“Aqueles que têm o poder de destruir a vida não nos escutam […] ainda que representemos a grande maioria”, declarou Gustavo Petro durante discurso na ONU.
O mundo está à beira do desastre, mas ninguém assume a responsabilidade por isso, pareceu ser a conclusão do primeiro dia do chamado “debate geral” da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.
Talvez por isso, o secretário-geral, António Guterres, condenou o que chamou de “impunidade” global, ao abrir, nesta terça-feira (24), a sessão inicial do debate geral, junto com “a desigualdade” e “a incerteza”, um trio que está levando a civilização à beira de desastres, e essa rota é insustentável. “Estamos nos aproximando do inimaginável, um barril de pólvora que está envolvendo o mundo inteiro”, advertiu Guterres, e assinalou que as guerras, a mudança climática e a desigualdade estão piores do que nunca. Ao mesmo tempo, convidou aos participantes: “os desafios que enfrentamos podem ser resolvidos”.
Ele ressaltou a impunidade, onde “as violações e abusos ameaçam o próprio alicerce do direito internacional e da Carta da ONU”. Acrescentou que “o nível de impunidade no mundo é politicamente indefensável e moralmente intolerável”, onde governos acreditam que podem violar as convenções internacionais e a Carta da ONU, “invadir outro país ou destruir sociedades inteiras” sem consequências. Assinalou os casos da Ucrânia e de Gaza, aos quais chamou “um pesadelo sem fim que ameaça levar toda uma região”; condenou os atos do Hamas, mas afirmou que “nada pode justificar o castigo coletivo do povo palestino”, que incluiu também a morte de mais de 200 funcionários da ONU. Guterres detalhou as injustiças da desigualdade econômica e também da mudança climática, insistindo que a única solução é multilateral e urgente. E que não há muito tempo.
Lula na ONU O desfile anual de mandatários e altos representantes dos 193 países membros começou, por tradição, com o presidente do Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, uma das vozes mais poderosas do Sul Global, elevou o alerta sobre o rumo atual do planeta.
Lula falou sobre os esforços do Brasil para impulsionar um acordo para frear as guerras em Gaza e na Ucrânia, e advertiu que esses conflitos demonstram o fracasso da comunidade internacional.
Da mesma forma, deplorou um sistema econômico internacional que se “converteu em um Plano Marshall ao contrário, onde os mais pobres financiam os mais ricos”. Os mais ricos, afirmou, duplicaram suas fortunas e pagam menos impostos que os pobres, proporcionalmente 60% da humanidade é agora mais pobre — ante o qual o Brasil está promovendo uma proposta para estabelecer normas mínimas de impostos globais.
Outras vozes do Sul Global O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, acusou, com um discurso lírico, que nesse fórum da ONU “aqueles que têm o poder de destruir a vida não nos escutam”, [não escutam] os que não têm armas de destruição em massa ou grande quantidade de dinheiro, “ainda que representemos a grande maioria”.
Ele advertiu ainda que “a floresta amazônica está queimando” e isso implica o fim do mundo. Acusou que, “quando Gaza morrer, toda a humanidade morrerá”, pois as crianças palestinas “são o povo escolhido de Deus”. O que ele chamou de “oligarquia mundial” da mudança climática, das guerras, das punições econômicas contra países desobedientes como Cuba, e concluiu que a pergunta agora para o mundo é: a vida ou a ganância? Indicou que chegou a hora de pôr fim à oligarquia mundial e substituí-la por uma democracia dos povos. Que já não se precisa ouvir os Biden, Xi, Putin e os europeus, mas sim os povos.
Ualid Rabah destaca papel do Brasil e do Sul Global no apoio à Palestina e condena Israel: ‘pior genocídio da história’.
Uma futura reconstrução da Faixa de Gaza – arrasada por Israel desde o dia 7 de outubro de 2023 – deve ser liderada pelos países do BRICS e pelos próprios palestinos, sem participação de potências ocidentais. Essa é a opinião de Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Rabah classificou positivamente a atuação do Brasil diante do massacre cometido pelas forças israelenses em Gaza e destaca o papel ativo que o país pode ter nos esforços para reconstruir o enclave palestino.
“A reconstrução de Gaza não pode ficar sob o monopólio ocidental. Isso não é mais possível. Nada que diga respeito à Palestina pode ser liderado pelo Ocidente, especialmente pelos Estados Unidos. Então, o nosso esforço é para que o Brasil lidere nos Brics ou faça um esforço nesse sentido”, afirmou.
Desde o início do massacre recente, iniciado em outubro do ano passado após ataques do Hamas, mais de 42 mil palestinos já foram mortos por Israel em Gaza, que também destruiu diversos locais cruciais de infraestrutura e importantes para a manutenção da vida no território.
“É uma tentativa de causar o colapso da capacidade reprodutiva de uma sociedade inteira. Esse é o genocídio de novo tipo, nunca foi visto”, afirmou Rabah.
O presidente da Fepal ainda mencionou o papel ativo da diplomacia chinesa, que mediou um acordo histórico entre Hamas, Fatah e outras 12 organizações palestinas em busca de unidade. “É preciso haver uma unidade Palestina e aí entra o papel da China. A Palestina e os palestinos devem encontrar um meio de reconciliação de todas as forças políticas e sociais. E das organizações não apenas partidárias ou daquilo que nós designamos como resistência”, disse.
Em termos financeiros, Rabah menciona os números citados pela União Europeia, que já disse ser necessário um investimento de US$ 90 bilhões (mais de R$ meio trilhão) para reconstruir Gaza. Para ele, deveria existir apoio da ONU e de uma comunidade de países do chamado Sul Global, mas sem a participação do Ocidente.
“É preciso reconstruir Gaza plenamente e é preciso acabar com o bloqueio a Gaza. É preciso que tudo isso aconteça em um processo de reconhecimento do Estado da Palestina, dentro de um consenso interno palestino e dentro de um consenso internacional, com base nas regras estipuladas. Deve haver, dentre essas regras, o direito de retorno dos palestinos. Sem isso, não haverá paz, nem para palestinos, nem para os que se tornaram israelenses”, disse.
O genocídio de Gaza sela o fim da civilização ocidental, que deseja arrastar em sua queda o resto da humanidade. Só há uma saída: consciência anticolonial.
Gaza não é apenas Gaza. Martirizada e indomável, é também um símbolo universal. Representa o mundo colonizado. O imigrante, o oprimido, a mulher, o índio, o negro. O tratamento que Gaza receba, é o mesmo que receberemos nós, os demais. “Gaza é a primeira experiência para considerar-nos a todos descartáveis”: frase de Gustavo Petro, retomada pelo político e escritor grego Yanis Varoufakis.
Gazificação do Terceiro Mundo como estratégia imperial
O genocídio em Gaza polarizou a humanidade. De um lado, cresce globalmente uma consciência solidária e anticolonialista, derivada do apoio ao povo palestino.
Em uma chuvosa tarde de Bogotá do mês de junho, realiza-se um megaconcerto na Praça de Bolívar. Com uma enorme bandeira palestina no fundo e a consigna CESSAR O GENOCÍDIO, cantam músicos como nascido em Ramallah, ou o conjunto Escopetarra, porta-voz colombiano da não violência. Com a kufiya branca e preta no pescoço, as e os jovens que esperam em longas filas sob o aguaceiro, vão entrando até a praça transbordar.
No outro lado, em contraposição e ligados aos interesses de Israel, agarram-se à intolerância, à xenofobia, à islamofobia e à prática de métodos extremos de espoliação, invasão e extermínio.
Por volta da mesma data do concerto em Bogotá, no teatro Gubbangen de Estocolmo, um comando de nazistas mascarados ataca uma reunião pró-palestina de partidos de esquerda, ferindo 50 pessoas. Em Nuseirat, no centro de Gaza, uma escola da ONU é bombardeada por Israel, com um saldo de 50 mortos e dezenas de feridos. Na cidade de Washington – quando os massacrados em Gaza já ultrapassam os 40 mil – Netanyahu se faz presente e fala ao Congresso norte-americano, onde recebe uma cerrada ovação de pé.
Ante os horrores da Segunda Guerra Mundial, o escritor George Bataille teve uma visão. Bataille viu a Terra projetada no espaço como uma mulher que grita com a cabeça em chamas. A imagem aparece hoje ante nossos olhos. Somos testemunhas do genocídio: esta será nossa marca geracional.
Em Gaza, a política de terra arrasada Israel e o sionismo, com sua política de terra arrasada e extermínio, determinam a meta e definem a pauta a seguir.
Os poderes ocidentais que apoiaram e fomentaram esta monstruosa calamidade, transformam sua ordem baseada em regras em uma ordem baseada em hipocrisia, violência e duplos critérios: condenam a invasão da Ucrânia por parte da Rússia, mas não condenam a invasão da Palestina por parte de Israel.
A tolerância e a cumplicidade com os crimes de guerra de Israel empurram o Ocidente para o abismo do inumano. Ao permitir a si mesmo o que tolerou de Israel, o Ocidente assumirá a guerra como meio e o espólio como fim. Não haverá ira nem selvageria que não considere lícitos e que não utilize em causa própria.
Crianças despedaçadas; mulheres queimadas vivas; povos condenados à sede e à fome; tortura de prisioneiros; recém-nascidos destinados a morrer; violação de todo asilo, seja escola, hospital ou campo de refugiados. Nem sequer Bosch, em sua mais delirante pintura do inferno, chegou a imaginar o que diariamente aparece hoje na tela.
Desautorizando e desprezando a ONU, os Direitos Humanos, as organizações de ajuda humanitária e os altos Tribunais Internacionais, e livres já do peso da ética, do respeito e da compaixão, os impérios antigos e o império recente vão se convertendo em máquinas raivosas, desencadeadas.
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Vão se armar até os dentes; já estão fazendo isso.
Ante uma devastadora crise ambiental, que reduziu os recursos de subsistência e ameaça esgotá-los, os países ricos aperfeiçoam a arte do saque. Encherão suas despensas às custas do resto do mundo.
Uma vez desmascarados de seu hálito civilizador, procurarão manter a fachada justificando qualquer atrocidade em nome da defesa da democracia.
Não haverá código de convivência que perdure
A distopia ocidental vai se forjando e
sobe à cabeça. Poder-se-ia prever que, assim como a queda de Constantinopla marcou a ruína do Império Bizantino, da mesma maneira, o genocídio de Gaza sela o fim da civilização ocidental.
O Império não assume passivamente sua crise irreversível. Antes de perder sua hegemonia, desejará arrastar em sua queda o resto da humanidade. Na medida em que vê questionados seus privilégios, os defende com golpes cada vez mais brutais.
Implementa medidas draconianas contra a imigração, como arrebatar os filhos a seus pais e mantê-los em jaulas. Ou como o vergonhoso asilo offshore, que consiste em deter contingentes de indocumentados para deportá-los a zonas desérticas e inóspitas do planeta, onde os esperam o isolamento, a inanição e a morte.
Atrincheira-se em fronteiras militarizadas e acumula arsenal. Levanta economias internas baseadas na indústria armamentista: desenvolvimento a serviço da morte; tecnologia de ponta para o Armagedon; laboratórios farmacêuticos, não em função da saúde, e sim das armas biológicas; bombas táticas e estratégicas; mísseis hipersônicos. Brinquedos atômicos e demais parafernálias de destruição em massa.
Adestra-se no manejo da hecatombe existencial. Apaga-se a marca do passado e o grito do presente; sobre o portal do futuro içarão a faixa: NADA TERÁ SIDO. NADA SERÁ.
Artrítico e obsoleto, seu aparelho político e desacreditadas suas instituições, ao poder colonialista resta uma saída, que acolhe sem muita reserva: dar via livre ao ascenso do fascismo. O trânsito está ocorrendo tanto nos Estados Unidos como na Europa. Se não for freado, se afiançarão como nações bárbaras, sombra de sua própria sombra.
Estes são os sinais de sua decadência. O que o Prêmio Pulitzer Chris Hedges caracteriza como o fim do domínio norte-americano.
Quando um império cai, é porque já caiu Apesar do estrépito, em uma praça de Bogotá cantam os jovens que apoiam Gaza. E nas universidades norte-americanas – centros do saber e do poder –, os estudantes montam acampamentos, enfrentando as diretrizes e a Polícia, para denunciar Israel.
Fortalece-se a resistência, cresce a audiência.
Milhões de pessoas em todo o mundo – sobretudo jovens – expressam sua indignação ante o horror desencadeado contra o povo palestino.
Nunca antes saíram tantos a manifestar nas ruas. Rios de gente, dezenas de milhares, em Londres, Bagdá, Viena, Johannesburgo, Cairo, Cidade do México, Kuala Lumpur, Washington, Madri. Nem mesmo na época do Vietnã a população global se mobilizou em tais proporções, desafiando castigos, avisos, cadeia, despensas.
No calor do protesto, vai se forjando uma geração anticolonialista que não se filia ao modelo de civilização ocidental. Persegue uma nova forma, digna e justa, de viver e de pensar.
Os indignados da Terra criaram coragem, como David contra Golias.
Na América Latina, na África, na Ásia, no Oriente Médio, os povos sujeitos a antigas e novas submissões deixam de olhar para o Norte para olharem-se entre si. Encontram afinidades e tramam rotas de liberdade. Ao reconhecerem-se, invertem o mapa geopolítico.
A consciência anticolonial, que começa apenas como um rumor, um vapor, uma expectativa, se vai se condensando no Terceiro Mundo e na revoltada periferia das grandes cidades do Primeiro. Transformada em ponto de fuga, a efervescência da rebeldia poderá concretizar-se em programa político e plano de ação.
Israel expandiu as ordens de evacuação em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza. “Estamos correndo da morte para a morte”, relata um palestino.
Reuters – Israel expandiu as ordens de evacuação em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, durante a noite, forçando dezenas de milhares de residentes palestinos e famílias deslocadas a sair no escuro enquanto as explosões de disparos de tanques reverberavam ao redor. O exército israelense afirmou que estava atacando militantes do grupo Hamas – que administrava Gaza antes da guerra – que estavam usando essas áreas para lançar ataques e disparar foguetes.
No sábado, um ataque aéreo israelense a uma escola onde palestinos deslocados estavam abrigados na Cidade de Gaza matou pelo menos 90 pessoas, segundo o serviço de defesa civil, provocando indignação internacional. O exército israelense afirmou que havia atacado um posto de comando de militantes do Hamas e da Jihad Islâmica, uma alegação que os dois grupos rejeitaram como pretexto, e matou 19 militantes.
Em Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, a instrução de evacuação cobria distritos no centro, leste e oeste, tornando-se uma das maiores ordens desse tipo no conflito de 10 meses, dois dias após os tanques retornarem ao leste da cidade. O anúncio foi publicado no X e em mensagens de texto e áudio para os celulares dos residentes: “Para sua própria segurança, você deve evacuar imediatamente para a nova zona humanitária criada. A área em que você está é considerada uma zona de combate perigosa.”
Philippe Lazzarini, chefe da agência das Nações Unidas para refugiados palestinos UNRWA, disse que as pessoas em Gaza estavam presas e não tinham para onde ir. “Alguns só conseguem carregar seus filhos, alguns carregam toda a sua vida em uma pequena bolsa. Eles estão indo para lugares superlotados, onde os abrigos já estão transbordando de famílias. Eles perderam tudo e precisam de tudo”, disse ele.
O exército israelense afirmou ter atingido cerca de 30 alvos militares do Hamas nas últimas 24 horas, incluindo estruturas militares, postos de lançamento de mísseis antitanque e instalações de armazenamento de armas. A ala armada da Jihad Islâmica disse que seus combatentes dispararam bombas de morteiro contra as forças israelenses que se aglomeravam nas áreas orientais de Khan Younis.
Mais tarde, no domingo, um ataque aéreo israelense perto do mercado de Khan Younis, no centro da cidade, matou quatro palestinos e feriu vários outros, disseram os médicos. Linhas de fumaça se ergueram de áreas onde aviões israelenses realizaram ataques nas partes leste e oeste da cidade. Os residentes disseram que dois prédios de vários andares foram bombardeados.
Quase 40.000 palestinos foram mortos na ofensiva israelense em Gaza desde que a guerra começou em outubro passado, e o número de mortos aumenta a cada dia, segundo o ministério da saúde de Gaza. Funcionários de saúde de Gaza dizem que a maioria das vítimas eram civis, mas Israel afirma que pelo menos um terço eram combatentes. Israel diz que perdeu 329 soldados em Gaza.
Israel iniciou seu ataque a Gaza depois que combatentes do Hamas invadiram o sul de Israel em 7 de outubro, matando 1.200 pessoas, principalmente civis, e capturando mais de 250 reféns, de acordo com os cálculos israelenses.
Dezenas de milhares forçados a partir durante a noite A maioria dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza foi deslocada de suas casas, segundo as Nações Unidas, enquanto sua estreita faixa de terra foi em grande parte reduzida a um deserto de escombros. Autoridades palestinas e das Nações Unidas dizem que não há áreas seguras no enclave. Áreas designadas como zonas humanitárias, como Al-Mawasi, no oeste de Khan Younis, onde os residentes estavam sendo enviados, foram bombardeadas várias vezes pelas forças israelenses.
Dezenas de milhares deixaram suas casas e abrigos no meio da noite, dirigindo-se para o oeste em direção a Mawasi e para o norte em direção a Deir Al-Balah, já superlotado com centenas de milhares de pessoas deslocadas. “Estamos exaustos. Esta é a décima vez que eu e minha família temos que deixar nosso abrigo”, disse Zaki Mohammad, 28, que mora no projeto habitacional Hamad, no oeste de Khan Younis, onde os ocupantes de dois prédios de vários andares foram obrigados a sair.
“As pessoas estão carregando seus pertences, seus filhos, suas esperanças e seus medos, e correndo em direção ao desconhecido, porque não há lugar seguro”, disse ele à Reuters por meio de um aplicativo de mensagens. “Estamos correndo da morte para a morte.”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva apelou para que líderes mundiais não se calem diante do “massacre interminável” na Faixa de Gaza. No último sábado (13), o exército israelense bombardeou uma zona humanitária em Khan Younis deixando pelo menos 90 mortos e quase 300 feridos.
“Nós, líderes políticos do mundo democrático, não podemos nos calar diante desse massacre interminável”, publicou o presidente nas redes sociais. Fotos e vídeos verificados pela agência Sanad, da emissora catari Al Jazeera, mostraram palestinos vasculhando escombros e tendas atrás de sobreviventes.
“É estarrecedor que continuem punindo coletivamente o povo palestino. Já são dezenas de milhares de mortos em seguidos ataques desde o ano passado, muitos deles em zonas humanitárias delimitadas que deveriam ser protegidas”, protestou Lula.
Por meio de nota, o exército israelense afirmou que o ataque foi executado com armas de precisão para atingir um comandante militar do Hamas. Neste domingo (14), no entanto, o grupo afirmou que o alvo, Mohammed Deif está vivo e operante.
O bombardeio levou o grupo fundamentalista palestino a abandonar temporariamente as negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
“É estarrecedor que continuem punindo coletivamente o povo palestino. Já são dezenas de milhares de mortos em seguidos ataques desde o ano passado, muitos deles em zonas humanitárias delimitadas que deveriam ser protegidas”, disse Lula.
No mesmo dia, outra ação de Israel deixou ao menos 17 palestinos mortos, em um ataque a um salão de orações na Zona Oeste de Gaza. Estimativas apontam que desde o início da ofensiva israelense, mais de 38 mil palestinos, a grande maioria civis, já perderam a vida e 2,3 milhões foram expulsas de suas casas.
O Ministério da Saúde Palestino diz que mais de 70% dos mortos são mulheres e crianças — estima-se em 40% o percentual de crianças entre os mortos.
Membros que integram as equipes de segurança israelenses, incluindo a polícia e as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), estão repassando informações privilegiadas a grupos de ativistas e colonos de extrema direita referentes à operação de distribuição de ajuda humanitária destinada à Faixa de Gaza. O objetivo é o bloqueio da entrega de suprimentos básicos na região. A informação foi revelada nesta terça-feira (21/05) por uma reportagem exclusiva publicada pelo jornal britânico The Guardian.
Ao veículo, um porta-voz do principal grupo ativista israelense responsável pelos bloqueios detalhou que as informações preliminares são diretamente recebidas pela polícia e pelo exército, com as localizações e horários específicos do trabalho humanitário dos caminhões no enclave. A comunicação é realizada por meio de troca de mensagens em grupos de bate-papo na internet e, seguindo o esquema, esses mesmos ativistas repassam os dados ao restante de seus membros e manifestantes.
Os grupos alegam que os suprimentos são “desviados pelo Hamas ao invés de serem entregues aos civis necessitados”. No entanto, trata-se de um argumento que em diversas ocasiões foi desmentido pelas próprias agências humanitárias.
“Quando a missão de um policial ou soldado é proteger os israelenses e, pelo contrário, ele é enviado para proteger comboios de ajuda humanitária – sabendo que acabará nas mãos do Hamas – não podemos culpá-lo por fornecer informações a grupos que tentam bloquear a ajuda”, disse Rachel Touitou, porta-voz do grupo israelense Tzav 9.
Comportamento inaceitável Na semana anterior, vídeos que registravam comboios humanitários sendo bloqueados e vandalizados por colonos israelenses no posto de controle de Tarqumiya, na Cisjordânia ocupada, circularam nas redes sociais e repercutiram negativamente. O incidente levou a Casa Branca a se pronunciar, classificando o ataque como um “comportamento totalmente inaceitável”.
Imagens captaram pilhas de pacotes de suprimentos básicos, como arroz e farinha, danificados, além de caminhões pegando fogo na estrada.
Israeli settler mobs, under the supervision of the Israeli government, are sabotaging roads leading to Gaza to block and prevent humanitarian aid convoys from reaching the Strip. pic.twitter.com/4TpeaBLpQr
De acordo com Touitou ao The Guardian, os colonos também acusam o governo israelense de dar “presentes” ao Hamas.
“Nosso propósito é enfatizar que alimentar seu inimigo, neste caso o Hamas, especialmente em tempos de guerra, é imoral […] Israel tem entregado essa ajuda humanitária sem esperar nada em troca. E 80% da população concorda com a nossa postura. O Hamas está revendendo a ajuda aos civis, que deve ser distribuída gratuitamente”, alegou o porta-voz do Tzav 9, confirmando que as operações de bloqueio continuarão “até que eles possam provar que a ajuda está chegando aos civis”.
Documento redigido pelos mediadores Catar e Egito desenha cessar-fogo permanente e fim do bloqueio ao enclave; autoridades israelenses alegam que texto ‘não é o mesmo’ discutido anteriormente.
O grupo palestino Hamas divulgou um comunicado nesta segunda-feira (06/05) afirmando ter aceitado uma proposta de cessar-fogo em Gaza, sugerida pelos mediadores Catar e Egito.
“Ismail Haniya, chefe do aparato político do movimento Hamas, teve uma ligação telefônica com o primeiro-ministro do Catar, xeique Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani, e com o ministro da Inteligência do Egito, senhor Abbas Kamel, e informou-os da aprovação de sua proposta para um acordo de cessar-fogo”, disse o grupo, em comunicado.
Segundo fontes consultadas pelo jornal catari Al Jazeera, a proposta inclui três fases, com destaque para o cessar-fogo permanente entre os militantes do Hamas e o exército de Israel.
O portal destacou que cada fase do acordo deve ter uma duração de 42 dias, com a trégua começando na primeira fase”, juntamente com a retirada israelense do corredor de Netzarim, que Israel usa para dividir o norte e o sul de Gaza”.
O cessar-fogo permanente viria na segunda fase do acordo, com o fim “das operações militares e hostis e a retirada completa das forças israelenses de Gaza”.
“A proposta também inclui uma cláusula que aprova o fim do bloqueio de Gaza na terceira fase”, destacou a Al Jazeera.
Assim, um dos funcionários do Hamas indicou que “a bola agora está no campo de Israel”. No entanto, a resposta de Israel sobre o acordo ainda não foi oficializada, enquanto as autoridades fazem a avaliação. O jornal catari informa que “do lado israelense não há absolutamente nenhuma confirmação”.
Jornal novaiorquino enfatiza que além de não libertar reféns nem ‘destruir o Hamas’, como prometido, Tel Aviv gerou discórdia com aliados ao planejar invadir Rafah.
“Israel não alcançou seus principais objetivos na guerra”, nos quais, segundo a nação, consistem na libertação de reféns e na “destruição total do Hamas”. É o que diz uma reportagem publicada pelo jornal The New York Times, em 22 de abril.
Segundo o veículo norte-americano, foram mais de seis meses de um conflito custoso no qual Tel Aviv ficou à mercê de seus aliados próximos, enquanto gerou tensões globais decorrentes do alto número de palestinos massacrados pelas Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), da fome instalada em Gaza e dos assassinatos a funcionários humanitários que auxiliavam as vítimas da guerra na região.
Dados apontados pela matéria indicam que as baixas militares de Israel começaram a aumentar, com cerca de 260 mortos e mais de 1.500 feridos desde que a nação intensificou suas operações no território palestino, em 7 de outubro de 2023.
As autoridades de Tel Aviv afirmam que cerca de 133 israelenses permanecem reféns em Gaza. No entanto, as negociações para garantir um acordo que possibilite o retorno de pelo menos alguns deles em troca do cessar-fogo e da libertação de prisioneiros palestinos, exigido pelo Hamas, seguem num impasse.
Em um contexto em que as forças israelenses relatam um aumento no número de baixas do grupo de resistência palestino, sem nenhum soldado de seu exército sendo morto desde 6 de abril, e as crescentes ameaças do premiê Benjamin Netanyahu para invadir Rafah, considerado o “último abrigo humanitário” dos palestinos, o The New York Times questiona: “quem governará Gaza e fornecerá sua segurança se os combates acabarem?”
Para a pergunta, autoridades norte-americanas e israelenses, membros do Hamas e palestinos no enclave foram ouvidos pela reportagem.
Douglas London, oficial aposentado da CIA que trabalhou 34 anos na agência, responde que “por mais danos que Israel possa ter infligido ao Hamas, o grupo ainda tem capacidade, resiliência, financiamento e uma longa fila de pessoas esperando para se integrar ao grupo”.
Tel Aviv crê que quatro batalhões do Hamas estão baseados na cidade de Rafah, e que milhares de outros combatentes se refugiaram na região, em meio a um milhão de civis palestinos. E para as IDF, esses batalhões devem ser desmantelados por meio de uma incursão terrestre.
A orientação israelense para que os palestinos se “desloquem a áreas mais seguras” entra em contradição, segundo Washington, uma vez que grande parte do enclave já está inabitável em decorrência dos seis meses de ataques.
“É um momento oportuno para Israel fazer a transição para uma nova fase [da guerra], focada em operações de contraterrorismo muito precisas, particularmente dada a situação de 1,2 a 1,3 milhão de palestinos, todos agrupados dentro de Rafah e seus arredores”, disse o tenente-general Mark C. Schwartz, comandante aposentado de Operações Especiais dos Estados Unidos, que coordenou a segurança norte-americana para Israel e para a Autoridade Palestina.
Operação deslocou centenas de refugiados e vitimou diversos pacientes e civis que estavam no maior hospital da Faixa de Gaza.
O exército israelense anunciou na segunda-feira (01/04), ter “concluído” as operações no hospital Al-Shifa, o maior da Faixa de Gaza. Os soldados retiraram seus tanques e outros veículos do hospital, encerrando uma operação que durou duas semanas.
Em 18 de março, o exército israelense, que acusa os combatentes do Hamas de se esconderem em hospitais, lançou o que descreveu como uma “operação precisa” contra o Al-Shifa, no norte do território palestino.
O governo de Israel afirmou ter “eliminado cerca de 200 terroristas” na área desde então. A operação começou no momento em que centenas de pessoas deslocadas se refugiaram no complexo do hospital.
Um comunicado do exército diz que a investida “matou terroristas em confrontos”. De acordo com o Tzahal, acrônimo hebraico das Forças de Defesa de Israel, combatentes foram mortos e armas e documentos foram apreendidos.
Já o movimento islâmico palestino Hamas, pediu desculpas pela primeira vez ao povo de Gaza pelo sofrimento causado pela guerra que já dura quase seis meses, em uma longa declaração publicada em seu canal Telegram na noite de domingo (31/03).
O Hamas também reiterou seu desejo de continuar a guerra, que, segundo a declaração, deve levar à “vitória e à liberdade” dos palestinos.
Corpos em decomposição Um jornalista da agência de notícias AFP e testemunhas no local viram tanques e veículos deixando o complexo hospitalar, cobertos por fogo de artilharia e ataques aéreos. Até o momento, o exército israelense não confirmou a retirada.
O exército israelense “se retirou do complexo médico de Al-Shifa depois de incendiar os prédios do complexo e desativá-lo completamente”, detalhou um comunicado do Ministério da Saúde do Hamas.
“Dezenas de corpos de mártires, alguns em estado de decomposição, foram encontrados dentro e ao redor do hospital Al-Shifa”, continuou. “A extensão da destruição dentro do complexo e dos prédios que o cercam é muito significativa”, acrescentou o comunicado.
Um médico disse à agência que mais de 20 corpos foram recuperados. Segundo ele, alguns deles foram atropelados pelos veículos militares durante a saída das tropas.
“Uma garrafa de água para cada 15 pessoas” No domingo, o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, disse que 21 pacientes do hospital Al-Shifa haviam morrido desde o início da operação israelense.
De acordo com ele, 107 pacientes permanecem no hospital, incluindo quatro crianças e 28 pacientes em estado crítico. “Muitos têm feridas infectadas e estão desidratados”, disse o diretor da OMS, acrescentando que, desde sábado (30/03), “há apenas uma garrafa de água para cada 15 pessoas”.
“Os alimentos são extremamente limitados, o que pode representar risco de vida para os pacientes diabéticos, cuja condição está piorando. Pedimos a Israel que facilite urgentemente o acesso e um corredor humanitário para que a OMS e seus parceiros possam realizar a transferência de pacientes que salvam vidas”, insistiu ele na rede X.
Uma fonte israelense informou que está prevista uma reunião virtual, nesta segunda-feira, entre autoridades israelenses e americanas sobre uma trégua na ofensiva em Rafah.
Ainda no domingo, Ghebreyesus disse que “um campo no complexo hospitalar de Al-Aqsa foi atingido por um ataque aéreo israelense”, matando quatro pessoas. O exército israelense alegou ter atingido “um centro de comando operacional terrorista” no pátio desse hospital em Deir al-Balah (centro).
Irmã de comandante do Hamas é presa em Israel O exército israelense anunciou na segunda-feira que 600 de seus soldados foram mortos desde 7 de outubro, 256 deles na ofensiva terrestre na Faixa de Gaza.
A polícia israelense informou ter prendido Sabah Abdel Salam Haniyeh, irmã de 57 anos do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, que mora no Catar. A mulher é cidadã israelense e estava em sua casa em Tel-Sheva, no sul de Israel. Ela é “suspeita de incitar a prática de atos de terrorismo em Israel”.
Foi no Catar e no Egito que, nos últimos meses, ocorreram conversas indiretas entre Israel e o Hamas por meio de mediadores internacionais – Egito, Catar e Estados Unidos – com o objetivo de concluir um acordo de trégua associado à libertação dos reféns.
Mas esse acordo está longe de ser alcançado, e os dois protagonistas se acusam mutuamente de intransigência.
Tanques dos terroristas israelenses atingiram vários edifícios do Hospital Al-Shifa e incendiaram um departamento de cirurgia e que cerca de 240 pacientes e seus acompanhantes, bem como dezenas de profissionais de saúde, foram detidos.
Al-Shifa, o maior hospital da Faixa de Gaza antes da guerra, é agora uma das poucas instalações de saúde parcialmente operacionais no norte do território e também alojava civis deslocados.
Moradores das proximidades disseram que as forças nazisionistas explodiram dezenas de casas e apartamentos nas ruas ao redor do hospital e destruíram estradas. Um centro médico privado próximo, o Hospital Al-Helo, também foi atingido pelo exército terrorista de israel.
Nós sobrevivemos à morte, eles atiraram em nós, há muitos mártires, há muitos feridos, quase morremos para dar algo para nossos filhos”, disse Alaa al-Khoudary, um morador da Cidade de Gaza que tinha acabado de retornar do Rotatória do Kuwait carregando uma sacola de ajuda.
Em Rafah, onde mais de um milhão de pessoas estão abrigadas, autoridades de saúde disseram que um ataque aéreo israelense contra uma casa matou oito pessoas e feriu outras.