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General Etchegoyen, que conspirou para derrubar Dilma, agora tergiversa sobre risco de ruptura

“Nunca os militares se manifestaram para corrigir para lá ou para cá”.

Esta assertiva patética e risível foi feita pelo general da reserva Sérgio Etchegoyen ao jornal Valor Econômico em entrevista [8/1/2021].

Este general não é nenhum desinformado ou alienado. E, menos ainda, alguém alheio à acidentada história do Brasil no último século. Ele sabe, mais que ninguém, o quanto seu avô, seu pai, seu tio, seu último comandante [Villas Bôas] e ele mesmo conspiraram e intervieram para “corrigir” o país.

Sérgio Etchegoyen legou da família a tradição da intromissão antiprofissional dos militares na política brasileira pelo menos desde a 2ª metade dos anos 1920.

Seu avô Alcides, então 1º tenente, atuou na conspiração para derrubar Washington Luís, impedir a posse do eleito Júlio Prestes e instalar Getúlio Vargas na presidência. Duas décadas depois, em 1955, e já como general, vovô Alcides conspirou para impedir a posse de Juscelino Kubitschek e João Goulart como presidente e vice eleitos.

Em 1964, o pai dele – Leo Etchegoyen – e seu tio Cyro Etchegoyen participaram do golpe que derrubou Jango. Em recompensa, ocuparam postos relevantes na ditadura.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, o coronel Paulo Malhães apontou o tio Cyro Etchegoyen como responsável pela Casa da Morte – um conhecido centro macabro e de tortura do Exército em Petrópolis/RJ.

O próprio Sérgio Etchegoyen, honrando tal tradição familiar, conspirou para derrubar a presidente Dilma. Como se lê no livro de um dos ideólogos golpistas do MDB, Denis Rosenfield, mesmo ele sendo Chefe do Estado-Maior do Exército nomeado pela presidente Dilma, o traidor acompanhou o então comandante do Exército, general Villas Bôas, outro traidor também nomeado pela presidente Dilma, em encontros secretos com o também traidor e conspirador vice-presidente Temer. Tais encontros começaram 1 ano antes do golpe.

Não por coincidência, em 12 de maio de 2016, no mesmíssimo dia em que o Senado afastou Dilma da presidência na farsa do impeachment, Sérgio Etchegoyen entrou para a reserva no Exército e, simultaneamente, assumiu como ministro do Gabinete de Segurança Institucional [GSI] do governo usurpador.

No GSI, Etchegoyen empoderou as Forças Armadas, recompôs as áreas de informação, controle e inteligência do Estado desde a perspectiva militar e iniciou o processo de colonização e aparelhamento do Estado por militares, que hoje se traduz em quase 10 mil postos civis de trabalho e comando do setor público ocupados por militares.

Na entrevista ao Valor, Sérgio Etchegoyen ainda tergiversou defendendo Bolsonaro e responsabilizando ministros do STF por atentados à Constituição: “Qual a atitude efetiva do Bolsonaro, em termos de desapreço à Constituição Federal, comparável a de alguns ministros do STF que não se constrangeram em agredir a gramática para dar sustentação à esdrúxula tese de apoio à reeleição, na mesma legislatura, dos presidentes das duas Casas do Congresso?”, desafiou o general.

É claro que Etchegoyen tem razão quanto à absurda discussão, pelo STF, da reeleição das presidências do Congresso. Mas, se tivesse mínimo apego à verdade, ele reconheceria que Bolsonaro já cometeu vários atentados à Constituição e ameaçou o fechamento do Congresso e do STF inclusive em frente ao Quartel General do Exército e na rampa do Planalto – com o agravante de estar acompanhado nesta escalada golpista por militares da ativa e da reserva.

Etchegoyen outra vez tergiversou ao analisar os riscos do Bolsonaro promover em 2022 o mesmo que Trump no Capitólio. E ele outra vez defendeu Bolsonaro e desdenhou da ameaça de ruptura como mera “retórica oposicionista” [“narrativa”]: “Dizer agora que a invasão do Capitólio é uma prévia do que pode acontecer aqui é antecipar o reforço a uma narrativa que hoje se opõe incondicionalmente ao governo Bolsonaro, é torcer pra isso acontecer, é trabalhar contra o país”, disse ele.

Etchegoyen sabe que se o país não estivesse sob um regime de exceção com tutela militar, Bolsonaro sequer poderia ter concorrido, quanto menos eleito presidente. E ele também sabe que é graças a este garrote jurídico-militar sobre as instituições e poderes de Estado que Bolsonaro ainda não foi removido do cargo e preso.

Mas o general pensa que todo mundo é otário, e então tergiversa à vontade. Não é o caso de classificá-lo como um hipócrita ou cínico, mas sim de lembrar que Etchegoyen age assim porque tem uma mente militar adestrada para dissimular, confundir, executar operações psicológicas e promover táticas diversionistas para estontear os adversários e enganar os inimigos no campo de batalha.

E, ao final da guerra, quando se percebe a realidade concreta, que é antagônica à paisagem bucólica pintada por ele com sua fala dissimulada, aí já é tarde demais.

Não é prudente, portanto, confiar-se nas palavras dele. Afinal, como confiar num general com currículo de conspirador como Sérgio Etchegoyen, que em pleno 2021 ainda sustenta que “Nunca os militares se manifestaram para corrigir para lá ou para cá”?

*Jeferson Miola/247

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Em vídeo, Claudio Guerra confessa que incinerou o corpo de Fernando Augusto Santa Cruz

Em vídeo postado no twitter por Ilma Tosta, Claudio Guerra, que foi delegado da Ordem Política e Social (DOPS) do Espírito Santo, em depoimento à Comissão da Verdade, em 2014, confessa que incinerou o corpo de Fernando Augusto Santa Cruz, pai do presidente da OAB Felipe Santa Cruz, na Usina Cambhyba, no Rio de Janeiro.

No depoimento, Guerra diz que pegava os corpos na Casa da Morte, em Petrópolis, espaço utilizado por militares e em um batalhão do Exército para queimá-los na usina.

Diferente do que disse Jair Bolsonaro o relatório da Comissão Nacional da Verdade, divulgado em 2014, indicou que Fernando Augusto Santa Cruz foi morto por órgãos de repressão da ditadura militar. No documento não há indícios de que Santa Cruz, integrante de um de revolucionários contrário os militares pudesse ter sido morto por seus correligionários como sugeriu Bolsonaro nesta segunda-feira (30).

Apesar de o corpo de Fernando Santa Cruz nunca ter sido encontrado, o relatório da Comissão apresenta duas hipóteses para o desaparecimento dele, ele teria sido incinerado no Rio de Janeiro ou enterrado como indigente em uma vala comum em São Paulo. Nos dois casos, a morte do pai do presidente da OAB é atribuída a agentes do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, DOI-CODI.

Essas hipóteses ganham força, porque um documento secreto da Aeronáutica, anexado ao relatório da CNV e divulgado pelo jornalista Bernardo Mello Franco confirma que Santa Cruz estava sob custódia do estado desde 22 de fevereiro de 1974.

Assista:

 

 

*Com informações do Uol