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Mulher é presa no RJ por suspeita de financiar atos golpistas; polícia busca ex-candidato a vereador

Operação da PF foi deflagrada nesta segunda-feira, e também prendeu Júnior Bombeiro. Carlos Victor Carvalho ainda se encontra foragido.

De acordo com O Globo, uma mulher de 48 anos, alvo de operação da Polícia Federal (PF) por financiar atos golpistas, se entregou na noite desta segunda-feira em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Elizângela Cunha Pimentel Braga é um dos três alvos da ação da PF, que desde ontem cumpre mandados de prisão temporária no estado do Rio, além de busca e apreensão. O bombeiro Roberto Henrique de Souza Júnior, conhecido como “Júnior Bombeiro’, foi detido. O ex-candidato a vereador de Campos dos Goytacazes, Carlos Victor Carvalho, ainda se encontra foragido.

Os três são suspeitos de financiarem atos que desencadearam a depredação dos prédios públicos e dos atentados contra as instituições democráticas, ocorridas em 8 de janeiro, na praça dos Três Poderes, em Brasília. De acordo com a PF, a investigação busca identificar as lideranças locais que bloquearam as rodovias que passam pelo município e organizaram as manifestações em frente aos quartéis do Exército situados na cidade. Na ação também foram apreendidos celulares, computadores e documentos diversos.

O mandado de prisão está sob sigilo e a Polícia Federal não detalhou as ações de cada um.

Influenciador de direita foragido

Influenciador de direita foragido

Carlos Victor Carvalho, o “CVC da Direita Campos” é um dos alvos da operação da PF — Foto: Reprodução

O único nome do trio ainda não encontrado é Carlos Victor Carvalho, de 34 anos. Carvalho é fundador da Associação Direita Campos e administra perfis nas redes sociais de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em 2020, ele se candidatou a vereador pelo Republicanos, recebeu 2.292 votos e não se elegeu.

O perfil pessoal do ex-candidato nas redes tem mais de 50 mil seguidores, e além de postagens em apoio a Bolsonaro, traz críticas ao presidente Lula (PT). No Instagram, ele tem como foto de perfil uma imagem em que faz o gesto de “arminha” com as mãos e se apresenta como “cristão, conservador, anticomunista e contra o aborto”. A conta é privada, mas seguida pelo deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ).

Bombeiro disputou eleição

Roberto Henrique de Souza Júnior - Subtenente do Corpo de Bombeiros do RJ — Foto: Reprodução

Preso nesta segunda-feira, o subtenente do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro Roberto Henrique de Souza Júnior, de 52 anos, foi candidato a deputado federal nas eleições de 2018. À época, o bombeiro lotado em Guarus, no Norte Fluminense, disputou o pleito pelo Patriota, partido ligado à base do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), sob a alcunha de “Júnior Bombeiro” e obteve 1.260 votos. Ele foi preso em casa.

Em agosto do ano passado, ele foi condenado pela Justiça Eleitoral por mau uso do fundo partidário. De acordo com o Tribunal Regional Eleitoral do Rio, o então candidato não prestou suas contas de campanha, motivo pelo qual foi obrigado a devolver R$ 4 mil.

Em 2011, o subtenente chegou a ser preso por participar de uma manifestação liderada por Cabo Daciolo. Na ocasião, o então 1° sargento e seus 429 colegas quebraram 12 viaturas e os portões do Quartel Central do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) enquanto pediam melhores salários. Júnior tem 33 anos de corporação.

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Bolsonarismo

Quem é quem: Conheça as pessoas acusadas de organizar e financiar os atos golpistas no Brasil

Empresários do agronegócio, setor privilegiado por Bolsonaro em seu governo, lideram a lista.

Com base em relatórios enviados por polícias de diversas esferas e pelo Ministério Público, o ministro do Superior Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou, no último sábado (12), o bloqueio de contas bancárias de 43 pessoas físicas e jurídicas acusadas de incitarem, apoiarem, participarem e financiarem os atos antidemocráticos que pedem intervenção militar no Brasil após o fracasso de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas, derrotado na disputa pela presidência da República por Luiz Inácio Lula da Silva.

A relação é dominada por nomes ligados ao agronegócio, setor que mantém relações próximas com Jair Bolsonaro e que foi beneficiado por medidas tomadas pelo atual governo, principalmente no âmbito do Ministério do Meio Ambiente. Durante a gestão do ex-ministro Ricardo Salles, o titular da pasta chegou a admitir que era preciso “deixar a boiada passar.”

Os acusados foram responsáveis, de acordo com as investigações, pela organização das paralisações de avenidas, rodovias e estradas em diversas regiões do país. O levantamento contrasta com a versão bolsonarista de que os atos antidemocráticos teriam um caráter espontâneo, sem qualquer estímulo financeiro ou político.

A lista também mostra que entre os principais organizadores e financiadores das manifestações dos lamuriosos bolsonaristas estão empresários do círculo pessoal de Jair Bolsonaro, aproximando os atos da presidência da República.

O Brasil de Fato destacou alguns dos nomes que aparecem nos relatórios apresentados ao ministro Alexandre de Moraes. Confira.

Acre

Jorge José de Moura e Henrique Luís Cardoso Neto são dois empresários ligados ao agronegócio acreano e estiveram à frente das paralisações no estado. Ambos são acusados de organizar e financiar os protestos golpistas e foram pessoalmente ao trancamento da BR364, onde gravaram vídeos e convidaram a população local para manifestações na sede do Exército.

A dupla é produtora de grãos e gado no Acre. Moura é conhecido como o “rei da soja” no estado e foi preso, em flagrante, no dia 10 de novembro de 2021, em Xapuri, por porte ilegal de arma.

Neto, que é dono da Fazenda Nitheroy, foi candidato a vereador em seu município de origem, Senador Guiomar, em 2016. Na época, o pecuarista declarou possuir R$ 8 milhões em patrimônio.

Ceará

As manifestações golpistas no Ceará terminaram com 55 multas que somam R$ 968 mil, aplicadas aos líderes das barreiras em estradas e rodovias. De acordo com a investigação, existem dois organizadores responsáveis pelas mobilizações, o policial penal Abrahao Vinicius Batista Possidonio e o sargento da PM Anderson Alves Pontes Garcias.

Minas Gerais

Cristiano Rodrigues dos Reis e Esdras Jonatas dos Santos são apontados pela Polícia Militar de Minas Gerais como principais lideranças dos atos golpistas no estado. A investigação da corporação foi encaminhada ao STF e utilizada como base na decisão de Alexandre de Moraes.

Reis é gerente de vendas da Dicabelo, empresa de tratamento capilar, e líder do Movimento Direita BH, que serve de linha auxiliar do bolsonarismo na capital mineira, com bandeiras de extrema-direita. Em suas redes sociais, não esconde o empenho pelas manifestações e pautas incorporadas pelos bolsonaristas. Além disso, há fotos com diversas lideranças políticas próximas ao atual presidente, como a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos) e o governador mineiro Romeu Zema (Novo).

“Esse movimento não é um movimento de defesa de um candidato, mas de defesa da nossa pátria, porque nós, da sociedade civil e militar, não aceitamos um bandido conduzindo essa República. Deus salve o nosso Brasil”, disse Reis, em vídeo publicado nas suas redes sociais, na última terça-feira (15), em que aparece vestindo uma camiseta do Exército.

Esdras Jonatas dos Santos é empresário do ramo têxtil e é um dos sócios da marca Lemy, em Belo Horizonte. Em suas redes sociais, há uma quebra de padrão no estilo de suas publicações.

Desde 31 de outubro, data da derrota de Jair Bolsonaro (PL) para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Santos já fez 32 publicações relacionadas ao fracasso eleitoral do atual presidente ou sobre manifestações na capital mineira, abandonando as imagens antigas, em que ostentava seu estilo de vida.

Em um vídeo no qual foi marcado, Santos pode ser visto aos gritos, em cima de um trio elétrico, estimulando os manifestantes a pedirem ajuda “ao general”. “Forças Armadas, salvem o Brasil”, bradavam os golpistas.

Goiás
A Justiça do Trabalho de Goiás aponta o agropecuarista Victor Cezar Priori como responsável por financiar protestos antidemocráticos no estado. O empresário foi flagrado coagindo seus funcionários a participarem das manifestações e cooperarem com o bloqueio de rodovias, durante o horário de trabalho.

“Minhas empresas estão todas fechadas, de todas as fazendas tem gente nas rodovias, os caminhões e tudo estão colaborando”, disse Priori, em vídeo que está anexado à investigação contra o agropecuarista na Justiça do Trabalho.

Em 2012 e 2016, Priori se candidatou à prefeitura de Jataí

em Goiás. Na primeira, teve a candidatura impugnada. Na segunda, perdeu a eleição e declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) possuir R$ 51 milhões em patrimônio.

Priori é um dos sócios do grupo Paraíso, uma empresa que reúne diversos empreendimentos do agronegócio, como produção de leite, gado, soja e milho, além da comercialização de maquinário, como tratores.

Rio Grande do Sul

Com 259 mil votos, o Tenente Coronel Zucco (Republicanos) foi o deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul, nas eleições deste ano. Agora, usa sua influência para incentivar os atos antidemocráticos no estado, segundo a investigação da Polícia Civil.

Zucco seria, de acordo com os policiais, o responsável pelas manifestações que insistem no pedido de um golpe militar no país.

O deputado federal, que declarou ao TSE que possui R$ 389 mil em patrimônio, participou de atos na frente de um comando militar do Exército e incentivou os manifestantes em “retomar aquilo que as eleições supostamente teriam subtraído do povo.”

De acordo com a Polícia Civil, outras lideranças políticas também estimularam e organizaram atos antidemocráticos no Rio Grande do Sul. Todos concorreram a cargos públicos nas eleições deste ano.

A relação inclui o vereador de Dom Pedrito Patrício Jardim Antunes (PP), os policiais Mariana Lescano (PP) e Thiago Teixeira Raldi (PSC), além do delegado Heliomar Ataydes Franco (UB).

Santa Catarina

Emílio Dalçoquio Neto é o empresário que garantiu financeiramente os atos antidemocráticos em Santa Catarina. Herdeiro de uma transportadora e ex-presidente do Sindicato das Empresas de Veículos de Cargas de Itajaí (Seveículos), ele é apontado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) como responsável por trancamentos de avenidas e rodovias no estado.

O empresário é próximo de Jair Bolsonaro, com quem já foi visto em agendas de campanha em Santa Catarina, e focou sua influência nas manifestações no município de Itajaí, litoral norte de Santa Catarina, onde mantém parte de suas empresas.

A PRF identificou áudios e mensagens em grupos de caminhoneiros que foram enviados por Neto, convocando a categoria às ruas, no dia da eleição, 30 de outubro, quando o fracasso de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas já era público.

Neto é investigado pelo Ministério Público por ter provocado um locaute na paralisação de caminhoneiros de 2018. Além do herdeiro, que foi indicado pela PRF, o Ministério Público de Santa Catarina apontou mais doze empresários que podem ter cooperado financeiramente para a manutenção dos atos antidemocráticos.

Em entrevista à rádio CBN, no dia 9 de novembro, o promotor Fernando Comin explicou que a identidade dos acusados seria preservada. “Nomes não podem ser ditos, para não atrapalhar as investigações. O que eu posso apontar, mais de 12 empresários e lideranças foram identificados até agora, é um cruzamento de dados, mas a atividade dessas pessoas nas redes sociais, nos bastidores, nos movimentos, quem estava arrecadando, quem financiou a estruturação dessas bases, quem incitou a prática de violência contra a polícia.”

Mato Grosso

Da capital do agronegócio brasileiro, Sorriso, no Mato Grosso, vem um dos principais articuladores das manifestações antidemocráticas no país, o empresário Argino Bedin, produtor rural que é chamado de “pai da soja” na região.

Seu nome está na relação que foi encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes como possíveis financiadores dos atos. Em entrevista ao site O Joio e o Trigo, em março deste ano, o empresário afirmou que é “Bolsonaro até debaixo d’água.”

Ainda no Mato Grosso, também no município de Sorriso, está Atilio Elias Rovaris, empresário do agronegócio e apontado como um dos financiadores das manifestações golpistas.

Rovaris doou R$ 500 mil para a campanha de Bolsonaro, nas eleições deste ano. O empresário é dono da transportadora Rovaris e também é produtor rural, com diversos empreendimentos.

*Brasil de Fato

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