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Recorde de genocídios de negros, pobres e crianças nas favelas marca a gestão do super ministro Moro

Se Moro cultuou sua personalidade atropelando a cidadania do Lula, o presidente que terminou o mandato com a maior aprovação da história do país, imagina o que sua gestão no Ministério da Justiça e Segurança Pública não produziu contra os mais pobres que, não por acaso, foram olhados por Lula de uma forma como nunca antes um presidente olhou.

Para Moro, que nada falou sobre os genocídios praticados no Rio pela polícia de Witzel, direito é privilégio de seus aliados. Aos que ele considera inimigos, nem a lei, pior, a lei da milícia, do extermínio e do descaso.

E não falo aqui porque Moro demorou três dias para falar sobre o assassinato da menina Ágatha de oito anos, mas não deixa de ser emblemática a sua preocupação em se posicionar sobre esse crime, muito mais para defender o criminoso do que a vítima, quando usou as redes sociais para, de maneira protocolar, dizer que sentia pela morte da criança, mas que essa morte não poderia servir de justificativa para que o excludente de ilicitude pelo qual ele tem verdadeira tara, não fosse arrancado do projeto anticrime por conta de um episódio que ele, certamente, pelo tom de suas palavras, classifica como tolo.

Moro está obcecado pela licença para matar. O fato é que nunca se matou tanto nas favelas e periferias quanto nesse um ano de sua gestão.

Não precisa ser traficante, bandido para morrer na favela com Moro no comando da Segurança Pública, basta que uma criança, um pobre ou um jovem negro, que foram as maiores vítimas, pareçam criminosos aos olhos da polícia e da justiça, pronto, sua sentença está cravada.

Ninguém espera qualquer grau de consciência de um Ministro da Justiça do clã Bolsonaro, seria o mesmo que querer o céu no inferno. Por isso, falar em cidadania, direitos quando a questão da individualidade de Moro está acima de qualquer objetivo, e nisso entram o racismo, o preconceito e a discriminação. A sua figura está numa percepção resumida à própria prática das milícias, isto é, um ministro que admite muito mais que a justiça se faça a partir de um corpo em um determinado lugar do que pela garantia de que a cidadania produz num ambiente de liberdade.

A conclusão a que se pode chegar, em última análise, é que as várias situações de preconceito no Brasil pioraram muito na gestão de Moro na pasta da Justiça e Segurança Pública, revelando que a essência de sua perseguição a Lula está dentro de um modelo cívico que segrega o universo social, universo que marcou o governo do ex-presidente quando, através de vários programas de inclusão social, trouxe os negros e os pobres para o centro do debate e das políticas públicas do Estado.

 

*Carlos Henrique Machado Freitas

 

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Milton Santos e o racismo no Brasil

O que dizer também do comportamento da polícia e da justiça, que escolhe como tratar as pessoas em função do que elas parecem ser?

Penso haver três dados centrais para entender essas questões do preconceito, do racismo, da discriminação. O primeiro é a corporalidade, o segundo é a individualidade e o terceiro é questão de cidadania.

Resumindo, a corporalidade inclui dados objetivos, a individualidade inclui dados subjetivos e a cidadania inclui dados políticos e propósitos jurídicos.

A corporalidade nos leva a pensar na localização (talvez pudéssemos chamar de lugaridade), a destreza de cada um de nós, isto é, a capacidade de fazer coisas bem ou mal, muito ou pouco e as possibilidades daí decorrentes.

E aí aparece em resumo, meu corpo, o corpo do lugar, o corpo do mundo. Eu sou visto, no meio, pelo meu corpo.

Quem sabe o preconceito não virá do exame da minha individualidade, nem da consideração da minha cidadania, mas da percepção da minha corporalidade.

O modelo cívico brasileiro é herdado da escravidão, tanto o modelo cívico cultural como o modelo cívico político.

A escravidão marcou o território, marcou os espíritos, e marca ainda hoje as relações sociais desse país.

Mas é também um modelo cívico subordinado à economia, uma das desgraças desse país.

No Brasil a economia decide o que de modelo cívico é possível instalar.

O modelo cívico é residual em relação ao modelo econômico e se agravou durante os anos do regime autoritário e se agrava perigosamente nessa chamada democracia brasileira.

A própria territorialização é corporativa, os recursos nacionais sendo utilizados sobretudo a serviço das corporações, o resto sendo utilizado para o resto da sociedade.

O cálculo econômico não mostra como as cidades se organizam para serem utilizadas por alguma empresa, por alguns pessoas. São as corporações que utilizam o essencial dos recursos públicos e essa é uma das razões pelas quais as outras camadas da sociedade não têm acesso às condições essenciais de vida aos chamados serviços sociais.

No caso dos negros, é isso que se passa.

O Brasil necessita, com urgência, de medidas positivamente discriminatórias, que são a única forma de refazer um balanço mais digno revendo o balanço histórico.

 

*Milton Santos – Por uma Outra Globalização.