorecer que mais mutações surjam, ameaçando todo o planeta. Para o Brasil, contudo, prevê um cenário ainda pior, com a ampliação do debate ambiental somado ao sanitário.

Efeito Bolsonaro: Intervencionismo do governo dificulta atrair investimento para projetos de infraestrutura.

A economia será impactada pelos diferentes ritmos de vacinação entre os países?

As diferentes velocidades de aplicação da vacina no mundo certamente geram um cenário de risco de defasagens de recuperação em alguns países. Todos os países atrasados na vacinação correm o risco de estagnação, ou de uma recuperação muito aquém do que poderia ser com a vacinação no mesmo ritmo dos países desenvolvidos. Alguns devem sofrer consequências diretas, internas, e também externas. A atividade turística será prejudicada nessas nações, afetando a economia.

Isso pode gerar mais pobreza e desigualdade?

A ampliação da desigualdade entre os países já está ocorrendo, pela diferença na velocidade da vacinação. Há o risco do aumento da pobreza relativa pelo mundo. Mas, na verdade, essa defasagem de vacina coloca em risco a saúde e a economia do mundo inteiro.

Como assim?

A epidemia descontrolada em alguns países amplia a chance de surgimento de novas variantes do vírus. Isso coloca em risco o mundo inteiro. Não adianta Israel se vangloriar que vacinou todos e no Egito, digamos, o vírus siga descontrolado.

E como está o Brasil?

O Brasil, hoje, está entre os países atrasados na vacinação que terão uma recuperação mais lenta. Isso devido à incrível falta de visão do governo, que poderia ter articulado mais vacinas.

A questão ambiental se soma à saúde em como o Brasil é visto?

Há a perspectiva de que vamos sair da pandemia aguda para entrar na pandemia crônica. Ou seja, vamos ter debates sobre atualização de vacinas, fluxo de novas cepas. E haverá a preocupação do surgimento de novos vírus. E aí entra a questão do meio ambiente. Quanto mais a gente entra nos habitats naturais, onde estão os repositórios naturais destes vírus, mais a humanidade fica exposta, de modo geral, ao contato de novos vírus. As atenções, em relação ao Brasil, vão estar cada vez mais voltadas ao desmatamento na Amazônia. Não se trata apenas de uma questão climática, tem a questão pandêmica. Está cheio de repositório viral na Amazônia. O Brasil será visto não apenas como um país que não conseguiu controlar sua pandemia, atrasou na vacinação, mas como um país que está colocando o resto da Humanidade em risco, se continuar com as atuais políticas ambientais.

Na Europa está forte o debate sobre a criação de passaportes de vacinação. Isso pode afetar os países atrasados?

É inevitável. Não há a menor dúvida de que viagens internacionais estarão condicionadas a carteiras de vacina, assim como já ocorre hoje com a vacina da febre amarela. E, com a falta de vacina por problemas de planejamento, o isolamento do Brasil tende a ser maior, inclusive maior isolamento comercial.

É possível vacinação mais igual?

Há uma chance: acredito que, por volta de julho e agosto, vamos ter uma ideia melhor de quantas doses de vacina irão sobrar nos países ricos. Então provavelmente haverá uma reordenação destas vacinas, o que pode suprir um pouco essa defasagem de doses em muitos países emergentes.

Este é o cenário positivo. Há chances de o ritmo de vacinação piorar?

Sim. As vacinas dos países desenvolvidos usam um pedaço da proteína spike do vírus, não o vírus inteiro. E as mutações que temos visto até o momento alteram justamente esta proteína. Se surgir uma cepa com mutações a ponto de requerer uma atualização das vacinas, estamos falando de todas as vacinas dos países ricos. A possível exceção é a das vacinas de vírus inativado, que usam o vírus inteiro e podem ter uma resposta melhor a mutações da proteína spike. Entre elas estão a Coronavac e as vacinas indianas. Se elas se saírem melhor, o mundo inteiro pode, enquanto estiver atualizando suas vacinas, ficar dependente da China e da Índia, atrasando toda a vacinação global e gerando uma nova disputa por imunizantes. Mas é uma hipótese.

Trump piorou a coordenação internacional da pandemia?

Sem Donald Trump, a cooperação internacional seria melhor, não só devido à sua posição negacionista, mas por ter retirado os EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS), que perdeu recursos. Agora, se Trump não fosse presidente dos EUA, o mundo estaria cooperando lindamente? Não. Nessas horas os países ficam com a mentalidade de cada um por si, a vacina vira uma questão de política interna, não tem jeito. Agora China, Índia e Indonésia estão ampliando a doação de vacinas. Não tenho dúvida de que estes países vão ganhar espaço geopolítico.

A pandemia gerou o debate mundial de que ter uma cadeia de fármacos própria é algo relevante e estratégico?

Sim, este debate está na ordem do dia. Aqui nos EUA, por exemplo, há uma enorme preocupação para que o país tenha a capacidade de produzir tudo relacionado à vacinação e à pandemia, inclusive máscaras, que hoje vêm da China. É uma cadeia enorme. E as coisas mais básicas, como seringa, tubo de ensaio, luvas, estava tudo direcionado para a importação da China e da Índia. Máscaras agora são vistas como item necessário para a segurança nacional.

*Foto destaque/Revista Galileu

*Com informações de O Globo

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No Brasil, gritaria dos porta-vozes do dinheiro só aparece quando a desigualdade cai, não quando cresce

Com o neoliberalismo cresceu a miséria, alterando a sua composição, como no caso dos usuários do programa de refeições para pobres em SP, originalmente para pessoas em situação de rua, agora frequentado por aposentados, subocupados e desempregados em longas filas de espera.

Em conformidade com dados do governo paulista, a quantidade de usuários que frequentam restaurantes de baixa renda em 2019 cresceu 250% no segmento social de renda zero, 224% para aqueles que recebem até meio salário mínimo mensal e 221% para pessoas com rendimento variável.

Governo Bolsonaro não representa a volta a fase pré Revolução de 1930, mas o retorno ao Estado teocrático, quando a igreja integrava a Monarquia.

Elogio ao deputado herdeiro da família real portuguesa e a posição do Itamaraty sobre religião como política de Estado não deixa dúvida.

Se depender do governo Bolsonaro, a situação do ano que vem não melhora, pois continuará o desembarque dos pobres do orçamento, com recursos de investimento para habitação de R$ 2,5 bilhões insuficientes para pagar obras em andamento, contratos assinados e nada de programa novo.

Retirada do Estado das políticas públicas pelo neoliberalismo aprofunda as desigualdades.

A restrição orçamentária ao SUS, que atende + de 80% do povo, empurra parte restante da população com renda a se transferir para os planos privados que atendem só 17% dos brasileiros negros.

Setores que sustentam o receituário neoliberal, como bancos e mídia, são os que + se distanciam da livre concorrência no Brasil.

Enquanto bancos monopolizam meios de pagamentos, como máquinas, emissores e bandeiras de cartão de crédito, nem 10 famílias controlam a mídia no país.

No Brasil de Bolsonaro, a relação de 32 candidatos por vaga no concurso para coletor de resíduos e material reciclável supera disputas no processo seletivo para o ingresso em cursos de graduação nas universidades paulistas que estão entre as mais concorridas do país.

Mídia comercial expõe sua parcialidade na cobertura amplíssima sobre a posição contrária dos bancos ao tabelamento do cheque especial imposto pelo governo Bolsonaro. Mas quando se trata da retirada de direitos social e trabalhista, inexiste espaço midiático para os trabalhadores.

Manifestação positiva de empresários à gestão de Bolsonaro comprova que desde o golpe de Estado que enterrou o ciclo político da Nova República (1985-2016) não há mais governo voltado à conciliação de classes, pois submetido a influência argentária dominante, exerce a plutocracia.

Da mesma forma que se explicita o adesismo de dirigentes patronais ao governo Bolsonaro, prometendo a melhora no desempenho da economia nacional, acelera a fuga dos recursos de investidores estrangeiros na bolsa de valores, a mais alta saída do Brasil dos últimos 15 anos.

Deterioração rápida das contas externas, estimada em + de 3% do PIB, revela subestimação das possibilidades da economia brasileira melhorar o desempenho em 2020. Saída de recursos para o exterior, asfixia de endividados em dólar e piora na balança comercial mantém a estagnação.

Tamanho do fosso que separa ricos e pobres no Brasil pode ser contabilizado pelo extremo pobre de 15 milhões de pessoas (7,2% da população) disporem de R$6,60 por dia e pelo extremo rico de 1,2 milhão de pessoas (1% da população) deterem R$1.824,00 diários (276 vezes mais).

No Brasil, gritaria dos porta-vozes do dinheiro só aparece quando a desigualdade cai, não quando cresce.

Desde 2015, os 50%+ pobres acumulam perdas de 17,1% na renda e os 40% de renda intermediária reduziram em 4,2%, enquanto os 10%+ ricos aumentaram em 4,2% e o 1%+ rico em 10,1%

Impressiona o grau do despreparo e até incompetência de membros da equipe econômica do governo Bolsonaro.

São tantos erros, manipulações e omissões como na projeção da previdência, dados da balança comercial, estimativas nas despesas de pessoal e na receita da cessão onerosa.

Queda na taxa de juros pode revelar o quanto a economia brasileira encontra-se necrosada pelo receituário neoliberal.

Em tese, reduzir juros motiva o investimento, quando não há registro de capacidade ociosa no parque produtivo, pois do contrário poderia prolongar a estagnação.

Vasamento de informações privilegiadas por membros do governo que permite o enriquecimento de especuladores, especialmente no mercado financeiro, constitui corrupção grave.

*Marcio Pochmann